O dia nasceu comum para o povo de Suna, com singularidades que poucos conseguiam distinguir: a rotina reinava para muitos, os cidadãos que ocupavam grande parte da população e que enchiam o mundo de areia de vida. Pessoas estendiam roupas no varal, varriam o pó para fora de casa, crianças iam para a academia em busca de um futuro grandioso sem saber exatamente o que estava em jogo para si, e alguns animais andavam em busca de uma aventura.

Especificamente, para o único Yamanaka relevante para a região, era um dia diferente. A forma calma como tratou a ameaça de bombas noutro dia permitiu que ele fosse investigado em outra forma de ação além de organizar livros ou caçar pessoas - uma jogada justa, baseada na facilidade em que o clã tem em desenvolver o kanchi naturalmente pela interação mente-chakra que têm. Entretanto, a desenvoltura social parecia algo mais conciso dentro do pacote que o menino tinha, e para aferir tal elemento, deram uma missão que era importante para o futuro da vila: dois mercadores influentes tinham uma cisão entre si e precisavam resolver isso de uma forma ou de outra.

Se a competição fosse meramente mercadológica, eles poderiam continuar como estavam, mas seus filhos estavam em busca de um relacionamento, o que tornava tudo perigoso e delicado. A pressão em cima do genin, no entanto, parecia nula no momento em que ele sentou na cadeira de moderador à espera dos outros participantes daquela reunião.

A primeira família que chegou foi a Nakara. Eles tinham um importante ramo de comércio e cultivo de plantas que funcionava de maneira a agregar ao solo árido nutrientes necessários e possibilitar seu crescimento mesmo na condição extrema - era pouco necessário deixar claro o quanto eles tinham importância pelo seu método secreto, algo que era apreciado a níveis de clã dentro da estrutura da vila. Pai e filho vieram e se sentaram à direita do moderador, um com um rosto fechado, tal como uma rocha que só poderia ser esculpida pelo vento de mil anos, e outro com um leve desespero travestido de calma e esperança em um rosto moldável como argila molhada, respectivamente.

—— Fico feliz que tenha aceito a proposta da reunião, Nakara-san. —— Dirigiu-se com respeito para o mentor da casa - que estava com os braços cruzados. O Yamanaka se levantou, dirigiu-se até um bule, e então serviu cinco doses de chá frio em uma bandeja, levando-a até a mesa do encontro. Aquela era uma boa forma de fazer com que todos dividissem a mesma refeição e se aproximassem dessa forma.

No momento em que os copos estavam sendo colocados, vieram o pai e o filho do rival: os fabricantes de estufa, os Sahada. Era impossível distinguir ambos cenários horizontais espelhados pela sua semelhança em feição. Yama tinha um pequeno desafio adiante.

—— Sahada-san, por favor, junte-se a nós. —— Ofereceu imediatamente, terminando de sentar-se novamente. O segundo grupo aproximou-se com um pouco mais arisco, receoso de que aquilo já poderia ser considerado um ato de entrega inicial; claro, ele acabou sentando-se para evitar perder tempo e terminar aquilo logo. O casal se entreolhou, dando sinal de sua ligação através disso.

—— Vamos estabelecer uma coisa aqui: a intriga é incentivada pelo gênero de seus filhos? —— Foi direto, puxando um curativo inexistente. Ambos negaram com a cabeça.

—— Eu não tenho nada contra, tenho até amigos que são. —— Disse, provando completamente que homofobia não era seu forte.

—— Meu filho pode fazer o que quiser desde que não seja com esses cretinos! —— Um pouco mais progressista, mas certamente agressivo.

—— Seu...! —— Ergueu-se da cadeira, empurrando-a com a perna.

—— Sahada-san, não vamos deixar esse assunto mais complicado, por gentileza. —— Disse, calmo. —— Nakara-san, por favor, sente-se. Precisamos encontrar uma forma de delinear isso para o ganho de todos. —— Sorriu gentilmente como havia aprendido.

—— Papai, por favor... —— Pediu, colocando a mão no braço do senhor Nakara, e amansando ele. Provavelmente ter os filhos presentes seria uma boa estratégia para acalmar os ânimos nesse momento.

—— Obrigado. —— A formalidade ia até um certo ponto, mas o loiro não sabia como tratar os filhos de maneira respeitosa sem misturar os nomes ainda mais. —— Entendo que os senhores têm negócios que vão de encontro um contra o outro. Qual a possibilidade de uma aliança provocada com essa união? ——

—— Nenhuma. ——

—— Zero. ——

Ambos deram sua opinião imediata.

—— Ótimo, já estamos todos concordando em alguma coisa. —— Inferiu, tomando um pouco do chá. A forma como o garoto de quatorze anos tratava aquilo era certamente diferente do convencional. —— Eu pesquisei um pouco sobre o comércio dos senhores antes de vir para cá. —— Pegou uma pilha de papéis que estava ao lado, não com muito volume, mas certamente indicava algum afinco em entender a situação. —— A instalação aqui não é por poucos motivos. O material que permite a manutenção das estufas e do solo provém da mesma matéria prima, e é encontrada nas escavações da região. —— Distribuiu uma folha para cada, contendo as informações da própria empresa para que nada vazasse. —— Essa é uma cópia do resumo de minha pesquisa, unicamente sobre seu próprio estabelecimento, claro. —— Tomou mais um pouco do chá, finalizando o conteúdo.

—— Tendo isso em mente, e sabendo que qualquer um dos dois sair de dentro do país criaria uma dificuldade de transporte desse material para a nova sede, bem como impostos de exportação de Suna que são altos, eu criei um modelo de negócio básico que cria uma área respectiva para cada um atuar. —— Entregou outra folha, esta com um mapa que delimitava locais. —— Com ajuda da área de ciência e tecnologia, eu consegui traçar quais locais conseguem mais fertilidade com cada método e separei de maneira equânime as áreas de atuação, de forma que as duas famílias possam lucrar em cima de monopólio. —— Deixou claro que não tinha interesses de boa-ventura ali, interrompendo a voz do senhor Sahada que queria levantar um ponto. —— Porém, se vocês se juntarem em um oligopólio com a união do casal em mente, mesmo a chance de alguém transgredir com essa projeção tende à zero. Os lucros seriam obtidos por ambas as famílias e vocês poderiam realizar transações com uma falsa competitividade de livre mercado eliminando quaisquer concorrentes que possam surgir com um lado fortalecendo outro. ——

Por fim, puxou um monte de papel a mais e colocou na mesa, assim como uma caneta. —— Aqui está o contrato final, com cópias disponíveis para todos os envolvidos, uma extra, uma para registro na vila, e uma para mim como moderador. —— Olhou para um lado e para o outro. —— Minha assinatura já consta em todas as vias, só necessito da dos senhores. —— Levantou-se, pegando o restante do calhamaço. —— Voltarei em meia hora para quaisquer questões enquanto os senhores podem analisar o contrato. —— Claro, lá estariam outras indicações de ganhos e margem de lucro com a formalidade, algo que abriria facilmente o coração dos pais do meninos.

E em meia hora, estava tudo pronto para engatilhar o processo.