Área para realização de missões individuais de Akusei.
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Havia beleza no mundo, afinal. Suas pétalas cintilavam como um ato de resposta aos meus olhares, seus galhos ramificados pareciam dançar sutilmente com a ajuda do vento, e seu tronco tortuoso emanava uma aura única, como se um mundo mágico vivesse sob as raízes daquela cerejeira. Eu poderia encarar aquela árvore por horas, eu queria encará-la por horas. Queria roubar parte de seu brilho, sentir um pouco mais de seu cheiro, me sentar ao seu lado e descansar um pouco sob sua sombra. Havia beleza no mundo, afinal. Ela estava disposta à frente dos meus olhos.  


— Olá, senhor — dizia aos adentrar os aposentos do homem já de idade — Vim realizar a tarefa que solicitou. — Formalidade nunca foi o meu forte, mas a situação exigia um pouco de esforço, eu estava ali a serviço e deveria me dedicar para fazer um bom trabalho. Talvez assim meus superiores começariam a me designar missões com recompensas mais vantajosas.  

— Oh, você já chegou? Os ninjas dessa vila realmente não desapontam — respondia o senhor, com uma leve dificuldade pelas tosses frequentes. Ele estava acamado ao que já parecia ser um longo período, alguns comprimidos estavam dispostos sobre uma escrivaninha ao lado de sua cama, junto de um porta-retratos do que aparentemente seria o rapaz um pouco mais jovem ao lado de sua companheira que, pelo que me foi dito, já não constava mais em vida. — Você já sabe o que deve fazer, não é?

Eu confirmei com um aceno de cabeça, me dirigindo para a espada encostada no canto do quarto em seguida. O homem me explicou que a cerejeira ficava no quintal da residência e também descreveu como queria que a espada fosse enterrada. Era fácil notar a fragilidade em sua voz, talvez pela idade avançada, talvez pelas memórias de sua falecida esposa que aquela espada recordava. Honestamente, era difícil entender qual seria o motivo do homem fazer aquele pedido. Entender o sentimento da perda de alguém querido parecia algo muito distante da minha realidade, uma sensação que eu jamais seria capaz de sentir.

Assim que cheguei no quintal me deparei com a imensa árvore que, num relance, parecia alcançar as nuvens. Algumas pétalas por vezes se desprendiam dos galhos e enfeitavam a grama abaixo da árvore, que criava uma sombra capaz de cobrir quase toda a área do local. Sem que pudesse me distrair ainda mais, organizei algumas pedras e comecei meu trabalho, ciente de atender todas as exigências feitas pelo senhor. Não porque ele iria verificar meu trabalho quando eu terminasse — ele obviamente não seria capaz de fazer isso, dado seu estado. Mas sim porque, de alguma forma, eu queria ser capaz de sentir o mesmo que aquele homem sentia quando imaginava a cerejeira e lembrava de seus momentos alegres com sua esposa. Eu queria sentir, ao menos por um breve momento, a alegria e a felicidade que ele uma vez sentiu com sua amada.

Ao fim do trabalho, me estiquei no quintal ao lado do amontoado de pedras onde estava enterrada a espada, teria sido tudo mais simples se o senhor não tivesse sido tão exigente. Suspirei pelo cansaço, então me levantei e segui até a saída do quintal, mas não sem dar uma última olhada para a cerejeira. No fim, não importava quantas vezes eu a olhasse, eu não sentia nada. Ela não passava de uma cerejeira comum, uma árvore comum como todas as outras. A espada enterrada ao lado de suas raízes não a tornava nem um pouco especial.

Saí da residência após dizer ao senhor que o trabalho estava feito. Ele parecia estar um pouco emocionado com o momento pela forma exagerada como me agradeceu, mas a situação não era mais de meu interesse.  

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Nós vivemos e morremos em um mundo sem esperança. O futuro independe de escolhas, de caminhos, de pensamentos e de ações. Ele é inevitável, ele é sempre o mesmo. Não há beleza na vida uma vez que a única harmonia existente no que vive é o seu destino, a morte. O ato de morrer não é apenas absoluto, é também um abismo. Ele torna tudo uma incógnita. Por que se sonha? Por que se deseja? Por que se vive? Se o fim sempre será o mesmo, por que o início deveria ser diferente?  Ele jamais seria diferente, eu não queria que ele fosse diferente.  


— Você também deve usar isso — disse enquanto entregava minha bandana da Vila para a garota — As pessoas vão te reconhecer com mais facilidade. — Eu podia sentir seus batimentos acelerando, como se um turbilhão de emoções tomasse conta de seu corpo. Ela, que há pouco estava deitada sobre a cama do hospital, agora terminava seus preparativos para realizar a sua última ambição em vida e era meu dever tornar esse sonho realidade.

Ela não falava muito e sempre tinha uma postura apreensiva, o que eu já esperava que fosse acontecer. Eu não queria tornar as coisas mais difíceis do que já eram. Pedia para que ela me acompanhasse e dava uma descrição simples do que faríamos em seguida, ela por vezes respondia com frases curtas e concordava com gestos acanhados. Aos poucos nossa relação se tornava menos retraída e ela tinha mais facilidade em se expressar, mas naquele dia conversamos pouco, pelo tempo que passamos juntos.  

No fim do dia, um céu alaranjado tracejava o horizonte de Iwagakure e chegava a hora de me despedir da minha breve companheira. Caminhamos vagarosamente até o hospital em que ela deveria ficar, pouco conversamos até chegar ao local. Foi então que, como uma pedra caindo sobre um rio sereno, a garota interrompeu o silêncio que nos distanciava com a única pergunta que ela me fez desde o primeiro momento em que nos encontramos — Akusei, você acha que eu seria uma boa ninja?

Naquele dia, ajudamos uma senhora a carregar suas compras do mercado até a sua residência. Também resgatamos o gato de uma criança que estava preso no topo de uma árvore. Escoltamos um homem perdido no seu caminho de volta para casa e ensinamos uma pequena garota a amarrar seus cadarços, entre outras pequenas ações que fizemos em conjunto. Na realidade, havia muito mais da menina do que de mim em cada ação que prestamos aos moradores da Vila. Eu prontamente dizia o que ela deveria fazer a ajudava no mínimo possível, ela que sempre tomava as rédeas das ações. Honestamente, havia muito mais dela do que simplesmente iniciativa.  

Havia também o medo de não ser capaz de ajudar. Havia a apreensão na hora de agir, a satisfação quando terminava seu dever e a gratidão quando era agradecida e elogiada pelas pessoas. Eu puramente agia por necessidade, não havia sentimento nenhum no que eu fazia. Ser um ninja para mim era como uma obrigação, um fardo que eu não sabia o porquê de ser carregado. Ser um ninja era um pequeno compromisso, jamais seria meu desejo antes da morte.  

Para ela era isso, seu último desejo em vida. Havia um motivo por trás disso, afinal? O privilégio que eu tinha em relação àquela garota era o de viver o seu sonho todos os dias como se não fosse nada. Talvez, por conta desse pequeno fato, por conta dessa cruel ironia, ela havia sido uma ninja melhor do que eu jamais seria em toda a minha vida. Em um dia ela havia me mostrado todo o sentimento necessário para ser um bom shinobi, e havia também me ensinado que eu jamais poderia ser igual a ela. Eu conseguia imaginar uma vida inteira repleta de alegrias e momentos reconfortantes quando pensava no seu futuro, mesmo sabendo que esses dias jamais chegariam. Mas no meu caso, por mais que eu tivesse a vida toda pela frente, imaginar meu futuro era como encarar um quadro em branco. Não havia nada além de um repleto vazio que jamais iria ser preenchido.

— Você seria a melhor de todas. — Deixei a garota na frente do hospital com total ciência de que nunca mais iríamos nos encontrar, pelo menos não em vida.

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“Cortar até a raiz, sem amassar” eu repetia as instruções que me foram dadas em minha mente. “Priorizar as mais brilhantes, com pétalas mais chamativas”. Colher flores no País da Terra parecia tão possível como encontrar água no deserto. A cada minuto eu estava mais próximo do lugar onde as plantas medicinais supostamente estariam, mas tudo que eu enxergava era uma imensidão de montanhas e pedregulhos. Aos poucos, meu subconsciente me convencia de que eu só estava perdendo meu tempo naquela missão, “você sabe que tá levando a gente num lugar que não existe, né?” E eu tentava manter as coisas em ordem, de alguma maneira — Fica na sua.

O ambiente mudava ao passo que me aproximava das cercanias da Vila. Não estava em uma área muito afastada, mas aquele lugar certamente não era visitado por pessoas frequentemente. O barro sumia enquanto gramíneas surgiam à frente, arbustos acariciavam minhas pernas enquanto caminhava, um ar mais úmido rebatia em minha face e aos poucos o som de uma correnteza suave aumentava mais e mais. O rio apareceu em minha frente como um passe de mágica, as flores azuis que eu colheria em breve enfeitavam seus arredores e transluziam como a água que seguia seu ritmo ao leste.  

Se eu fosse um pouco menos cético poderia até mesmo imaginar que estava dentro de uma ilusão. Com menos ceticismo ainda, sentiria até pena de estragar a paisagem arrancando as flores azuis que cintilavam com os raios solares. Era certo manipular a natureza como eu bem entendesse? Claro que não seria em vão, as flores serviriam como material para produção de remédios no futuro. Mas de alguma forma parecia que eu estava influenciando o ambiente como eu bem entendia, sem me importar com as consequências das minhas ações.

Fato é que a mãe-natureza não pretende pagar as minhas contas nem o meu salário. E também, talvez eu só estava levemente incomodado por ter feito tarefas básicas desde a minha graduação. Claro, um ninja realiza missões que são compatíveis com o seu nível, mas brincar de jardineiro não parecia tarefa de ninja por nenhum ângulo que eu tentasse enxergar. Na realidade, parecia ser só uma obrigação que ninguém tinha vontade de cumprir, por isso estavam empurrando essa palhaçada para um ninja mais inexperiente. — Que piada — resmunguei.

Saí dali após colher uma quantidade considerável de flores seguindo sempre as instruções que havia recebido do botânico. Uma sensação de frustração me incomodava por conta da situação, seria melhor solicitar uma missão um pouco mais desafiadora da próxima vez? Era difícil de acreditar que fosse evoluir se continuasse fazendo tarefas tão banais. Se era meu destino ser um ninja, eu não iria me contentar sendo um de categoria irrelevante. Por que tudo é tão irritante, afinal?

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Deitado sobre a grama com a cabeça apoiada em meus braços cruzados, encarava as nuvens no céu enquanto esperava o tempo passar. Já tinha visto em algum lugar que era comum as pessoas tentarem encontrar formatos distintos nas nuvens, como se elas lembrassem de objetos ou até mesmo outras pessoas. Mas uma nuvem é só uma nuvem no fim das contas, eu poderia encará-la por horas que ainda assim não seria capaz de associar seu formato a absolutamente nada. Meus devaneios refletiam da minha ociosidade, tinha chegado muito cedo na fazenda e por isso deveria permanecer ali até o momento ideal para fazer minha tarefa. Adormeci antes que as nuvens sumissem dos céus.


Eu estava preso em um quarto completamente escuro e aparentemente sem saída. Tentava, de todas as formas, me livrar daquela prisão. Batia os braços contra as paredes, me arremessava contra suas estruturas, mas tudo parecia completamente inútil. Aos poucos perdia minhas forças, aceitava a prisão que me dominava e negava a necessidade da liberdade. As coisas funcionam dessa forma, uma vez que enxergamos as algemas em nossos pulsos entendemos que jamais seremos livres de verdade.


A noite chegou sem que eu me desse conta. Acordei subitamente e verifiquei a situação dos animais que eu deveria vigiar. Todos estavam no mesmo lugar de antes, o que significava que nada de importante havia acontecido durante meu breve descanso. Mas já estava de noite, o que quer que fosse responsável pelo desaparecimento das cabras poderia agir a qualquer momento, era melhor me camuflar sob alguma sombra e manter o foco em qualquer sinal suspeito que fosse acontecer a partir daquele momento, afinal eu não fazia ideia do que estava prestes a enfrentar. Podia ser um animal feroz que saciava sua fome com as cabras da fazenda, ou um grupo de ladrões que roubava os animais e revendia para terceiros. Eu deveria estar preparado para o que quer que fosse acontecer a partir dali.

Todo meu anseio por um breve momento de adrenalina desapareceu quando eu percebi o que estava acontecendo com as cabras da fazenda. O filho do fazendeiro se esgueirava até os cercados dos animais e os soltava por livre e espontânea vontade.  Depois de me aproximar do garoto para a sua surpresa e indagar a razão das suas ações, o menino, que não devia estar nem em seus dez anos de idade, disse que era injusto ver os animais vivendo naquela situação sem tomar uma atitude. Eles deviam viver livremente, segundo o garoto, não presos apenas aguardando o dia do abate.  

Saí da fazenda de volta para a Vila depois de explicar ao dono do lugar toda a situação. Por ele ser o pai do responsável pelo sumiço das cabras, deixei para ele a decisão do que iria acontecer com o garoto. Talvez, um dia, ele entenda que não são somente as cabras que vivem sem propósito, apenas esperando o dia da própria morte.  

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Eles trocavam carícias, beijos, abraços e sorrisos. A maneira como expressavam seus sentimentos em seus gestos claramente demonstrava o amor que sentiam um pelo outro. Era como se fossem almas gêmeas, nascidos para ficar juntos até o fim de suas vidas, como nas histórias que contam em filmes e livros. Por um breve momento eu invejei esse amor. Desejei que alguém me enxergasse de uma maneira tão genuína que fosse capaz de fazer qualquer coisa por mim, mas voltei à realidade quando tentei me imaginar sentindo a mesma coisa por essa pessoa. O amor não fazia parte do meu mundo e não se encaixava na minha realidade como encaixava na realidade daqueles dois.

Eu observava o casal apaixonado à distância, estava ali apenas em serviço. Meu dever era verificar se o rapaz estava traindo a sua companheira original e o desenrolar da situação me fazia acreditar que as suspeitas da senhora estavam corretas. Eu poderia confrontá-lo, era provável que a mulher que acompanhava o rapaz naquele momento sequer sabia de seu matrimônio inicial, mas esse não era o propósito da minha missão. Só me restava retornar à senhora que solicitou meus serviços e dar um parecer sobre o estado de seu relacionamento. E assim o fiz.

Voltei para a residência da rica senhora que fez o pedido da missão e, assim que a encontrei, descrevi o que tinha presenciado com a maior quantidade de detalhes possível. Ela sequer esboçava alguma reação enquanto eu falava, mas aos poucos o sentimento de decepção aflorava em seus olhos. No fim ela apenas se dirigiu para dentro de sua moradia, sem me dizer uma palavra sequer. Eu não planejava cobrar nenhuma cordialidade da mulher após a descoberta da traição de seu marido, na realidade, apenas tentei imaginar o que estaria se passando na cabeça dela por um breve momento.

Por mais que eu me esforçasse, a única coisa que vinha em minha mente era a mulher se culpando pela traição que havia sofrido. Afinal, ela era culpada por aceitar estar naquela relação a princípio. Também era culpada por confiar o seu amor a alguém que não seria capaz de cumprir suas expectativas. Ela deveria simplesmente não ter entrado naquele mundo, não ter se colocado ao lado daquela pessoa. O amor não está disponível para todos, e nesses casos aceitar a solidão sempre será o melhor caminho. Viver sozinho no mundo nem é tão ruim assim, afinal. Talvez um dia ela entenda a hostilidade que as relações humanas podem nos trazer, principalmente quando nos damos o luxo de confiar em outras pessoas.

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