— ”Você precisa sair mais, interagir mais, fazer mais amigos” e blábláblá. — Repetia as palavras de minha mãe com frequência enquanto caminhava em direção aos campos de treinamento com uma corda amarrada em meu ombro. Não que eu estivesse muito no humor de fazer amigos, mas quando o sensei mencionou sobre uma tarefa aos novos Genins no campo de treinamento e que havia a necessidade de trazer corda, achei que seria unir o útil ao agradável. Ou, na verdade, apenas o útil mesmo.

Por se tratar de campo de treinamento, chutava que haveriam alguns exercícios para serem feitos, o que explicaria a corda que estava levando. Chegando mais perto, observaria outros shinobis à distância, correndo e interagindo entre si, alguns com alguns equipamentos junto deles também. Ouvindo a garota espalhafatosa, cutucaria meu ouvido com o dedo, demonstrando incômodo pelo barulho. — Ou vamos aprender a laçar gado, ou vai ser um treino de pular corda. Não vejo bois por aqui. — Concluiria, olhando em volta.

A conclusão acabava sendo praticamente unânime, me fazendo esboçar um sorriso com o exercício disfarçado de brincadeira. — Bem, vim aqui pra aquecer! Vamos ver qual dos duas-pernas conseguem pular melhor do que eu aqui! — Comentava, desafiando os com membros saudáveis a derrotar alguém com metade de suas capacidades. — Me chamo Gwyn, a propósito. Senju Gwyn! E o de vocês? Não me recordo de muitos nomes da academia. — Ouviria os demais que estavam chegando, tentando gravar os nomes com certa dificuldade. — Hakuna e Boku, certo! Bem, se querem jogar pra sorte, vamos nessa!

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Com as devidas introduções, acabava por focar mais em decorar o rosto do pessoal do que os nomes, visto que era horrível naquilo. Pelo jeito, a de cabelo azul era igualzinha, me chamando de Gin, o que confesso soava engraçado. — Certo, zerinho ou um!! — Com o punho erguido, apontaria para frente com o dedo indicador esticado, sorrindo ao ver que a outra garota animada também havia tirado o mesmo. — GHYAHAHA! Tá com a gente! Girem isso direito, seus molengas! — Diria animado, saltitando (uma vez que ainda estava incapaz de andar), em direção a corda.

No caminho, ouvia a pergunta que muitas pessoas hesitavam em fazer, mas que todo mundo pensava a respeito. — Ah, isso? — Confesso que a tristeza no meu olhar escapava sem que eu tivesse muito controle sobre isso. Relembrava da cena de minha mãe nos escombros comigo junto, enquanto tentava fazer o impossível para tirá-la dali. — Bem, é o que acontece quando resolve fazer jutsus mais avançados do que se é capaz dentro de casa. — Diria, deixando-a saber que havia sido um acidente, e que o único culpado da história era eu. — Mas não ligue pra isso. Mesmo assim, sou melhor do que a maioria. Além do mais, em breve meu braço e perna novos chegarão e poderei fazer o dobro do que faço agora, GHYAHAHA! — Apesar da risada, era notável para quem me conhecia melhor do peso que ainda estava carregando nas palavras.

Já na corda, começaria a saltar com agilidade no momento em que se iniciasse. Notava que Hakuna estava fazendo com uma única perna também, me fazendo rir de sua tentativa. — Pulo assim todos os dias, GHYAHAHA! Vamos ver quem é o melhor perneta, Matata!

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Já sentia algumas gotas de suor escorrendo pela testa na medida em que sentia o calor se acumulando em minha nuca, atrás do rabo de cavalo. A Hakuna até que mandava bem em saltar com uma perna só, se mostrando ser uma boa perneta, se um dia viesse a ser necessário. — Tentar pular com o braço, topa? — Já estaria elevando a competitividade a um nível que nem sei se eu mesmo seria capaz de bancar, mas a confiança dizia que era capaz de tudo.

Entretanto, a outra dupla parecia querer começar, motivo pelo qual acabava parando devagar, saltando em direção da muleta que havia deixado repousando ao lado. — Huh, até que dá pra cansar… — Comentava, seguindo em direção a ponta da corda, segurando com meu braço inteiro. — E você, Mobu? Não parece ser do tipo falante. Algum motivo? — Sentia certo conforto em acabar perguntando, visto que tiveram a liberdade de me perguntar sobre meu acidente também. E, dali, começava a girar a corda num ritmo acelerado, deixando-os sentir o desafio daquele treino.

Sentia certa empatia pelos quebrados como eu, e admirava ele também estar se misturando e se esforçando para ser sua melhor versão, apesar de tudo. Até que, no fim das contas, minha mãe se provava ter sempre razão. Acabou que foi uma boa ideia sair para conhecer gente nova.

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O calor de Suna realmente não era para subestimar. Ainda que o campo de treinamento fosse um local agradável de ficar, por conta da necessidade de realizar treinos constantes, ainda assim estava faltando ar e sombra para conseguir suportar melhor o momento. Quando a outra dupla enfim parava os pulos, largaria a corda no chão e alcançaria meus equipamentos, puxando um pequeno cantil que parecia chamar meu nome. Após um rápido gole, ouvia o resmungar de Batata, que também estava sofrendo com tanto calor. — Pensa rápido! — Diria jogando em sua direção, deixando que pegasse para saciar sua sede também.

Agora daria maior atenção aos demais, lendo com atenção o relato do ruivo sobre a sua mudez. Caso o mesmo revelasse ser apenas um voto, confesso que me tirava um pouco o encanto por ter imaginado que ele também estava “quebrado”, assim como eu. — E escolheu ficar em silêncio por isso? Não acha que seu pai ficaria melhor ouvindo a voz do próprio filho? — O conselho poderia ser delicado, mas eu era direto por acreditar fielmente que um voto de silêncio não resolvia as coisas. Muito pelo contrário. — Meu velho acabou se afundando em bebidas depois do acidente com minha mãe e eu, sabe. Todo dia que consigo tirá-lo da cama, é uma conquista nova. É através de esforço e dedicação que sei que conseguirei trazê-lo de volta! — Ergueria um braço bom fazendo um muque, mostrando minha força de vontade através de meus músculos. — Você me lembra muito de mim mesmo. Pode contar comigo se precisar de algo, Moku! — Expressava com um largo sorriso, quase acertando o nome.

Com a ideia de fazer salto de cordas duplas, refletia momentaneamente sobre o desafio que aquilo seria com uma perna só, mas a ideia apenas me animava mais. — Yoshi! Agora eu e Hantaro, fechou? — Ergueria a mão para ela bater em cumprimento, sinalizando que estaria pronta para começarmos o salto mais difícil, que com certeza me arrancaria ainda mais suor e, quem sabe, um belo tropeço para marcar aquele dia agitado.

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Suor misturado com lágrimas, determinação, emoção e força de vontade. Isso sim era o que todos chamavam de a Força da Areia! Ficava contente pela facilidade de todos ali se abrirem e de formar uma aliança tão depressa. Se não fosse pelo acidente na época da academia, talvez eu tivesse conseguido conhecê-los melhor há algum tempo atrás… Bem, não importava muito… O importante era viver o momento certo? Era o que me fazia conseguir levantar todos os dias pela manhã e não ficar preso aos acidentes do meu passado. Eu precisava ser melhor do que ontem.

Com o cansaço dos pulos, no final acabava desabando no último salto e caindo no chão. Cheio de areia batida em meu corpo, grudada no suor, começava a rir por ter sido capaz de chegar ao limite. — Se aguento? Tá brincando, eu mal comecei! — Não era bem verdade, eu estava acabado, mas conseguia ficar girando corda por mais um pouco.

Levantando-me, acabava pegando as duas cordas com minha única mão, notando que havia certas dúvidas como seria feito com apenas uma das mãos. — Não se preocupem, deixe que eu bato as cordas dessa vez! Quando se perde um membro, o resto do corpo se aprimora para suprir a falta dele. — Pegaria a corda e prenderia nos dentes, firme o bastante para não soltar, e confiando neles o bastante para não serem arrancados caso alguém tropeçasse. — Bamos! — Comentava com a boca abafada pela corda.

Girando ela com tudo o que eu tinha, até mesmo acabava ficando tonto de tanto que girava a cabeça. No fim daquilo tudo, já estava capotando, caindo de bunda no chão com tamanho cansaço. Mal podia esperar pelas minhas próteses, mas a falta delas me fez ser capaz de alcançar um nível muito maior do que o esperado. — Podíamos repetir isso mais algumas vezes, GHYAHAHAHA. Na próxima, com meus braços, talvez algo mais intenso, huh? — Levantando-me, bateria a sujeira de minhas vestes, organizando as coisas que havia trazido junto comigo. — Acho que merecemos uma recompensa mesmo. Estou faminto! — Comentava, finalizando o dia árduo aceitando o convite de jantar junto aos novos amigos.

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