Puta que pariu, desgraça.

Era esse o requintado pensamento automático que retumbava na minha cabeça a medida em que observava aquele amontoado bizonho de papeis dispostos no quadro de missões. De todas as tarefas de merda as quais os juvenis eram submetidos diariamente, essa certamente era uma das mais irritantes. E olha que eu ainda vou ter que dar muito pitaco em coisa inútil antes de escrever uma missão decente por essas bandas. Mas, enfim. O pai precisa de experiência e reclamar não dá recompensas diárias.

É isso mesmo. O trabalho do figurante aqui era, não ironicamente, arrumar o digníssimo quadro de missões. Tinha folheto rasgado, amassado, faltando pedaço, pichado, molhado, mofado, com odores duvidosos. Na moral que alguém passou essa porra no rabo? Tinha folheto em cima de folheto, ranques misturados, encima, embaixo, no chão. Tinha até no teto. Tudo à mais legítima moda caralho possível.

Com toda a paciência e dedicação que eu não tinha, demoli toda aquela batelada de folhetos e comecei a reorganizá-los. Apesar do mau humor e da cara de nóia que comumente vivia exposta no meu semblante, o trabalho não era tão de porco assim. Aos poucos as fileiras de folhetas tomavam forma, todas organizadas e filtradas através de seus ranques e do tempo de espera. Os folhetos danificados eram simplesmente amassados e escondidos nos bolsos da jaqueta branca. Sim, fodam-se as missões. Nem a pau que eu vou reescrever essas porra.

Após aventurar-me na eletrizante tarefa de arrumar o maldito quadro de missões, guiei meus passos rumo à sabe-se lá o que, ainda vadiando pelo centro do vilarejo. Não mais interessado do que o habitual, caminhava praticamente de olhos fechados, quando, ao colocar as mãos nos bolsos, lembrei-me daquela ingrata surpresa. Retirei o folheto e o desamassei, permitindo que aquela agradável flagrância de freada preenchesse minhas narinas. Definitivamente passaram essa merda no rabo.

O dito cujo recrutava os juvenis para um mutirão de limpeza, que, para todos os acasos possíveis de uma narrativa, apontava para, justamente, o centro de Konoha. Talvez eu estivesse muito distraído com porra nenhuma para perceber a imundice de onde estava pisando a medida em que caminhava. Pois bem, já que eu estava ali, só me restava prestar esse humilde favor às autoridades. Tudo bem que eu também tava me sentindo meio culpado por ter dado sumiço naqueles folhetos e uma das coisas que eu definitivamente não tava afim de aturar era o sermão por esse pequeno atalho no serviço.

- Oe, velha. – Direcionei-me para uma senhora encarquilhada que fazia alguns movimentos com uma vassoura. Lenta como uma tartaruga com artrite, ela tentava afastar a podridão de dejetos da fachada de sua loja. – Dá isso aqui e não me atrapalha. – Fuzilei aquela pobre e incapaz criatura com meus profundos e indiferentes olhos azuis e tomei a vassoura de suas mãos sem qualquer decoro. Feito isto, dediquei-me à limpeza, não só de sua fachada, mas do restante do perímetro.

Faziam algumas poucas horas desde que havia iniciado minha sequência inebriante de missões ultra secretas no centro do vilarejo. Não vou mentir, o sentimento era como se fosse um recruta do majestoso exército brasileiro. Já tinha bancado a secretária e depois o faxineiro. Não podia esperar pelo momento glorioso de ter que limpar umas privadas por aí ou capinar uns lotes pela honra e glória da nação. Puta que me pariu, viu. A vida de ninja juvenil era um saco.

Após praticamente atirar a vassoura de volta para a coroa encarquilhada que havia mencionado na narrativa anterior, voltei a vasculhar os bolsos em busca de ''''''novos''''''' panfletos de missões. E lá estava o sorteado da vez - ou os sorteados da vez, que seja. Ao desembrulhar o papel amassado, deparei-me com dois fragmentos rasgados. Precisei juntar ambos para conseguir, com muita dificuldade, entender alguma coisa. Aparentemente, a missão recrutava os sub-15 para auxiliar um antigo e renomado ferreiro de Konoha. Segundo o manuscrito, seu filho e ajudante tava na merda já faziam alguns dias e as encomendas se amontoavam a medida em que seu serviço atrasava. Aparentemente, essa seria a oportunidade mais próxima de pegar numa arma nesse porre de dia.

Movi-me até a loja do tal ferreiro aperreado de trabalho, processo que levou poucos minutos. Ao deparar-me com a fachada da loja, uma pilha enorme de cestos jazia na porta e a única coisa que podia-se ver em seu interior era uma cara suja, enrugada e com uma barba enorme e desgrenhada que mais parecia um amontoado de pelo de cu mal-lavado se esgoelando para berrar ordens.

- Porra! Depois de 3 dias esperando, me mandam uma merda de moleque sonso! Bora, rapá! Pode começar a entregar! - Minha vontade era de mandar aquele mendigo enfiar aquele tanto de aço no rabo e rasgar. Engoli. Me enganei redondamente. Não seria dessa vez que eu pegaria numa arma e, ainda por cima, essa merda de tarefa ia me foder pro resto dia. Empilhei alguns dos cestos em um carrinho de mão todo bolorento e chequei os endereços para entrega. Sério? Essa merda tem encomenda pra todos os cantos da vila. Pau na mula. Bora lá.

Minha coluna rangia mais que cama de motel em dia dos namorados quando o sol da tarde rachava cucas nos céus de Konoha. Na moral, era como se a tua família inteira - aquele bando de jamanta - tivesse me atropelado umas dezessete vezes seguidas. Esquece. Era isso que a vida ninja me reservava, e não parava por aí. Agora eu tava puto, quebrado, entediado e um senso de dever enorme que veio da puta que o pariu para com aquele bando de panfletos destruídos nos meus bolsos. Mas calma lá, não parava por aí também não. A próxima tarefa maldita estava prestes a me levar literalmente pro inferno na terra. Mano, onde que eu tava com a cabeça?

Assim nascia o mais novo ajudante de uma fucking creche de Konoha. Entreter crianças, tá de sacanagem? Eu definitivamente sou a pior pessoa do mundo pra fazer uma merda dessas. Dei com o panfleto em minha própria cara enquanto direcionava meus passos em direção ao tártaro de Konoha, assumindo uma postura de absoluta derrota pelas ruas do centro da vila. Só para constar, no folheto dizia que, advinha? A abençoada encarregada pelo turno da tarde havia faltado ao serviço por motivos de saúde. Afinal, quem não ficaria na merda tendo que respirar o mesmo ar que dezenas de fedelhos diariamente, não é mesmo? Eu entendia. Mas isso não a livrava de uma saraivada de xingamentos.

Adentrei deliberadamente o prédio que abrigava a creche e, para uma mistura de ódio trevoso e uma alegria radiante, fui recebido por um golpe de algo plumado no meio dos bagos. - Te peguei, idiota! Hehehehe! - Meus olhos brilharam no mais rubro dos tons do fogo do capeta, contrastando com a cara de bunda que geralmente estampava o semblante. Pouco me importei com o golpe baixo. Ao olhar ao redor, dezenas de pestes golpeavam-se entre si com uma vasta variedade de armas fofas e plumadas. Eles estavam fodidos.

- Oe, oe... então é disso que vocês gostam de brincar? - Segurei um dos pentelhos pela testa e arranquei uma daquelas armas imbecis de suas mãos. - Muito bem, pivetes. Eu vou fazer picadinho de vocês Vamos começar a putaria brincadeira. - Finalizei a ameaça. Tomado pela mais sucinta das iras, comecei a persegui-los descompensadamente pelo salão enquanto aquela corja berrava e parecia se divertir horrores com a ameaça da minha incrível e letal lâmina felpuda. Eu poderia fazer isso o dia inteiro.

O sol já havia se posto quando dei como terminada aquela chacina de pestes - ou, pelo menos, era assim que preferia encarar. A verdade é que, nas últimas duas horas, eu havia simplesmente exorcizado na porrada aquele bando de catarrentos com minha letal e cintilante lâmina de plumas azul-bebê. A responsável pelo local prontamente agradeceu-me pelo serviço ao vislumbrar aqueles pequenos projetos de belzebu estirados no chão, mortos de cansaço.

Se minha coluna já tinha ido pro caralho, agora eram os braços que a acompanhavam. Com algum esforço, vasculhei os bolsos em busca do último panfleto mequetrefe que havia surrupiado do quadro de missões, implorando a todos os deuses que fosse o última tarefa daquele fatídico dia. Já não via a hora de voltar para casa e passar um longo dia coçando os bagos sem pensar em mais nada, mas lá estava.

O gran finale me direcionava à residência de um riquíssimo aristocrata de Konoha. Um luxuoso e gigantesco palacete no centro da área nobre da vila. Segundo informações, o dito cujo estava há alguns dias de promover uma extravagante cerimônia de casamento com sua jovem prometida e, como todo bom governo lambe saco de ricaços, a cúpula da folha prontificou-se de enviar um de seus genins para ajudar na distribuição dos convites. Obviamente, o sortudo era este ser que vos fala.

Encontrei-me com uma das serviçais da residência ainda nos portões do perímetro, tomando posse de uma pilha de folhetos que contabilizavam exatos 300 convites. Ah, véi. Vai tomar no cu. Sério, man? 300? Essas pessoas provavelmente só vão estar aí pra comer e beber de graça. Foda-se. E o pior de tudo é que eu teria que percorrer novamente toda fucking vila para cobrir todos os malditos convidados. Chega. Essa era a última vez que me sujeitava a esses trabalhos estúpidos.