Aquela imensidão azul dançava ao redor do corpo do prodígio, sendo uma tarefa simples e que não gerava dificuldade alguma para ele, isso ficava evidente graças a sua postura largada e feição risonha que insistia em aflorar pelo seu rosto. Iniciou com uma manifestação lenta, exalando cada tanketsu do seu corpo um por um, cuidadosamente uniformizando sua circulação. Com seus tanketsus ouriçados, moderadamente aumentou sua potência, deixando ainda mais visível e viva a coloração azulada que pairava ao seu redor. Por fim, era chegado o momento de exacerbar ainda mais aquele acumulo, deixando sua corrente acelerada e intensa como uma labareda.

O ruivo voltava sua atenção para o mentor, exibindo uma genuína feição de deboche como quem fizesse menos daquele treinamento, aflorando lentamente um riso de canto enquanto encarava o homem. - Então de que vamos brincara agora? - Provocou. O mentor, por sua vez, seguia na mesma página do palhaço, rindo e esbouçando uma feição animada perante tudo aquilo. - Se fosse algo tão simples, você já deveria saber, não? - Riria contidamente. - Exale esse chakra por toda a floresta, sinta cada pedacinho do ambiente sendo tomado por ele – Diria sério, desfazendo toda aquela face risonha de outrora.

O ruivo escutou, mas permaneceu em silêncio, parecia tentar processar tudo aquilo e, após isso, respondia da forma que melhor lhe coube. - Você é tão maluco quanto eu – Diria, levando ambas as mãos sobre a barriga enquanto disparava risadas e mais risadas no mais genuíno escanda-lo.  

As risadas intercalavam entre agudas, longas e bizarras. Naga não conseguia se manter sério perante o que foi dito, era simplesmente irreal espalhar o chakra por um ambiente tão extenso, até pra ele, um mestre em controle de chakra. Seus olhos, dessa vez mais sérios, se cerravam e avançavam contra a face fechada do mentor, visando intimidar e quebrar qualquer tipo de piada ou brincadeira. Ao perceber que o homem falava sério, sua feição relaxou e, entre um longo suspiro, ergueu a voz. – Fala de uma vez como devo fazer isso – Questionou. O homem olhou para um lado, para o outro e parou sua visão sobre um pequeno galho ao chão, agachando e o pegando.

Voltou para o palhaço e lançou sobre o seu colo. – Transfira o seu chakra para toda a extremidade desse galho. Sinta cada parte dele, não apenas como um todo. Vá adentro, vá nas laterais, veja sua essência. Conseguindo sentir cada detalhe desse objeto, tente expandir ao seu redor a mesma teoria – Finalizou, sentando-se ao chão enquanto esperava a tentativa do ruivo. Naga parecia confuso, erguia aquele galho a sua frente e o fitava de várias formas antes de tentar algo, iniciando da forma mais óbvia possível: cobrindo-o de chakra.

O ruivo erguia seu chakra sobre aquele galho, cobrindo-o por completo. Percebia que com essa tentativa ele sentia aquilo como um todo, mas suas propriedades, densidade e ademais passavam despercebidos. Mudou sua estratégia, dessa vez reduzindo o seu chakra pela metade, visando priorizar qualidade em vez de quantidade, cobrindo aquele galho com uma aura de tamanho médio em comparação a primeira. Ainda era difícil para o garoto sentir as partes, mas sentir que progrediu era um combustível e tanto, levando-o a tentar mais uma ou duas vezes aquela estratégia.

Conseguia sentir as laterais, o peso e até mesmo a essência daquele galho, mas faltava algo, faltava precisão ou melhor dizendo: qualidade. Decidiu, dessa vez, alastra seu chakra de forma suave, refinado e lento. Embora fosse difícil preencher aquilo, era notoriamente mais eficaz que os outros métodos, conseguindo até mesmo sentir aquele galho como uma extensão do seu corpo. A feição seria lentamente trocava-se para uma mais relaxada, não ao luxo do riso, mas nitidamente mais confiante.

Tentava replicar aquela teoria de forma mais ampla, soltando o galho ao lado e levantando-se, realizando um selo de concentração durante o ato. Deixaria seu chakra exalar pelo ambiente de forma fina e imperceptível, tão suave que era impossível visualiza-lo por meios convencionais. Poderia sentir lentamente a imagem do local aflorando em sua mente como um mapa, expandindo e detalhando cada pedacinho daquele lugar.

Após realizar aquele treinamento por mais algumas vezes, Naga voltou sua atenção para o homem, ergueu um riso torto e agradeceu, segurando o possível escanda-lo da forma que lhe dava para logo em seguida sair daquele campo. - Ele realmente é um prodígio - Diria o mentor, já se preparando para ir embora.

