Era como aprender a andar de novo.

A cada passo dado, tremia e precisava me apoiar em algum canto. O braço novo vez ou outra fazia um tremelique que eu não sabia explicar. Sentia a pele coçar e ficar ardida com o atrito com o encaixe das próteses. — Tanto tempo para esses artesãos fazerem algo tão incômodo! — Resmungava, coçando meu ombro como se estivesse com catapora. Sim! Enfim o grande dia havia chegado, apesar do meu ânimo não demonstrar. As próteses haviam chegado pela manhã, e logo de cara já consegui ajustá-las no preparo do café da manhã. Claro que não havia sido o melhor café da manhã de todos e, com certeza, eu não estaria atrasado se não tivesse que limpar o chão por conta do leite e ovos mexidos derrubados.

Hakuba, Rotabu e Moo haviam combinado após o jantar que faríamos um treino de escalada. Claro que precisei manifestar meu descontentamento pela ideia da tarefa com falta de membros, mas agora a situação havia mudado de figura. Não conseguia correr e confesso que já estava tão acostumado com a muleta, que provavelmente andaria e escalaria melhor com ela. Mas a adaptação era um procedimento difícil, mas extremamente necessário.

Os passos apressados acabavam se desenvolvendo, mas sentia o formigamento no cotoco na coxa na medida em que ia me aproximando do destino. Ao longe, já conseguia visualizar algumas figuras conhecidas, me fazendo erguer o braço de metal para cumprimentá-los. — Yooo! Olhem o que chegou! — Diria animado, apesar dos dedos da mão estarem meio malucos, como se eu estivesse pronto para soltar um grande jutsu. — Ainda em fase de adaptação… Apesar dos artesãos indicarem que o melhor é ir começando leve, eu discordo. — Dava um soco no ar, tentando botá-lo sob meu controle na base da marra.

Olhava o paredão que iríamos subir, sorrindo para o desafio grandioso que estava adiante de nós. — Esse daí vai ser nosso desafio? Moleza! Conseguiria sem as próteses, mas vamos treiná-las.

Histórico:

Todos pareciam impressionados com as próteses, e não era para menos. As belezinhas realmente brilhavam sob a luz do sol forte e o nível de tecnologia implantadas nelas era muito superior do que uma simples perna de pau ou gancho de pirata. — Ao menos agora consigo preparar jutsus com mais precisão, sabe? Apesar que agora aprendi a fazer tudo com uma mão só, GHYAHAHA! — Daria uns tapinhas no ombro, tanto para indicar a satisfação por ter dois braços novamente, quanto para amenizar um pouco da coceira e formigamento que estava ali.

Por falar na coceira, estava piorando cada vez mais, deixando uma vermelhidão extremamente incômoda na pele. A perna parecia mais estável, exatamente por precisar de movimentos menos complexos do que os da mão… Mas para uma corrida? Duvidava que fosse capaz de se manter estável por todo o percurso. Mas não era hora de hesitação! A perna sentia o cheiro de medo e ela iria empacar se eu hesitasse, portanto nada de segundos pensamentos. — HÁ! Agora estou completo, tola Batata! Espero que o sabor da areia esteja bom agora, pois vocês vão comê-la quando eu passar voando! — Cantava vantagem com o peito inflado.

Quando a contagem se iniciava, acabava partindo antes do tempo. Seja por ser ansioso demais, ou por um movimento involuntário da perna ou por simplesmente não ligar para as regras, eu saia na frente de todos, rindo com o meu avanço. Não contava, entretanto, que iria sentir o joelho virando em um ângulo estranho, me catapultando diretamente para o chão.


— Bleeeeh, bleeeeh! — Cuspia areia enquanto ouvia as risadas logo atrás de mim. Gritava raivoso, mas me levantava como se nada tivesse acontecido, dessa vez usando o braço humano, e avançando logo após para o resto da corrida. — Apenas para dar um desafio!!! Vamos, vamos, vamo! — Gritava, ignorando as dores que as próteses estavam causando.

Histórico:

A grande muralha era ainda mais imponente sendo vista de perto. Antes parecia ser apenas uma parede alta, mas agora percebia a encrenca que havíamos nos metido. — É… Se o braço ou a perna falham aí, acho que vou virar purê de Gwyn. — Diria num tom de preocupação com humor. Meu corpo não era exatamente muito forte, apesar do vigor dos Senju correrem por minhas veias, mas minha determinação era muito superior aos limites de meu corpo. — Talvez precise executar um pouco do treinamento da academia… Forçar um pouco mais o braço bom pra não vacilar. — Diria mais para mim do que para qualquer outro mesmo.

Esperava que a companhia dos demais fosse o bastante para me livrar de uma eventual queda ou dificuldade no caminho. Ao menos a parede não era tão íngreme assim e haviam muitas deformações possíveis para encaixar as mãos e os pés. ~ Certo, seus pedaços de metal. É hora de me obedecerem, ouviram?! ~ Pensava enquanto firmava melhor o encaixe delas em meu corpo, sentindo a pele assada pela intensa insistência em mantê-los no lugar.

Com um pouco de ajuda, acabava conseguindo me botar pra cima sem muita dificuldade. Sentia a perna e o braço falharem, exigindo maior força do braço bom para continuar a escalada. Executando as técnicas do Gake Nobori no Gyō, firmaria totalmente minha mão mais hábil nos encaixes nas pedras, ao mesmo tempo em que enfiava com maior firmeza o meu pé bom para servir de segurança para não cair, como se estivesse em uma escada. Ainda assim… Sentia as pedras raspando em minha pele e o sangue surgindo pelo excesso de esforço.

