Nunca, em toda a história da grande aldeia do país do fogo, a grande aldeia oculta da folha, houve uma paz tão pacata que o único som cortando o silêncio era o de crianças correndo pelas ruas em mais uma de suas fantasiosas brincadeiras onde encarnavam os grandes ninja da história da aldeia, seus heróis e também os vilões que tiveram de enfrentar no caminho, além e claro de seus cães latindo enquanto perseguiam os pestinhas sem qualquer motivo aparente, apenas para saciar o seu desejo inconsciente por caçar algo.

— O que? Não me diga que o seu sharingan enxerga através dessas cartas, senhor! — Indagou Feitan expressando em sua face uma clara pintura artística que evidenciava sua frustração. No terraço do quartel general, debaixo de uma tenda feita de madeira, sentavam-se em torno de uma mesa redonda, Feitan, Mello, Saito e um prisioneiro amigável com as mãos e os pés algemados. Todos possuíam em suas mãos cartas de um baralho. Jogavam uma partida de truco e sobre a superfície amadeirada já haviam três cartas, jogadas por Saito, Mello e o prisioneiro, respectivamente nessa ordem. Era a vez do último para fechar a segunda rodada que poderia selar a vitória de Saito e o Prisioneiro caso Feitan não fosse capaz de matar o três de paus jogado pelo Uchiha — O que você acha? Eu usaria uma ferramenta dessas pra ganhar de vocês num carteado? — Retrucou Saito enquanto sorria.

Apesar de estarem jogando cartas e que pudesse parecer a qualquer um que olhasse que aquilo era algo despretensioso, Saito e os outros dois aspirantes estavam analisando a forma como o prisioneiro blefava a fim de quando fossem interroga-lo pudessem ter plena certeza de que estava dizendo a verdade sem a necessidade de fazer uso de técnicas ilusórias. A partida em si estava oito a seis para a dupla composta pelos dois aspirantes e aprendizes de Saito — Se você quiser eu posso jogar pra você! — Indagou Mello já impaciente enquanto Feitan encarava suas cartas pensativo — O que tem de tão difícil? Se você não cobrir a carta do chefe eles vão abrir quatro pontos na nossa frente! O que tem que pensar?

Feitan continuou em silêncio, como se o surto de seu companheiro não fosse mais do que meros zumbidos de uma mosca — Truco! — De repente seus olhos se arregalaram e sua expressão era de confiança. A voz que saiu da boca de Feitan era carregada de um senso incomum de quem está certo do que está fazendo. Saito sorriu de canto orgulhoso do jogo que seu aprendiz tentava fazer, mas pela demora e uma rápida analise, passou a crer que se tratava de um blefe. Para o próximo turno o Uchiha possuía em sua mão o sete de copas e apenas um quatro de paus poderia vence-lo. Mesmo que Feitan tivesse algo que matasse o seu três, haveria uma terceira e última rodada — Desce — Retrucou suavemente o jovem chefe.

Feitan pareceu tremular por um instante e lentamente levou a carta até a mesa, mantendo em segredo o conteúdo da mesma até o último segundo. Mello mordeu os lábios impaciente e ansioso. O prisioneiro cerrou os olhos para ver se conseguia identificar algum digito no pedaço de papel, mas todos ali presente apenas descobriram qual a carta quanto em meio a uma gargalhada Feitan retirou a mão de sobre a mesa e revelou se tratar de um ás de espada — Ah, você achou mesmo que eu estava blefando? Fala sério, chefe! — O primeiro se vangloriou, Mello por sua vez respirou aliviado. O prisioneiro mostrou sua primeira grande expressão, a de frustração. Saito se concentrava na sua analise acerca do sujeito.

— Certo, garoto. Agora que ta valendo quatro pontos e estamos empatados na rodada todos nós temos que jogar — Indagou Saito, chamando Feitan de garoto mesmo que possuíssem a mesma idade, talvez por hábito de ser chamado de senhor pelo mesmo — Certo, certo. Lá vai — Feitan descartou sobre a mesa um sete de ouro. Saito sabia que mataria o jogo até então. Mello, entretanto, ainda poderia ter o quatro de paus e assim o plano do Uchiha iria por água a baixo. Restava confiar na sorte e se atentar as ações de seu prisioneiro.

Os olhos de Mello foram de encontro com os de Saito e por um instante se encararam com expressões sérias. Pela experiência que tinham em trabalhar um com o outro, bastou um sinal com uma meia piscada por parte do aspirante para o chefe de policia entender que a carta de Mello era inferior a do parceiro Feitan, o que automaticamente a tornava inferior a do Uchiha. Saito tocou duas vezes na sua carta com o indicador direito, sinalizando para Mello que teriam de fazer uma troca para arrancar o que precisavam do prisioneiro.

Pelo treinamento que tiveram juntos, havia apenas um pequeno espaço de tempo entre as piscadas do alvo para que trocassem sem que o mesmo percebesse. No exato momento o fizeram, lançando um na direção da mão do outro a carta que seguravam, abruptamente, após o fazerem, Saito bateu com a carta na mesa para que não houvesse brecha para o prisioneiro pensar em nada com o susto — Está com você, meu caro — A carta era um dois de copas e perdia para o sete de ouro de Feitan. Mello sorriu e colocou lentamente sobre a mesa a carta que até então era de Saito, fazendo a rodada com um sete de copas. Restava ao prisioneiro agir. O sujeito pensou, pensou, arqueou a sobrancelha quase que inconscientemente e indagou — Seis — Não parecia confiante. Saito olhou para Feitan e o mesmo assentiu com a cabeça, sinalizando para o homem jogar. O mesmo o fez com temeridade e mostrou estar blefando ao perder com um dois de paus — Levem-no para a sala de interrogatório. Vocês já sabem como ele faz, podem assumir daqui — Indagou o Uchiha se levantando e saltando para fora dali na direção de sua residência. Havia terminado mais um trabalho.