Era meia-noite, uma noite sem lua coberta por uma neblina que atravessava a cidade e o frio que congelava qualquer ser que andasse pelas ruas. Um pequeno edifício no meio daquela cidade no país das fontes termais, aparentemente inocente e normal, apenas mais um escritório comum que as pessoas passam para se consultar financeiramente e fazer registros. Porém, mesmo naquela hora, a luz dos cômodos continuava acesa e uma mulher mascarada encarava aquele lugar com seus olhos roxos cintilantes em cima de um telhado enquanto brincava com uma lâmina extremamente afiada, mexendo entre os dedos com uma destreza impressionante. Após respirar fundo e ajeitar sua mascara que cobrir apenas a parte de baixo do rosto,  ela se levanta e pula do alto, se grudando silenciosamente abaixo da janela e observando o movimento lá dentro. Dois homens com bonitos ternos caminham por dentre os corredores e entram em uma sala no fundo, vigiada por dois guardas armados. Aquilo claramente não era um escritório comum, mas a invasora já sabia desde o princípio. Com os alvos confirmados, a mulher monta um sorriso sinistro debaixo da máscara e inicia seu movimento cauteloso.

Usando uma gazua, arromba a porta de trás e perambulando pelos corredores, dá de cara com um guarda armado. Jogando uma pedra de forma precisa, ela faz o guarda virar rapidamente por conta do barulho e ligeiramente rola para a próxima sala sem fazer nenhum barulho. De maneira silenciosa, contornava todos os guardas sem matar nenhum com plana maestria, pelo único e simples fato de que não queria arriscar atrair atenção desnecessária. Após subir as escadas de madeira, consegue observa dois guardas protegendo uma única porta, a mesma que os alvos entraram. Analisando o lugar onde estava, percebe uma ventilação e por lá, adentra usando sua flexibilidade e rastejando-se pacientemente como uma cobra.

Abaixo, por uma ventoinha, consegue ver um escritório com dois homens conversando calmamente sobre seus negócios, buscando fazer um acordo de transporte sobre o tráfico humano que passava pelo país das fontes termais e seguia até Kumogakure ou saia de lá, seja para qualquer fim. Aparentemente eles queriam fazer um acordo de território entre suas facções e facilitar a passagem.

Novamente, com um sorriso quase maníaco no rosto, usa uma kunai para desparafusar a ventoinha. A invasora de cabelos brancos retira o pedaço de metal e olha dentro da sala e arremessa duas senbons nos pescoços de cada individuo, fazendo o coração deles pararem de bater e ambos desmaiarem ali mesmo. Ela retira as agulhas e estanca o sangue dos pontos de pressão para evitar sangramento, deixando o coração voltar a bater.

Passa a montar um pequeno cenário ali, pegando uma faca do bolso personalizada do traficante visitante e perfurando algumas vezes no pescoço do anfitrião, de forma desajeitada para não se assemelhar a um profissional, depois, faz o outro segurar a faca ensanguentada com pitadas de mudanças no cenário, tudo estava pronto, um planejava matar o outro durante a visita. Não precisava ser uma narrativa muito convincente, afinal, os guardas idiotas não vão interpretar certo e o que eles poderiam fazer? Chamar a polícia? De qualquer jeito, uma guerra entre facções é certa e o tráfico na região vai ser mais dificultada.

Com alguns documentos copiados e informações adquiridas, a infiltrada sai pelo mesmo lugar que entrou, parafusando a ventoinha. Todavia, antes de ir embora, pressiona uma parte especifica dos seus vocais e misteriosamente espera alguns minutos cronometrados. A mulher emite um grito de dor, mas com a voz grave que parecia de um homem para atrair a atenção dos guardas e ao mesmo tempo, o visitante acorda sem saber o que estava acontecendo. Obviamente, os guardas da mafia entram, vendo seu chefe morto pela arma do outro e automaticamente atacam-no furiosamente. O teatro funcional, uma pena que ela não poderia ficar muito tempo lá para observar o desenrolar do grande conflito. Depois de sair, tudo estava pronto, nunca esteve lá e a missão estava cumprida com a mesma facilidade de roubar doce de criança.

Com tudo feito, a mascarada descansa no telhado, observando as estrelas e pensando no relatório que teria que escrever, além de enviar as informações por meio de seus cachorros de invocação. Então, um exausto pardal que viajava a dias procurando a agente, finalmente a encontra. O mesmo pousa em seu ombro e entrega uma pequena mensagem.

"Comunicado importante, um novo Raikage foi nomeado, Fuyuki Hatake é a nova direção, todos da divisão deverão responder somente a ele e depois o comandante agora. Agente 47, tem permissão para desmobilizar. Como o de costume, queime a mensagem"

- Fuyuki... Hatake... São poucas coisas que me surpreenderam na vida, mas essa superou... - Ela ri um pouco, mas usa sua mão para conter a boca - Acho que está na hora de retornar para casa, já passei muito tempo nesse buraco - Termina queimando a mensagem com um isqueiro, vendo o papel ser consumido até virar cinzas e ser dissipado com o vento.

Levantando-se a mulher guarda seus equipamentos cuidadosamente em cada compartimento da roupa tática, olha para trás, vendo o local da operação uma última vez e como um fantasma, desaparece no meio da noite.


Eu estava descansando na minha cama, deitado olhando para o teto aguardando a hora passar, hoje iria chegar um pouco mais tarde no gabinete, pois tirei esse momento para repousar, as primeiras semanas como um Kage foram realmente cansativas. A companhia toca e interrompe meu sossego momentâneo. Como eu estava sozinho em casa, fui quase que obrigado a atender. A companhia insistia cada vez mais, cada vez mais repetido e eu acelero o passo, pegando a chave e abrindo a porta, mas não sem antes, bocejar um pouco.

- E ai Fuyuki, como vai a vida? - Uma mulher alta de longos cabelos brancos e olhos púrpura, fecha os olhos e abre um grande sorriso. Meu corpo parece ter travado, não conseguia acreditar no que estava na minha frente, era como um fantasma do passado que voltava átona, um misto de sentimentos me cerca, uma felicidade sem tamanho, mas uma indignação imensa, porém ambos eram sobrepujados pela confusão e surpresa que eu sentia na hora.

- Tia... Yumi?! - Pergunto sem acreditar no que eu estava vendo, era minha tia, a ultima vez que havia a visto era antes do falecimento dos meus pais, depois disso, nunca mais tive noticiais, nunca mais veio me visitar.

- Eu mesma! Bom saber que ainda lembra de mim e então, casarão bonito, aliás adorei as plantas, você que cultiva? - Minha tia que estava sumida a anos volta de repente, agindo como se nada tivesse acontecido e de forma extremamente descontraída enquanto eu não consigo formular palavras para aquela situação - Vamos ao que interessa, tem algo pra comer? Estou faminta - Ela abre a geladeira rapidamente e procura algo, mas não encontra nada porque eu ainda não tinha ido as compras naquele mês - QUE ABSURDO! Não tem nada aqui, nem mesmo uma boa cervejinha, esperava mais do Nanadaime - Comenta decepcionada pondo a mão na testa e fechando o aparelho. Logo em seguida, a mesma se senta no sofá depois de tacar toda a tralha de viagem dela, esticando a perna na mesinha como se morasse ali a meses, sem nenhuma vergonha, ainda me pede para colocar uma musica boa.

- Onde esteve esse tempo todo?! Depois que meus pais morreram eu fui mandando por um orfanato, você tem noção o quanto eu sofri? Pelo que passei? Agora entra aqui como se nada tivesse acontecido? Você pelo menos sabe que... eles se foram... - Pergunto indignado, mas acabo sendo tomado por um sentimento de luto no final.

- Hmpf... Acho que as coisas não podem ser como antes? Isso é realmente um saco... - Seu rosto descontraído fica bem sério e até mesmo assustador, me calando na mesma hora - Como você é o Raikage agora, é inevitável que irá saber, me leve até um lugar mais discreto... - Yumi parecia estar falando bem serio dessa vez, por isso, a levo até o meu quarto, era o lugar mais privado que eu tinha.

Ela se senta na minha cama e seus olhos purpuras brilhantes passam a encarar os meus azuis, consigo perceber o tanto de semelhança que ela tinha com minha mãe, com exceção desses estranhos olhos.

- Prazer Nanadaime... Eu, Yumi Hatake, sou uma "Yurei"... Membro da secreta "Divisão Fantasma" de numeração 47 - Ela se apresenta.

- Divisão Fantasma? Mas... Eu nunca ouvi falar dessa unidade... - Murmuro colocando a mão no queixo.

- É por isso que ela é secreta e se você não sabe, é porque eles estão fazendo seu trabalho direito - Ela quebra o clima dando a língua para mim em uma curta zombaria, mas logo volta ao profissionalismo de antes - Bom... Apenas o Raikage e poucos membros de confiança da ANBU detém conhecimento deles e eles não abrem boca por nada... É meio estranho pensar que meu sobrinho é meu chefe agora- Ela comenta

- Vamos com calma, não estou entendendo, o que são vocês? - Continuo as perguntas para ela, quanto mais explicações melhor.

- Que merda viu, parece que não te passaram esse conhecimento ainda, mas foda-se eu vou contar, mas finja como se não soubesse quando o comandante te falar... Nós yurei's temos um trabalho bem simples, pode se assemelhar com ANBUs em alguns aspectos, nossa função é simples, infiltração, assassinato ou espionagem, trabalhando sozinhos ou em duplas... A diferença, é que não podemos deixar nenhum rastro de nossa presença, nunca estamos em um lugar só, coletamos informações sobre todo canto do mundo, o velho na esquina pode ser um yurei, a mulher das flores pode ser uma yurei, a criança jogando bola ali fora pode ser um yurei, nunca se sabe, tudo para manter a segurança e soberania de Kumogakure - Um ar de misterio é deixado no ar.

- Isso explica muita coisa do passado... O porquê você sumia tantas vezes e só aparecia de vez enquanto, não era nada de viagem de negócios, eram missões... Mas... Por que você não voltou quando eles faleceram? - Era a pergunta que mais importava para mim naquele momento.

- Sobre isso... Teve um atraso na informação e eu estava infiltrada em uma máfia em um cu de mundo, apenas agora que tive permissão para desmobilizar... Acho que a única coisa que me arrependo era de não estar aqui quando aconteceu, espero que possa me desculpar - Yumi coça seu queixo e encara o teto, como se estivesse perdida em pensamentos, mantendo cerca de um minuto de silêncio - Quando Akemi e eu estávamos na ANBU, éramos incríveis juntas, mas ai, ela conheceu o Takeshi e ficou toda amolecida - A dita yurei começa a relembrar o passado - Inicialmente achava aquele cara um idiota, afastou minha irmã de mim e ela nem parecia a mesma de antes, mas na real, ele sabia curtir a vida, enquanto eu, fui chamada para a divisão... Claro que tive de apagar minha identidade e existem quase nenhum registro sobre minha vida, mas por mais que tenha suas desvantagens, a realidade é que eu acho essa divisão foda pra caralho, é o trabalho dos meus sonhos - A mulher finaliza, deitando na minha cama e se espreguiçando.

- De qualquer jeito... Eu estou imensamente feliz que você está viva e voltou - Depois de todo sentimento de indignação ser abafado, mesmo com as duvidas no ar, abraço-a, pois ainda era minha família, o resquício dela que me fazia lembrar de todos os bons momentos e minha tia parece ter se surpreendido com tal ação, mas abraça de volta.

- Oinn, meu sobrinho é tão fofinho - Sua face feliz e animada volta com tudo e ela esfrega meu cabelo com seu punho. Depois de um tempo, Yumi sai começa a caminhar para fora sem dar explicação nenhuma e logicamente vou atrás dela.

- Ei tia! Para onde você está indo? - Pergunto enquanto ela se afasta.

- Pro bar do Timmie encher a cara, espero que ele ainda esteja aberto, enfim, nós vemos mais tarde - Yumi se despede andando para longe no horizonte, deixando toda mala dela comigo, um pergaminho escrito "Arquivo ultra secreto N°157" e a pergunta de como eu contaria isso tudo para o Murata.

Considerações: