Mais um dia passava-se na névoa, no limiar do tempo entre o caos e o caos ainda pior. Tudo era incerto, a guerra vinha de fora, ou, desencadear-se-ia das decisões internas de seus residentes e figuras de poder. Nobres, ninjas, revoltos, dentre todos aqueles que podiam trazer consigo o terror e a balbúrdia, os olhos lilases apontariam no vôo singelo de uma grande mariposa que pousava em sua janela logo quando acordava. Sua figura desfazia-se em pleno ar, como pequenos fios de asas que voavam em formato cilíndrico antes de transformar-se completamente em um pergaminho perfeitamente apoiado.

"Haru, precisamos que investigue uma estufa localizada em uma pequena ilha no meio do oceana. Ela não tem mais do que cem metros quadrados, e, há suspeitas que trabalham com forças inimigas. É difícil aproximar-se sem ser notada em números grandes ou embarcações, tente ser sorrateira e roube amostras do que é produzido no local para que seja estudado".

Ela podia notar que a mensagem aparecia e desaparecia conforme o contato de sua mão ou não com um elaborado fuinjutsu que detectava a sua própria natureza, sendo invisível aos demais, ressaltando a importância daquela missão que, não por acaso ia de encontro com as suas afinidades.

1/8

Considerações LEIA:

plantas para roubar
盗む植物



　　　Haru desperta. Os olhos de violeta intenso se abrem com suavidade, ela fita a pequenina aparição que pousou no parapeito da janela entreaberta. A sutileza de uma ínfima presença de chakra, é o que a jovem Watanabi sente.

　　　Ela toca o chão frio de seu quarto com os pés descalços, experimentando um leve arrepio enquanto caminha até a janela. O semblante, ainda sonolento, esboça curiosidade. Chegando lá, ela vê a mariposa bem de perto.

　　　Numa ação que parece ensaiada, Haru estende a mão para repousá-la sobre o animal, mas algo inovador a faz interromper sua ação. E então os olhos violeta lampejam, ela se surpreende.

　　　A mariposa desfigura-se em fios de seda que sozinhos tecem um pergaminho.

　　　Que truque inédito para um chamado de missão. Ela já imagina sobre o que se trata.

　　　Ao retomar seu gesto, Haru toca no pergaminho e reconhece a influência de um Fūinjutsu. Ela deixa sua energia fluir para o objeto, deslacrando o conteúdo selado.

　　　Uma mensagem — quiçá um mapa também — revela-se diante dos olhos violeta. Haru lê o conteúdo e absorve todas as entrelinhas.

　　　Um trabalho de infiltração e uma estufa... Espero que ela esteja recheada.

　　　Rapidamente, a kunoichi da Névoa se apronta. Ela pega seus pertences e se traja com suas roupas de missão. O manto branco se incube de protegê-la do frio da neblina...

　　　Ela olha para o lado; só falta uma coisa.

　　　Haru caminha até o pequeno aquário sem água que há em seu quarto, estende o braço para dentro e retira sua querida companheira, a serpente albina.

　　　Com Shiro enrolada em seu pescoço, a garota está pronta para seguir. Ela escancara a janela e salta para fora, firmando as solas de seus sapatos sobre as telhas da casa.

　　　Então a aventura começaria. Despontando de telhado em telhado, Haru se dirigiria ao porto da vila, onde possivelmente encontraria algum meio de chegar à ilha.

Considerações:

plantas para roubar
盗む植物



　　　Os olhos violeta, intrigados, observaram a telha espatifada. Mas Haru deu de ombros e seguiu como um vulto, singrando a névoa.

　　　Ela é uma garota que se guia pelo racional, então contar com a intuição nunca foi de seu feitio, muito embora agora ela parecesse se render ao ar de impaciência que a atmosfera sopra: ventos que causam incerteza e incômodo. É isso que chamam de mau agouro?

　　　No porto, a pequena kunoichi sente uma assinatura de chakra que se destaca entre civis. Ela contempla a dona da energia: uma garota de aspecto quase tão franzino e debilitado quanto o seu, de tez lívida e cabelo de tom igualmente esmaecido. Haru a observa com cautela, pois a maneira com que a garota se porta demonstra que ela estava lhe aguardando.

　　　O nome de Warui é citado. Haru se arrepia.

　　　— Está bem — a kunoichi de olhos violeta responde. — Como se chama?

　　　Enquanto sobe no barco designado, Haru tende a esquadrinhar a jovem garota. O olhar violáceo examina a figura pálida de cima a baixo, perscrutando até mesmo as inconfidências do timbre de voz, dos traços do semblante; algo que pudesse alertar uma possível mentira. Com sorte, ela estaria dizendo a verdade.

　　　Os braços, antes franzinos, chamam a atenção dos olhos violeta ao se fortificarem e incharem, ficando fortes e robustos.

　　　Essa menina tem algo de especial, constata Haru.

　　　Algum tempo se passou, então o barco enfim atracou em terra firme novamente. De imediato, a Watanabi varre o ambiente com seus olhos de cor viva; não encontra nada além de uma densa mata. Em seguida, ela se concentra na visão de sua mente, tentando achar algum sinal de chakra pelas redondezas.

　　　A misteriosa menina de tez lívida fala mais uma vez. Sem aguardar qualquer resposta, desfaz o barco em água e rapidamente se esconde na mata.

　　　Aquela sensação estranha de mau agouro logo se concentra no pescoço da kunoichi, estremecendo sua nuca, como se houvesse alguém a observando.

　　　Haru suspira. Ainda que estivesse curiosa para saber que tipo de técnica foi aquela usada na embarcação, permanece em silêncio. E então, agita o chakra em seu interior. Aos poucos, ela entra no solo, mergulhando na terra com tamanha sutileza.

　　　Oculta na superfície, ela vagaria pela ilha em busca do local citado no pergaminho: a estufa. Ademais, estaria atenta às chamas que poderiam acender dentro do alcance de seu sensoriamento.

Considerações:

plantas para roubar
盗む植物



　　　Enquanto faseava pelos arredores, viajando sob a superfície, Haru foi acometida por um mal-estar. Diferente do mau agouro que outrora sentiu, a sensação despertada agora tinha implicação física: enjoo, como se passasse por uma turbulência, singrando um mar revolto. Ela notou, então, que o solo estava se mexendo em ondas.

　　　Logo depois, a kunoichi detectou uma assinatura de chakra ao longe. Era pequena, semelhante a da mariposa-pergaminho que aparecera em seu quarto naquele dia. Foi então que sua mente atinada fisgou um detalhe: o ponto de chakra era o epicentro das ondas.

　　　Fui detectada, pensou Haru. Com seu raciocínio sistemático, tratou de calcular a distância entre ela e a assinatura energética. Cerca de cinquenta metros à diagonal... Então notou que a energia começou a se afastar, e também fez questão de calcular a velocidade com que ela se movia. Cinco metros por segundo...

　　　Tomada pelo ímpeto de agir com rapidez, Haru optou por interceptar a figura que seria a dona da assinatura de chakra. Ela viajaria, ainda sob a superfície, em velocidade máxima na direção da energia. Porém, ela sabia que comprar a distância apenas com sua velocidade seria desvantajoso, ainda mais tendo de lidar a correnteza criada pelas ondas.

　　　À vista disso, Haru sacaria uma de suas agulhas envenenadas com Hipnos. Em seguida, emergiria apenas uma mão, dispersando chakra na área e soltando a agulha. Sob seu controle, a arma envenenada voaria rapidamente para atingir o alvo detectado. Enquanto isso, a garota continuaria se movimento através da superfície, e se prepararia com a técnica de substituição, usando algum tronco de árvore pelo caminho como alvo da troca.

Considerações:

plantas para roubar
盗む植物



　　　Haru, após emergir à frente da assinatura de chakra, se assustou com a tamanha precisão de seu ataque.

　　　Ela observava, com o semblante de surpresa que se foi num piscar, o garoto debatendo-se diante de si. Os movimentos do pequeno corpo, o corpo de uma criança, perdiam a cadência lentamente. Era Hipnos agindo, roubando a celeridade.

　　　Os olhos violeta perscrutaram-no. Por conta do pouco peso da vítima e do local onde a agulha se alojou, o veneno agiria mais rápido do que o esperado.

　　　O silvo de Shiro soou uma nota acima. E Haru pensou: Sim... Não é minha intenção causar vítimas, ainda mais uma que não age por conta própria. Ela sabia que a chance de uma criança ser corrompida como um adulto era quase nula.

　　　Haru se agacharia e, com mãos experientes, retiraria a agulha cuidadosa e precisamente, em seguida a devolveria à bolsa. Um toque dos dedos da kunoichi, uma emissão de chakra; o ferimento seria fechado. Quanto ao veneno, não seria necessário removê-lo, uma vez que seu efeito não causaria nada além de um sono profundo.

　　　Ela deixaria a criança dormindo, escondida sob a mata arbustiva mais próxima. Enquanto examinava o corpo, notaria algo nos bolsos: um papel dobrado várias vezes. Haru o abriria e, por conseguinte, identificaria que se tratava de um mapa local mais detalhado do que o ofertado pela mariposa-pergaminho.

　　　Para o norte, pensou, após averiguar os pontos circulados.

　　　Haru daria uma última olhada no mapa e, levando em conta as devidas proporções indicadas pela escala, calcularia as medidas entre cada ponto; memorizaria os caminhos como equações matemáticas e os círculos como os resultados. Por fim, ela dobraria o mapa atentando-se aos vincos das dobraduras anteriores e o devolveria ao bolso da criança.

　　　Mergulhando na superfície de novo, a kunoichi nadaria para a direção indicada.

　　　Faltando cerca de vinte metros para atravessar os portões, o rosto de Haru emergiria no tronco de uma árvore, próximo à copa. Lá de cima, ela observaria o ambiente, esquadrinhando-o para ter certeza quanto as dimensões que encontrou no mapa. Um portão escancarado e alguns espadachins perambulando pelas redondezas: era o que ela encontraria. Parecia um lugar vazio e largado.

　　　Haru voltaria a submergir completamente e seguiria para dentro do recinto.

　　　Com suas habilidades sensoriais, ela estaria constantemente monitorando os passos e a quantidade de pessoas que havia ali. À vista disso, quando encontrasse uma brecha, emergiria sem ser vista próximo de um dos locais onde ficava a matéria prima — de preferência na área coberta.

Considerações:

plantas para roubar
盗む植物



　　　A filha da Névoa, enfim, emergiu.

　　　Enquanto as assinaturas de chakra se reuniam no casarão, de frente para uma longa mesa, Haru contemplava a variedade de ervas separadas em frascos de vidro que havia ali. Algumas, inclusive, passavam por processos químicos em cima da mesa mesmo.

　　　Uma manipulação caseira?, pensou, questionando os métodos científicos usados. Remédio ou veneno? Ou... esteroide, talvez?

　　　Eram muitas, muitas especiarias. E, quase todas, venenosas. Os olhos violeta perscrutavam-nas como se já reconhecessem suas fórmulas — eram treinados para isso.

　　　Shiro silvou calmamente, inclinando a cabeça de escamas brancas para perto da mesa. O conjunto de vidrarias exalava um cheiro forte, porém agradável, de grama depois de chuva. Os aparelhos, embora tivessem alguma sofisticação, soavam rudimentar. Todo o conjunto sussurrava em uníssono: improvisado.

　　　Pressa ou falta de condição? Se bem que, tratando-se de uma produção ilegal, deve ser feita debaixo dos panos. Ainda assim... sinto uma vontade exasperadora de entregar o produto o mais rápido possível.

　　　Para Haru, as pessoas ali estavam trabalhando sob algum tipo de pressão.

　　　Com todo o cuidado que seus conhecimentos lhe permitiriam, ela pegaria uma pequena amostra de cada erva, guardando-as em sua bolsa de equipamentos. E, enquanto recolhesse as amostras, encontraria um envelope, uma carta. Rapidamente, ela apanharia o envelope e leria o conteúdo.

　　　Os olhos violeta estremeceriam. As suspeitas de Haru se confirmariam.

　　　Ela deixaria a carta sobre a mesa, mas guardaria a mensagem em sua memória. Em seguida, mergulharia novamente na superfície e se distanciaria dali. Até o momento, com as amostras na bolsa, a missão estaria completa.

　　　Daqui a dez dias, na fronteira da Névoa.

　　　Seu próximo passo estaria marcado.

Considerações:

plantas para roubar
盗む植物


　　　Antes de tomar a devida distância para ir embora, a kunoichi da Névoa sentiu um arrepio, viu-se à beira de uma revelação.

　　　Cessou a fuga, escondendo-se atrás de pilhas de especiaria espalhadas ali.

　　　Estão se dispersando, Haru pensou, acompanhando o movimento das assinaturas de chakra. Três se aproximavam de repente e, entre elas, duas se destacavam por exalar um grande volume energético. Shinobis de elite?

　　　Escondida, a garota passou a ouvir as falas do detentor da maior chama. Ele irrompeu o silêncio com algumas instruções tecidas por um timbre pretensioso. E Haru pensou: Seria ele o mandante, líder do contrabando?

　　　A tensão daquela proximidade era exasperadora. A Watanabi recorria a um regime de respirações controladas com dois intuitos: acalmar-se e soar leve o bastante para ser despercebida. Shiro a acompanhava, suprimindo seu silvo a um tom quase inaudível como exige um bote sorrateiro.

　　　As chamas tomaram certa distância. Com isso, Haru buscou alguma fresta nas caixas em que se escorava a fim de, com seus próprios olhos, observar o que acontecia.

　　　Um dos orbes violeta obteve sucesso: enxergou um livro sobre uma solitária mesa de madeira, era uma espécie de catálogo sobre os itens prontos para comercialização. Os frascos recebiam uma mesma nomeação marcada em etiquetas:


　　　Mas então, subitamente, uma das chamas voltou ao recinto — a mais forte daquelas três. Não houve tempo para despistá-lo. Haru observou o homem que a encarava, desmascarando seu esconderijo.

　　　Um suspiro escapou dos lábios da garota.

　　　Ela estreitou o olhar violáceo e empertigou-se. Sentiu a agitação daquela volumosa massa de chakra que, junto às falas capiciosas que foram posteriormente proferidas, poderia denotar uma coisa: um ataque.

　　　Num movimento ágil de saque, Haru apanharia um de seus pergaminhos. Em seguida, o sliiph característico do pergaminho se abrindo precederia a série de agulhas a serem invocadas. Nesse ínterim, o cenário recebia a presença de inúmeras folhas de papel.

　　　Os segundos da batalha aconteciam em câmera lenta. Haru reparou nas folhas de papel, afiadas e mortíferas como verdadeiras lâminas, e observou-as iniciar um turbilhão em sua direção.

　　　Com um estampido de fumo branco, finalmente as agulhas seriam deslacradas do pergaminho, e uma barragem metálica seria posta contra o vórtice de papel.

　　　À vista disso, a ação de Haru, como era de seu feitio, detinha certa perspicácia: as agulhas envolvidas em selos explosivos detonariam uma explosão quando colidissem com as folhas de papel, e sua mente atinada que trabalhava como uma verdadeira máquina calculara com antecedência o tamanho da explosão e a relação da área com a velocidade dos projéteis.

　　　Vinte metros de distância. Vinte e oito metros por segundo de velocidade dos papéis. Cinco agulhas; cinco selos explosivos; vinte e dois metros por segundo; vinte e cinco metros quadrados de explosão.

　　　Por fim, a detonação alcançaria a garota antes mesmo das folhas, alguns resquícios da explosão poderiam até chegar ao homem, mas, no fim, isso serviria para acionar sua técnica de substituição previamente preparada.

　　　Caso tudo ocorresse conforme o planejado, Haru estaria numa nova posição, a salvo do golpe e, quiçá, fora da vista do invocador dos papéis. E, nessa nova posição, reuniria energia espiritual dentro de sua boca para, em seguida, expelir uma bruma de veneno atordoante que se misturaria com a fumaça da explosão.

Considerações:

plantas para roubar
盗む植物



　　　Ele respirou do veneno, constatou Haru, observando o estado debilitado do homem de cabelos esmeralda. O jeito altivo perdia sua elegância, o semblante presunçoso desmanchava-se junto da postura.

　　　O silvo de Shiro acompanhou o dissipar da névoa púrpura, e então a filha da Névoa deparou-se com uma inusitada poça d'água no chão que lhe despertou a atenção: Haru sentiu a energia espiritual que emanava dela.

　　　A energia agitou-se e o líquido tomou forma. Após esboçar surpresa, Haru suspirou de alívio. Era aquela garota de tez pálida que lhe acompanhara na viagem.

　　　Shiro sibilou meio arisco, aparentemente não muito receptivo às desculpas da menina-água. Enquanto isso, a Watanabi manteve uma postura de indiferença e se concentrou no trabalho de sondagem energética.

　　　Aqueles outros dois, pensou Haru ao reconhecer as assinaturas de chakra dos lacaios de Ukyo. E alertou: — Estão vindo.

　　　A menina-água usou de suas técnicas intrigantes para fortificar a musculatura dos braços. Notando isso, Haru sabia que ela participaria da luta. No entanto, não estaria disposta a correr os riscos de uma batalha direta. Havia um número grande de pessoas no vilarejo — significando inocentes nos arredores.

　　　A aproximação dos lacaios era iminente. Felizmente, o raciocínio rápido da jovem de olhos violeta possibilitava o cálculo das aproximações em frações de segundos.

　　　— Me segure — disse Haru, esperando que a estranha garota comprasse sua estratégia. — Para trás ao meu sinal.

　　　Os inimigos percorriam o espaço como grandes compressores humanos, usando da gigantesca massa corporal para rolarem feito pedra penhasco abaixo. Haru não perdeu tempo tentando entender que tipo de técnica era aquela; usou dos poucos segundos que tinha para executar uma sequência de selos e preparar a resposta para a ofensiva que vinha a todo vapor.

　　　Vinte... Quinze... Ela contava a distância que faltava para a colisão. Dez... Cinco!

　　　— Agora! — gritaria com a voz meio abafada, como se estivesse de boca cheia.

　　　Haru contava com as capacidades físicas da menina-água que, com a musculatura fortificada, poderia ser capaz de tirá-las da linha de fogo a tempo de escaparem da colisão. Em seguida, a razão pela qual sua voz repercutiu abafada seria esclarecida: ela despejaria uma nova substância de sua boca, formada na execução dos selos.

　　　Um líquido extremamente viscoso banharia o chão bem na rota de colisão e, com sucesso, capturaria os dois compressores humanos.

　　　— Cuide deles. — Uma nova instrução. — Vou averiguar o recinto.

　　　Haru subiria no alto de uma estrutura — o ponto mais alto que encontrasse — e observaria o vilarejo.

Considerações: