O tempo seguia passando e a jovem Pandora, que se encontrava deitada a olhar para o teto naquela manhã de inverno, embora muito esperta, ainda não compreendia como entre os ninjas médicos não existia uma técnica capaz de curar, em combate ou missões, danos graves. Naturalmente, não era fácil se pensar em algo tão complexo que pudesse ser realizado no mínimo tempo possível.

A Senhorita Heinstein até tinha contato com ninjutsus praticados sobre si mesma capazes de curar qualquer dano através do chakra (In´yu Shömetsu). Além disso, já tinha ouvido comentários da Felícia a respeito de um ninjutsu médico tão poderoso que seria capaz de regenerar qualquer célula danificada quase que instantaneamente. ”Se esse é o caso, eu preciso criar algo que possa unir aquele meu jutsu de regeneração para aplicar o chakra em outra pessoa… Mas isso dará muito trabalho… E o controle de chakra deverá ser absurdo...”

Sem dúvidas, a parte do controle de chakra era a mais simples, ante a maestria adquirida pela jovem kunoichi depois do treinamento duríssimo imposto pela sua sensei. Quanto a aplicar uma técnica, já de rank alto, em terceiros iria requerer muito estudo e ainda mais treinamento. A garota se espreguiçava, logo depois de se levantar. Buscaria livros a respeito de ninjutsus médicos para estudá-los.

Ler todo aquele material era bastante educativo e fazia a garota se lembrar de ensinamentos sobre ninjutsus medicinais que já nem pensava mais. Coisas tão básicas quanto as propriedades aplicadas para curas mais complexas. Felícia, mais uma vez, tinha razão. Todas aquelas informações tinham adentrado na massa do sangue da Heinstein. Mas há anos as técnicas medicinais não tinham uma evolução tão grande quanto aquela e isso, certamente, demandaria muito esforço.

Depois de um longo dia de estudos sobre tudo que se tinha disponível a respeito de ninjutsus médicos, a Tokujo se levantou da cama, onde passou o dia, e caminhou até a janela de seu quarto. Poderia observar partes da vila já na noite fria e seca. Ergueu a mão esquerda, dominante, e concentrou chakra medicinal nela. O tom esverdeado daquele ninjutsu era bastante marcante e revelava a diferença entre cura e outra coisa. ”Uma técnica medicinal é diferente das outras por exigir mais energia concentrada para converter meu chakra em células e, através desse complexo processo, recuperar os ferimentos… Quanto mais extenso for o dano, maior tem que ser a quantidade de chakra para recuperar a pessoa… Mas há danos que o Shösen Jutsu não pode curar…”

Pandora seguia imaginando algo para evoluir as técnicas medicinais de seu arsenal e, assim, criar algo que fosse superior. Superar os limites impostos por outros gênios daquela individualidade não seria nada fácil. Em teoria, segundo ela, a quantidade de chakra utilizado no processo era fundamental para a realização do feito, mas a prática seria ainda mais importante naquilo.

A jovem trocou suas vestes e seguiu na direção do Hospital da vila. Precisava de pacientes para testar sua teoria e, finalmente, criar a técnica aprimorada. À medida que caminhava a passos lentos, ia revendo os meios disponíveis para desenvolver o chakra medicinal, de maneira segura. Era consenso entre os médicos que utilizar grandes quantidades de chakra no corpo dos feridos poderia colocá-los em coma. Daí os riscos de realizar a técnica em um corpo humano, de forma experimental.

