O início daquele dia crucial surgiu tardiamente, como se a aurora tivesse sido adiada por um motivo insondável, que escapava ao entendimento humano. No entanto, apesar da tardança, a humanidade, que costuma ser rápida em julgar, deixou de lado esse atraso excepcional do sol e prosseguiu com suas atividades cotidianas, sem maiores questionamentos. Assim como a maioria dos habitantes da Aldeia da Folha, Saito mal percebeu os poucos minutos de atraso do astro rei, visto que havia se permitido dormir um pouco mais do que de costume. No entanto, ao vislumbrar os raios de luz penetrando pela fenda de sua janela, o jovem Uchiha se esforçou para se erguer e se sentar à beira da cama.

A luminosidade matinal inundou o aposento do rapaz, que se viu imerso em um jogo de sombras e reflexos. Aos poucos, ele recobrou a consciência plena, tomando ciência de que algo não estava certo. O ar parecia pesado e impregnado de um pressentimento incômodo, que o envolveu como um manto sombrio. Era como se o universo estivesse se preparando para algo grandioso, ou terrível. Saito sacudiu a cabeça, tentando afastar a sensação de apreensão. Levantou-se, espreguiçando-se com vagar, como se cada movimento fosse uma tarefa hercúlea. Os pensamentos borbulhavam em sua mente, misturando-se em uma confusão pleonasticamente confusa. O jovem Uchiha sabia que aquele dia não seria comum, mas não sabia o porquê.

Saito era um jovem que conhecia suas obrigações domésticas como ninguém. Ele sabia que, se não mantivesse sua morada em ordem, não poderia se dar ao luxo de coordenar a força policial, já que o caos de sua própria casa seria um reflexo de sua incapacidade de liderança. A manhã seguia calma e serena na aldeia da Folha, com um leve frescor de primavera no ar. A luz suave do sol adentrava pelas janelas, iluminando os cômodos e trazendo uma sensação de renovação e energia. Saito, imerso em seus pensamentos, tomava sua tarefa com seriedade e precisão, dedicando-se a limpar cada canto e retirando qualquer vestígio de desordem. Seus movimentos eram cuidadosos e meticulosos, evidenciando a preocupação do jovem com a organização de sua casa.

Os móveis eram polidos com esmero, os objetos eram dispostos de forma simétrica e as roupas eram cuidadosamente dobradas e arrumadas em seus devidos lugares. Não havia um detalhe sequer que escapasse aos olhos atentos do Uchiha. Ele sabia que a disciplina e a ordem eram fundamentais para manter a harmonia e a paz em sua vida, e por consequência, na vida de todos à sua volta. À medida que o tempo passava, o sol ia subindo cada vez mais no céu e Saito ia finalizando sua tarefa, satisfeito com o resultado. A casa agora reluzia, emanando uma sensação de tranquilidade e equilíbrio. O jovem suspirou aliviado e sorriu, sentindo-se revigorado para enfrentar as próximas tarefas do dia.

Depois de concluir suas tarefas domésticas, Saito finalmente se preparou para sair de casa. Ele escolheu com cuidado suas vestes, optando por um elegante kimono preto que ostentava o brasão distintivo da sua família, os Uchiha. A seda fina deslizava suavemente sobre sua pele, e a costura impecável refletia a habilidade e destreza dos artesãos que o criaram. Saito estava determinado a representar sua linhagem com a dignidade e respeito que ela merecia. Com as roupas impecáveis, Saito pegou duas fatias de pão recém assado, recheadas com queijo e presunto cortados por ele mesmo. Ele sabia que não poderia ficar sem um café da manhã substancial, especialmente se esperava liderar a força policial com eficácia e clareza de mente. Saito então transpassou a janela de seu quarto com agilidade, apreciando a fresca brisa da manhã que acariciava seu rosto.

Ele tomou o caminho mais rápido para o quartel general, ciente de que já estava atrasado. Saito era conhecido por sua pontualidade e não tolerava atrasos em sua programação. No entanto, desta vez, ele teve um contratempo, mas isso não o impediria de cumprir seus deveres. Enquanto caminhava em direção ao quartel, Saito notou a agitação da cidade ao seu redor. As pessoas estavam apressadas em seus afazeres, ansiosas para cumprir suas tarefas diárias. Saito reconheceu em seus rostos a esperança e a determinação que os impulsionavam a seguir em frente, apesar das dificuldades. Ele se inspirou nessa energia e se concentrou em seu próprio objetivo, sabendo que tinha uma responsabilidade maior a cumprir

Saito apreciou a imponência do edifício por um instante antes de adentrá-lo, com uma sensação de orgulho crescente em seu peito. Aquele majestoso prédio de pedra era o lar da força policial da aldeia, cujos homens e mulheres trabalhavam duro para manter a ordem e proteger seus cidadãos. Ainda que as tarefas externas exigissem um deslocamento, era naquele complexo que a maior parte dos membros da força se concentrava, em uma constante movimentação que denotava sua eficiência. Caminhando pelos corredores, Saito saudou com respeito e cordialidade os aspirantes, sargentos e capitães com quem cruzava, cada um deles um símbolo da honra e da disciplina da corporação.

O Uchiha não deixou de notar a expressão de admiração e respeito no rosto dos mais jovens, o que o deixava ainda mais orgulhoso por liderar aquele grupo de homens e mulheres que dedicavam suas vidas para proteger sua terra. Finalmente, chegou à sua sala, onde se deparou com uma pilha de papéis que parecia crescer a cada hora. Suspirou profundamente, sabendo que teria que se concentrar por horas para resolver aquele volume de trabalho. Saito sabia que o sucesso de sua equipe dependia da diligência e atenção aos detalhes que cada um dos membros devotava ao cumprimento de suas funções, e ele mesmo se esforçava para ser o exemplo máximo da dedicação que exigia dos outros.

Saito, um homem de estatura imponente e traços marcantes, encontrava-se imerso em sua rotina diária, ponderando sobre a melhor forma de abordar a montanha de tarefas que lhe aguardavam. Seu escritório era uma extensão de sua personalidade: austero, organizado e eficiente, refletindo sua posição como o líder da força policial da aldeia. Enquanto contemplava os papéis que se acumulavam em sua mesa, um de seus subordinados adentrou a sala com passos cuidadosos, depositando uma xícara de chá fumegante diante do chefe de polícia, um gesto de deferência que não passou despercebido pelo observador atento. Antes que pudesse desfrutar do líquido reconfortante, três batidas firmes ecoaram na porta de seu escritório, anunciando a chegada de um visitante inesperado. Saito concedeu permissão para a entrada do desconhecido com sua habitual serenidade, observando com interesse enquanto uma criança bem-vestida e de nobre aparência adentrou a sala, acompanhada por um dos seus comandantes de confiança.

Saito ergueu-se da cadeira com a postura altiva de um homem acostumado a respeito e obediência, enquanto seu subordinado indicava que o jovem visitante era alguém importante. Sem hesitar, o comandante entregou a Saito um bilhete dobrado, retirando-se com a mesma discrição com que chegara. O chefe de polícia agradeceu o gesto e convidou a criança a sentar-se, enquanto avaliava com atenção o conteúdo do bilhete. Sua expressão impassível não deixava transparecer qualquer indício sobre o teor da mensagem recebida. O olhar perspicaz de Saito examinou com cautela a figura jovem à sua frente, buscando capturar qualquer sinal de suas intenções ocultas. Contudo, o rosto impávido da criança era um enigma indecifrável, sem revelar emoção ou motivação.

A carta que repousava em suas mãos era breve, mas deixava espaço para uma infinidade de questões a serem esclarecidas. A letra maltrapilha, apesar de reconhecível, pertencia a um de seus aspirantes mais brilhantes, mas negligente. Rapidamente, Saito percebeu que a mensagem informava sobre o sequestro do jovem à sua frente, alegando que o mesmo era de um país vizinho, perpetrado por um dos shinobi mais desequilibrados que a Vila da Folha já tivera notícia. O criminoso em questão havia sequestrado o garoto com a intenção de ocultá-lo em sua residência, sob o delírio de que poderia mantê-lo em segurança e, eventualmente, garantir o matrimônio de sua filha com o jovem refém, a fim de assegurar a pureza do sangue nobre em seus descendentes.

Saito observou o menino sentado à sua frente com um misto de preocupação e espanto. O jovem parecia completamente indiferente à sua situação, como se estivesse desligado do mundo ao seu redor. Uma expressão vazia e impassível adornava seu rosto, como se nada pudesse abalar sua confiança inabalável de que, eventualmente, tudo seria resolvido e ele poderia finalmente retornar para casa. O chefe de polícia suspirou, perplexo com a atitude do garoto. Como alguém pode estar tão calmo em uma situação tão desesperadora? Será que o sequestrador fez algo para sedar ou manipular a mente desse menino? Saito tentou quebrar o silêncio tenso que pairava sobre a sala, mas o menino não parecia disposto a cooperar. Ele permanecia imóvel em sua cadeira, com um ar de superioridade que irritava Saito. Afinal, o menino não tinha ideia do quão grave era sua situação.

