A vila estava tão linda aqui de cima, as luzes brilhando mostrando o quão cheia de vida Kumo se encontrava apesar de tantas perdas no passado, porém ao mesmo tempo que eu sentia felicidade, um vazio parecia me consumir aos poucos fazendo parecer que nada tivesse sentido e drenando minhas energias. Eu estava me sentindo cansaço, meus corpo não aguentava tanto o trabalho e a mente não aguentava mais tanta pressão sem nenhuma pausa. Não pensava direito naquela noite e ainda havia recebido a noticia de que Kimi não tinha previsão para despertar, muito menos o que estava acontecendo com ela. Nada estava dando certo nos últimos dias.

Sentado em um dos telhados mais altos de Kumogakure debaixo de um lindo céu estrelado e acima de uma vila pouco movimentada por conta da hora, mas sempre que eu olhava para cima, via a lua sangrenta que ressuscitava minhas preocupações e ansiedade, recordando-me que o perigo estava só aumentando. Ao meu lado, uma garrafa de vinho estrangeira junto de duas taças cheias. Minhas pernas balançavam nas alturas sentindo o vento frio da madrugada, encarando a imensidão da vila, tendo alguns flashs da destruição que me causavam ainda mais dor. Pego uma das taças e começo a beber, como já havia feito depois de um tempo, sentindo o gosto um tanto amargo do vinho, mas delicioso. Não era o suficiente para me deixar bêbado, afinal, com uma constituição como a minha, nem mesmo um touro bateria de frente.

Olho para baixo, vendo que a queda dali que com certeza resultaria em morte certa para qualquer um. Não sei por que, tenho uma ideia maluca. Me levanto e começo a caminhar entre os fios que ligavam a eletricidade entre os edifícios sem nenhum tipo de auxílio. Dava um passo de cada vez, sentindo o vento balançar-me no alto. Será que uma queda dessas me mataria? Como seria o pós-vida? Será que meus pais estariam lá me esperando? Meus amigos? Meus ninjas? Meu povo?

A ideia de me deixar levar, de cair parece me seduzir com a promessa tentadora de algo melhor de um conforto que finalmente poderia ser atingido e esse vazio inexplicável sanado, além da punição por minha falha com guardião – “Eu sou importante para a vila... Mas se eu morresse hoje... As pessoas me lembrariam como Fuyuki Hatake ou como o Nanadaime Raikage?... Pois eu sei que quase todos que me conheciam verdadeiramente, não estão mais nesse mundo” – O som do vento era como o canto de uma sereia me atraindo para a morte. Morte, um conceito com qual eu sempre andei lado a lado, mas ela só ceifava aqueles com que eu me importava, me deixando vivo para ter que sofrer e seguir em frente. Mas apesar de tudo, minha expressão não mudava, sempre estoica e distante, como se nada tivesse peso.

Continuo andando na corda bamba. Quem imaginaria que uma grandiosa sombra estaria numa situação dessas. Logo eu, que sempre apareço como uma face séria e inabalável diante de todos. Alguém que sobreviveu a todos os tipos de batalha, sendo facilmente seduzido pela ideia da morte. É irônico. Então, em um passo em falso, caio dali. De repente, sinto a vida passar diante dos meus olhos, tudo que eu fiz, tudo que eu passei, todos que eu conheci até aquele momento e que haviam pessoas para salvar e uma vila inteira para me redimir e proteger. Em um reflexo digno de uma sombra, me agarro com a mão direita no cabo de energia que por um milagre não se rompia ou me eletrocutava.

– “No que eu estava pensando, eu fiquei louco? Eu perdi minha mente?” – Penso, voltando a realidade e me auto criticando por quase se deixar levar em um momento de fraqueza, quase perdendo tudo que eu conquistei e desperdiçando a vida de todos que se sacrificaram para me ajudar. O que mostrava que eu ainda não tinha atingido o nível de um shinobi perfeito.

Considerações:

Alguém havia me puxado, me ajudando a tirar daquela situação degradante. Era Jaina, minha assistente há mais de um ano e uma das pessoas mais confiáveis que conheci. Ela falava comigo de uma forma irritada, mas bom, não era para menos.

- Perdão... - Digo de forma curta e grossa, olhando para o nada após me sentar no mesmo lugar novamente.

Coloco a mão no peito, apertando a camisa com os dedos. Eu estava sentindo uma angústia e mau estar insuportáveis. Minha vida nunca foi tranquila, sempre aparecia um problema, mas eu dava a volta por cima, de novo, de novo, de novo e quantas vezes fosse necessária, tudo por um ideal em que acreditava. Olho para Jaina, lembro da primeira vez que nos encontramos em que salvei sua vida. Desde que veio para Kumo, ela tem sido uma grande amiga e companheira.

- Jaina... Não conte a ninguém - Suspiro, tomando uma decisão e balançando as pernas para o ar enquanto olhava para o horizonte - Eu nunca contei muito da minha vida... Na verdade, odeio falar sobre mim... O silêncio sempre fora meu escudo... - Revelo e era verdade, poucos sabem sobre minha história ou vida pessoal, apenas meu títulos e fama. Coisas superficiais.

- Eu nunca quis ser famoso, um herói ou líder militar... Meu desejo sempre foi ser forte para proteger Kumo... Meus pais sempre desejaram e me ensinaram isso... Mas depois da morte deles, acredito que inconscientemente, eu imaginava que seguindo seu legado... Eles ainda estariam comigo, ao meu lado, orgulhosos de quem me tornei - Falo, em uma reflexão sobre mim mesmo. Lembro da minha mãe e como a mesma foi ressucitada por um jutsu maligno e profano. Fui obrigado a lutar com ela enquanto a mesma falava ideais horríveis, dizendo que a perda me tornou mais forte. Eu ainda me recuso a acreditar que aquela era minha mãe, é impossível.

- Mas agora, tudo parece estar se desfazendo, meus amigos morreram, a mulher que eu amo está em coma, prestes a morrer... Nós havíamos prometidos ficar juntos depois que a guerra acabasse, mantendo segredo para que ela não corresse perigo... Porém foi em vão... Estou vendo a mesma tragédia se repetir diante dos meus olhos - Eu ponho as mãos na cabeça - Não protegi quem amo... Não protegi a vila... Falhei em todos os aspectos... Não fui forte e capaz o suficiente... Agora, todo dia, eu acordo sentindo-me despedaçado... Sinto-me vazio... Sinto que algo morreu em mim e está faltando... É algo indescritível... Mas mesmo assim, me mantenho lutando... - Termino meu desabafo para Jaina, esperando que ela entendesse e guardasse esse segredo. Foi algo do fundo do coração, para uma pessoa de extrema confiança e que já provou seu valor.

Considerações: