Caí nos pés do vencedor para ser o serviçal

O jovem de longos e belos cabelos prateados estava passando por algumas situações extremamente delicadas, seu mundo neste momento havia recém virado de cabeça para baixo depois de um acontecimento em específico vivido há pouco menos de duas semanas. O que devo fazer? Eu consigo apenas ver essa vila me engolindo em uma gigantesca piscina de areia movediça. Tsc. O fato de o garoto estar deprimido, jamais deixava de apreciar a beleza natural que a vida lhe proporcionava, ao olhar pro céu o mesmo podia sonhar com sua liberdade, sendo esse o combustível de sua vida, o motivo por não desistir.

Não estava divagando, apenas observava tudo enquanto apenas ignorava qualquer tipo de pensamento que lhe vinha. Mas sua “meditação” fora interrompida por uma ave de rapina que bruscamente havia pousado no parapeito que Shüra estava escorado. O jovem a fitou com raiva no olhar, mas não pôde deixar de notar que trazia ela consigo um pequeno pedaço de papel enrolando preso em uma de suas patas. Vamos ver o que tem para mim. Delicadamente enquanto sorria amigavelmente para o pássaro, retirou o que deveria ser um recado vindo do gabinete ou do quartel-general, uma provável convocação para missão.



Shüra, venho por meio desta pequena carta lhe instruir em sua nova tarefa. Apesar de ser extremamente simples, é de suma importância para o vilarejo. Espero que saiba que hoje é comemorado o aniversário de Suna, por conta disso será realizado um festival no centro da vila e você deve comparecer para auxiliar em uma barraca de espetinhos. Então você será responsável por servir as porções e pedidos dos clientes. Contamos com você!



Um festival? Não tinha ideia que haveria algo assim hoje... acho que vai ser bom para me distrair. O jovem se interessou mais do que o esperado por ele próprio, só pensava em relaxar, mesmo que tivesse que fazer isso servindo os clientes. É, isso vai ser interessante.

Shüra tomou um banho rápido no pequeno banheiro de sua casa, entrou nela e saiu sem que ninguém ali notasse, não queria ter contato com absolutamente nenhuma das pessoas que ali viviam com ele. Sem delongas caminhou calmamente rumo ao centro da vila onde estava marcado a realização das festividades. Para a surpresa do genin, o festival já havia começado e aparentemente já havia ali outros genins que foram escalados para trabalhar. Patético. Não havia horário algum naquela maldita carta, nem se deram ao trabalho de assinar. Há alguns genins por aqui, creio eu. Vou tentar ser carismático, não quero confusão e nem menos acabar tentando matar algum verme irrelevante.

O garoto encontrou a barraca para qual foi designado trabalhar, o movimento ali estava calmo e não parecia haver nada fora do normal. Respirou fundo e entrou. Shüra já dentro da tenda, avistou uma garota - provavelmente já no início de sua vida adulta -. Ela parecia alguém interessante, mas um pouco retraída, observava com um olhar tímido um pequeno grupo composto por duas crianças e uma velha senhora que tinha recém chegadas. Pareciam ser conhecidas, mas antes mesmo da mulher tentar falar algo para as três, foi subitamente surpreendida aos gritos pelo que parecia ser o dono do estabelecimento. Ao fazer seus pedidos de desculpas, o insignificante mistério sobre a relação das quatro foi respondido, as duas pequenas meninas que tinham entrado no recinto eram filhas dela. Você me parece alguém tão jovem, jamais imaginaria que seria mãe.

Para o infortúnio do garoto – mas completamente esperado – o dono da loja de espetinhos se aproximou extremamente zangado, espumava de raiva pela boca, e nesse momento parecia ser a própria personificação do ódio. Moleque insolente! Isso são horas para chegar? Você está atrasado a quase duas horas seu maldito! Vá logo pegar os pedidos e faça alguma coisa. Pode ter certeza que vou fazer uma reclamação pela sua negligência. Shüra tentou fazer seu pedido de desculpas e explicar a situação, mas foi interrompido com mais gritos ferozes e completamente indecifráveis. Espero que morra engasgado com um destes seus espetinhos e veja a sua alma sair de seu corpo em câmera lenta enquanto você se debate no chão. Conteve quaisquer ações e manteve suas ofensas em pensamento e foi até a garota que agora estava na grelha. O genin se aproximou calmamente e com um sorriso carismático acenou para a mulher. Me desculpe o atraso, infelizmente não havia horário na carta que me foi entregue. O garoto se apoiou em uma das colunas da tenda e passou a enrolar algumas mechas de seus cabelos. A propósito, me chamo Shüra, Shüra Hatake. Estou aqui para recolher os pedidos, servir os clientes e fazer o que mais tiver que fazer. Por onde posso começar? Sorriu novamente, queria passar uma sensação de segurança para a mulher, mesmo com seu atraso, não queria passar uma imagem de que era alguém completamente irresponsável e não profissional.

Sou anjo avesso

O clima na tenda não era dos melhores, a bagunça e desorganização na produção e entrega dos produtos para os clientes era evidente, porém não era de se surpreender, levando em consideração que tudo estava na mão de um bando de crianças recém formadas na academia. Espero que isso não acabe em caos.

A garota para que Shüra proferiu suas primeiras palavras ao chegar mal conseguia olhar nos olhos do jovem genin, parecia ter receio de mover até mesmo um dedo com medo de ser repreendida por qualquer ser que fosse. Patético. Ao final de um curto período de tempo onde ela tentava procurar as palavras certas para dizer algo, Aoi se apresentou timidamente, como esperado. Oogata Aoi? Um belo nome para uma bela moça. O jovem Hatake se apressou em tentar esboçar um sorriso carismático, gostaria de tranquilizar a mulher para que se sentisse à vontade em sua presença.

O semblante do belo garoto mudou subitamente, a raiva passara a ficar estampada em seu rosto - de maneira completamente visível – por conta dos comentários vindos de uma nova pessoa que tinha recém entrado na cozinha. Ainda de costas para esse em questão, Shüra respirou e se acalmou, sua feição voltou a ser de total carisma e receptividade. Com uma simples volta de cento e oitenta graus, o Hatake pode vislumbrar quem seria o responsável por confundi-lo com uma garota, logo se deu conta de que havia passado por esse mesmo jovem fora da tenda de espetinhos, provavelmente este estava entregando alguns dos pedidos aos clientes. Diferentemente de Aoi, Argeu era um homem alto e com o corpo extremamente definido, sem duvidas seus grandes músculos eram o ponto mais chamativo em toda sua aparência, fazendo até com que se parecesse mais alto do que realmente era. Shüra precisou dar apenas alguns passos até chegar bem próximo do outro homem, suavemente pousou sua mão direita no peito de Argeu. A única coisa em que sou delicado, é em cortar pessoas com minha espada. Levou sua mão frente ao rosto do Sarutobi e com seu indicador deu uma suave levantada no queixo robusto e quadrado do jovem de cabelos verdes. Prazer Argeu, me chamo Shüra. Se afastou e se pôs ao lado de Aoi na churrasqueira, propositalmente ficando extremamente próximo da moça. Vou ajudar a senhorita, espero que não se importe.

Sem ter notado anteriormente, mais um garoto havia chego ao estabelecimento, este em questão era o total oposto do anterior, um pequeno menino de cabelos curtos que exalava fragilidade. Parece que ele pode se quebrar a qualquer momento, o que será que ele esconde atrás desse semblante delicado? Para a infelicidade do genin de cabelos prateados, este último que acabara de chegar também o tinha confundido com uma mulher, porém de uma maneira um pouco menos rude. Bom, acho que nunca viram um homem realmente bonito na vida, a culpa não é deles. O Hatake sorriu para o novo garoto, estava extremamente irritado com a situação, no entanto se conteve e tentou ser simpático. Olá, Aru! É um prazer conhece-lo. Sou Shüra Hatake. Um menino, a propósito.

O clima acabou ficando muito mais calmo para o garoto com a entrada de um rosto conhecido, era Mai, uma bela jovem que havia encontrado certa vez no portão da vila com outros genins – estes que não via mais desde então. Quanto tempo, Mai. É ótimo ver você de novo. Faraó, o felino companheiro da garota saltara de seus ombros rumo a atacar alguns pedaços de carne que estavam próximo, no entanto, ela mais do que rápida foi capaz de conter o bichano. Continua acompanhada dessa linda fera felina. Formam uma ótima dupla.

A introdução entre os genins foi cortada rapidamente quando o dono do estabelecimento chegara raivoso na cozinha. Aos gritos, demonstrou grande descontentamento com tudo o que estava acontecendo ali. Ele se aproximou de Aoi e Shüra, que estavam na churrasqueira, e sua ira cresceu ainda mais ao ver alguns espetinhos queimados, se virando para moça, a indagou sobre a situação do ponto dos pedidos. O senhor deveria medir suas palavras ao se dirigir a qualquer um de nós aqui. Afinal de contas, eu duvido que você seria capaz de manter isso aqui ativo se estivesse sozinho. O garoto se pôs a frente de Oogata e se aproximou de seu chefe temporário. O que disse moleque? Acha que pode falar comigo desta maneira? Pois fique sabendo que farei uma reclamação sobre você, não ganhara um tostão ao fim dessa sua missão! Ele logo se virou para reclamar de outra coisa, desta vez era sobre a presença de Faraó na cozinha.

Quem este bastardo pensa que é? Eu devia acabar com ele agora mesmo. Não... Talvez no fim do festival, acho que ninguém vai sentir sua falta. Pegou alguns dos espetinhos e os colocou na churrasqueira, sempre atento ao ponto e os virando conforme achasse necessário. Aoi, não se abale por qualquer coisa que esse merda te falar, ele é apenas um frustrado fracassado que gosta de se folgar para quem ele acha frágil. Da próxima vez, mostra pra ele sua força, tenho certeza que você vai se sentir muito bem ao enfrentar ele.

Conheço o meu lugar

O belo rapaz havia deixado seu recado a Argeu, este que pouco antes de voltar a seu posto de trabalho na tenda, se referiu a si próprio como futura sombra da areia, dando uma pequena alfinetada em Shüra, que - sem que o Sarutobi soubesse - havia tocado no ego a quem se referiu. Kazekage? Não me faça rir. O próximo a assumir este posto maldito serei eu, trarei a glória merecida para Suna. Era a primeira vez que o garoto falava sobre seu sonho em voz alta, algo que o incomodou um pouco, pois agora havia deixado exposto a todos qual era seu grande objetivo de vida. Seja por bem ou por mal, Suna será a vila a qual todas as outras se curvaram, o grande império da areia será guiado por mim, o Falcão Branco! Shüra fitava Argeu com seriedade, revelando em seu cenho um semblante de convicção e completamente narcisista. O jovem não se importava muito com o que acontecia as demais pessoas que encontrava em sua volta, mas jamais permitiria que qualquer um ficasse em seu caminho.

Voltando à sua tarefa na cozinha, era extremamente visível o quanto Aoi estava desconfortável com toda a situação e não sabia como se portar em meio a todos ali. Ela tem um sério problema com a timidez… Isso pode levar ela a sua ruína. Pouco tempo antes de finalizar seus pensamentos sobre a kunoichi, a mesma se retirou às pressas da cozinha em direção ao banheiro feminino. Alguma coisa está incomodando-a… Não posso sair da cozinha agora, alguém pode ir atrás dela para ver como ela está?

O tempo foi passando e com ele o Hatake acabou pegando o jeito de preparo e aperfeiçoando seus métodos e manuseios na cozinha. Em um belo trabalho em conjunto com os outros ninjas ali presentes na missão, Shüra conseguiu preparar os pedidos que iam chegando, com uma velocidade extremamente rápida.