O vento era incômodo e dava um nível extra ao desafio. Olhava para cima, vendo as pernas de Hakuna se afastando cada vez mais, até que eu deslizava alguns metros abaixo, me fixando com tudo o que tinha antes que fosse além. — Estou bem… *arf, arf*. — Diria caso alguém perguntasse. Rangendo os dentes, voltaria a subir cada vez mais, tentando acompanhar os locais que os outros haviam seguido para facilitar minha subida.
Nos últimos momentos, agarraria a mão de quem oferecesse ajuda, me jogando para o topo da parede de escalada como um corpo morto. Estirado ao chão, olharia para o céu limpo, com um sol aquecendo meu rosto. — É… Não valeu a pena. GHYAHAHA! — Brincava, uma vez que aquela vista não compensava pela dor sentida, apesar do sentimento de vitória ser gratificante.

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— Ao menos, para descer, todo santo ajuda. — Diria olhando para baixo, sentindo um pouco de vertigem, que me fazia levar o corpo para trás. — Como planejam fazer? — Dizia, querendo muito que não falassem que precisaríamos escalar novamente de volta. Gostaria de já estar aprimorado o bastante com Doton para criar um buraco dali direto ao solo, me fazendo escorregar como um tobogã… Mas eu acho que tinha uma boa ideia em mente. Fincando uma kunai ao redor de uma rocha, pegaria meu fio guardado na bolsa para fazer uma espécie de rapel improvisado. Prendendo em minha cintura e com um nó específico, capaz de se desfazer após uma chacoalhada específica, sentia que estava pronto para ir embora dali. — Vejo vocês lá embaixo então! — Riria, dando alguns passos para trás para ganhar impulso.

Avançaria como se lá embaixo estivesse o maior travesseiro de penas do mundo, capaz de me segurar em segurança em sua maciez. Ao invés disso, estava em queda livre com apenas uma corda servindo de suporte para que eu não morresse e me tornasse aquilo que havia previsto: um purê de Gwyn. Ao invés disso, sentia com felicidade o vento em meu rosto, até mesmo sentindo agradável a areia que o ar carregava, como se eu fosse realmente capaz de voar. Observar o chão se aproximar não me assustava, muito pelo contrário. Sentia-me animado por ver que estava chegando.


Próximo do chão, faria um rápido movimento no ar para segurar a corda, me jogando em direção da parede para frear a aceleração da queda. Faria com que todo o impacto fosse jogado para a perna metálica, que conseguiria absorvê-lo bem sem me deixar dolorido. Claro que o incômodo no encaixe ainda era enorme, mas aos poucos começava a sentir maior naturalidade com ela. Como a corda não era tão grande, acabava precisando soltá-la antes de alcançar o chão, mas dali já era capaz de ir deslizando sem muita preocupação.

Quando enfim pisasse em terra firme, olharia para cima, vendo os demais chegando igualmente rápidos. Sorria, feliz por ver aquele grupo todo reunido novamente. Odiava admitir que estava me apegando. — GHYAHAHAHA, as belezinhas aqui começaram a responder melhor. É tipo subir em cavalos selvagens, sabe? Parece que nada vai fazê-los te obedecer, mas com um pouco de insistência e carinho, acabam se tornando boas amigas. — Acariciava a perna, tentando sentir se houve alguma avaria nela com toda aquela atividade. — Eu vim do País do Fogo. Meus pais se conheceram lá, então já vi algumas coisas aqui e ali. São tipo camelos, só que mais legais. — Comentava com certo humor. Por fim, acabava me levantando, olhando para todos ali, que aparentavam estarem inteiros. — E como estão? Ainda aguentam a volta? A perna aqui não vai me decepcionar agora, tô certo!

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Era por isso que eu havia me identificado tanto com aquele peculiar grupo. Para eles, nunca havia tempo ruim, nunca havia indisposição. Ríamos das coisas, ajudamos uns aos outros e apreciamos todas as belezas da vila e, ao mesmo tempo, com cada um mantendo suas próprias particularidades. Hakuna imediatamente se colocava adiante para fazer a contagem para a nossa corrida, enquanto os outros pareciam aceitar a oferta do desafio. Mexia o calcanhar para sentir melhor a prótese e a confiança que ela me transmitia agora. É… Sentia que estávamos prontos para fazer o nosso melhor.

Colocava as mãos no chão, inclinando meu corpo para frente em posição de um corredor profissional. Sentia os mecanismos se esticando para se adaptarem à posição em que eu estava, enfim aparentando estar respondendo com precisão aos meus estímulos musculares. Quando a contagem fosse finalizada, dessa vez partiria junto aos demais, sentindo a perna tremer em um primeiro momento, bem como o formigamento no encaixe no ombro e na coxa. Não precisava correr em disparada para deixar os outros “comerem areia”, como eu havia dito. Bastava manter um bom ritmo e eu estaria extremamente contente com meu desempenho.

Os outros também equilibravam seus próprios ritmos, e acabava que todos seguiam praticamente lado a lado. Sorria ao vê-los brincando e rindo, apesar da exaustão visível em cada um deles. — O almoço de hoje vai precisar ser reforçado *arf arf*. — Comentava para Mono, que se manteve extremamente focado todo esse tempo.

Quando avistássemos o portão, aceleraria um pouco mais os passos. Tentando manter o ritmo de respiração regular, dava um gás no final para conseguir chegar em bom tempo, mesmo com as dores nas articulações. Quando cruzássemos a “linha de chegada”, me jogaria sentado no chão, repousando em uma sombra, tentando recuperar o fôlego. — *arf, arf*... Até mais, gente… Vou só recuperar o ar e ir para casa. Preciso ajudar no almoço do meu velho. — Com um aceno sem muita força, veria os mesmos se afastando, imaginando qual seria o próximo desafio enfrentado por nós.

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