A maneira com que a conversa se conduzia viera a ser inusitada. O tempo sequer havia passado consideravelmente e Pandora já estava completamente bêbada. — "Milorde? Que?!" — Questionava a si mesmo, achando engraçado toda a situação — tal humor se estampava em seu semblante sorridente. Ele prontamente se preparava para responder, mas quando abria sua boca prestes a iniciar suas palavras, a mesma o silenciava com seu dedo e a onomatopeia dedicada à imposição do silêncio.

A maneira com que um favor ainda não revelado era solicitado preocupava o garoto. O que poderia ela desejar neste ponto?! Não sobrara tempo para raciocinar, a exposição daquele corpo em roupas íntimas tirava toda a atenção do rapaz, não conseguiria nem dizer seu próprio nome a essa altura, caso necessitasse. Quando a companheira se levantou e revelou seu pedido inocente, a tensão, de certa forma, diminuía e o riso em alegre e tímido do garoto se escancarava. Muito embora tentava não se levar naquele momento para evitar a exposição do despertar de seus feromônios, queria ignorar seus instintos e apenas curtir aquele momento jamais visto antes por parte da morena. A oportunidade perfeita para conseguir se juntar a ela viera diante da pergunta feita quanto a conquista das garrafas solicitadas. — eu... achei elas lá na cozinha... — Proferia com certa vergonha, tentando esconder o fato de ter roubado.

Nisto, Kagi levantava-se e ficava de frente para a mesma, buscando evitar que um assunto vergonhoso como este continuasse. — Enfim, se quer aprender a lutar fisicamente, preciso ver sua força... venha. — A direcionou distante da cama, visando ter mais espaço no que estaria por vir. — Primeiro precisa assumir uma posição, tente assim, igual eu. — Assumia a base das pernas com a esquerda sua não-dominante, posicionada à frente, enquanto ambos os seus braços curvados estrategicamente no intuito de que ambos os punhos ficassem na altura do próprio ombro. Manteria, assim como com as pernas, o braço esquerdo avançado, o deixando preparado na iminência de realizar um golpe com o braço dominante. — Ihh durona! — Diria à mesma enquanto apalparia seu punho, testando o quão firme esta estaria. A situação era tão única que perdia a vergonha de estar vendo-a com pouca roupa — muito embora isto não significasse que ainda não sentia um estranho e intenso desejo por ela. Em seguida afastar-se-ia a fim de induzi-la ao ataque. — Gancho de direita, firme assim, e com vontade! vai... bate aqui! — Indicava com os olhos sua própria mão esquerda, que agora formava um encaixe perfeito adequado ao punho da Heinstein. — E com vontade, vai! — Finalizava, esperando o ataque.

Considerações:

Frio na espinha. Borboletas no estômago. Cabeça quente. Kaginimaru sentia um misto destas e muitas outras sensações diante daquele olhar quente que recebia em conjunto da revelação de que um chute baixo poderia ser muito efetivo. Ela estava mais do que certa, um simples ataque de raspão poderia ser mais do que suficiente para levar qualquer homem ao chão, era de conhecimento geral que todos sabiam de sua própria fraqueza mor, mas não esperava que uma mulher também poderia saber. Não conseguia respondê-la, apenas sorria esperando que não seguisse com o plano do golpe entre as pernas.

O golpe era consideravelmente forte se julgasse o seu físico delicado e o fato de estar bêbada, mas não sobrava tempo para avaliar, o susto dela se desequilibrando fazia com que o rapaz apenas focasse em segurá-la. Uma mão na altura do tórax e a outra um pouco abaixo da cintura, era isto o que seu reflexo gerava naquele instante. Estava salva! Ufa! — M-muito boa... não esperava tudo isso... — Respondia quanto ao soco balançando a mão vítima do golpe no campo de visão dela, como se estivesse tentando aliviar a dor na região.

A maneira com que o corpo da morena vinha para trás induzia o garoto a ir para frente, visando impedir que caíssem, mas não conseguiu aguentar, a aproximação fazia com que cedesse e ambos fossem de encontro ao chão, mas, como o grande cavalheiro que era, fazia questão de não deixar que Pandora caísse diretamente, por isso usou o seu próprio corpo para impedir que a mesma se machucasse com o solo. O afastamento, em seguida, tornava a situação ainda mais inusitada; a posição que utilizava para buscar a bebida tornava aquele cômodo uma verdadeira sauna para o garoto. Não conseguia refletir, não conseguia falar. Estava totalmente estonteado, e a única parte do seu corpo que se movia era a que encontrava-se no centro de seu tronco.

Com a volta dela para próximo, não conseguia vocalizar sua resposta quanto ao quão bom acreditava ser aquele momento, portanto, tudo o que fazia era afirmar com a cabeça. A sensação das unhas apertando contra seu ombro era algo instigante demais, tanto ao ponto de precisar fazer muita força e esforço para não retribuir de sua própria maneira. Ele sorria, mas segurava seus instintos ao máximo, pois estava decidido que não queria aproveitar-se deste momento estando sua parceira completamente bêbada.

Considerações:

Um combate contra mil homens viria a ser extremamente bem mais descomplicado do que a luta que travava contra aquela mulher. Tinha a vontade e o desejo, mas também tinha a convicção de que era totalmente imoral ter um momento desses durante sua sobriedade enquanto a outra parte estivesse longe disso. No momento em que sentia as unhas da garota deixarem de se forçar contra a pele de seu ombro, Kaginimaru sentia um enorme alivio e finalmente conseguia voltar a respirar, percebendo somente neste instante que seu corpo não estava dando conta de até mesmo realizar o ato involuntário mais comum dele. Embora se sentisse aliviado, mal sabia que este era o prelúdio de algo muito mais laborioso; visualizava quase que em câmera lenta o descer das alças e o resultado que elas geravam — inclusive, involuntariamente esticava o pescoço para obter uma melhor visão panorâmica da situação.

A aproximação, o sussurro e o toque. Não resistia, suas mãos acompanhavam as delas e na medida que esta descia, ele subia — com a única diferença de ser o corpo de Pandora seu alvo. Por mais que quisesse, não conseguia respondê-la, apenas auscultava toda a vocalização e sentia em seu âmago o êxtase do momento. A encarava no fundo dos olhos, em sua alma, e podia ver o quão ardente estava — tanto quanto o Youton que usava.

O silêncio que tomava conta do quarto era interrompido pelo mais novo avanço da Heinstein. Por mais que fosse algo silencioso, um zilhão de tinidos se passavam na mente do garoto, seus sentidos não mais funcionavam de maneira adequada à esta altura, era como se estivesse rematado para sempre. Mas antes que se concluísse ou até mesmo que pudesse correspondê-la, assustava-se com o desmaio da mesma. Como um choque de realidade, por reflexo, a segurou antes que pudesse cair por completo.  

Tinha experiência com alcoólatras chegando ao ponto de perder a consciência e por isso não se preocupou com a saúde da mesma, mas ainda tinha a zelar por sua integridade física; então a carregou em seu colo até a cama, a posicionou de maneira apropriada e agasalhou-a com o cobertor que estava na cama, cobrindo até próximo de seu pescoço. Após um leve beijinho em seu rosto, passou então a caminhar para saída, e antes de fechar a porta, daria uma última olhada para trás, contemplando a jovem de cabelos escuros como uma noite sem estrelas e pele branca como a luz do luar de verão.

Partiu então para fora.

Considerações: