---

E então mais um dia tinha começado, ainda era bem cedo e eu estava terminando de tomar meu café da manhã, minha casa era sempre silenciosa pelas manhãs e até solitária, meu pai saia bem cedo para trabalhar na força policial e minha mãe atuava na administração de um centro comercial da vila, ambos trabalhavam até tarde e quase não nos víamos durante os dias comuns. - “O trabalho que não tem fim.” - Aquela situação me trazia sentimentos conflitantes, estava feliz por eles estarem bem e fazendo algo que gostavam, mas ao mesmo tempo não podia deixar de me sentir solitário em momentos como aquele.

---

De qualquer forma, não era hora para ficar pensando no drama familiar e sim me preparar para meu próprio trabalho. - “Talvez eu esteja pensando nisso por conta do conteúdo da missão?” - Família era sempre um tópico delicado e minha missão envolvia justamente isso. - Um problema de cada vez. - Me levantei da mesa em meio a um suspiro logo após terminar meu café da manhã, acho que eu não precisava pensar muito nisso agora, haveria tempo para revisar o conteúdo da missão e escolher a melhor forma de abordagem para conclui-la sem dor de cabeça.

---

Após minha refeição verifiquei todos os meus pertences, vesti minha armadura de areia e me preparei de forma apropriada passando por todo o ritual matinal, só então sai de casa pronto para mais uma missão na qual tentaria encontrar algum estímulo.

---

Pronto para a missão do dia me dirigi até o portão da vila em um ritmo moderado já que meu objetivo estava ao sul de Konoha. - “Um assassino que roubou a única herança que um ninja escolheu deixar para a vila.” - Não podia negar que o tema da missão me deixava um pouco irritado para dizer o mínimo, um ninja que dedicou sua vida inteira a se aprimorar e proteger sua vila, não teve herdeiros e escolheu gravar tudo que aprendeu durante os anos em um pergaminho para deixar como herança para as futuras gerações da folha era uma pessoa que merecia todo o respeito desse mundo, mas ainda sim alguém o assassinou e roubou seu último presente a vila, seu ultimo desejo.

---

Cheguei ao portão principal em pouco tempo, olhei em volta e assenti para os guardas que faziam a vigia da entrada, eles me responderam com um aceno e então parti para o sul já que as testemunhas tinham indicado que o assassino tinha fugido naquela direção. - “O que temos ao sul?” - Tentei me lembrar do que poderia acabar encontrando pelo caminho, mas não me vinha nada em particular em mente. - “Alguma vila pequena ou esconderijo? Quem sabe ele tenha ido para o território além das nossas fronteiras?” - Seja lá o que estivesse adiante eu precisaria ser rápido e prestar atenção para não deixar nada passar batido, no pior dos casos o fugitivo poderia estar em um território perigoso.

---

Enquanto saltava entre as árvores fui prestando atenção em qualquer coisa que parecesse estranho, mas tudo que existia nas proximidades eram árvores, uma estrada de terra e eventualmente algumas montanhas, sem sinal de vilarejo ou escoredijo. - “O quão longe você foi para se esconder?” - Confesso que comecei a ficar um pouco preocupado, se o ninja fosse de outra vila oculta talvez não houvesse mais esperança de encontrá-lo, mas ao mesmo tempo por que ele estaria ali para roubar um pergaminho de um pobre coitado? Não, ele tinha que estar por perto.

---

Após algumas horas avançando pela floresta algo finalmente chamou minha atenção, uma trilha que desviava da estrada principal mas era estreita demais para carruagens passagem. - Estranho… - Murmurei comigo mesmo e me aproximei do caminho. Logo de cara pude perceber que ela parecia ter sido feita recentemente, pois ainda existiam galhos pelo chão e alguns estavam mal cortados e pendurados, provavelmente um trabalho feito às pressas. - Vamos ver o que tem no fim do arco-íris. - Com cuidado comecei seguir a trilha, prestando atenção aos meus arredores.

---

Demorou cerca de quinze minutos ou algo próximo a isso mas cheguei a um lugar mais aberto que possuía uma estrutura de madeira estranha. - Uma cabana? - Não era exatamente uma cabana, mas uma estrutura oval de madeira, uma madeira diferente das árvores ao redor que destoava bastante dos arredores. - Estranho… - Murmurei comigo mesmo, me preparando para investigar o lugar.

---

Me aproximei com cuidado da estrutura e percebi que existia um rastro de sangue seco próximo ao monumento de madeira. - “Tá, isso é suspeito.” - Dei um passo para o lado e no momento seguinte uma escada de madeira emergiu do chão em minha direção, mas minha areia de ferro bloqueou sua investida. - E isso é forma de receber as visitas? - Questionei enquanto caminhava em direção ao barraco improvisado.

---

De trás da estrutura de madeira saltou um rapaz que devia ser um alguns poucos anos mais velho do que eu, magro e cabelos escuros esgraminhados. - O que você quer aqui? Eu não te convidei! - O que me chamou atenção no entanto foram duas coisas, um era um curativo na sua barriga que tampavam bem mais ou menos o que parecia ser um ferimento provocado por garras ou lâminas, e outro era um pergaminho caído no meio de algumas bolsas.

---

- Eu só estava passando, vi essa trilha na estrada e decidi investigar. - Olhei em volta de forma discreta para verificar se não tinha mais ninguém escondido por ali. - Não tem nada para ver aqui, volte para o que estava fazendo se não quiser se machucar! - O sujeito puxou uma kunai suja de sangue seco da sua bolsa. - Certo, certo, não precisa se exaltar. - Ergui as mãos demonstrando que não tinha intenção de ataca-lo. - Mas antes eu tenho duas perguntas. - Ergui dois dedos. - Como você se machucou assim? - Questionei apontando na direção do seu ferimento. - Foi um urso, ele me atacou quando eu estava passando. - Uma desculpa bem ruim, mas tudo bem. - Certo… E aquele pergaminho, eu posso ver seu conteúdo? - Baixei os dedos que antes estravam erguidos. - Por que? - O rapaz fechou a guarda. - Porque eu estou procurando um ladrão e assassino que fugiu por aqui, concidentemente ele roubou um igual a esse. - Deixei uma aura sombria tomar conta do meu semblante. - Então acho que temos um problema.

---

Um clima tenso se instalou e nenhum de nós fez ou comentou algo por alguns segundos que mais se pareciam horas, isso até que o rapaz decidiu agir primeiro. - Mokuton: Shichūrō no Jutsu! - O solo começou a tremer e de repente algumas pilastras de madeira se levantaram ao meu redor, trancando-me dentro de uma espécie de jaula. - Algo desse nível não vai funcionar. - Estendi a mão direita em sua direção e areia de ferro que me cobria avançou passando pelas frestas entre as pilastras. - Sabaku Kyu. - A areia grudou em em de seus braços e pernas e então apertei, fraturando-os.

---

- Aaarg, seu maldito… ! - Seu olhar feroz deixava transparecer toda sua raiva, mas quem estava mais furioso ali era eu, aquele verme tinha tirado a vida de um ninja da nossa vila e roubado seu último desejo e para que? Para ser ferido e morrer com uma infecção no meio do nada? - Cala a boca, e me responda. - Expandi a areia de ferro que me cercava, destruindo as grades de madeira. - Por que você roubou o pergaminho? O que ganhou com isso? - Fui me aproximando aos poucos pisando nos galhos secos que restaram do seu jutsu.

---

- Por que? Huhhuahuahuahuhua! - O rapaz começou a gargalhar, talvez para tentar disfarçar a dor ou só tinha enlouquecido? - Porque ele era uma presa fácil é claro. - Seu sorriso sádico me despertou um sentimento amargo que não estava acostumado a sentir. - Entendo. - Ergui uma das mãos e comecei a reunir minha areia. - Assim como você.

---

O combate já estava praticamente decidido, com um braço e uma perna inutilizado o assassino não podia fazer muito mais, ao menos fui o que pensei, pois sem que percebesse ele realizou alguns selos com uma única mão e diversas raízes cresceram do solo vindo em minha direção com grande velocidade. - Tsc. - Moldei minha areia para me proteger como um escudo, porém seu golpe ainda foi forte o suficiente para me atingir e provocar alguns ferimentos de raspão. - Um último ato desesperado? Ótimo é assim que tem que ser! - Um sorriso torto se formou em meu rosto, ainda com o braço erguido voltei a acumular areia de ferro alguns metros acima de onde eu estava.

---

-Satetsu Kesshu. - O acúmulo de areia de ferro deu forma a um grande bloco. - Eu adoraria aproveitar um pouco mais a luta, mas infelizmente mais do que empolgação você me deu nojo. - A estrutura de areia de ferro assumiu um formato retangular como um martelo. - Kyodai Tettsui. - O grande martelo de areia avançou em sua direção com velocidade, esmagando-o sem lhe dar chance de escapatória, afinal de contas com uma perna inutilizada tudo que lhe restava era gritar nos poucos segundos que teve.

---

Reuni minha areia de ferro novamente, recriando meu recipiente. - Um desperdicio. - Bufei pelo nariz decepcionado, existia tanto potencial ali mas o rapaz decidiu trilhar aquele caminho sem um pingo de honra ou dignidade. De qualquer modo, recuperei o pergaminho dos céus pelo qual estava buscando e retornei a vila novamente, entregando ao seu verdadeiro destinatário onde seria armazenado e passado para as futuras gerações da folha como uma herança forjada no sangue.