Quanto tempo leva para uma cicatriz já aberta por uma segunda ou terceira vez voltar a cicatrizar? Ainda mais importante, quanto tempo é necessário para que a mesma desaparecesse por definitivo? Para Shüra, a resposta para ambas as perguntas ainda não havia sido encontrada, mas ele sabia que a indagação era de fato muito mais abstrata e profunda do que aparentava ser. Afinal, não se tratava de machucados ou lesões físicas, mas sim uma cruz interna que o Shinigami fora fadado a carregar consigo a todos os momentos. A invasão havia sido contida por ele e alguns outros pequenos grupos seletos de shinobis, a vitória de Sunagakure fora absoluta, mas as marcas deixadas no âmago do rapaz estavam longe de desaparecer.

Em meio a passos calmos - quase tão leves quanto pluma - Shüra estava mais uma vez no edifício que guardava o gabinete da Nanadaime que, quiçá tudo ocorresse como planejado, logo mais seria seu. Ainda nos primeiros degraus da grande escadaria, o rapaz pôde escutar uma movimentação quase silenciosa nos níveis superiores. Estou atrasado? Deu de ombros para essa possibilidade.

O caminho já tinha sido decorado pelo Shinigami logo em sua primeira vez no local, sabia que deveria ter total conhecimento do edifício caso fosse necessário futuramente utilizar de tal em seus esquemas a fim de tomar posse do cargo que agora pertencia a Rukia. Parada frente a porta que daria acesso ao gabinete estava uma figura já conhecida de outros momentos. Aoi Ogata. Que prazer vê-la novamente. Ele sorriu gentilmente enquanto caminhava em direção a mulher. Não havia sinceridade em seus lábios e muito menos em seus olhos, as coisas ainda estavam embaralhadas em sua mente e, para evitar problemas, o gracioso rapaz escolheu manter-se focado apenas naquilo que realmente importava para ele. Seu sonho. Não fiquemos parados esperando, vamos entrar. A porta estava somente encostada, Shüra então levou suas mãos até a madeira maciça e a empurrou delicadamente, liberando caminho para ele e a companheira de reunião. O rapaz tomou a frente e adentrou no cômodo, fitando seriamente a pessoa responsável pela convocação. É sempre uma honra estar em sua presença, Robin-sama. O Shinigami Branco se inclinou levemente, como um sinal de reverência a uma das maiores e mais respeitadas kunoichis do País do Vento.

Parado próximo a mesa onde a Kazekage cumpria com seus deveres, Shüra alisou levemente o móvel e então levou suas mãos para dentro das mangas de seu kimono. Onde está a Nanadaime?

Antes de que Robin pudesse começar a falar, mais um shinobi havia chego e se encostado em cima da soleira da porta enquanto apreciava um de seus cigarros. Afro. Outrora, Shüra e esse mesmo homem haviam sido breves companheiros durante os tempos acadêmicos, porém após a formatura de ambos, o jovem alto de pele escura havia simplesmente desaparecido, sem deixar nenhuma pista e nenhum porquê. Shüra o saudou com um sorriso caloroso enquanto - com sua mão levantada - acenava para seu velho conhecido.

Finalmente as introduções e cortejos foram finalizadas. A responsável por organizar a reunião passou a então dissertar sobre os questionamentos feitos anteriormente por conta da ausência da governante da vila e sobre o que mais ela acreditasse ser necessário falar. Havia algo diferente na fala da mulher do que nas outras poucas vezes que o tokujo teve contato com a mesma, nesse momento, Robin parecia estar completamente indiferente com a situação de ferimento da Kazekage e sua localização. Não eram amigas?

Finalmente o objetivo da reunião emergencial havia sido revelado. Duas missões de extrema importância. Uma se tratava do desaparecimento de um cientista já conhecido por Shüra de outra missão. Por fim, uma missão de maior periculosidade, também de conhecimento anterior do Shinigami, que já havia sido designada anteriormente a ele. Qualquer um dos dois que se sentir à vontade será muito bem vindo a se juntar a mim no resgate do garoto. Com as duas mãos ainda dentro do kimono, o rapaz se ateve às decisões que seriam tomadas.