I




A miríade de chamas à sua volta confundia seus olhos da mente. Olhava para todos os lados em busca de ao menos um rosto conhecido já que as assinaturas ficavam difíceis de distinguir com tantas por perto. Em sua face, a expressão era bastante semelhante à que fazia quando esquecia de adoçar o café, mas ele tentava confrontar o incomodo que o tomava com todas as forças.

　　Entendo a importância de estar perto do meu povo, lembrava-se do conselho de sua sensei para que buscasse se aproximar da nação em tempos de guerra civil como aquele que viviam. Mas eu nunca gostei de lugares cheios.

　　As portas do restaurante que vendia o melhor lámen da Névoa eram recepcionadas por duas moças bem-vestidas em quimonos vermelhos debruados em dourado, ambas mantendo largos sorrisos em seus rostos. Ele se aproximava a passos calmos, um tanto frustrado por não ter conseguido companhia alguma – Tomoko se encarregaria de cuidar do gabinete; Ichika e Jiro estavam em missão com alguns outros caçadores e não queria envolver Haru em algo pouco reservado como aquilo.

　　— Seja bem-vindo, Mizukage-sama. — as duas disseram em uníssono.

　　Ele anuiu em uma resposta silenciosa e caminhou até o lado de dentro, onde um funcionário igualmente bem trajado o conduziu para uma mesa reservada. Antes de se sentar, em um outro canto havia um rosto que já há algum tempo deixava de ser apenas um vislumbre nas tantas pilhas de papel que adornavam todos os dias sua mesa de madeira, e os curtos cabelos cor de cobalto e olhos em mesmo tom eram chamativos.

　　Com um movimento da mão direita, dispensou o local guardado para si e caminhou até a moça, que estava acompanhada: a outra tinha os olhos intensos de uma incomum cor de âmbar e uma grande cicatriz que cruzava a linha entre as pálpebras e o nariz; seus cabelos eram negros como azeviche e a pele era clara como a neve. Uma delas, ele pessoalmente havia nomeado Comandade Militar da Névoa – e a outra havia participado diretamente de seu exame de graduação há não tanto tempo.

　　— Espero não estar interrompendo. — disse, quebrando o próprio silêncio e sentindo-se grato que as pessoas a volta pareceram se aquietar. — E também espero que não se incomodem, não gosto muito de comer sozinho.

　　Seu tom de voz era calmo como uma brisa de verão e seus olhos transbordavam uma placidez que beirava a indiferença. Warui ergueu sua mão direita e prontamente um garçom foi na direção da mesa, com uma certa afobação. Sequer havia pedido o cardápio, já chegara ali decidido.

　　— Gostaria de um lámen de frango com espinafre e uma garrafa de água com gás, por favor. — disse, antes de correr os olhos na direção das meninas que agora o acompanhavam. — Já fizeram seus pedidos?

　　Em seu âmago, torcia para que as duas se apresentassem dando-lhe seus nomes; do contrário, temia que não fosse capaz de lembrar.