|野郎



O dia começou normal: Um gato entrando pela janela e me acordando antes do sol nascer. “E eu to com soninho sim, amaldiçoada seja essa sensei”. A parte boa é que aquele era um chamado para uma missão não oficial que culminaria em uma viagem até o País das Fontes Termais com Genryuu. “Será que a gente descola umas massagens à quatro mãos e um tempinho no spa? Uma vez ouvi falar sobre uma massagista excelente, famosa Alexis-senpai”, pensei, antes de encontrar o Shishio na saída do portão.

— Rexpeita que hoje o pae tá embaçado — Disse a ele, animado ao ouvir a forma como meu companheiro havia me chamado. Aquela seria a primeira vez que liderava qualquer tipo de coisa e esperava que não desse muita merda. Mas vem cá, porque a gente não pula a parte chata e vai direto pra onde JUSTAMENTE a merda aconteceu?


Eu estava usando uma skin de velho com um bigode branco e capa que balançava aos ventos, não me pergunte o porquê. Ao meu lado, Gen, com sua própria skin feita através do Henge. Nós estávamos cercados por cerca de dez homens grandalhões e mal encarados, mas havia muito mais pessoas naquela sala que também tinham sede de sangue um do outro. Eles nos olhavam e estalavam os dedos enquanto davam sorrisos maliciosos. O sorriso no rosto do meu amigo me deixava ainda mais animado. “Então é assim que os piratas fazem?”. Por um momento, senti como se ele precisasse daquele momento.

Tensão. Aquele segundo silencioso antes de enfim o caos irromper. Alguém gritou lá do meio da sala escura do porão do Tio Kami:

— É BRIIIIGAAAAAAAAAAAAAA!

Aí, meu parceiro, virou aquela loucura generalizada: Era garrafa voando, chute na costela, soco na cara, criança chorando, cachorro latindo. Eu não consegui me segurar, já soltei logo um “IAAAAAAAAAAAA” e saltei pro meio da putaria desferindo golpes do jeito que dava como se eu fosse um cantor de rock pulando na galera. Parecia uma cena de vikings, bom demás. Sentei nos ombros de um grandalhão e desci a lenha na sua cabeça de cima pra baixo como se martelasse algo diversas vezes, até que ele me puxou pelo pé e me bateu no chão feito massa de pão.  

Aquela parada era realmente um clube da luta - mas não dos mais organizados -, e já que a gente tava ali talvez não fosse de todo mal sair numa trocação sincera e honesta de porrada com aquele bando de vagabundo e viciado.

Naquela briga, dei tanto soco quanto temei, mas uma coisa chamou a atenção de todos: A chegada de um GORDASSO, daqueles que Gen tanto amava, entrando no porão e fazendo o chão tremer.

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Acho que eu engoli meu molar, mas quem liga? Minha cabeça estava meio zonza e meu olho esquerdo agora possuía um inchaço e coloração azul que eu não sei se volta mais ao normal. Maravilhoso. Todos os meus poros suspiravam de satisfação enquanto a endorfina no meu cérebro dilatava minhas pupilas, triunfante. Eu estava sobre uma pilha de 3 caras com uma cadeira retrátil na mão, batendo no peito como um gorila e gritando pra quem quisesse ouvir “VEM TRANQUILO!”. Eu ainda havia mantido minha altura normal e infantil após o Henge, mas acho que a bigodeira grisalha e a capa voando com o vento metiam medo demais. Ou podia ser o sangue inimigo que sujava o branco do meu sorriso enquanto eu olhava para cada homem ali corajoso o suficiente pra chegr perto. Só sei que eu adorava a cara de medo deles.

E, não surpreendentemente, o único ali sacudo o suficiente pra se aproximar de mim naquele estado bestial era ele: Supershishio Darkshine, a Rocha Brilhante Divina Sobre o Topo da Maior Colina. Seus músculos, tão trincados que pareciam que haviam sido polidos. Ele me avisou sobre o gordo e me retirou de sobre a pilha de homens moribundos e me colocou em seu ombro. “Claro, o 4-4-2!”, entendendo o plano do meu amigo com muito entrosamento e tendo como única reação segurar a cadeira sobre a cabeça. “RESPEITEM O SR. VOVÔ KAMIKAZE!”, foi o grito que eu dei ao ser arremessado por aquele homem maravilhoso e de tanguinha suada.

