Lavava o cabelo na pia da cozinha quando escutou batidas na porta de sua casa. — Espera, Eu já tô indo! — Anunciava em tom alto o suficiente para que quem quer que estivesse ali presente, ouvisse e aguardasse. Naquela tarde, estava vestindo uma simples calça jeans e sem camiseta, a combinação na qual julgava ser o equilíbrio perfeito para a estação atual.

Secava os cabelos com uma toalha enquanto caminhava em direção à porta, estava tão despreocupado que sequer passou por sua cabeça quem poderia ser. Tinha uma enorme surpresa ao dar início ao recebimento da visita, pois não estava nem um pouco preparado para este momento. — Ai! — Soltava um gemido surpreso enquanto que fechava a porta o mais rápido possível sem dar chances da Pandora adentrar. Não podia permitir que ela tivesse a impressão de que ele morava em uma casa suja, mas também não podia deixá-la esperando plantada em sua porta; sofria com o dilema repentino, mas seguia seus instintos.

Ele corria com sua velocidade máxima enquanto que começava a varrer o chão, escondia suas roupas sujas, forrava a própria cama e jogava a embalagem de diversos alimentos que estavam vazias espalhadas pela casa no lixo. "Ai Deus, eu preciso arrumar isso rápido... Que bagunça!. Tudo isso enquanto ainda mantinha a toalha em sua cabeça, o que neste momento já nem se recordava. Vestindo a primeira camiseta que encontrou e um par de meias que ainda estava no chão, ele respirava fundo e julgava estar pronto para recebe-la. — Pode entrar! — Exclamou para  a amada. Por sorte, notava a toalha ainda em sua cabeça e começava a fingir que ainda estava secando o seu cabelo — não que ele ainda não estivesse úmido, mas não costumava passar tanto tempo nesta tarefa.

Ainda estava ofegante, mas escondia com sua experiência perante o próprio corpo. Controlava a respiração de modo que ainda entregava o ar necessário para manter o fôlego estável, mas em consequência sentia-se muito mais cansado do que era para realmente estar — muito embora não estivesse nem perto dos seus limites. A preocupação em manter a boa aparência e ainda assim evitar que a Heinstein aguardasse por muito tempo demonstrava claramente que o garoto estava ficando mais maduro, ou não. A ação não havia durado mais que meio minuto, mas a quantidade de tarefas feitas eram surreais.

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O comentário quanto ao estado em que a residência se encontrava demonstrava que o plano de última hora e improvisado de Kaginimaru havia sido um completo sucesso. Ele sorria de maneira discreta, tentando disfarçar a satisfação interior que sentia. O assunto seguinte o fazia ficar sério e levantar-se, onde pararia de vez com os movimentos da toalha na cabeça e a deixava em mãos, neste momento olhando diretamente para a parceira. — É uma responsabilidade e tanto, não é? — Questionava de forma retórica, parando para refletir consigo mesmo a imensidão do que estava por vir. Esta era a primeira vez em que caía na real sobre o quanto Iwagakure dependia de suas ações, ou melhor, o quanto suas ações iriam definir o futuro da vila inteira.

Passaria por consideráveis pensamentos enquanto até que Pandora novamente quebrasse a tensão da situação. Sorria mais uma vez diante dos comentários dela, era engraçado como o conhecia tão bem mesmo que vivessem distantes por conta das adversidades do destino, mas isto havia de mudar! — Que tal caminharmos pela vila? — Sugeria sem se expressar muito, pois tinha dificuldades com escolhas desta magnitude. Inclusive era esta a única opção restante que havia se passado em sua mente, mas tinha receio de não ser algo que ela esperasse para uma ocasião especial como esta.

De maneira inesperada, recebia o abraço de braços abertos e o correspondia com ainda mais intensidade, não esperava e muito menos tinha noção sobre o que Pandora estava sentindo, mas tentava expressar com seus braços que estava ali para tudo o que ela precisasse.  Depois de um tempo considerável, se distanciaria e estenderia a mão na direção do braço dominante dela, visando seguir para a rua com as mãos dadas. Assim que ela agisse em resposta, seja positiva ou negativa, partiria para um percurso fora de casa.

O pôr do sol em conjunto com o clima ameno deixava aquela tarde ainda mais apropriada para uma caminhada em casal, a beleza do horizonte e a movimentação dos transeuntes fazia do silêncio uma ótima oportunidade para se refletir sobre a vida. Kaginimaru manter-se-ia em silêncio até o momento em que a Heinstein viesse a realizar alguma atitude.  

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Não entendia o motivo dela querer ficar por perto da casa, ainda mais sendo um bairro não muito agradável aos olhos de quem não morasse por ali, mas não a questionaria sobre seus motivos, pois no fim tudo o que importava seria apenas aquele momento único que estava acontecendo. Adorava ter a visão da transição entre a tarde e a noite, mesmo que sempre a visualizasse durante seus treinos que duravam grande parte do dia, não se cansava de ver e rever, pois diante da imensidão dos céus, sempre tinha colorações diferentes para distrair-se.

Os comentários iniciais de Pandora o tocava diretamente em seu cerne, não sabia quanto a opinião verdadeira dos deuses, mas realmente cada instante Kaginimaru era extraordinário, desde os positivos até os mais negativos que passava — em todos existia um aprendizado. Muito embora ficasse fascinado com tudo aquilo, não restava tempo parece respondê-la, pois uma pergunta consideravelmente mais importante tomava conta do assunto entre a dupla. — É claro, é isso que me motiva a lutar todos os dias... — Respondia diretamente. Não precisava sequer refletir para vociferar suas vontades, aquilo estava guardado no fundo de seu coração. Foi por não conseguir ir atrás dela em ocasiões passadas que permaneceu treinando e lutando todos os dias para reverter a situação, almejava ser mais forte não por questão de ego, mas sim de amor e lealdade.

Hoje, mais maduro, compreendia seus erros do passado e como poderia ter feito tudo diferente para que o futuro, no caso o atual presente, ocorresse de maneira muito mais tranquila, mas por estar cego diante de seus sonhos e objetivos, acabara por não ter sido capaz de cumprir com nada. Não era o fim do mundo, sua jornada ainda estava apenas começando e faria tudo de um jeito que jamais se arrependeria, começando por AGORA.

Sua timidez por estar a sós com sua amada o fazia ter de refletir muito para garantir que não falasse nada de errado, mesmo sabendo que podia dizer tudo, queria fazer da forma mais perfeita possível. Fazia muito tempo que desejava perguntar algo para ela e sentia que agora seria o momento perfeito para tal, não somente visando quebrar o desconforto de ficar em silêncio, mas entender como ela pensava. — A-acho que nunca te perguntei, mas qual é o seu sonho? — Questionava enquanto observava o lindo céu alaranjado que iluminava o casal.

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