Sua promoção para Jonin era um tanto cochichada pelas ruas e vielas de kirigakure. Haviam muitas opiniões contrárias com aquilo, alguns apontavam desinteresse enquanto outros apontavam total irresponsabilidade. A vida boêmia de fato era um tanto quanto exposta, não era como se ligasse ou se importasse em ocultar aquilo, apenas gozava de seus momentos de lazer com sobras, afinal, ainda que por meios questionáveis, ele nunca falhou ou tardou em missões. Após o treino de Kanchi e consequentemente sua masterização, Naga havia sido convidado para “evoluir” sua habilidade, na verdade, ele foi desafiado pelo mentor de outrora, esse que visava medir as capacidades do palhaço. Entre risos e demonstrações notórias de deboche, seguia o ruivo pelas ruas até o campo de treinamento.  

Sequer precisou esperar, ao chegar já conseguia visualizar o homem bem ao centro em aguardo, esbouçando um semblante malicioso, como quem estivesse ditando cada passo daquele encontro. Naga encarou, mirou o fundo dos seus olhos e ali permaneceu por alguns segundos, desmanchando sua feição impassível em risos tímidos e torcidos, como se quisesse segura-los de alguma forma. Aos poucos parava e, subitamente, cerrava seu riso de uma só vez, trazendo uma feição intimidadora ao cenário. - Ei, não me olhe assim, você sabe que sou tímido! Shishishishi – Encenava provocações. – Adianta de uma vez, não tenho tanto tempo para joguinhos, não dentro do meu circo – Pontuou.  

O homem permanecia em silêncio, sabia das capacidades de Naga e o respeitava grandemente, embora seu temperamento ácido fosse um obstáculo, sabia que o ensinar era como um investimento seguro para a vila, no fim, era um mestre um tanto patriota. Ele fitou Naga com os olhos cheios e um sorriso sincero, apontando para seu abdômen em sucessão. – Diferente do Kanchi que você espalharia seu chakra e sentiria tudo ao seu redor, você irá encolher seu chakra a ponto de não sobrar rastro algum sobre o ambiente – Finalizou ainda apontando.

O sorriso aflorado durante a explicação permanecia nos finos lábios do ruivo, seus olhos se estreitavam na medida que seus músculos relaxavam, estava confiante, parecia entender perfeitamente o que era preciso ser feito ainda que nunca houvesse praticado ou sequer ouvido falar sobre aquela técnica. Primeiro elevou seu chakra ao nível máximo, trazendo ao seu redor uma labareda azul intensa e dançante que permanecia em manifestação por alguns segundos.

Após isso, reduzia aquela chama azul lentamente de modo a se acostumar com sua redução e, quando estivesse no limite, subitamente elevaria um pouco mais e retornaria a extingui-la ainda mais forte. Quanto mais chakra presente mais fácil seria para suprimir, então quando notasse a dificuldade aproximando, aumentaria um pouco mais o fluxo e extinguiria de uma só vez, almejando com o embalo conseguir chegar ao nível indicado, algo como usar de impulso ou forçar na marrar.  

Evidentemente aquela tática não havia funcionado, embora sua capacidade de diminuir seu chakra fosse notoriamente eficiente, não era o bastante. Tentou mais algumas vezes sem sucesso, evidenciado sua chateasse com uma feição séria e torcida. Voltou sua atenção para o mentor, disparando contra ele um olhar ameaçador como quem quisesse anunciar um ataque, respirou fundo e afrouxou o riso.

- Shishishi. Você é um tanto curioso, sabia? - Pausava esperando uma resposta, porém o mestre apenas o olhava. - Sabe porque os palhaços tem nariz vermelho? - Parava para rir, colocando ambas as mãos sobre a boca para abafar a risada. - Porque elas atacavam os mentores deles e acabava sujando – Elevava ainda mais a gargalhada, pausando depois de muito segundos para respirar. - Me entregue logo uma dica, seu chato! - Diria firme, aflorando uma feição séria e totalmente destoante da anterior.  

O homem encarava Naga indiferente, não se sentia ameaçado ou provocado, na verdade, sua função ali era apenas instruir aquele soldado da vila, não era necessária qualquer disputa por ego, afinal, sua experiência e vivência falavam por si só. Olhou para direita e ao visualizar novamente o galho, riria sozinho, novamente utilizando aquele instrumento como explicação. - Use isso, imagine que isso é seu corpo e transfira seu chakra pra cá, após isso, retire. Aplique sobre você como um todo, tenho certeza que você vai entender assim que conseguir – Firmou, sentando-se a frente de Naga enquanto observava suas reações bizarras e estranhas.

Naga erguia uma das sobrancelhas enquanto aflorava uma feição confusa, segurou aquele galho e o olhou de cima abaixo, cheirando, tateando e até mesmo passando sua língua sobre uma das pontas. Mirou novamente os olhos do homem e deixou escapar um sorriso de canto, parecia ter entendido melhor o que deveria ser feito ou tão somente fingia isso. - Você gosta de mim, né? Shishishishi. Tudo bem gostar, eu sei que as vezes não dá pra resistir – Encenava uma feição forçada de timidez. - Vamos terminar logo com isso – Subitamente entonava em voz firme.

Naga transferiu uma grande parte do seu chakra para o objeto, já havia realizado esse tipo de treinamento anteriormente no kanchi, estava familiarizado, porém precisaria adaptar-se. Seu chakra percorria todo aquele item uniformemente e velozmente, restando apenas agora iniciar o processo de supressão. Concentrou em lentamente retirar pequenas porções do objeto, pensava que talvez isso lhe ajuda-se em termos de manipulação e afins. Após isso começou a retirar apenas metade, seguindo a ideia do kanchi de trabalhar com pequenas porções para melhor desempenho.

Sua tentativa de extinguir metade do chakra alocado era falha, pelo menos nas primeiras seis tentativas, conseguindo um pequeno sucesso na setima. Analiticamente ponderou os fatos e novamente seguiu, dessa vez controlando sua respiração e lentamente reduzindo ao mínimo tanketsu por tanketsu.

Os olhos de naga se afinavam assim como uma raposa astuta, entendia perfeitamente o que deveria ser feito e não poupava em exibir aquilo em forma de deboche para com seu tutor. Percebia com aquela tentativa que anteriormente, ao tentar suprimir tudo de uma vez, era como se ele deixasse restos e fragmentos do seu chakra por todos os tanketsus do seu corpo. Abordaria então um processo lento de extinguir tanketsu por tanketsu, acelerando o processo conforme o repetia e assim, aos poucos, o ruivo conseguia sumir daquele ambiente. Seu chakra simplesmente se extinguia, ele estava ali, mas ele não se encontrava ali.

Seu tutor fitou seus olhos dessa vez um pouco assustado, sabia que aquele palhaço era um prodígio, mas aprender uma técnica em algumas horas era absurdo, principalmente uma a qual ele levou semanas para desenvolver. Desmanchou aquele olhar e ergueu um de alivio, percebendo que a nova geração superava a anterior e isso era algo incrível, afinal, um homem tão patriota como ele isso é mais do que suficiente para queimar em seu peito uma chama do tipo: “dever cumprido”

Naga ergueu-se, sequer se despediu decentemente, limitando-se apenas a um aceno com risadas forçadas. Embora não parecesse, aquele tutor era alguém importante para o palhaço.

Aquele fatídico dia raiava diferente para o ruivo, esse que diferente do habitual já estava pronto para deslocar-se da sua casa para o campo de treinamento. A mudança repentina nos costumes se sucedia graças ao anuncio de uma missão importante, essa feita exclusivamente para ele e um acompanhante a escolha. Não sabia muitas informações, mas ainda que desleixado e despreocupado missões eram um tópico a parte para o palhaço. Trajou suas vestes e maquiagens extravagantes e lançou-se pela janela em um movimento tão ágil quanto silencioso, avançando sobre os tetos até o local de treinamento. Após alguns minutos chegava ao local e já tratava de retirar de sua vestimenta um pequeno pergaminho, esse que seria utilizado para desenvolver uma nova habilidade.

Sabia de seu alto potencial de furtividade, mas tão somente esse recurso não seria suficiente para uma missão de nível tão elevado, optando naquela manhã por treinar um jutsu de interrogação e abatimento de vontade. Em um combate, sempre vai ganhar aquele mais preparado, não necessariamente o mais forte, com isso, descobrir informações inimigas de ninjas capturados era fundamental para o sucesso da missão. Respirou fundo, sentou sobre a sombra de uma árvore e começou sua leitura, essa metódica e analítica, visando compreender todos os passos, funcionamentos e truques por trás daquela técnica.

Tanto sua postura quanto seu semblante entonavam um ar destoante do habitual, seus olhos se encontravam cerrados como os de um felino, seus lábios cerrados e face firme evidenciava o total foco naquela aprendizagem. Após total compreensão da técnica, buscou revisar novamente visando não deixar nada escapar e após isso partiria para a parte prática. Tratou de aquecer seu chakra acionando tanketsu por tanketsu, inflamando as labaredas de chakra em um grande e visível azul, esse que aflorava por seu corpo por alguns segundos antes de ser totalmente condensado em uma fina camada.  

Totalmente aquecido, visualizou não tão longe dali alguns pássaros que se mostravam um tanto passivos, pois não engatavam voo com sua aproximação perante eles, aflorando o sorriso audaz da astuta raposa. O ruivo se aproximou, encarou bem aqueles pássaros e seguiu perfeitamente os passos ditados no pergaminho, lançando suas ondas de chakra diretamente na mente daquele ser vivo que, em questão de segundos, bambeavam e caiam do galho a qual estavam. Buscou seguir com o ato, efetuando mais alguns comandos para comprovação da técnica e logo após os liberou.

Naga se mostrou satisfeito, retirou suas roupas ficando apenas com a peça intima e lançou-se sobre o rio local. Não estava movimentado, na verdade, movimento por ali era escasso e ainda que houvesse não seria um problema para o palhaço. Buscou relaxar e gozar daquele momento, pois sabia que amanhã cedo partiria em missão.