O dia amanheceu nublado e a minha cabeça não parecia estar diferente, ultimamente parecia que tudo estava mais difícil do que era para ser. Me levantava e me vestia como de costume, peças pesadas para me proteger das batalhas e do calor da forja e por fim, a bandana da Folha. Via minha imagem no espelho mas algo parecia não estar ali, como se existisse um borrão por cima de tudo.

Já do lado de fora eu caminhava com firmeza enquanto minha mente se arrastava entre os pensamentos. Ultimamente sentia que estava atrás de todos, meus amigos da academia tinham prosperado e já haviam subido nos ranks da vila, enquanto isso, eu tinha dificuldades em achar ânimo para fazer mais uma missão simples. Talvez o problema fosse justamente a falta de dificuldade, ou quem sabe, em simplesmente ter que fazer algo para simplesmente ganhar mais um número na minha ficha ninja. Afinal, os maiores ninjas tinham os maiores números, certo? - Tsc.

Chegando no centro da vila eu cumprimentava os outros oficiais e me encaminhava para o quadro de missões. Não existia firulas ou uma grande preparação, era simplesmente encontrar uma missão que fizesse sentido e tirar o papel do quadro. Dessa vez decidi não  ler, apenas agarrei a primeira folha que meus olhos encontraram e saí do lugar.

Sentado no topo de uma casa eu lia cuidadosamente as instruções da minha próxima missão e que na verdade, não eram tão claras assim. - Recuperar uma arma… - Não tinha nenhuma pista ou instrução de onde começar a busca então o melhor a se fazer era verificar os dados de quem tinha pedido a missão e encontrar um ponto de partida. - Takashi Hidetaka… profissão, jounin. Por que um ninja tão forte estaria contratando uma missão rank C? - Enrolaria o papel como um pergaminho e saltaria pelos prédios em direção a casa do tal ninja.


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Palavras: 311

Com algumas batidas na porta deu para notar que a casa estava vazia. - É o que se espera de um jounin, na verdade. Deve estar em alguma missão.  - Dei uma olhada pela janela empoeirada e realmente parecia não ter ninguém ali.- Droga. - Coçava a cabeça sem saber o que fazer. - Não vou voltar de mãos vazias. - Comecei a revirar portas e janelas da casa de dois andares localizada em cima de um armazém em uma parte tranquila da vila e como não tinha ninguém por perto e não foi um problema forçar um pouquinho uma daquelas janelas velhas e pular casa a dentro.

Assim que meus pés tocaram o chão da sala eu percebi que aquela casa estava vazia a muito tempo, o ambiente cheirava a mofo e havia pó por toda parte. Eu não sabia muito bem o que estava fazendo ali, mas meu instinto me dizia para continuar procurando. Vasculhava alguns quadros empoeirados e via momentos felizes ao lado do que pareciam ser seus companheiros de time. - Não tem família. - Conclui. Tinha uma foto com o antigo Hokage, mas nenhuma com filho ou esposa, de fato, parecia ter vivido pela vila. Devolvi as fotos aos seus lugares.

Havia um quadro grande em frente ao sofá que me chamou atenção com uma bela katana afiada. - Parece uma boa arma. - Cheguei mais próximo e consegui ler o entalhe na madeira. - “Tsurugi, recém forjada.” É ela. - Não havia dúvidas na minha cabeça, era aquela arma a qual eu estava procurando.

Não sabia bem o motivo, mas algo naquela casa me trazia uma sensação ruim. Já era hora de colocar tudo no lugar e dar o fora dali. Já com meio corpo passado pela mesma janela a qual eu tinha entrado, o pensamento de uma vida solitária invadiu minha cabeça, de como o caminho shinobi estava intrinsecamente ligado à solidão.

Fechei a janela e continuei minha missão.  