A cadeira quebrou no momento do impacto com o gordo. Eu senti a onda de choque atravessar todo meu corpo, começando do topo da cabeça até os pés, mas foi aí que aconteceu um dos momentos mais marcantes da minha vida: Eu havia acabado de chegar ao chão, mas ainda tive tempo de olhar para cima e observar aquele par de tríceps arregalados voando pelo cenário como uma estaca sendo arremessada por um campeão olímpico, batendo com os dois pés no adversário em movimentos que pareciam em câmera lenta. Meus olhos estavam marejados e eu escutava um coral de anjos ao fundo. Aquilo era… lindo. Durante alguns segundos enquanto Darkshine ainda estava no ar, eu quase pude sentir o mesmo cheiro que sentiram os primeiros seres que saíram das águas para rastejar na terra, regressando ao início da era mais animalesca da evolução e me conectando com meus antepassados, atrelado aos meus instintos mais selvagens.

“Super… Shishio... Dark… shine…”, eu não podia me conter. Comecei a aplaudi-lo, e em poucos segundos todos ali naquele portão faziam o mesmo. Os “claps” das palmas poderiam ser ouvidas até de fora do estabelecimento do Tio Kami. Alguns homens também choravam, não se segurando de emoção.

Depois da tempestade, vem a bonança, dizem.

Aquela demonstração de masculinidade não poderia ser superada por nenhum outro presente ali, todos sabiam disso. Talvez aquela demonstração perfeita de simetria, força, estética impecável e resistência tenha sido o suficiente para que aquelas pessoas encontrassem a paz em seus corações de uma forma quase alucinógena. Suas almas haviam sido lavadas, e todos sentiam que não precisavam mais de um clube da luta.

Me aproximei mancando do meu companheiro, buscando apoio para andar. Em meu rosto, que sustentava o olho roxo, abri um sorriso sem um dente.

— Acho que esse foi o melhor dia da minha vida.

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— Isso, isso — Eu tentava consolar o meu companheiro de time que havia se conectado com o seu mais íntimo passado e boas memórias depois de uma trocação saudável como aquela, embora eu mesmo estivesse quase tão emocionado com ele. O período de êxtase e entrega emocional completa havia nos mudado como homens. A citação aos seus tios tocou meu coração, afinal saudade é um sentimento que chega sem aviso prévio — Chorar não vai fazer mal algum, Darkshine-sama.

Completava a frase com as palavras engasgadas quase deixando minhas lágrimas desabarem livremente, mas eu era o líder daquela missão: era preciso ser forte e manter o respeito. Ou já era tarde demais? Sei que a figura do velhote consolando a montanha de músculos brilhante era genial, assim como havia sido todo aquele dia.

Enquanto eu buscava apoio para andar em Genryuusai devido à uma dor desgraçada no meu quadril agora que o sangue havia esfriado, recebi o abraço de uma das pessoas que eu mais adorava nessa vida de ninja fodido. Havíamos compartilhado um momento que uniria qualquer um dos homens, e a forma como eu me diverti provavelmente nunca mais se repetiria assim, ao menos não da mesma forma.

— Obrigado por essa parada, irmão — O abraço não durou tempo suficiente para se tornar estranho — Que sorte o dia em que a gente se topou por aí.

Aquele cara voltando para o vilarejo  se tornava para mim como um irmão mais velho, o tipo mais gente boa que você poderia estar por perto e um ótimo adendo ao time pra me ajudar a lidar com a frieza de Squall e a acidez de Amiyo-sensei. E por falar nela, a pergunta pertinente do Shishio soou em meus ouvidos de uma forma que quase me deixou preocupado, mas olhar para Gen fez com que eu me sentisse mais tranquilo.

— Acho que… É melhor relatar que um velhote e um bodybuilder causaram grandes problemas no clube da luta, mas que no fim tudo acabou bem — Dei de ombros — Sei lá, depois eu penso nisso. Agora, acho que você tá certo, tá na hora de tomar algo pra me deixar entorpecido. Ou ao menos colocar um gelo na testa... Aí, Gen, tu fuma? Sou curiosão pra dar um trago…

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