A ansiedade dos últimos dias pré Tokubetsu inundava os pensamentos de Genryuusai. Suava constantemente, perdia o sono, andava de um lado para o outro. Era incontrolável. Como um garoto momentos antes do primeiro campeonato de futebol, da primeira foda. Não estava acostumado com aquilo, obviamente. Genryuusai sempre foi um indivíduo confiante, seguro, que age de acordo com as suas vontades e apenas elas, mas alguns acontecimentos recentes lhe enfraqueceram o psicológico de alguma forma. Desde que despertou aquele monstro interior, desde que descobriu uma linhagem de sangue presente em si desconhecida até então, desde os acontecimentos na sua última missão Rank B. A vida de Shinobi mostrava as caras e era inescrupulosa, sedenta, impetuosa. Aquela carreira que havia escolhido para si passaria por cima de qualquer falha e ele estava finalmente a entender isso.

O Chunin revirava na cama constantemente naquela noite de lua cheia com traços semelhantes a dos acontecimentos do CAPA. Existia algo de muito similar com a energia que ela emanava e isso, somada a ansiedade descrita anteriormente, lhe retirava o sono por completo.

- Então... Finalmente você percebeu... – A voz ressoou em seu quarto de maneira onipresente. Genryuusai levantou da cama assustado, o lençol que o recobria caiu no chão e ele permanecia atento, buscando a origem daquilo. – Achei que já tinha esquecido de mim, Gen... Estava decepcionado... –

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Por dentro de uma das sombras que se propagava na lateral da sua porta entreaberta um garoto jovem de aspecto pálido e semblante sombrio tomou forma. Genryuusai o reconheceu de imediato e aquela imagem lhe trouxe um impacto psicológico completamente inesperado. – Kishimoto?! – Estaria ficando doido? Teria finalmente perdido o controle sobre a sua mente e se entregado a loucura? O que era aquilo? – Você não é real! – Gritou, enquanto apertava os olhos, numa tentativa de se forçar a acordar de um possível sonho. Em vão. O que quer que fosse, aquilo era muito próximo da realidade. Pelo menos a sua mente via dessa maneira.

- Genryuu-kun, hoje eu lhe trouxe um presente... – A voz grave e irritante se propagava em sua mente como uma tortura. – Como tem passado? – A figura juvenil se aproximava e a cada passo dado parecia envelhecer até se tornar o Kishimoto que havia conhecido a algumas semanas atrás: o psicopata que torturava Genins em Genjutsus e assassinava animais nos arredores da vila.
- Você está preso... –
- Não... eu não estou... Eu estou aqui com você, não vê? –

Genryuusai fechou a mão em ódio e avançou em direção ao sujeito com toda a força que tinha. Em vão. Seu trajeto foi parado no meio do caminho. Seu corpo estava imóvel, estagnado.    

- Por favor... Se comporte... Não quero que ELE tenha uma visão errada de você... –

Do outro lado do quarto uma nova forma surgia das sombras. Um sujeito alto, de óculos, com aparência mais velha. A luz emitida por um poste na rua refletia nas lentes, impossibilitando que Genryuusai pudesse ver os seus olhos.

- Olá Gen... Eu sou o Patriarca... –

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A voz do homem era macia e ao mesmo tempo transmitia um perigo quase insuportável. – Kishimoto-kun falou muito sobre você nesse nosso último mês de tratamento... – Ele mantinha o mesmo semblante irritante. – Tanto que fizemos questão de lhe fazer uma visita antes de nossa viagem... –

Genryuusai não conseguia se controlar e sequer tinha domínio sobre a sua energia natural. Estava sob o domínio de alguma técnica muito superior ao que ele sequer fazia ideia. Seus lábios não moviam e ele permanecia ali, apenas aguardando o que viria a acontecer. A mercê dos invasores. Uma sensação insuportável de impotência.

- O Tokubetsu Shiken está chegando, certo? – Kishimoto começou a falar. Existia um sorriso doentio em sua face. – Eu percebi naquele dia o quanto isso era importante para você. – De repente, Genryuusai voltou a ter controle sobre os seus lábios.
- Seu Filho da Puta! Que merda é essa? – As palavras de Gen tinham uma fonte de desespero absurda.
- Vê, Patriarca-sensei?! A energia dele é uma das coisas mais incríveis que eu já vi... –
- Sim, Kishimoto-kun... Você estava certo... – O indivíduo se aproximou de Genryuusai que voltava a perder o controle sobre a fala. – Vamos torcer para ele sobreviver ao processo... – O dedo indicador do sujeito de óculos se aproximava do pescoço de Gen. Por meio de uma unha extremamente afiada, ele penetrou a pele daquela região e emitiu um pulso de Chakra que trouxe uma dor agonizante para o Chunin. Se pudesse, Genryuusai gritaria. – Está feito, Kishimoto-Kun... Se despeça, não temos muito tempo... – A figura do Patriarca voltou às sombras e então sumiu, deixando Gen e Kishimoto a sós.

