Caminho pelas ruas indo ao centro da vila, observando o movimento e cumprimentando as pessoas e sendo cumprimentado de volta com aquele clima de paz retornando aos poucos. Claro que sempre haviam aqueles poucos que me olhavam de cara torta, não gostando de mim. A guerra continuava a todo vapor e não saia de mim. Sinto meu corpo pesado e uma vontade de deitar em um cantinho para descansar sem ser incomodado. Não só o corpo, como a mente cobrava. Sentia como se uma energia negativa me circulasse, deixando tudo cinza e sem graça. As memórias dos violentos combates, das mortes, do desespero e medo não paravam de ir e vir da minha mente sem descanso. E eu sabia que inevitavelmente, voltaria ao campo de batalha para mais um combate sangrento e exaustivo.

Todavia, naquele dia, eu estava particularmente nervoso, pensando no que fazer e no que dizer quando reencontrasse uma certa pessoa, afinal, apesar de ser um general veterano de guerra conhecido pela vila inteira e talvez até fora dela, eu ainda era um simples jovem com diversos problemas para lidar. Mas acima de tudo, eu me encontrava em um intenso conflito interno que variava entre me aproximar ou se afastar. Mas de qualquer jeito, eu estava no quase chegando no local que ela me pediu para aparecer por meio da última carta que mandou. A moça tinha dito que havia escolhido o local a dedo e que era seguro.

Percebo que ficava na parte mais rural de Kumo, e por dentro, a vegetação verde da montanha escondia um local bem bonito cujo uma pequena cachoeira de águas cristalinas que escorriam em níveis até chegar montanha abaixo. Levanto alguns galhos que atrapalham e passo por eles para entrar finalmente.

Embaixo dos raios de luz que perfuravam os espaços entres as folhas e ao lado do rio estava quem eu queria. A luz reluzia com sua pele clara e cabelos dourados como se fosse uma joia em forma de pessoa. Sentada perto da cachoeira, seus finos dedos delicados lentamente encostam na água e posteriormente recuam rapidamente em resposta a água gelada que despenca da montanha e atravessa o rio. Ela parecia ter curiosidade com o local, observando os detalhes, mas ao mesmo tempo, sua expressão mostrava que inquietação e ansiedade constante. Vestia um vestido branco um tanto formal, aliado de um grande chapéu de mesma coloração junto de um colar contendo uma pedra de esmeralda, tal vestimenta se encaixava tão bem no seu corpo franzino, estava tão linda quanto a última vez que a vi.

Estático, fico observando-a. Porém um sentimento de medo e a dúvida obscurecem os meus pensamentos. Nem mesmo os mais temíveis inimigos no campo de batalha conseguiam me deixar nesse nível de pavor e apreensão. Eu sentia que caso me aproximasse dela, estaria a arrastando direto para a morte e a contaminando com meu corpo banhado de sangue dos meus inimigos e da violência brutal da guerra. Pressentia que eu estava fazendo algo indefensável e lembrando daqueles que morreram. Fiquei parado e indeciso como um covarde patético. Lembro de Hana e como ela morreu por minha culpa. Eu a amo, mas será que estou fazendo o certo?

- Huh?! - Kimi vira sua cabeça direcionando para mim depois de perceber-me por conta de um ruído externo feito perto de mim e quase imediatamente se levanta - FUYUKI! AQUI! - Seu movimento seguinte é correr até mim, balançando sua mão para chamar minha atenção e seu cabelo dourado trançado acompanhava o movimento enquanto gritava meu nome repetidas vezes com a mesma intenção.

Sua aproximação era como um raio de luz que conforme chegava perto, espantava toda a escuridão que me cercava, como um grande alívio e respiro em meio a tensão, enchendo meu coração de uma alegria imensurável no momento.

Me movo até ela em um ritmo lento em constante. Minha frequência cardíaca aumentava conforme chegava perto sentia um frio na barriga e o coração palpitar, a preocupação de antes existia e me torturava, mas parece sou dominado por um impulso que destrói toda minha racionalidade. Tudo que eu queria era ficar com ela depois de tanto tempo.

Paro e estico meus braços abertos na direção da garota. Kimi pula em mim animadamente sem a menor hesitação e eu a seguro pela cintura, levantando-a e rodopiando no ar enquanto fintávamos um ao outro com uma expressão alegre no rosto. Olhando para cima, podia ver a alegria no seu rosto, um sorriso maravilhoso e risadas genuínas que me contagiam.

Desço-a até seus pés tocarem o solo e inclino meu corpo para frente e consequentemente o dela para trás. Meus braços envolviam suas costas e a loira se apoiava no meu pescoço. Eram tantos sentimentos, uma alegria sem limites que me preencheu de repente, uma paixão ardente transmitida através de um olhar flamejante que cada vez se aproximava mais um do outro. Mesmo com meu jeito e comportamento mais fechado, era impossível não demonstrar felicidade ao finalmente tê-la por perto depois de um tempo que pareceu uma eternidade.

Puxo-a de uma vez até mim, como se estivesse ansiando por aquele momento a muito tempo e diminuindo ainda mais a distância bruscamente. Após uma pequena inclinada no rosto de Kimi, abaixando meu tronco e fechando meus olhos, um beijo é selado, mas agora, não em tom de despedida e sombrio como da primeira vez, mas de alívio, reencontro e de esperança. Seus lábios eram doces e ternos, macios como mashmalows nascendo até o desejo de mordiscar levemente. A sensação era melhor e mais reconfortante do que eu lembrava e quando finalmente afastamos os rostos, alguns os segundos de silêncio se prosseguiram.

- Você está bem... Você está segura... Eu lutei tanto para estar aqui - Continuo a abraçando fortemente depois do beijo, murmurando essas palavras que tiravam as amarras e as preocupações do meu coração tão quebrado. Eu odiava demonstrar sentimentos, na verdade, eu já estava sentindo-me cada vez mais insensível, mas ali, em seus braços, era como se eu estivesse em um porto seguro, era como se nem tudo estivesse perdido.

- Que bom que está bem meu Raikage... Eu sabia que iria sobreviver, eu sempre soube - Ela responde, tentando me acalmar e desacelerar os ânimos, acariciando minhas costas lentamente - Eu não consigo expressar em palavras o quanto esperei por esse momento... Um longo ano, mas, apesar de não ter acabado ainda, finalmente pudemos nos reencontrar - Ela completa e com um passo para trás, nos desgrudamos.

Ficamos um tempo fintando um ao outro, apenas apreciando o momento, a companhia e sentindo a ficha cair de que era realmente algo real.

- Então você realmente veio... Viu, eu sabia que você que por dentro você não era tão sério assim – Ela brinca com minha decisão de ter aceitado encontra-la mesmo com o constante perigo.

- Hm... Não brinque com meus sentimentos... Isso não é fácil para mim – Cruzo os braços, fechando a cara. O comentário afetava diretamente na minha moral e meus dilemas, até agora, não sabia se era uma boa ideia, mas as emoção de finalmente reencontra-la falava mais alto.

- Estou brincando, eu também sei dos riscos e por isso quero que me desculpe... Mas não fique assim, venha Fuyuki, me acompanhe - Kimi me chama com a mão, começando a andar alguns passos para frente - Quero te mostrar como esse lugar é tão bonito e cheio de vida, parece um tesouro intocado pelo homem... Eu sei que você gosta de paisagens, então é o lugar perfeito - Ela comenta maravilhada com o ambiente, andando na frente - Ah! Sobre minha roupa... É o meu conjunto para viagens rurais, não é tão refinado, mas particularmente eu gosto - Se explica, olhando para a própria vestimenta e dando um pequeno rodopio em torno do seu próprio eixo.

- Não tem problema... Achei que ficou lindo em você - Falo assertivamente, balançando a cabeça verticalmente.

Kimi fica com as bochechas vermelhas e desvia o olhar. É a primeira vez que a vejo ter essa reação, o que é estranho já que ela sempre fazia as investidas em mim e até mesmo já nos beijamos, mas agora quando sou eu, é essa reação... Ou talvez seja exatamente esse o motivo. Ela tenta reagir de algum jeito, mas gagueja no caminho.

- Mas bom... Eu também não poderia querer outra coisa, apenas de estar aqui... Eu já sou o homem mais feliz do mundo com a mulher mais incrível do mundo... - Continuo dizendo sem modéstia e com um tom orgulhoso.

- Ah! Para com isso! Assim eu vou morrer de vergonha - Recebo um empurrão no braço e ela vira seu rosto para o lado com intenção esconder a vergonha latente.

Pela primeira vez em anos, solto um risinho baixo, mas genuíno. Era uma cena tão boba, mas tão cômica e irônica para mim, pois finalmente, havia encontrado um ponto fraco nela. Ninguém é de ferro.

- Espera... Você riu? - A vergonha é substituída por uma face surpresa e cheia incredulidade - Seu maldoso, você nunca ri e quando faz é quando me deixa sem graça - Reclama cruzando os braços.

- Não foi de propósito - Me sinto um pouco culpado, não queria a deixar mal, retraindo meu humor e voltando para mais seriedade, porém, agora quem começa a rir é a garota.

- Eu to brincando, eu amei ver você rindo, é um daqueles momentos que acontece uma vez a cada vida... Não me importaria se você fizesse de novo - Kimi praticamente tira uma com minha cara, mas será que eu realmente sou tão fechado e sério assim? Quando foi a última vez que eu ri... Que eu sorri genuinamente por algo?

- Eu... Eu posso tentar - Digo um pouco tímido e retraído, virando o rosto para o lado.

- Eu sei que você consegue... Minha mãe dizia que o sorriso é a luz da esperança e até hoje acho que ela está certa... Enfim, vamos? - Kimi retorna à "pauta" principal e começamos a caminhar pelo bosque oculto.

[...]

Nós dois seguíamos com passos lentos e um do lado do outro. Ela estava claramente feliz, apreciando a natureza ao meu lado. Porém, eu não consigo descansar, olhando para vários lugares e preocupado com nossas costas. Um inimigo poderia estar escondido, apesar de todos os meus cuidados. Era praticamente uma paranoia ainda mais intensificada com a presença da loira ao meu lado.

- Ei... – Ela puxa minha manga, me trazendo de volta a mim por um instante - Não precisa ficar tão tenso, tenho certeza que ninguém está aqui além de nós dois, só eu conheço esse lugar – Kimi comenta para tentar me acalmar após perceber minha agitação com relação aos arredores.

- Nunca se sabe... A qualquer momento, alguém pode aparecer e tentar me matar ou pior... Tentar matar você... – Falo, advertindo e a mesma sabe que eu nunca conseguiria me perdoar por isso. Eu já era um ninja experiente, veterano de guerra e ainda por cima Raikage, apenas eu sei o que vi durante minha ainda curta vida.

- Eu entendo, porém... Tente aproveitar um pouco, podemos não nos encontrar de novo durante um bom tempo... Sabe, aqui era meu refúgio especial durante muito tempo, para esquecer dos problemas... – Kimi fica um tanto chateada, dando mais contexto do porque escolheu aquele local.

- Hm... Eu tive um lugar assim no passado... Mas eu o abandonei, porque agora... Só me traz lembranças de um passado que não retornará ou que agora se corrompeu com sentimentos ruins – Falo, olhando para o nada, lembrando do monte que conheci uma amiga de infância, agora morta ou minha antiga casa para onde meus pais nunca retornaram. Todos esses lugares só me trazem tristeza.

- Eu sinto muito... – A loira abaixa sua cabeça, possivelmente sentindo pena de mim, mesmo já sabendo uma parte da minha história de conversas anteriores. Então, ela olha ao redor e sua expressão se anima - Aqui, me empresta uma de suas kunais porque eu sei que você trouxe pelo menos duas - Kimi me diz e ela adivinhou corretamente, embaixo das minhas roupas, haviam algumas armas para defesa, o que ela errou é que eu trouxe três e não duas. A terceira estava escondida dentro do sapato. De qualquer jeito, tiro uma kunai e a entrego.

- Não podemos mudar o passado... Então... Vamos criar um novo futuro mais brilhante.. Um novo refúgio para você - Com ela, Kimi faz um desenho no tronco da árvore: "F + K" com um coração envolvendo as iniciais de nossos nomes, com ela ficando um tempo olhando para isso com um sorriso no rosto. Orgulhosa, ela joga a kunai de volta para mim e quase acertando meu pé sem querer.

- Um desenho na árvore? Não entendi – Pergunto confuso, pegando a kunai do chão e guardando-a na minha bolsa ninja embaixo da roupa.

- É para simbolizar nossa união, mas também, para sempre que você voltar aqui, vai lembrar de mim e de momentos bons... É meio clichê, mas é que nos livros e mangás fazem muito isso por isso decidi copiar... Se bem que na verdade, eu marco como início... Isso aqui – Ela tira debaixo de sua gola algo e pendurado ao pescoço estava um pingente de esmeralda bem antigo e eu consigo reconhecer aquela joia preciosa em qualquer lugar - Foi por causa dela que nos conhecemos e podemos ficar juntos apesar de tudo... Essa joia está recheada de momentos tristes e felizes desde muito tempo atrás... Mas ainda assim, é muito especial para mim - Ela discursa, segurando firme a esmeralda de sua família nas mãos. Na missão em que conheci Kimi, era meu dever proteger várias riquezas, mas principalmente essa joia. Porém, eu sentia que já havia conhecido a garota muito antes disso, no fundo do meu coração, entretanto não conseguia lembrar.

- Entendo... – Encaro a esmeralda e então tocando-a levemente com meus dedos – Já que é assim... vou lembrar disso com carinho – Faço um leve sorriso com o canto da boca.

Considerações: