Neste dia, Kaginimaru acordava tão cedo que nem mesmo o sol havia dado as caras ainda. Começava o dia se esticando e bocejando, sentindo-se descansado e pronto para começar mais uma jornada. Não passou nem mesmo um minuto e levantou-se da cama, começando a arrumá-la, alisando as cobertas e alinhando os travesseiros. Ele dobrou cuidadosamente as cobertas e as colocou no lugar. Passou o lençol e o colchão com a mão, removendo qualquer sujeira ou poeira. Também passou uma escova no colchão para remover qualquer cabelo ou suor, e finalmente colocou os travesseiros no lugar. Ao fim, olhou para a cama, satisfeito com seu trabalho. Mesmo que comumente fosse desleixado, havia aprendido que um quarto arrumado representava uma mente clara e ordenada — O fator mais importante que um usuário de Taijutsu necessitava ter.

Pandora não estava em casa, era dia de plantão na madrugada, portanto dormia sozinho em ocasiões como esta. Pensava sempre em visitá-la, mas por não querer atrapalhar e saber que não fazia muito o estilo dela, acabava controlando a vontade que tinha de vê-la e evitando o deslocamento. Em momentos como este, cuidava um pouco mais da casa para que as obrigações diárias do casal não ficasse para ela. Varria todos os cômodos de maneira superficial, somente para tirar qualquer excesso de poeira, e então partia para a cozinha.

O Hachidaime Tsuchikage sentou-se à mesa da cozinha e preparou uma xícara de café. Com uma tigela de arroz retirada do armário, começava a preparar o café da manhã. A água fervia na panela e então adicionou o arroz e misturou-o. Colocou, em seguida, a tigela no fogão para aquecer. Em seguida, ele pegou dez ovos e quebrou todos na frigideira, um a um, fritos com um pouco de água. Focou-se em mexer os ovos até que estivessem cozidos e o colocou tudo em um prato. Como toque final, adicionou salsinha e gergelim no arroz. Por fim, sentou-se à mesa e começou a comer, saboreando o sabor do arroz quente e dos ovos cozidos. Bebia o café lentamente, desfrutando do momento tranquilo antes do início do dia agitado.

Havia combinado com Dalmian, o avô de Pandora, um treinamento intenso que perduraria o dia inteiro. Tratava-se de um homem muito mais ocupado que o próprio Tsuchikage, seus feitos no passado eram lendários, mas este seguia um âmbito levemente diferente, suas aventuras eram no mar, conhecido em todas as águas. Nunca outrora havia presenciado o idoso agindo na prática, mas todas as histórias que escutara despertou nele uma curiosidade tremenda. Partia de casa na direção onde o Heinstein morava, se apresentava logo cedo pois esperava que o treino terminasse rápido e pudesse se focar no trabalho de Kage posteriormente.

O jovem era recebido com um sorriso e um ataque direto de espada. Nem mesmo seus bons reflexo eram capazes de ver aquele movimento, sentia uma simples e intensa ventania passar por seu rosto e, em seguida, alguns fios de seus cabelos caindo. Ficava incrédulo, tamanha velocidade em um velhote parecia simplesmente ser impossível. — Achei que nunca ia chegar! — Dalmian dizia, gargalhando e o convidando para entrar. O sábio se mostrava extremamente receptivo, como sempre, oferecendo comida e bebida antes do treinamento que faria. Kagi, educadamente, recusava, falando que já havia tomado seu café da manhã.

Ambos então se dirigiam para um campo de treinamento. Dalmian portava sua velha espada brilhante e o Kaginimaru apenas seus punhos. Eles começaram a lutar, com Dalmian desferindo golpes precisos com sua espada, enquanto Kaginimaru esquivava-se e contra-atacava com seus punhos. A luta era intensa, mas se mostrava notório que o sábio não estava dando tudo de si como havia feito durante seu golpe na entrada. O Tsuchikage ficava incrédulo, não esperava jamais ver tanta habilidade em uma pessoa só além do que via em seu próprio pai. O fato da espada ser um objeto cortante e facilmente danoso se mostrava ser o menor dos problemas, o velhote aplicava chutes que doía-lhe na alma, como se estivesse sendo esmagado por pesos inimagináveis.

Não importava o quanto se esforçasse, todas as estratégias do Hanma falhavam. Tentava desarmá-lo, mas sempre acabava recebendo um chute direto. Tentava ler os seus movimentos, mas estes sempre mudavam, sendo totalmente imprevisíveis. Buscava até mesmo esperar os ataques do velhote e agir em possíveis brechas que encontrasse, esquivando-se e em seguida contra-atacando, mas simplesmente não existiam brechas. Dalmian deixava o embate fluir mais como o treinamento entre um aprendiz e seu mestre do que um combate de verdade, o que se revelava imensamente frustrante.

O Colosso de Pedra chegava até mesmo a apelar para suas habilidades. Abria diretamente cinco de seus oito portões de Chakra. Como estava lidando com um homem muito bem vivido, a técnica sequer chegava a surpreendê-lo, nem mesmo seus movimentos mais velozes e intensamente mais fortes faziam diferença, o velhote simplesmente equiparava-se sem se esforçar. A medida que o treinamento progredia, Kaginimaru começava a sentir seus punhos ficando doloridos, mas continuava lutando, necessitando se provar. Dalmian fazia um trabalho que sem dúvidas o ruivo levaria para o resto da vida, o forçando a manter a concentração e a força mesmo quando cansado.

O que esperava que fosse um combate rápido devido ao fato do oponente ser um senhor de idade passava de mais de uma dezena inteira de horas perduradas. Kaginimaru possuía cortes por todo o corpo em detrimento dos golpes de espada, mas todos superficiais e calculados para não atrapalhá-lo fisicamente, apenas forçando com que sua mente tivesse de lidar com a dor e a ardência de tantos ferimentos. Mesmo com a revitalização de suas energias através dos portões de Chakra, chegou um momento onde o Hachidaime simplesmente caia no chão, ofegante e encharcado de suor. Sentia todo o corpo sem aguentar mais, inclusive seus punhos que latejavam de dor por conta dos golpes que aplicou, mas de nada parecia ter adiantado, pois Dalmian parecia estar intacto.

Finalmente compreendia o motivo para o idoso ser chamado de Senhor das Trevas, mas sequer restou-lhe tempo para elogiá-lo ao fim, pois a consciência do jovem se perdia. Quando Kaginimaru finalmente acordava, percebia estar sozinho em um quarto de hospital.