A quietude até me incomodava, mas pensando melhor agora vejo que estava sendo ingrato com o tintilar suave das gotas que caíam na caverna. No começo, voar debaixo da axila do grandão não era exatamente o que eu havia planejado para a minha vida, mas ao menos conseguiríamos passar por aquele trajeto sem se preocupar com a água “Eu ainda consigo manter o vôo em Tamaki por mais tempo, acho que vai ser suficiente”. Pensei, ainda inocente quanto ao que nos aguardava.

Um uivo selvagem nos alcançou, estremecendo a estrutura da caverna. “Porra…”, até que repentinamente senti que o controle que eu mantinha em relação ao chakra do ninja voador havia sido cortado e o solavanco da gravidade nos recebeu de braços abertos. Por sorte ou puro reflexo, todos conseguiram ainda manter-se sobre a água do poço, embora o líquido fosse de longe o maior dos problemas. Senti um medo cobrir-me a espinha junto ao silêncio sepulcral e a névoa que entupiam o lugar com sua sensação de morte. Não havia nada além do breu, e da escuridão, aqueles olhos.

A vermelhidão cintilante e maligna daquela presença me tragarou de tal forma que meu coração mal cabia no peito, batendo acelerado e fazendo com que minha respiração se tornasse difícil. “Argh…” tentei levar a mão ao peito, mas não consegui. Meu olhar era de desespero. “Então isso é a morte?”, era como mastigar baratas, mas talvez morrer fosse mesmo melhor que isso. Hoje, entendi naquele instante, eu seria apenas um Inseto sendo caçado por uma raquete embebida em chakra raiton. “Merda, eu não queria morrer, mas é impossível resistir”, sentia-me seguindo em direção ao olhar hipnótico. Queria dormir, morrer, partir, ser levado pelos olhos, mas tinha algo que não me deixava partir em paz. Algo irritante, como um pernilongo que voa ao lado do seu ouvido e estraga o seu sono.

— Vocês podem calar a boca?! — Diria em meu consciente, irritado com o zunido dos kikaichuu que habitavam minha carne. Dentro do meu corpo, era difícil discernir se a sensação de dormência e formigamento eram do medo que me fazia perder a força nos joelhos ou do incômodo barulho que eles faziam. Pareciam gritar, pareciam estar incomodados com algo. Eles, que sentiam todo o meu fluxo de chakra e trabalhavam em simbiose com os comandos passados por eles através dessa mesma energia. Sentia como se houvesse um formigueiro ensandecido dentro de mim, movendo-se incansavelmente para lá e pra cá em estado de alerta. Eu já disse que eu consigo me comunicar com eles? Nesse momento, era difícil até mesmo ouvi-los, mas era quase como se pudesse sentir que algo estava errado. “Sim, às vezes eu me esqueço de quanto vocês são incríveis e que quem subestimar seus sistemas nervosos pouco complexos pode se arrepender amargamente. Sim, obrigado por me lembrarem de quem eu sou. Somos muitos. Eu sempre digo que eu sou o Rei dos Insetos, mas a verdade é que nós somos“, tentava mais do que nunca me manter firme contra aquele apavoro e pressão.

Mas o que significava tudo isso? Apenas uma vez enquanto numa missão de rank c foi que eles ficaram assim tão alvoroçados. “Será um genjutsu? Odeio tanto genjutsus e todos os seus usuários”, mas isso era apenas um pensamento. Não poderia ter certeza. Deveria arriscar? Sim. “Vão, meus besouros, devorem. Vocês têm minha permissão”. Sentia o beliscar de suas presas devorando minha carne e pele de fora para dentro, causando espasmos à minha perna em cada ferimento. Sentia que eles também não gostavam daquilo, mas era necessário. Senti que todos trabalhavam como um time dentro de mim, alguns cobrindo meus olhos, outros tapando meus ouvidos. Senti a dor daquilo, e quem sabe eles pudessem estar certos. Em conjunto, poderíamos vencer.

Para o caso do plano dar certo, mas só para unicamente esse caso, então sentiria que algo deveria ser feito em relação ao ambiente que me cobria. Eu não gostava daquela água, não gostava da névoa, tampouco daqueles olhos. Eu precisava ganhar um tempo para pensar, parar e analisar melhor tudo aquilo. Sair de cena, entende? Então se eu conseguisse, faria apenas um selo com as mãos e jogaria meu corpo para o lado, visando investir com o ombro contra a parede que estava à minha esquerda. O motivo? Pensava que, caso ali se tornasse um lugar seguro, eu poderia agir com mais cautela assim como eu gosto. Essa habilidade também me deixava conectado com o magnetismo da terra e dessa forma eu conseguiria, quem sabe, entender a localização do inimigo, além dos próprios companheiros de time. Afinal, não enxergar naquela escuridão me deixava vulnerável como eu também não gostaria de estar.  

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