Ao chegar, a garota, já conhecida por todos como a aprendiz de Felícia Hardy, uma das principais médicas de Iwa, não teria a passagem negada por ninguém. Suas roupas negras davam ainda mais contraste em relação aos uniformes claros dos demais. ”Bem, por ser um trabalho voluntário, não irei me preocupar tanto com as pessoas em que vou tentar usar esse jutsu… Talvez seja melhor começar pelo necrotério. Lá, posso ser mais livre para usar o chakra…”

Pensar em tratar danos em mortos era mais eficaz para o desenvolvimento de um novo jutsu, de fato. Ao chegar, a jovem começou a olhar prontuários para descobrir quais mortos tinham sofrido os danos mais intensos. Queimaduras e fraturas severas eram o principal objetivo da busca da ninja médica. Ao encontrar três cobaias para isso, a garota, como sempre, levou as mãos aos cabelos e os prendeu em forma de rabo de cavalo para que não caíssem sobre seus braços.

Aproximar-se-ia do corpo totalmente destruído por dentro, com múltiplas fraturas e lesões extensas nos órgãos. Era um desafio bastante intenso realizar aquele tratamento, mas começaria. Mais uma vez, a morena fechou os olhos e começou a concentrar chakra curativo em suas duas mãos, levando-as em direção ao corpo sem vida. Concentrar chakra pura e simplesmente não seria o bastante para regenerar aquelas células expressivamente danificadas e a garota não conseguiria evoluir a técnica utilizada apenas com maiores quantidades de chakra.

”Ninjutsus médicos são completamente diferentes dos normais… Não basta só aumentar a quantidade de chakra envolvida… Vou precisar de algo mais que isso. Uma combinação de selos diferente? Isso poderá modelar um jutsu diferente… Ao menos em teoria… Maláka, mas quantas teorias… Muitos pensamentos, mas sem efetividade na realização…” Pandora sempre foi um pouco pessimista com a vida, mas depois de alguns acontecimentos, sabia que não poderia desistir daquilo. ”Vamos lá, Pandora… Se concentre um pouco mais…”

Depois de novas tentativas, sem sucesso, com aquele jutsu medicinal, resolveu que era hora de parar um pouco e rever todos os erros no desenvolvimento de sua técnica. Caminharia até a saída do necrotério e se sentaria em um banco qualquer para pensar. O lugar não era muito povoado durante a madrugada que avançava. Repensar em tudo aquilo a fez se lembrar de sua técnica de regeneração. ”A realidade é que estou tentando usar uma técnica básica de cura, enquanto tenho uma bem mais complexa… Mas como transferir o In´yu Shömetsu para o corpo… Isso é que precisa ser trabalhado diretamente...

Uma ideia lhe veio à mente e era preciso testá-la de imediato. A passos largos e rápidos, Pandora se aproximou de sua cobaia, novamente, e fez alguns selos de mão diferentes dos utilizados anteriormente. Concentrando-se em sua regeneração, ergueu as mãos e tentou compelir o chakra para fora. O esforço era muito intenso e gotas de suor começaram a escorrer pelo rosto da jovem.

Para alguém com maestria em controle de chakra, Pandora não acreditava que seria tão difícil concentrar a energia em suas mãos, mas se surpreendia e perdia o controle. Repetia e falhava, repetia e falhava. Diversas foram as tentativas sem sucesso. ”Deve ser impossível criar uma técnica assim… Mas que droga… Estou ficando sem ideias… Uma técnica assim para ser usada em combate depende de uma proteção… Demora muito para conseguir por o chakra modificado para fora… Pandora… Lembre-se do porquê está criando esse jutsu, você não pode fracassar… Simplesmente não pode e não vai...”

A garota fechava os olhos e fazia o selo de mão para controlar ainda melhor seu fluxo de chakra. O converteria, mais uma vez, para fins de regeneração e fazia os selos de mão para a preparação do jutsu medicinal. Com o chakra tomando a forma de uma esfera. Aos poucos, a garota finalmente conseguia manter a esfera em ordem e aplicar o chakra no morto.

Aos poucos os tecidos ósseos começavam a se regenerar lentamente. Muito lentamente, por se tratar de um organismo sem vida. Quando a técnica fosse totalmente dominada ali, a garota poderia aplicar a quantidade de chakra certo em seres vivos para curá-los de qualquer dano físico.

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