- Genryuusai, vamos colocar o papo em dia... –

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A dor excruciante da unhada era tamanha que fazia todos os músculos do Chunin se enrijecerem. Genryuusai emitia espasmos musculares a cada 10 segundos. Suava, respirava fundo. Seu corpo aquecia, sua pupila dilatava. Era incontestável o quanto aquilo era um desafio para a sua sobrevivência. O quanto o Shinobi brigava incansavelmente para se manter de pé.

- Esse é o teste da lua... Genryuu-kun... É o presente lhe testando... Vendo se você é digno... –
- O que foi... isso... que vocês colocaram em mim?! – Genryuusai lutava com a dor, enquanto recolhia energias para falar.
- Isso, Genryuu-kun... É um selo amaldiçoado... – O homem de voz grave olhava para a marca que começava a se espalhar no pescoço de Genryuusai. – É uma fonte de poder... Concedida de bom grado pelo Patriarca... Com algum esforço meu para convencê-lo, é claro... -

Gen sequer conseguia falar naquele momento, toda a energia que tinha era direcionada para combater os efeitos daquele selo.

- É, é difícil... Eu sei... Também passei por isso... – Kishimoto puxava a sua camisa um pouco de lado, revelando o símbolo do selo em seu trapézio. – Mas antes de ir eu queria falar um pouco sobre aquela noite em que nossos caminhos se cruzaram... – O psicopata se aproximou mais um pouco de Genryuusai, enquanto o olhava de cima. – Você acredita em destino? Pois agora eu acredito... – Ele sorriu, enquanto olhava nos olhos de Gen.
- Maluco...  Se você tá querendo me beijar... Pode tirar o cavalinho da chuva... – Disse, enquanto encarava seu rival de volta nos olhos. Aos poucos aquela dor começava a ficar mais familiar.
- Te beijar? – Kishimoto gargalhou. – Você é hilário, Genryuu... – Ele criou uma espécie de cadeira das sombras e então se sentou. – Eu te procurei a minha vida inteira! Você não vê que o que sinto por você é admiração? – Kishimoto o olhava nos olhos. – Aquele momento, que eu te mostrei a importância do Oshu no que eu me tornei... Foi uma via de mão dupla... – Genryuusai escutava com atenção. Não tinha escolha. – Eu vi, Shishio Genryuusai... Eu vi o abandono da sua mãe... Eu vi o sacrifício de seu pai... Eu vi TUDO... –

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- Nós somos dois lados da mesma moeda, Genryuusai... – A empolgação de Kishimoto era notável. Ele agia como se tivesse encontrado o seu maior propósito. – Quando eu te conheci, achei que você era como os outros... Até eu ver a sua transformação... Até eu ver a sua história... –

As tatuagens originadas do selo praticamente dominaram o corpo do Chunin por completo. Sentia um poder imensurável surgindo a partir dali. Algo diferente do seu Senninka, não natural. Negativo. – Até quando você pretende me manter assim?! –

- Genryuu... – Kishimoto olhou para cima, fazendo uma cara de decepcionado. – Você ainda não entendeu que o que eu estou fazendo aqui é para te ajudar? – O sujeito pálido voltou os seus olhos para Gen. – Não apenas te dei uma fonte de poder, como estou aqui de babá tirando a sua mente do processo... Você quer saber como é, realmente?! – Kishimoto estralou os dedos e Genryuusai se viu deitado em sua cama tremendo. A dor que há alguns instantes possuía um grau ainda tolerável fora elevada exponencialmente. Gen não conseguiu segurar o impulso e emitiu um grito abafado enquanto agonizava. Kishimoto estralou os dedos novamente e eles voltaram para a realidade de antes. – A mente humana é algo curioso, não acha? A dor... É um reflexo psicológico... – Ele falava de maneira didática. – Enquanto o seu cérebro não focar nela diretamente, o sofrimento não será tão intenso... – Genryuusai se negou a falar alguma coisa. – Você acha que o Patriarca foi tão misericordioso comigo?! Eu estou burlando o processo... Afinal, eu tenho uma dívida com você... –
- Pois é... Eu deveria ter te matado... –
- Deveria?! Deveria?! Você sabe que não... – Ele sorriu ironicamente. – Não estou falando disso! Matar-me naquele momento só traria paz a minha tortura... A minha dívida é por ter feito indiretamente com que eu me unisse ao Patriarca... Com que eu tivesse certeza do meu caminho. – Kishimoto deu uma respirada breve e então continuou. - Temos muita história pela frente... O Patriarca me fez ver isso e eu aposto que ele tem planos para você agora... – Kishimoto apontou para o ponto de origem do selo amaldiçoado, próximo a clavícula – Afinal, você está marcado como um filho dele... E ELE NÃO TOLERA INSUBORDINAÇÃO!

O psicopata levantou, enquanto encarava a janela entreaberta do quarto. As tatuagens de Genryuusai voltavam a se recolher para o seu ponto de origem. De alguma forma, seu corpo havia suportado e sobreposto aquele juinjutsu. – Como eu imaginei... Você conseguiu... – Kishimoto passou a caminhar em direção a varanda. – Tenho que ir... Boa sorte no Tokubetsu... Ainda vamos voltar a nos encontrar... É o nosso destino... – O sujeito estralou os dedos e Genryuusai apagou.

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A incidência dos raios de sol sobre a face de Genryuusai o trouxeram de volta ao mundo real, deixando a escuridão de um sono sem sonhos para trás. O Chunin coçou os olhos e levantou da cama de maneira automática, ainda assimilando as informações e sem sequer se lembrar do acontecido da última noite. Caminhou em direção à cozinha e buscou um copo de vidro vazio, enchendo-o de água e posteriormente o bebendo. Era o seu ritual diário, padrão. – Que incomodo é esse... – Genryuusai levou a mão direita até o seu trapézio esquerdo e caminhou em direção ao espelho posicionado no seu quarto. Buscou a razão daquela dor e quando seus olhos se depararam com o selo cravado na pele como uma tatuagem, toda a lembrança da noite anterior veio à tona como um turbilhão de imagens. Genryuusai derrubou o copo de vidro no chão, fazendo com que ele se quebrasse em diversos pedaços com o impacto. Permaneceu imóvel enquanto processava aquela informação, espremendo com a ponta dos dedos a região que queimava. – Então foi real? Kishimoto está livre? – Não conseguia deixar de imaginar até onde aquele presente poderia te levar. Era uma faca de dois gumes, aparentemente. Segundo Kishimoto, Genryuusai agora estava marcado como um dos filhos do “Patriarca”, o sujeito misterioso que também havia o visitado na última madrugada. O que isso impactaria no seu futuro ele ainda não sabia, mas com certeza, algum preço iria pagar.

A sensação que aquele selo cravado na carne lhe trazia era esquisita. De alguma forma, Genryuusai sentia uma empatia inexplicável com Kishimoto desde que eles compartilharam lembranças naquela fatídica missão Rank B. Ao mesmo tempo, ele sabia que aquilo poderia ser resultado de alguma manipulação psicológica que havia passado durante aquele momento. Alguma influência de Kishimoto sobre os seus pensamentos. Não saberia dizer ao certo o porquê, mas era o que acontecia em sua vida naquele momento.

Seu chapéu de Cowboy e o colar de contas se encontravam posicionados na bancada ao lado de sua cama. Genryuusai os utilizava como uma homenagem aos seus pais, assim como o seu estilo pouco ortodoxo de vestimentas era uma lembrança do seu clã. Mas, depois de todo aquele acontecido, a ideia de utilizar aquelas roupas lhe pareceu errada. Genryuusai não conseguiria usar o chapéu e o colar sem sentir estar manchando a memória imaculada de seus pais enquanto estivesse com aquele selo amaldiçoado. Não sentia mais como se carregasse o legado dos Shishio nas costas e ao mesmo tempo em que isso lhe incomodava, também lhe trazia uma sensação de liberdade inexplicável. Deveria ser grato a Kishimoto por isso?

Seu sangue carregava a besta caótica da natureza. Seu corpo agora carregava a marca amaldiçoada do Patriarca. Ele era alguém novo renascendo e seja lá quais fossem as dificuldades que encontraria de agora em diante, teria que aprender a utilizar aquelas maldições como bênçãos. Teria que tirar o raio de luz da escuridão. Esse era o seu modo de vida. Não mais lhe cabia sentar no canto e questionar o porquê daquilo, mas sim utilizar tudo o que estava ao seu alcance para fugir do seu previsível destino enlouquecedor. Um passo de cada vez. Como sempre fez desde que perdeu os seus pais.

- Acho que vou precisar de roupas novas... –

Era um recomeço para o Chunin que ainda assim procuraria respostas para a sua condição como Jugo. Que ainda assim procuraria respostas sobre o que realmente aconteceu na noite anterior, sobre aquela visita inexplicável. Mas antes disso o Tokubetsu Shiken estava a caminho e nada o faria desvirtuar o seu objetivo naquele evento: aproveitar aquela experiência ao máximo. Vivenciar tudo o que poderia. Vencer? Talvez, quem sabe. Mas esse não era o foco.

Caminhou para a varanda de casa e deixou o sol aquecer a sua pele. Energizou-se uma última vez antes de estar pronto para o dia anterior a viagem ao País das Ondas. – Vamo nessa... -  

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