Saito inspirou profundamente, permitindo que a essência da carta penetrasse em sua mente antes de depositá-la cuidadosamente sobre sua bancada de madeira envelhecida. Ele virou-se com graça para o menino sentado à sua frente, guiando a mão direita até o recipiente de cerâmica contendo o chá quente que repousava elegantemente sobre a mesa. Com a mão esquerda, ele buscou uma xícara impecavelmente limpa em meio ao conjunto de porcelana, revelando a habilidade e a perícia que só a prática constante poderia proporcionar — Um pouco de chá pode ajudar a soltar sua língua — sugeriu Saito com um sorriso, enquanto despejava o líquido dourado na xícara.

No entanto, ele próprio não podia sentir o aroma do chá, tampouco o sabor, privações impostas por suas limitações pessoais. Ainda assim, ele estendeu a xícara com gentileza, esperando que o aroma e o sabor do chá pudessem confortar o jovem rapaz que tinha diante de si. Para sua surpresa, o menino aceitou a xícara, expressando sua gratidão com um singelo e tímido "obrigado". Saito sorriu novamente, sentindo-se satisfeito por ter oferecido um pouco de conforto em meio àquela situação delicada. Ele tomou um assento diante do menino e encarou-o com olhos perspicazes, preparando-se para a conversa que estava prestes a ter.

Os olhos do chefe de polícia estavam em um estado de turbulência inquietante, com um brilho vermelho que refletia a tensão e a pressão que pesavam sobre ele. Naquele momento, não havia muito que ele pudesse deduzir sobre o mistério envolvendo aquele menino misterioso. Saito, por sua vez, cruzou os braços com um ar de indiferença calculada, consciente de que precisava extrair informações da criança antes de mais nada. Era um fato inconteste que sua corporação ainda não havia conseguido capturar o sequestrador, e talvez aquele menino tivesse alguma informação vital para ajudá-los a desvendar o caso. Em um gesto cortante que quebrou o silêncio que pairava no ambiente, Saito lançou sua primeira pergunta — De que país você vem?

Com a mão direita, ele recolheu a xícara de chá sobre a mesa e a levou aos lábios, saboreando a textura quente e reconfortante do líquido que descia por sua garganta. Era um momento de pausa estratégica, em que ele aguardava a resposta do visitante. De repente, ele acrescentou uma nova pergunta, mantendo a voz serena e firme — Há algum tipo de chá semelhante a este em seu país de origem? — Era uma pergunta aparentemente inócua, mas Saito sabia que os detalhes sutis podiam muitas vezes ser cruciais para desvendar um mistério. Agora, ele esperava que a resposta do menino pudesse fornecer a chave para decifrar aquele enigma complexo que envolvia o sequestrador.

Saito observou atentamente a expressão do garoto enquanto este respondia, notando como sua relutância começava a se desfazer. O chefe de polícia sabia que era preciso ter cautela, que a pressão excessiva poderia afugentar o jovem visitante. Por isso, decidiu continuar a conversa com sutileza, fazendo perguntas aparentemente simples, mas que poderiam fornecer informações valiosas. O menino respondeu prontamente à primeira pergunta, revelando que o país de onde vinha não possuía muitos tipos de chá, até por se tratar do País do Vento. Saito analisou cuidadosamente as reações do garoto enquanto ele respondia suas perguntas. Era evidente que o menino não estava acostumado a compartilhar informações com estranhos, o que aumentava ainda mais o mistério que cercava sua identidade e origem. Saito decidiu, então, adotar uma abordagem mais sutil, evitando ser tão direto em suas perguntas.

O chefe de polícia percebeu que o chá estava começando a fazer efeito, deixando o garoto mais relaxado e propenso a conversar. Ele decidiu, então, continuar com a conversa, mantendo um tom amistoso e casual — Talvez já tenha, faz quanto tempo que está fora? — perguntou Saito, tentando parecer o mais casual possível. Ele tomou outro gole de chá, permitindo que o sabor quente e reconfortante invadisse sua boca antes de se recostar na cadeira, mantendo o olhar fixo no garoto. A resposta do menino seria crucial para que Saito pudesse desvendar mais informações sobre sua história e, consequentemente, encontrar alguma pista que pudesse ajudar na captura do sequestrador. O chefe de polícia sentiu a tensão aumentar em seu corpo enquanto aguardava a resposta do garoto, mantendo-se em posição defensiva caso o menino decidisse não cooperar mais.

Saito observou atentamente a resposta que recebeu do menino, seus olhos perscrutando a face do garoto com uma intensidade quase palpável. A postura fria e distante que o garoto havia assumido havia sido quebrada, revelando um abismo de dor e sofrimento que Saito podia sentir ecoar em seu próprio peito. Enquanto o menino derramava uma lágrima solitária, Saito se manteve imóvel, suas feições inexpressivas ocultando qualquer emoção que pudesse estar fervilhando em seu íntimo. Finalmente, Saito se levantou, segurando a xícara de chá que ainda continha o líquido amargo e reconfortante. Seus passos eram lentos e calculados, como se ele estivesse tentando não perturbar o silêncio que pairava no ar. Ele se aproximou da janela, seus olhos fitando o horizonte distante. A vista era impressionante, com as luzes da cidade piscando no horizonte como pequenos pontos brilhantes.

— Deixe que saia — disse Saito, sem se virar para encarar o menino. Sua voz era calma e suave, quase como um sussurro. Ele queria que o menino sentisse que tinha espaço para expressar sua dor e que não havia julgamento vindo dele. A frase parecia ter desencadeado uma torrente de emoções no menino. Ele deixou cair a xícara que segurava e começou a chorar e se contorcer em agonia, seus soluços preenchendo o quarto. Saito permaneceu de costas para o menino, dando-lhe o espaço que precisava para deixar suas emoções fluírem livremente. Ele sentia a dor do menino como se fosse sua própria, e sua própria impotência diante do sofrimento que o menino enfrentava só aumentava a angústia que ele sentia.

O sol parecia ter atingido o ápice, banhando a sala com sua luz intensa e quente. O meio-dia havia chegado, trazendo consigo o calor característico que envolvia tudo em sua volta. Saito, o homem de postura firme e impassível, virou-se lentamente quando o choro do menino cessou. Ele caminhou até a mesa, retirando de uma das gavetas um lenço limpo, que estendeu em sua direção com cortesia, mas sem muitas palavras — Por favor, tome — disse Saito, enquanto oferecia o lenço ao menino — Nós precisamos almoçar. Depois que estivermos satisfeitos, vou pedir que um de meus subordinados monte uma equipe bem preparada para te acompanhar de volta para casa. Não se preocupe. Em dois dias, você estará degustando o chá horrível do País do Vento.

O menino olhou para Saito com gratidão, limpando suas lágrimas com o lenço macio que lhe fora oferecido. Enquanto o jovem se recuperava de sua dor, Saito manteve-se em pé, observando o horizonte pela janela. O silêncio pairou sobre a sala por alguns minutos, quebrado apenas pelo som do vento soprando do lado de fora. Finalmente, Saito deu fim ao silêncio — A vida é cheia de desafios, garoto. Nós todos enfrentamos dificuldades, alguns mais do que outros. Mas você precisa encontrar forças para superar suas tristezas e seguir em frente. Aprenda com suas experiências e cresça com elas, não importa quão dolorosas sejam — O menino ouviu com atenção enquanto Saito falava, absorvendo suas palavras com reverência — Sim, senhor — disse ele, sua voz ainda trêmula, mas mais firme do que antes. Saito acenou com a cabeça em aprovação antes de se afastar para iniciar o almoço. O menino o seguiu de perto, ainda processando as palavras do homem e tentando encontrar forças para seguir em frente.

O aroma do ramen recém-preparado impregnava o refeitório, despertando o apetite dos presentes. Saito prontamente se serviu e estendeu a tigela para o jovem que o acompanharia. O caldo quente e saboroso era a escolha ideal para um dia quente como aquele. Durante a refeição, os subordinados mais próximos do Uchiha se juntaram à mesa e iniciaram uma conversa informal. Era notável a confiança que Saito depositava nesses homens, como se fossem uma extensão de si próprio. Após a refeição, Saito instruiu seus subordinados a prepararem uma equipe para levar o menino de volta para casa. Sua expressão era séria e determinada, e a confiança que o menino depositava nele era evidente. Ao se despedir, Saito abraçou o menino e desejou-lhe boa sorte.

Em sua fala, transmitia a certeza de que faria tudo o que estivesse ao seu alcance para encontrar o responsável pela situação. Em troca, o menino finalmente revelou seu nome: Kuro. Enquanto se afastava do refeitório, Saito sentia a sensação de que havia cumprido uma missão importante, mas ainda havia muito a ser feito. Ele sabia que a busca pelo responsável não seria fácil, mas não iria desistir. Saito também não conseguia se livrar da sensação de tristeza que o envolvia, mesmo após ter ajudado o jovem Kuro. Ele sabia que a vida poderia ser injusta e cruel, mas também tinha a convicção de que poderia fazer a diferença, mesmo que fosse apenas para uma pessoa.