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Palavras: 315

Depois de passar algumas horas conversando com os vizinhos eu descobri que infelizmente o ninja não estava mais entre nós. Já fazia alguns anos que eles não tinha retornado de sua missão e por sinal de respeito o dono do prédio deixou suas coisas exatamente como estavam e fechou o lugar. Quem havia feito o pedido da missão havia sido seu filho que carregava o mesmo nome. Depois de mais algumas horas interrogando a vizinhança eu descobri que ele tinha se afastado do bairro e aberto um restaurante a algumas ruas dali, como já estava tarde parecia uma boa ideia comer algo e conseguir mais algumas informações.

Quando passei pela porta um sino me recepcionou e logo em seguida os funcionários também, eu respondi no mesmo entusiasmo e procurei um lugar no balcão. Na minha frente um homem concentrado preparava um yakisoba, com movimentos hábeis ele jogava o macarrão de um lado para o outro, picava legumes e carnes e misturava tudo sem perder tempo ou desperdiçar movimentos. - O cheiro está bom… - O homem parecia não ter me ouvido ou realmente tinha me ignorado. - Hidetaka-sama? O senhor pediu uma missão no gabinete da vila recentemente? Eu vim buscar mais informações sobre a espada de seu pai. - Takashi parava de cozinhar abruptamente e sem se virar me respondeu. - Como sabe que a espada é de meu pai? - Meus olhos se arregalaram e eu engoli o seco, contar que eu tinha invadido sua casa não estava nos meus planos. - Eu visitei a casa de seu pai em busca de mais informações e descobri que ele… eu sinto muito. Ele parecia ser um ninja forte. - Sua cabeça abaixava e se mantinha assim por alguns instantes. - Ser um ninja forte era tudo o que meu pai sabia ser.

Ele enfim se virou e seu rosto era uma versão mais nova das fotos de seu pai, mas com lágrimas quase caindo. - Por favor aceite esse prato enquanto eu explico todo esse mal entendido.



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Palavras: 328

Enquanto comia meu macarrão eu ouvia sua história. Hidetaka pai era um ninja devoto a vila da folha e tinha jurado ainda pequeno que se tornaria o shinobi mais forte de todos, custe o que custar. Ele não era considerado nenhum prodígio, mas acreditava no trabalho duro e que isso o levaria mais longe do que todos os outros. De fato funcionou, Hidetaka tinha mais missões cumpridas do que todos de sua geração e além disso sempre superou as expectativas. Gradualmente subiu na hierarquia da vila da folha e se tornou um dos jounin chave do Hokage, até que… falhou em uma missão e nunca mais voltou. Hidetaka nunca conseguiu cumprir sua promessa, mas talvez mais triste do que isso tenha sido a família que deixou de lado por tanto tempo para conseguir poder.

Depois de comer nós dois saímos do restaurante e respiramos o ar quente da noite da vila da folha. - Não existe espada nenhuma. Eu não aceito que ninguém mais lembre do seu nome depois de tudo o que ele fez por esse lugar, simplesmente não é certo que sua memória seja apagada assim. Eu não tive a presença do meu pai e essa vila que teve tudo o que ele tinha oferecer simplesmente o apagou para sempre. - Sua voz estava embargada e suas mãos tremiam. Antes que ele pudesse continuar eu o interrompi. - Hidetaka-sama… Muito obrigado! - Faria uma reverência em sinal de respeito as duas gerações de trabalhadores devotos a Vila da Folha, eram pessoas como essa que faziam essa vila ser um lugar tão especial. - Eu prometo honrar o nome de seu pai e como ninja da folha prometo dar o meu melhor para continuar o seu legado. Eu com certeza nunca me esquecerei do que ele fez por nossa vila!

- Akuma Hiro, considere sua missão… completa! - Ele limpava as lágrimas com a manga da camisa e sorria olhando para o céu estrelado. De alguma forma ele só precisava de reconhecimento das memórias de seu pai e de tudo que os dois ofereceram e deixaram de viver juntos.

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Palavras: 343