〘Gaiden〙

　Um ciano luzido se destacava no afresco exibido pelo firmamento. Conquanto, as írises chocolate mantinham-se vagas, voltadas ao solo granoso abaixo de seus pés.  

　A portadora de tais olhos abstraia-se da beleza sidérea, memorava os fatídicos episódios talhados a sua mente, agora de maneira analítica; averiguaria cada pormenor que a envolvia, retificando suas táticas.

　Não conseguiria proteger ninguém ali, nem a mim mesma, ela resultaria. E não posso continuar assim.

　Observando-a, seu sensei ponderava diante da delicadeza de sua situação, enquanto se aproximava da mais jovem. O local do encontro tratava-se de um plano rochoso escondido entre as muralhas da majestosa falésia que guardava a Vila Oculta da Areia.


　Erguendo a sua face rabuja, ela encontraria a fisionomia verídica de seu professor; o crânio de coiote adornado com os alongados chifres de uma única ondulação. Não haveria razão para que ele maquiasse a sua natureza à ela - o conhecera na sua plena forma em seus dias de infante e o seu curioso deslumbramento ante esta assegurara o apadrinhamento do vivente.

　O discurso ranheta era característico da kunoichi, porém, a austeridade na falácia da menina era implícita e a costumeira energia travessa que acompanhava aquela faceta se ausentava. Embora estranhasse, Eriasu admirava a assertividade auto-impelida. Entendo, é a sua forma de reagir.

　Do compartimento interno de sua calça, ele sacou um delicado relógio de bolso, a marcação apresentada sustentaria o protesto da garota.

　– Minha visita ao Miyage-san subsistiu além do previsto. – O professor justificaria, devolvendo a relíquia pessoal ao local de outrora e a face caveirosa se voltaria a ela. – Criança, já lhe é sabido que sempre hei de postergar meus compromissos por uma boa partida de Shogi.

　Kuromi compreendia o contexto e isentava-se de requisitar demais explicações, assentindo de imediato. Sua urgência por elucidação se devia a uma pauta diversa.

　– Eri-sensei, o que sabe sobre Kekkai Ninjutsu? – Ela questionaria, dotada de tenacidade.


　– A Manipulação de Barreiras. – A voz sobrenatural invadiria o ambiente. – Seu fundamento primordial consiste na materialização de um Campo de Chakra dedicado a contenção ou proteção de determinada área e daqueles ali posicionados.

　A destra enluvada do ser se dirigiria ao interior de sua manta escura, dali um pergaminho de aparência carcomida seria retirado. Com deferência, Eriasu desenrolaria o papel de um amarelo esmaecido e a seguir, o exibiria ante a Chūnin de fios cor-de-rosa.


　– E o Povo da Noite? Como eles interpretam esta Arte Ninja? – A Nara indagaria, aplicada em absorver o máximo sobre o assunto.

　O maxilar exposto do cornífero se abriria, revelando a surpresa do professor a respeito da menção.

　Durante sua viagem ao País da Lua, ele introduzira a mitologia do Conventículo que o abrigara e o instruirá. Porém, ao regressarem a Sunagakure, Kuromi fora convocada para labutar em operações delegadas a Shinobi de sua patente militar, adiando a ministração do roteiro que programara para a aluna. Na adversidade, a oportunidade de retomar estes ensinamentos se disponibilizaria.

　– Ofuscados pela radiância inclemente e exauridos pela miragem apolínea, os desnorteados sobreviventes na Noite confiaram e proclamaram-se o seu Povo. Temendo regressarem à vivência nômade a que foram impostos e agraciados pela hospitalidade oferecida pela Mãe-Notívaga, eles consumiram sua flama interior para garantir a sua discrição e seguridade; firmando residência no invisível. – Eriasu conjucturaria. – Rituais seriam performados a cada Lua Negra visando homenagear sua benfeitora e assegurar a resiliência dos Ciclos de Proteção conjurados.

　A mirada chocolate cintilaria em encantamento e por um breve instante, o júbilo despertado pela atmosfera da narrativa a livraria do pesar do presente; habitar a dimensão etérica onde a serenidade noturna reinava ininterrupta, distante da cobiça, da guerra e da pestilência.

　Conquanto, este correria junto aos grãos da ampulheta e mais uma vez, a realidade pesaria em suas maquinações.

　– E seria possível combinar as barreiras a diferentes tipos de Ninjutsu, sensei? – A Nara perguntaria, retomando as suas intenções iniciais.


　– Atribuição elemental, técnicas de sensoriamento, aprisionamento e até espaço-tempo, as possibilidades são múltiplas. – Ele explicaria e percebendo o semblante resolvido da moça, se satisfaria. – Poderá elaborar um jutsu assombroso incorporando a sua afinidade.

　Considerando o seu estilo de luta e a necessidade de imobilidade para execução de suas técnicas, a redoma energética e a resistência inerente à modalidade pareciam convenientes a kunoichi.

　– Obrigada por compartilhar os seus ensinamentos comigo, Eri-sensei. – Kuromi diria esboçando um doce meio-sorriso.


　– Disponha, senhorita. – Replicaria e então, se afastaria para que a pupila enfocasse. – Bons estudos, Kuromi-chan.

　Embasando-se na teoria ofertada pelo pergaminho de Eriasu, a garota emanaria seu combustível espiritual pelo seu entorno, visando o entendimento básico de Kekkai Jutsu. A campânula mística se ergueria, encobrindo a posição da kunoichi que perquiria a durabilidade da conjuração.

　Convencida, a Nara realizaria combinações de selos, buscando alinhar o recém aprendido com a sua perícia em manipular sua respectiva penumbra. Amotinada, a silhueta obscura responderia ao consumo de chakra.

　Os cílios roseados emolduravam as piscadas frenéticas conjuntas com a intensidade de concretizar o estipulado por seu raciocínio. A projeção sombria se erguia, contudo, oscilava em demasia.

　O que está errado? A kunoichi indagaria frente a dificuldade em convergir as técnicas, a aceleração se devia a pressão emocional e a respiração ofegante a seguiria. Mesmo que a sua vitalidade se mantivesse primorosa, sua sanidade apresentava uma predisposição à desesperança. Era a insegurança, imperando-a diante de uma mera trivialidade.

　– Hm. Ando tão à flor da pele. – Kuromi assumiria, reconhecendo os efeitos da sua perturbação mental. Ela sabia que a labareda imaterial que possibilitava suas ações pendia na harmonia do físico e do cognitivo e o gatilho necessário para alcançar tal estado morava apenas em seu conhecimento.

　Os delicados dedos se alinhariam de maneira ordenada, junto ao ímpeto da Nara em reconectar-se consigo. Na sapiência do contado por seu mestre, ela perceberia inspiração, castaria o seu próprio Círculo de Proteção.


　Assim como a chegada do novilúnio ao palco celestial, a redoma sombria cresceria ao redor da kunoichi obstinada, pareada à sua prece íntima de se salvaguardar. Não tão distante dali, Eriasu contemplava a realização de sua aluna e do entendimento que a acompanhava.

　– Muito bem, filha das Sombras. – O ente felicitaria. – Sua iniciação está finalizada.

Dados: