Um bocejo quase lhe escapou a boca, enquanto saltava de telhado em telhado, usando as casas ao redor como sua estrada para o campo de treinamentos. Não havia muito tempo desde que dispensou um pequeno gato preto que bateu em sua janela algumas vezes, até chegando à arranhar o vidro para ganhar a atenção que queria. O pergaminho preso nas costas do bicho deixava claro quem era sua dona só pela linguagem usada  e o horário marcado.

"2:30 da manhã. Campo de treinamentos 3"  - Repetia mentalmente, enquanto se encaminhava para o local.

O vento gelado batia contra o rosto do rapaz, fazendo seu cabelo balançar enquanto corria. A combinação mais infeliz do universo; frio e vento. De sua boca, um pouco de vapor saia toda vez que a abria para respirar. Parece que ela esperou o dia perfeito pra marcar um encontro no meio da madrugada. Não fazia muita diferença o horário; o Uchiha já não costumava dormir muito mesmo. Quatro horas de sono já tinha se tornado rotina à algum tempo, e visitar a pedra memorial da Folha virou hábito. Não que ajudasse ou resolvesse aquela situação, mas era difícil evitar. Suspirou quando finalmente alcançou o lugar marcado, e de longe avistou duas pessoas.

"Duas? Ela geralmente chega depois de todos nós... aquele com certeza é o Treze, mas quem é aquele outro?" - Pensou, colocando suas mãos bolso e caminhando agora em passos lentos e tranquilos na direção do local iluminado. Manteve seu rosto para baixo, olhando para o chão enquanto caminhava, até que chegou perto dos dois. Não olhou nos olhos de nenhum deles, apenas dando as poucas palavras que costumava dar.

- Bom dia - Disse, enquanto o vapor subia para fora de sua boca.

A sensei do então time 1 finalmente apareceu e se aproximou em silêncio, deixando a fumaça de seu cigarro subir logo ao lado de seu rosto, desaparecendo pouco acima dela no meio daquela escuridão. Parou em cima do galho de uma árvore próxima, olhando para os três de cima.

- Bom dia, seu bando de bebezões frouxos. Estão com soninho? É melhor estarem, sabe, pra ter valido a pena.

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O rapaz mal havia chegado e Treze trouxe um de seus maravilhosos e produtivos comentários sobre ele. A resposta foi silenciosa, apenas um dos típicos olhares desafiadores que costumavam trocar entre si. Talvez a rivalidade tivesse mesmo encontrado espaço entre eles. Fez questão de fazer o habitual; deixar o silêncio como única resposta. O que lhe pegou de surpresa e quase o tirou da sua postura foi quando o outro, ainda desconhecido, começou a falar. Ele parecia gostar do som da própria voz, e por um segundo, ele lembrou Squall de um outro alguém.

"É muita coincidência pra ser verdade. Mais um que gosta de falar" - Foi o que pensou, enquanto dirigia o olhar de volta para Treze.

Suspirou por um momento, apelando para seu monólogo interior, como costumava fazer sempre - o suficiente pra ser criticado quase que a vida toda pela prática - e deixou um breve silêncio no ar. Mesmo que parecesse grosso - e ele sabia que era, na verdade - deixou as perguntas aleatórias sem respostas. Voltou seu olhar para cima quando ouviu um barulho na árvore logo de frente para eles. Pelas palavras, tom de voz e entrada chamativa, nem precisava pensar muito para adivinhar quem era.

"Típico" - Foi o que pensou, acompanhando por um momento a fumaça que saia da ponta do cigarro com seus olhos, subindo vagarosamente e deformando-se no ar.

Amyio-sensei foi em frente com seu discurso, e explicou finalmente quem era o novo garoto. E foi ali que os temores do rapaz se confirmaram. Por um momento, colocou a mão direita sobre a testa. Até tentou não demonstrar, mas sabia que era impossível. Treze já tinha a capacidade de falar em poucos minutos o suficiente para deixar o Uchiha tonto pelo resto do dia. Seus demônios pareciam gostar de lhe perseguir. Suspirou, deixando os demais falarem, e foi ao ponto.

- Uchiha Squall. Como ninja, só quero cumprir com meus deveres - Falou, sem se mover do lugar nem ter contato visual.

O mal humor daquela noite já estava quase batendo o recorde. Mas, assim como foi com Treze, se o garoto quisesse se encaixar, teria que entender que algumas pessoas costumam falar sem palavras. Ou pelo menos essa era desculpa que ele tinha encontrado para se sentir melhor com seu jeito mal humorado de sempre.

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Então era isso. A líder da equipe havia reunido os Genins ali, poucos dias antes do Exame Chunin deles, as DUAS E MEIA da madrugada, para apresentar um membro novo do time. Nada contra o garoto nem a expansão da formação, mas não podia pelo menos esperar outro dia, ou mandar alguém fazer isso? Uma noite em claro, quase à véspera de um Exame que sabe-se lá que tipo de dificuldade vai ter não era uma boa forma de estímulo. Mas reclamar não ia ajudar em nada, então o rapaz apenas suspirou ao ouvir o primeiro comentário sobre seu nome, lançado para Treze.

O garoto parecia exalar vontade, animosidade e alegria. Chegou á convidar Treze para um "treininho", como chamou.

"As duas da madrugada? Conhecendo o falante como conheço, aposto que só quer ir pra casa dormir" - Pensou, observando que o Narigudo estava oferecendo o punho para um gesto entre o time.

Apesar de ser alguém que não costumava ligar para aquilo, e que geralmente viraria as costas e sairia sem dar uma única palavra, engoliu seu mal humor habitual, e mesmo de cara amarrada, se aproximou e retribuiu o gesto. No fim das contas, sabia a importância de manter seus parceiros de time perto. E sabia também o quanto precisava daquele time, o quanto precisava ficar o mais forte que conseguisse, e rápido. Sem olhar muito para ninguém, terminou o gesto com o punho e se afastou um pouco. A mais velha explicou sobre sua ausência e comentou sobre a patente dos dois membros antigos do Time 1.

- Se quiserem se reunir para treinarem juntos, se conhecerem melhor a aprender uns sobre os outros, fiquem à vontade. Só me façam o favor de não se matarem, assim não preciso me preocupar em ir à nenhum funeral. Ademais, boa sorte no teste, e não voltem de lá sem o colete chorando como bebzões. Sei que vão se sair bem, adeus - Falou, enquanto era cercada por uma fumaça branca que cobriu seu corpo todo, desaparecendo bem no meio dela em seguida.

O Uchiha colocou suas mãos de volta em seus bolsos, buscando proteção do frio, olhou para seus dois atuais parceiros de time, e ofereceu sua única forma de despedida; um aceno único de cabeça, levando-a para baixo e de volta para cima meio lentamente, dando as costas logo depois, voltando pelo mesmo caminho que fez para chegar ali.

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