As coisas eram complicadas em casa. O pai havia acabado de ir parar no hospital em coma. Mas tudo isso havia sido por um motivo: proteger sua mãe. Seu pai era um alcoólatra que estava dispensando tudo sobre eles dois, e sempre ficava sem revidar. Mas ver a mãe sendo atacada daquela forma, não poderia haver outro caminho para acabar com isso. Tinha que enfrentar o pai. Foi o que aconteceu, e com isso, a punição de um homem mau e sem controle foi o coma por se acidentar enquanto corria sem rumo da vida após o incidente. Foi desde esse dia, que decidiu que seria um herói. Aquele que protegeria os mais fracos.

Caminhava pela rua enquanto seguia para a academia. Seu rosto estava cheio de hematomas, de modo que estava cheio de algodão e bandagens. Mas nada grave pelo menos, estava se recuperando e poderia seguir para a Academia normalmente. Até que no caminho, o garoto teve que parar para ouvir uma estranha conversa. Por isso, deu um passo para trás e tratou de espiar a situação. Observando tudo aquilo, havia um garoto que pela camisa, parecia ser do Clã Akimichi. E outro amigo daquele valentão. Seus ouvidos captaram que queriam fazer um pedágio para o outro loiro caído sobre o chão.

Óbvio que não poderia deixar as coisas assim. Por isso, o vulto loiro surgiu pela murada da rua até que em um salto, estaria caindo em direção ao valentão. — Ei, seu bunda gorda do caramba! Vai pra aula! Só vai atrasar quem quer estudar! Seria mais fácil se você morresse de tanto comer! — Falou em pleno ar, movendo os dois pés e chutando o rosto do garoto. Este foi lançado em direção ao chão, mas sem antes dar uma pequena voadinha para tombar contra o chão de costas. Sem dar tempo para pensar, moveu o pé como uma rasteira, derrubando o segundo em comando. — Uepa. — Falou, ficando de pé. Em seguida, colocou as mãos sobre os bolsos e fitou o caído que era a vítima. — Aí, você tá legal? — Questionou, erguendo uma sobrancelha. — Seria mais fácil você reagir, falou? — Estendeu a mão para que levantasse.

Uraku pousou sobre o chão ao mesmo tempo em que percebia que um terceiro havia sido deixado de fora. Tudo bem, o garoto loiro já tinha tomado a dianteira, deixando de costas para o loiro enquanto seus cabelos esvoaçavam ao vento, num tremeluzir dourado de ambos, onde o outro finalizou o terceiro com um soco, e logo acabou. Tendo deixado o garoto de pé outra vez. A mesma mão voltou para o bolso enquanto o protegido ficaria de volta para o chão, de modo que poderia ser visto massageando o punho batido pelo golpe. Uraku já naquela idade já apresentava uma feição ranzinza e séria devido aos seu traumas, mas ainda tinha um aspecto ainda mais juvenil do que outrora.

— Não. Só vi alguém precisando ser protegido e fiz o que tinha que fazer, eu não tô atrasado. — Naquele momento, o pequeno estava de costas para o loiro, olhando por cima do ombro. O vento fazia com que sua camisa laranja sem estampa, bem como a bermuda e o sapato preto acompanhassem a movimentação. — Você luta bem, só continuar treinando e aprimorar essa resistência, assim você parece menos maricas. — Um sorriso brotou ao canto do garoto que começou a caminhar. Ele parecia bruto naquela época, mas não era tão violento e hostil como sua versão do futuro. Afinal, ainda era uma criança em torno dos seus sete/oito anos de idade.

De toda forma, talvez o garoto loiro Senju pudesse notar que o garoto que o salvara tinha bandagens por todo o corpo, sendo isso tudo resultado dos espancamentos do pai, que na época, agredia o garoto como também agredia a mãe, então, alguém precisava tomar as rédeas da situação, e esse alguém fora, justamente quem menos todos esperavam: o filho do casal em um ato de legítima defesa.

Desde aquele dia, o garoto tinha o sonho de ser um herói. Eram atos como aqueles que faziam com que a ideologia heróica do garoto das explosões pudesse ganhar mais força. Quem diria que o Senju e Raoureki voltariam a estar lado a lado no futuro, mesmo se não lembrassem, no passado, também estiveram juntos.

— É? Então que seja. Espero que daqui a uns anos, você não esteja batendo fraco assim como está agora.— Falou o loiro, continuando a andar com as mãos nos bolsos enquanto o caído falava, dizendo que iria se aprimorar no campo do Taijutsu. O problema era que Uraku sabia que as pessoas falavam demais, então, talvez ele fosse alguém muito descrente para sua idade até realmente ver com os seus próprio olhos. Bom, isso era reflexo de uma criação conturbada, onde a violência, a agressão, o negativismo, bem como a falta de compreensão não estavam presentes, de modo que formava quem Uraku era.

Mas isso também permitia o aflorar do senso de justiça e dever de proteção sobre os mais fracos, de modo que isso também começou pela sua mãe. O jovem Uraku cresceu vendo sua mãe sendo agredida, violentada fisicamente pelo próprio pai, onde este, porre em suas próprias dependências, o fazia como um meio de escape, de extravasar todas as coisas ruins que se acometiam em sua vida, o tornando violento e hostil. Mas pelo menos, não era dele que vinha o dom do Bakuton, e sim da mãe do garoto, justamente alguém pacífico com um poder destrutivo.

— Pode deixar, eu irei. — Falou, decidido. Agora sequer olhava para trás. Assim, sem ao menos um gesto de despedida, o garoto deixou o outro para trás. Seus passos o levaram para as dependências da Academia, por onde seguiu pelo corredor de madeira. Várias crianças estavam por ali, várias salas abertas, muitas delas com as portas abertas, janelas ventiladas, isso porque as crianças estavam entrando na sala, com os professores estando na porta para auxiliarem as crianças. Uraku seguia, caminhando calmamente pelo corredor enquanto várias pessoas corriam pelo mesmo. As nuvens lá fora eram brancas, totalmente brancas, e tudo o que se via era a poeira do deserto.

Assim, o Raoureki parou na frente de sua sala, onde o garoto fora bem recebido por seu professor. Agora, ele iria treinar algo que era bom: O Taijutsu. Algo tão contraste com o outro garoto, que provavelmente era bom em outra área, mas com certeza, não Taijutsu.