O dia brincando com as garotas foi divertido, Cassyana dormiu feliz mesmo estando em cima de um papelão no meio da rua. O cheiro estava particularmente forte naquela noite, parecia que o lixo não havia sido recolhido e a catinga do chorume estava intensa ali. A menina teve que enrolar um pano sobre o rosto para conseguir adormecer.
No dia seguinte, após as aulas na academia, Cassy foi para o centro da vila. Apesar de não poder comprar nada, ela gostava de ficar vendo as vitrines das lojas, principalmente de roupas. Vez ou outra um dos reapossáveis brigava com ela, já que sua aparência não era agradável e poderia espantar os clientes. Porém, a garota nunca falava nada, só se afastava.
Aquela tarde quente, estava com um vento agradável. A loja de roupas mostrava um conjunto lindo, era uma bermuda rocha com uma blusa um tom mais claro que ela, a menina encarava cada uma das peças se imaginando vestida ali, porém, os olhos pousou no preço de cada uma delas e a garota ficou triste, iria demorar ter todo aquele dinheiro, se é que um dia poderia ter.
Caminhando por ali, ouviu um burburinho mais alto das pessoas, porém, como sempre passava despercebida para todos, Cassyana continuou seu caminho, poderia ser qualquer coisa, as pessoas sempre ficavam daquela forma quando via alguém mais conhecido caminhando pela cidade.
Parecia que o alvoroço seguia a ruivinha na mesma direção que fazia, passou por ela um homem jovem correndo, este a derrubou ao pisar no seu pé, o que fez com que sua sandália já bem gasta arrebentasse a correia traseira.
— Aí! — saindo do caminho, Cassy se encolheu em um canto do chão pegando o calçado para ver se tinha conserto.
A garota ficou olhando para a sandália um tempo, sua mente estava longe, tudo na sua vida estava dando errado. Desde que passou a ter consciência de vida, sua família trabalhava muito para ter comida, seu pai era um nojento que sempre aterrorizou sua mente e machucava seu corpo e sua mãe resolveu lhe abandonar no meio do nada.
Vivendo agora nas ruas, somente a bondade daquela mulher em lhe dar comida e lhe convidar para a escola que tinha sido bom, de resto, viver nas ruas estava deixando Cassyana ainda mais doente mentalmente, qualquer barulho lhe acordava, qualquer olhar mais fixo das pessoas lhe fazia ficar apavorada e naquele momento, no chão do centro da cidade, percebia que mesmo quando não se tinha nada, poderia ficar pior.
Os olhos da garota encheram de lágrimas, ela não tinha linhas e nem agulhas para consertar a sandália, o máximo que ela poderia fazer era arrancar a tira dos dois pés e deixar ela solta a partir daquele momento, como se fosse um simples chinelo. Passando as mãos no rosto, secando as lágrimas, Cassy levantou e caminhou na direção da ferraria, ali teria algo que ajudaria ela cortar aquelas tiras.
Engolindo o choro, ao chegar e também seu medo de falar com adultos, Cassyana tocou a sineta.
— Pois não?
— Hã… Er… Boa tarde. Você poderia me emprestar algo para eu cortar essa tira? — assim que falou, a garota levou a mão ao pé, no mesmo instante que erguia o mesmo do chão e tirou a sandália. — Pisaram em mim ali atrás e quebrou, não tenho como consertar.
O homem olhou para o calçado.
— Sim, eu tenho algo que pode cortar as tiras, mas porque não compra outra, está bem gasta essa sandália.
Cassyana olhou para o chão com o olhar triste, quando o homem estendeu a mão para pegar o calçado quebrado ela recolheu.
— O senhor cobra quanto para cortar? Eu… Er… Não tenho dinheiro.
— Não cobro nada. — assim o homem também teve a resposta para o fato da garota não comprar uma sandália nova.
Cassyana entregou o par para o homem e ficou aguardando, este foi para dentro e pareceu demorar. Quando voltou, estava com ambas as sandálias com as tiras ainda, só que dessa vez elas tinham um fecho.
— Aqui! Assim você vai poder usar elas por mais tempo e agora estão mais bonitas. — e sorriu para a garota ruiva.
— Mas eu não posso pagar… — ela olhou para o rosto do homem e novamente para as sandálias em sua mão.
Sim, estavam mais bonitas, o fecho era de um metal polido.
— Eu não estou cobrando.
— Obrigada. — ela engoliu em seco e estendeu as mãos para pegar o calçado.
Cassyana sentou novamente no chão, colocou cada uma nos pés, passou as tiras pelo calcanhar e prendeu no fecho que o homem tinha feito. Realmente parecia mais confortável, apertava menos seus dedos.

Considerações:

Características da Personagem:

Jutsus:

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Definitivamente o Hachidaime Tsuchikage detestava chamar atenção por onde passava, mas estes eram ossos do ofício e sempre buscava ser agradável perante aqueles que lhe demonstravam admiração e respeito. Havia aprendido a importância de ser um símbolo de luz local desde o primeiro dia que ascendera ao cargo de Sombra maior da vila. Sabia que sem alguém para transpassar inspirações, novos heróis nunca surgiriam na vila, por isso sempre buscava ser totalmente diferente que o antecessor em relação a própria população. Então, sorria e acenava para todos.

Mesmo que fosse relativamente ingênuo, sempre ficava atento em todos os lados quando acumulava tanta gente ao seu redor. Tanto por questões de segurança, quanto pela preocupação de agradar a grande maioria. Foi neste momento que visualizava a mesma garotinha de antes, desta vez com um semblante totalmente diferente, cabisbaixa por motivos desconhecidos para o Kage. Definitivamente sentia a necessidade de agir, mas não poderia fazer tudo isso em público — pois odiaria a pressão que seria em cima da jovem. Cruzando uma rua, onde ela certamente não teria mais visão sobre o grupo que o acompanhava, Kaginimaru finalmente parava, surpreendendo a todos. — Acabei de me lembrar que tenho uma reunião importante a fazer pela vila, preciso voltar para o Gabinete, pessoal... tenham um bom dia. — Proferia para todos ao redor, partindo em uma absurda velocidade de trinta metros por segundo em direção aos telhados das residências e comércios locais, dando um aspecto de que simplesmente havia sumido.

Antes de tudo, primeiramente passaria em um restaurante, onde compraria um bom almoço e partiria de volta para a região onde estava, agora com uma marmita em mãos. Realizando breves buscas, via a garota interagindo com um velho ferreiro de coração puro, este que por sinal já havia treinado o próprio ruivo em seus objetivos de também se tornar um especialista em forja. Observaria tudo de perto, espreitando dos telhados sem que pudesse ser visto. Ao término do serviço feito, com o Tsuchikage visualizando a bondade do grande ferreiro, o próprio desceria ali para intervir e finalmente se aproximar. — Eu sempre soube que seu coração era puro, mesmo sendo ranzinza com seus assistentes! — Comentaria com um grande sorriso no rosto. Esta era a forma que agradecia dado o grau de intimidade com o mesmo. — O que posso dizer? Depois que o próprio Tsuchikage trabalhou comigo, minhas vendas alavancaram totalmente. — O ferreiro respondia de maneira direta e reta. Ambos riam, descontraídos com as próprias lembranças da época em que trabalharam juntos.

Sem se estender muito, seu olhar se voltaria para a estudante. — Está com fome? Trouxe um pouco de comida para você. — Diria enquanto entregasse o prato especialmente preparado para viagem. O velho ferreiro, já ciente dos assuntos delicados que ali seriam tratados, se retirava da parte da frente de sua ferraria e partia para os fundos, dando maior liberdade para que a garota não se envergonhasse. — Me Chamo Kaginimaru, mas pode me chamar só de Kagi. Sou o líder de Iwagakure no Sato, essa vila aqui mesmo! — Diria rindo. Estava bem desconfortável e não sabia muito bem como agir, mas precisava! Não iria ignorar a situação de alguém da nação que estivesse necessitando de ajuda.

Olhando aos arredores, visualizando a mesa de um outro restaurante disponível ao ar livre, Kagi a chamava com um movimento de mão (o tradicional 'bora'), indicando um local apropriado aonde a mesma poderia comer. Mesmo com os donos percebendo que se tratava de uma refeição concorrente, não impediriam que o líder da vila se sentasse, o deixando bem a vontade. — Uma professora sua me disse que você está vivendo nas ruas, isso é verdade? — Ele questionaria depois que se acomodassem, um pouco depois que a mesma começasse a comer. Mesmo que a resposta fosse óbvia, desejava saber da própria Cassyana e ver como ela lidava com isto.

Considerações:

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Quando o homem falou, Cassy acabou se assustando, não percebeu sua aproximação. Ela ergueu-se do chão e deu um passo para trás. Quando ele voltou sua atenção para si, a garota ruiva arregalou os olhos. “Como ele sabe?” Assim que ele ofereceu a comida, o estômago de Cassyana se manifestou, se impossibilitando esconder sua fome. A garota olhou para o chão se encolhendo, mas pegou a comida, apesar de embalada o cheiro era bom.
O homem revelou sua identidade, a garota percebeu ser o mesmo homem que apareceu quando ela esbarrou com a garota loira. Cassyana deu outro passo para trás com os olhos arregalados.
— Lí..Líder? — ela falou com medo.
O que os outros iam pensar se vissem ele conversando com ela, provavelmente ia ter outra aglomeração e aqueles olhares todos sobre si, Cassyana respirou fundo. Olhando o homem a chamando para uma mesa, onde ela poderia comer, acabou por ceder a companhia, após verificar se tinha alguém reparando neles.
Cassyana sentou e abriu a comida, o cheiro ficou ainda melhor, pegou um talher que tinha ali e começou a comer. Na segunda colherada o homem novamente falou, a menina de cabelos vermelhos levantou os olhos enquanto mastigava para encarar o ruivo na sua frente.
— Sim. Tem algum tempo já, mais de um ano, parei de contar.
Ela voltou sua atenção para a comida de novo, estava com fome afinal. Comeu várias colheradas mais rápido, mastigando, engolindo e colocando mais na boca. Fazia um bom tempo que ela não comia algo tão gostoso, apesar de as refeições na academia serem deliciosas, aquela ali parecia ter um gosto bem melhor.
— Por que você está fazendo isso? — ela não entendia a intenção dele, ele não parecia ser mal ou querer nada em troca, mas ainda assim era adulto e poderia mudar seu jeito quando bem entendesse.
Cassyana abaixou os olhos, fixando novamente na comida, era tão boa. “Mas porque ele está se preocupando comigo?” A sua mãe lhe cuidava, porque a menina ajudava em seu trabalho, quando viu o que a garota fez com um homem que foi em seu quarto para estrupa-la lhe abandonou em um país desconhecido. Seu pai só lhe procurava para machucar, inclusive colocou o homem desconhecido em seu quarto. Para Cassy todos os adultos queriam algo em troca para as crianças terem um pouco de conforto e brincadeiras.

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Sorria em ver a garota matando a fome, a cena apertava seu coração e sentia a culpa de permitir que ainda existisse casos como este em sua vila sem a devida atenção merecida. Com o questionamento sobre o motivo pelo qual estava ajudando ela, não precisava nem mesmo refletir para responder. — Você faz parte da minha nação, não faz? É meu dever te ajudar, ainda mais com a pouca idade que tem. — A respondia de maneira direta, mas sorridente. Manter-se-ia em silêncio por um breve momento enquanto pensava como diria a ideia seguinte que havia tido. — Mas o mérito de eu estar aqui é totalmente seu. Você está estudando e desenvolvendo suas habilidades, demonstrando que tem interesse em mudar de vida mesmo lidando diariamente com tantos problemas. Ouvi dizer que você está conseguindo acompanhar a turma mesmo entrando bem mais tarde que todos os outros colegas. — Optava por explicar um pouco mais como havia conhecido ela, seguindo então para o que tinha em mente. — Tenho uma casa antiga que eu vivia na minha infância e você pode morar nela. Já te adianto que ela não é nada aconchegante e está bem velha, praticamente abandonada, mas você vai estar mais segura do que vivendo nas ruas. Também pedirei para a minha assistente que lhe traga comida toda semana enquanto estiver morando lá. — Praticamente discursava, visando única e exclusivamente tirá-la de situações tão insalúbres.

Se a mesma concordasse, assim que Cassyana terminasse de comer, Kaginimaru partiria guiando até onde a residência se encontrava. — Quando você se formar na academia ninja, vai se tornar uma Genin que cumprirá missões por Iwagakure. Caso persista, chegará em postos tão altos que pode um dia até mesmo ocupar o meu cargo. Leve isso como uma aposta que estou fazendo em você. Não é um favor e muito menos uma boa ação. — Mascarava o que seu coração lhe mandava fazer com a tentativa de incentivá-la a ser sempre melhor para a vila e para si mesma.

Quando finalmente chegassem, se deparariam com uma pensão velha e ruidosa onde os ninjas  menos abastados viviam. Ao entrarem, Cass poderia notar que a construção em si sofria com rachaduras e tudo se mostrava um ambiente pouco convidativo, com a estrutura comprometida e condenada, servindo apenas como um local de abrigo melhor do que as ruas escuras e misteriosas.

Considerações:

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Cassy terminou de comer até o último grão que tinha ali, ela estava sem graça por seus pensamentos em relação ao homem, mas não iria descartar a comida que se ela deixasse iriam jogar no lixo. A ruiva não respondeu sobre estar acompanhando a turma, não era difícil de entender as explicações, algumas coisas que ela nem pesava que existia ela estava fazendo, só precisou dar atenção ao seu chakra, era interessante isso. Porém, ela não entrou em um papo sobre isso, ela só escutou, até que ele lhe ofereceu uma casa para ela morar.
— S… Sério?
Novamente a menina arregalou os olhos, como alguém oferece uma casa a um estranho. Será que aquela Vila era o céu? Ela morreu enquanto estava perdida vagando em meio a montanhas, calor e pedras? Onde ela morava não tinha tanta gentileza assim, você nem devia estar nas ruas em determinado horário que poderia desaparecer para sempre. Ela tinha perdido muitos amigos assim, via suas famílias desesperadas.
Ela levantou para acompanha-lo, ela estava vivendo em um lugar tão ruim e sempre tinha mau cheiro, talvez poderia ficar num lugar mais limpo, suas roupas sujaria menos. Ele não estava chamando para ir até sua casa, então não tinha porque ficar desconfiada, tinha? A menina seguiu o caminho todo em silêncio, mesmo que ele estava falando os motivos por estar lhe ajudando.
Ela ficou atenta quando chegaram, ela olhava o lugar com receio, parecia viver outras pessoas ali, ela teria um lugar só para ela, poderia trancar uma porta? Cassy olhou para o homem e esperou um pouco mais de informação de onde viveria, ela não iria recusar, mas poderia ser mais perigo ali para ela que nas ruas talvez, dependendo de como eram as pessoas ali.
— É seguro? — ela falou baixo e com vergonha.
Cassyana acompanharia o homem, não queria parecer mal agradecida, mas ele não conhecia toda sua história, nem seu trauma, apesar de estar na academia ninja, com certeza um adulto conseguiria lhe machucar se quisesse por ali ou até mesmo culpá-la por acusações mentirosas para não sofrer consequência de seus atos. A última vez que a ruiva se defendeu, seus pais lhe abandonaram, o que poderia acontecer com ela ali se chegasse nesse extremo. Respirando fundo, ela sentia sua mente encher de várias coisas, começou a olhar para todos os lados procurando se tinha ou não alguém ali que poderia estar escondida para lhe fazer mal. A respiração de Cassy ficou mais acelerada, seu corpo começou a tremer e o suor brotar em seu rosto.

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O misto de felicidade e receio que Cassyana demonstrava era notório. Kaginimaru não possuía noção alguma sobre o passado dela, mas não a julgava, compreendia que tudo que estava fazendo realmente parecia um tanto quanto estranho, mas a verdade se resumia no fato em que simplesmente possuía a vontade genuína de ajudá-la. — O único problema que você vai ter será caso acumule lixo. Lembro que ratos adoravam me incomodar quando eu esquecia de jogar o lixo fora. — Respondia com um sorriso no rosto, afagando a própria nuca por conta da vergonha que tinha em revelar isto.

Na verdade, este não era o único problema. Ainda existia um maior que o Tsuchikage ainda estava estudando como diria. — E também... erh... quando chovia, eu lembro as vezes ocorria algumas goteiras, mas não sei a situação atual. Talvez pode estar bem pior ou na verdade simplesmente ter sumido. — Relatava, olhando para os telhados na busca de verificar como estava o estado atual. Por um momento, o ruivo pensava na possibilidade dele mesmo resolver, mas logo decidia que o melhor seria deixar por conta dela. Além de não ter muito tempo, também seria uma ótima maneira de medir como a mesma iria lidar com este problema.

Notando o claro desconforto da garota, o Hachidaime também percebia que não podia permanecer por mais tempo ali. Ela precisava de seu próprio momento para digerir tudo o que estava acontecendo, este momento devia ser apenas dela. — Bom, a chave está na porta. As vezes ela é um pouco difícil de abrir, então você precisa forçá-la pra cima para facilitar na hora do giro. — Explicava, caminhando para a saída da casa. — Preciso ir, mas caso lhe falte algo, pode me procurar pelo Gabinete da vila — Se despedia, deixando-a livre para permanecer na casa como quisesse. Oficialmente a garotinha agora possuía um lugar para morar, embora este não fosse dos melhores, estava totalmente segura se comparado aos dias em que vivia nas ruas.

Kaginimaru então caminhava de volta para o Gabinete. Lá, a primeira coisa que fez foi repassar para a assistente o desejo de que ela garantisse toda semana reabastecer os alimentos da casa o suficiente para que durasse mais uma semana, sempre repondo e garantindo alimentos frescos e saudáveis.

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