Talvez, em meio a tantas mudanças, aquele era o único lugar que ainda permanecia o mesmo. O fluxo reduzia com o calar da noite e Gen aguardava oculto sobre uma das moradas próximas o momento certo de se aproximar. Quando percebesse que nenhum conhecido mais estivesse no recinto, apenas o cozinheiro conhecido por sua exacerbada capacidade de escutar o problema dos seus clientes, nosso protagonista se aproximaria. Sorrateiro. Como uma criança tentando roubar sorvete da geladeira.

Percebeu alguns detalhes diferentes na decoração do local, um quadro novo de Shanks, numa homenagem póstuma ao Hokage. O cheiro de macarrão refogando era o mesmo, assim como a música oriental tocando num volume perfeitamente adequado.

- Sr. Myoju, quanto tempo... –
- Gen, meu filho... Que cabelão é esse? Tá horrível... – O tio respondeu.
- Bota aquele completo apimentado pra mim tio e aproveita pra me tirar uma dúvida... Você já foi DJ?! –

O restaurante vazio possibilitava o início imediato do prato solicitado, um macarrão com porco, frango, bacon e ovos. Bem gorduroso e apimentado. Como todo baiano gosta.

- Não te vejo a mais de dois anos, filho... Seus amigos ainda frequentam aqui de vez em quando... O Treze e aquele de cabelo sedoso que só reclama da vida... –
- Pois é Sr. Myoju... Esses dois últimos anos foram loucos... Revi minha mãe... quase morri... Deixei os cabelos crescerem... –
- O quê... vai ficar que nem aqueles roqueirinhos do cabelão que só reclamam da vida?! –
- Nada... Deixo isso pro Squall. – Gen gargalhou.
- Pois é... Nem tudo da vida é choro e sofrimento... Pode caprichar na pimenta?! –
- Você sabe que pode, Sr. Myoju... Você sabe que pode... -      

Considerações:

- Porra... -  Foi a única palavra que saiu da porra de Gen enquanto alternava as suas garfadas.
- Você disse que podia caprichar na pimenta... - Sr. Myoju deu uma gargalhada de leve.  
- Tá bom pra caralho... - O suor escorria pela face avermelhada do ANBU que mastigava de forma um tanto acelerada. - Tá rolando uma agUinha aí Sr. Myoju? -
- Tá sim... 10 Ryous... -
- E pra nativo é quanto? -    
- Pra nativo comendo pimenta é 10 Ryous... -
- Você já foi mais humilde Sr. Myoju... Você já foi mais humilde... -


Gen até pediria um repeteco daquele prato incontestavelmente delicioso, no entanto, o horário lhe aconselhava o contrário. O Samurai Lámen aparentemente havia começado a funcionar 24 horas em algum momento nessa janela de dois anos e o Shishio aproveitava disso para se manter naquele local, olhando as ruas caladas da Vila que jurou proteger, enquanto o Sr. Myoju lavava a louça da refeição recém-servida.

- Garoto... Quer desabafar? -
- Como assim, Senhor Myoju?! -
- Eu lido com pessoas há anos... Sei quando uma está precisando conversar... -
- Porra... Você é cigano é? -
- Não filho... Infelizmente não... - O cozinheiro gargalhou. - E então? -
- É complicado... - Gen hesitou por um instante.
- Mulher? - O sábio homem questionou.
- Sim... Mulher e criança... -
- Vixe... -
- Pois é, Sr. Myoju... -

O coroa pareceu respeitar a vontade de Gen de não falar sobre o assunto e se calou enquanto lavava os pratos. No entanto, esse respeito durou apenas poucos minutos.

- Garoto... Deixa eu dar uma dica para resolver seu problema com essa mulher em específico... -
- Pode falar... -
- Cozinhe para ela... Mulheres são facilmente compradas com a barriga... -
- Mas eu não sei fazer nem um Miojo... -
- Eu também não sabia garoto... -

O silêncio voltou a reinar no recinto enquanto o dono do estabelecimento finalizava a sua limpeza e Gen se mantinha reflexivo com a idéia dada. Shinobu estava feliz, seu filho estava feliz. Não lhe parecia correto quebrar aquela dinâmica familiar que eles estabeleceram. Era uma dúvida que lhe corroía a mente, lutar pelo que é seu ou aceitar as coisas como estão e seguir em frente? Se você conhece o nosso protagonista, sabe exatamente qual vai ser a decisão tomada...

- Senhor Myoju... - O Shishio quebrou o silêncio. - Cê me ensina? -  

Considerações: