Tempo perdido

A ampulheta que mede o tempo universal aparentava que, de maneira súbita, havia deixado passar a areia do tempo de uma âmbula a outra, sem que muitos se dessem conta do ocorrido, esse foi o caso do jovem Shüra. O fato é que as coisas pareciam ter se apressado em acontecer, talvez em decorrência do encerramento de um grande evento mundial, esse em específico sendo o toukubetsu shiken. Até mesmo os que não estavam presentes durante os mais diversos acontecimentos desastrosos que ocorreram no torneio realizado do país das ondas, sabiam dos impactos de magnitudes colossais que iriam atingir a vida de cada indivíduo de todas as vilas por consequência do que houve. As coisas aconteceram tão rápido, a vida de todos parecem ter tomado uma curva sinuosa e agora não é possível prever o que virá.


Essa garotinha pode me levar até uma pista sobre onde o maldito ferreiro está! Ou então porque diabos ela se esconderia e esperaria até que eu ficasse sozinho para me chamar. A suspeita de Shüra estava correta, a misteriosa criança que aparecera, após todo aquele bando que estava ali se dispersar, lhe guiou em silêncio por entre as ruas e vielas da grande cidade de Vento Bravo até chegar a uma humilde e simplória casa, que o genin logo deduziu de imediato que fosse a residência de Adamastor.

Por que trouxeste-me esse ninja da areia até aqui, Lahn? O velho ferreiro estava deitado em uma pequena cama, estava enfermo e aparentava não ter forças suficientes nem mesmo para pronunciar algumas dúzias de palavras. A pequena criança se pôs ao pé da cama onde Adamastor estava, com sua mão em formato de concha a levou até a orelha mais exposta do idoso e surtou algo em seu ouvido, o jovem de cabelos prateados imaginava que ela estava a contar que este estava perguntando a todos na cidade sobre a localização do ferreiro. Entendo. Um ataque de fortes tosses acompanhadas de gotas de sangue se iniciou após uma única palavra dita. O que desejas comigo, escravo da areia? O genin o reverenciou - era um ato comum do mesmo realizar para com outro qualquer que pudesse ser útil com ele - levantou seus olhos em direção ao velho e com sua língua lubrificou seus belos lábios rosados. Me chamo Shüra, é um prazer conhecer o senhor. Venho até aqui em nome de uma amiga em comum, Robin. Ela me disse sobre a existência de um grande escorpião que vem causando problemas na região e que o senhor sabia a localização dele. Sua postura exalava superioridade e convicção, deixando isso claro propositalmente com um sorriso sarcástico de canto. Eu irei matá-lo. Uma pausa foi feita e Adamastor analisou o jovem da cabeça aos pés, coisa que já tinha feito ao encontrá-lo ali pela primeira vez poucos minutos atrás. O escorpião está nas montanhas ao norte da cidade, há poucos minutos de caminhada daqui. Vi com meus próprios olhos a besta, ele ataca todos que tentam cruzar a fenda que há na montanha para atravessá-la. O velho com muitas dificuldades retirou sua velha camisa de trapos, deixando a mostra seu corpo completamente pelado e enrugado, e ao se virar de lado na cama, foi possível ver uma grande marca roxa extremamente inchada, está continha em seu centro um círculo preto, além de grandes manchas por toda suas costas. Está necrosado. Essa é a prova do meu contato com o escorpião. Fui pego de surpresa, mas consegui escapar rapidamente, mas não antes dele me acertar com o ferrão em cheio. Shüra lamentou em voz alta e logo foi repreendido pelo ferreiro, o mesmo alegou ter tido uma vida longa até aqui e que nem mesmo se dava ao trabalho de querer saber de algum antídoto para isso, mas havia uma coisa que ainda desejava em seu leito de morte. Vingança. É o que quero! Mate aquele desgraçado e venha me mostrar o rabo dele como prova! O jovem aceitou o pedido do velho.

Já no pé da montanha e na entrada da grande fenda que servia de passagem para atravessar, o garoto parou e se manteve atento, não iria ser pego de surpresa por um ataque do grande escorpião. Onde você está, seu filho da puta! Shüra tinha a sensação de estar sendo observado, deduziu que talvez o artrópode sabia de sua chegada, mas esperaria que o belo rapaz adentrasse na estreita abertura. Sacou sua pequena espada - esta com uma lâmina com aproximadamente quarenta centímetros - e se colocou em máxima atenção, enquanto caminhava fenda adentro na esperança de encontrar ali a monstruosidade que ceifava vidas moradores de Vento Bravo e quem mais ousasse passar.

À medida que mais adentro Shüra caminhava, conseguia ouvir o som de grandes patas de movimento de maneira ordenada e rapidamente nas paredes e tetos. Está aqui, o velho estava certo. De súbito os passos cessaram e com isso o garoto parou, sabia que a besta estava brincando com ele antes de tentar fazê-lo de vítima. Poucos segundos ali parado, o Hatake conseguiu sentir alguns pingos d' água caindo em seus ombros, levou sua mão ao líquido e se certificou de que não se tratava de água, mas sim de algo semelhante a saliva. Ergueu a cabeça e pôde avistar a aproximadamente um metro o grande escorpião o encarando, possuía olhos vermelhos cintilantes, facilitando até mesmo na visualização dentro da grande escuridão ali presente. Seu ferrão também tem uma cor vermelha brilhante, não vai ser difícil de identificá-lo enquanto se movimenta.

Com uma falha tentativa, Shüra tentou cortá-lo ali parado enquanto ambos se encaravam, a besta era grande, por tanto sua agilidade não era das melhores, mas o suficiente para escapar desse primeiro ataque do garoto. O maldito se encolheu e logo em seguida saltou, avançando na direção do Genin, um avanço ágil para alguém lento - o peso do corpo com a força da queda livre e a impulsão dada proporcionava al escorpião um ataque rápido - no entanto não foi rápido o suficiente para Shüra, sendo capaz de se esquivar do ataque se espremendo contra uma das paredes, no entanto com as suas garras, o escorpião conseguiu rasgar e levar consigo um pedaço da camisa do rapaz. O escorpião saltou novamente no teto e sem que Shüra pudesse pensar sobre esta possibilidade, o brilho que seus olhos e ferrão exalavam se apagaram. O próximo ataque que fosse receber talvez fosse fatal para o jovem rapaz, por isso ele sabia que precisava se antecipar, se agachou tranquilamente e pousou ambas as mãos sobre o solo, concentrando seu chakra - agora na forma do Raiton - em seu corpo e o passando para as mãos, logo uma grande teia de puro chakra era formada ao redor do garoto. VENHA SEU DESGRAÇADO! Esse chamado foi forte o suficiente para provocar a besta, que sem que o Hatake pudesse vê-lo, saltou a menos de um metro de suas costas, com o ferrão preparado para acertar a nuca de Shüra em cheio, mas a sorte e estratégia do Genin deu certo e ao pisar na grande teia de raio, o escorpião sofreu uma grande descarga elétrica, o paralisando totalmente no chão enquanto sofria leves espasmos. Para um animal, você é um grande oponente, se eu pudesse controlá-lo, certamente seria útil para minha escalada até me tornar Kazekage, poderia te usar para dar fortes dores de cabeça a quem tentasse ficar em meu caminho, talvez até mesmo causar uma morte acidental a atual Kazekage. Gargalhou com seus delírios sobre o uso do escorpião caso fosse possível, porém estava cansado disso tudo e decidiu acabar com tudo, ficando sua Tanto no centro da cabeça do animal até que ele sentisse a vida do animal se esvaindo. Por fim retirou a cauda do animal e a enrolou nos trapos de sua camiseta.

Shüra agora fazia parte de um nível mais alto da hierarquia ninja de Suna, agora era um Chunin. Este fora designado a uma missão até uma base na fronteira com Amegakure, aparentemente havia certo receio do que aconteceria daqui para frente em decorrência dos acontecimentos mundiais.

O jovem deveria se encontrar com outro Shinobi já fora da vila, então seguiu para o ponto de encontro. Para a surpresa do belo rapaz, seu acompanhante na missão era Gin, um velho conhecido que talvez Shüra já pudesse chamá-lo de amigo. Gin! Que prazer. Mesmo com a preguiça e talvez timidez do Genin de cabelos negros, o Hatake o abraçou com grande receptividade. Sinto muito por isso, não é do meu feitio, mas ultimamente não tenho falado muitas pessoas, a não ser as que moram comigo e os desgraçados que me alugam de Grisha… Obrigado pelas felicitações, foi uma tarefa difícil, mas valeu a pena. Houve uma pequena pausa na conversa e ambos os garotos permaneceram se encarando, até Faraó quebrar o gelo colocando suas orelhas para fora, demonstrando assim que estava junto. Olá, Faraó. Também gosto de você. Temos que ir, Gin.

Ao cair da noite, o frio era extremamente rígido e castigava os dois meninos. As coisas aconteceram de maneira rápida ali, Gin havia feito o que tinha que realizar e então partiu de volta a Suna. Vá com cuidado, não hesite em voltar caso precise de ajuda. Preciso fazer mais uma coisa aqui. Além de acompanhar seu amigo durante a viagem até a base, o chunin agora deveria esperar pelo retorno de um shinobi de Suna, trazia consigo informações que deveria entregar para este então misterioso homem.

Está me perseguindo, moleque? Para qualquer canto que eu vou eu acabo dando de cara com você. Crocodile era um homem alto, para a infelicidade do garoto não era muito receptivo e nem mesmo muito calmo. Entendi, você me trouxe esses documentos. Vou te falar uma coisa, tudo vai se complicar, então se prepare. Antes de poder partir, o belo rapaz sentiu a mão imensa e pesada de Crocodile descer sobre seus ombros. Eu sei que você não falou sobre o caso da criança para a Kazekage, mas para seu azar ela voltou viva do torneio. É melhor se apressar, caso eu te delate, não sei o que ela falara com você… o mais provável é que te mate por traição. Shüra deu um leve tapa com as costas da mão no braço do grande homem, retornando para Suna.


Já faz pouco mais de seis meses que o maldito do Grisha começou a me vender para tentar se sustentar, eu já não posso continuar com isso. Mas… antes devo falar sobre aquele maldito incidente para a Kazekage, não tenho mais tempo, Crocodile vai acabar me matando. Tsc. Shüra se levantou, procrastinou durante os últimos três meses e neste exato momento estava em um bordel clandestino que encontrou em Vento Bravo, acabou frequentando o local pelo menos uma vez na semana. O chunin tinha dificuldades para se mover, afinal de contas havia prometido a todas as garotas e garotos ali presentes uma noite especial, tinha feito agendamento para utilizar de todos as mulheres e homens que trabalhavam no local, não mais de doze pessoas ao todo, e como prometido, o garoto utilizou e gozou do prazer carnal ali com cada um. Porém a pilha de corpos ali não era a comum que se pode encontrar em grandes grupos a procura do deleite, pois aqui, ao final de toda a sujeira e pecado, Shüra violentamente assassinou cada um presente, abrindo as entranhas de todos e por fim os decepando e retirando alguns membros. Finalmente estou pegando o jeito com a espada, fiquei com medo de não a dominar. Preciso ir antes que esse monte de lixo humano comece a feder e emitir gases nocivos. Cuspiu em um corpo que estava ao lado e então partiu, rumo ao gabinete da Kazekage, havia traçado seus planos. Primeiro converso com aquela megera que não devia ter voltado viva daquele país e depois pra casa… está decidido… o massacre é a solução.