A vingança na qual busquei em meus 20 anos de idade foi finalmente concretizada. Porém, minha busca não havia sido finalizada. Pelo contrário, estava recomeçando. O autor do crime contra meu pai foi morto por minhas mãos em um genjutsu tenebroso enquanto eu tinha sido corrompida pelo demônio. Não queira saber como ficou o cérebro daquele imprestável após tudo.

O problema foi descobrir que o item roubado havia sido enviado para outro lugar bem longe dali. Vila Genjutsu? Não era muito longe do País da Água. Seria arriscado, já que notícias vindas do leste chegariam ali rapidamente. Mas tanto faz, era um risco a se correr.



Um risco é? Tolice minha achar que seria tão simples quanto imaginei. Eu era conhecida e procurada. O detentor da relíquia dos Kurama estava ciente sobre mim. Provavelmente quem roubou nosso clã informou a possível busca por parte dos principais shinobis da família. Sendo uma das principais, naturalmente estava no topo da lista junto de outros nomes reconhecidos entre os Kurama.

Os meliantes foram sagazes e contataram as autoridades daquelas terras que enviaram o esquadrão ANBU deles. Consegui fugir por algum tempo, mas chegou um momento entre tantos combates que simplesmente foi impossível suportar tantos inimigos de uma vez, e dessa forma fui capturada e presa. A notícia chegou até Kirigakure que exigiram a extradição. Dias de negociações permitiram minha transferência.

Um navio militar veio me buscar. Algumas semanas depois chegamos finalmente na Vila da Névoa. Fazia um bom tempo que eu não pisava em meu país, imagina em minha terra natal.

— Noxtálgico exxe flio.

As palavras ditas erroneamente chamavam atenção dos oinins que me acompanhava. Cochichavam entre eles, e um riso pude ouvir. Fechei a cara instantaneamente já imaginando que estavam me criticando. Não consegui reagir devido ao pavor que sentia em relação aquilo. Fechei meus olhos e foquei meu pensamento em outra coisa.

"Esqueça isso. Ninguém nunca te entendeu, não será agora. Dane-se todos. Ser autêntica é mais importante. Foco!"

Mantive esses pensamentos fluindo para que eu pudesse continuar a viagem sem mais transtorno. Não era fácil, mas notei que as fofocas eram curtas e logo esqueciam do assunto. Aquilo foi me dando uma visão mais clara de que eu parecia uma tola por dar tanto significado ao que diziam de mim. Parecia algo do momento e sem fundamento algum. Será que no fim eu realmente fui estúpida? Parecia que sim.

Mais alguns dias e finalmente estávamos diante o portão da vila. Olhei bem para o lado admirando.

"Lar..."

Não me tornei nukenin por odiar a vila, só por discordar das decisões referentes ao acontecido. Um misto de sentimentos passava por minha cabeça quando cruzamos o portão. O sol ainda não tinha nascido, então fui poupada de olhares constrangedores da vila, somente dos guardas que viam o esquadrão oinin retornar com uma criminosa devidamente algemada. Olhei pra eles que observavam curiosos e dava um sorriso maléfico e traquina.

— Não "orem" muito, ou "ox zolhox" vão "calir".

Ambos se entre olharam sem entender muito o que eu tinha falado. Sentiam um pouco de medo e admiração. Afinal, eu era bem carismática e certamente imaginaram que eu estava fazendo uma piada ou ameaça. Sorriram em resposta ainda sem entenderem nada.

— Boa sorte na prisão. — Disse um deles.

— Te expelo quandu xai.

Ele arregalou os olhos. Agora sentia como uma ameaça. Porém, estava apenas me divertindo.

— Calada. Vamos fazer sua transferência o mais silencioso possível. — Advertiu o líder do esquadrão.

Olhei com cara de taxo, e resmunguei.

— Xem glaxa.

Seguimos adiante até o quartel general. Me largaram em uma sela qualquer, sozinha. Olhei aos redores e ainda com os braços presos, nada podia fazer.

— Mah que melda, quelo salir daqui logo. Xelá que vão demolar muito? Xe vou em cana, quelo minha cama pla dolmi.

Após 1 hora ou mais, alguns homens retornaram aonde eu estava. Um deles era baixo e usava óculos fundo de garrafa. Havia um corte em seu lábio e uma expressão vazia. O mesmo comentava algumas palavras.

— Hum... Então é a herdeira dos Kurama, hã? Causou grandes problemas pra vila. Custos exorbitantes para te encontrar. Mas finalmente aqui está. — Ele ajeitava o óculos e continuava. — Bom, passará a manhã aqui nessa sela. No almoço alguém virá trazer. Durante a tarde iremos te interrogar e julgar teus atos conforme as leias de Kirigakure. Compreendeu?

Acenei que sim com a cabeça. Ele se virava e retirava-se do recinto. Um outro sujeito deixava uma bandeja com pão e água para comer e saia logo em seguida. Não havia outra opção e minha barriga reclamava. Comi sem hesitar, porém ainda fiquei com fome até o horário do almoço. Sentia que queriam me torturar um pouco. Talvez seja plausível. Quantos ninjas ficaram adiando suas refeições por estarem me caçando? Então tentei não reclamar. Entretanto, era difícil não resmungar vez ou outra da barriga vazia.

O almoço chegou e finalmente pude comer. Durante a tarde quando já estava bem alimentada, vieram me buscar e levar até um local de interrogatório.

— Muito bem, conte-nos porque fez o que fez.

Olhei meio assim pros presentes, e apenas aceitei meu destino.

— Okyeee! A xinco anox matalam meu pai. A vila não fex nada em relaxão a ixxo e eu fiquei extremamente xangada. Minha raiva xó xeria xanada quando eu me vingaxe dox malditux.

Enquanto eu ia falando, sussurros entre alguns voavam de um canto ao outro.

— Que porra é essa? Ela fala assim naturalmente?

— Parece que sim. Será que tem demência?

— Ouvi dizer que uma garota dos Kuramas nunca conseguiu falar direito por causa da linhagem sanguínea.

— Ohh, então ela? É isso? Ela possuí tal poder?

Como eu não ouvia nada, só continuei.

— Caxei o autor do clime e o puni. Ele e todo xeu clã. Polém, o que loubalam de nóx ainda não conxegui recupela. Extava perto, até que elex própriux chamalam las autolidadix.

— Você pretendia matar esses criminosos se recuperasse o objeto roubado?

— Hum... Num xei. Plovavelmente, cabexas rolaliam xim. Elex num iliam entlegar de mãox abanando.

— Compreendo. Não ligou em perder a própria vida fazendo isso sozinha?

— Nem um pouco.

Todos sentiram a sinceridade e firmeza em minhas palavras. Houveram mais perguntas que fui respondendo ao longo do julgamento.

— Certo, com base em tudo que foi dito e ouvido, iremos dar um veredito em 30 minutos. Aguarde. — Os presentes se retiraram e retornaram no tempo proposto. — Após discutirmos muito, entramos em um consenso. Eis nosso veredito.

Ele pegou alguns papéis com anotações e começou a ler.

— Pelos ato de fugir da vila sem a devida permissão, julgamos CULPADA. Pelo ato de traição a nação, a julgamos inocente. Pelo ato de matar civis inocentes, julgamos inocente. Pelo ato de promover perturbação pública internacional, CULPADA. Dessa forma, condenamos a 5 anos de prisão em regime fechado pelo abandono da aldeia e mais 7 anos pela promoção catastrófica que praticou nos países vizinhos. Entretanto... Ponderamos relatos de testemunhas que apesar dos problemas causados, salvou inúmeras vidas enquanto esteve viajando em seu propósito. Eeee!! Conseguiu por um fim a um clã de criminosos que vinham causando problemas para diversas vilas e países. Portanto, subtrairemos 7 anos em reconhecimentos a seus feitos. Contudo, ainda sim permanecerá um tempo em nosso presídio de segurança máxima.

Abaixei os olhos depois de ouvir tudo atentamente. Olhei para o chão um pouco angustiada. Não disse nada e apenas aceitei. Os guardas me levaram e fui direcionada até o presidio na qual continha milhares de criminosos. Ninjas de várias espécies. Alguns eu mesma fui a causa do encarceramento.

Me deram uma roupa da prisão, fizeram-me ser retratada de frente e de perfil para registro, além de me darem um número, os primeiros 4 dígitos era referente a quantia de criminosos presos por aquele ato, e os últimos 3 dígitos era o código dos tipos de crimes que eu tinha cometido.

— Detenta 1157.240 adentrando pelo portão 1. — O portão se abria e eu passava. Logo se fechou. — Portão 2 abrindo!

Bom, agora lá estava eu. Em um lugar totalmente inóspito na qual eu não poderia usar meus poderes por terem selado a utilização de chakra. Esperava não acabar criando problemas com algum brutamontes.

Minha "iniciação" no começo não poderia passar despercebido. Uma beldade como eu, carne nova, obviamente chamaria atenção dos mais tarados, ou pior, daqueles que não esqueceram meu rosto e desejavam se vingar de mim por ter colocado eles, aqui. Todavia, no começo tentei não chamar atenção, mantendo-me longe de problemas e usando da espertize e carisma para despistar meus perseguidores e tentar ficar "amiga" de alguns.

No entanto, eu tinha que ter sorte toda hora, já eles somente uma vez. O famigerado evitado dia chegou, armaram uma arapuca após a refeição matinal e me agarram, levando-me para um lugar isolado.

— Ahhh, eu nunca iria imaginar que um dia te veria aqui, sua maldita. Parece que os deuses ouviram minhas preses, hahahah!

— Bluububulu. — Sim, eu estava amordaçada.

— Removam isso da boca dela.

Um magrelo tirou aquela coisa de mim, e pude estalar a mandibula pelo desconforto.

— Não era maji fáxil pedir pufavo?

O sujeito me olhou com ódio e me esbofetiou com a mão.

— Calada, vadia. Você fodeu com nós a 7 anos atrás, agora nós que iremos foder com você.

A malicia era nítida. Alguns até puxavam seus zíper para baixo. Meu sorriso aos poucos foi sumindo da face e fui ficando preocupada. Mas antes que qualquer violação acontecesse, eles me espancaram. Ah, como me bateram até eu ficar mole no chão de tanta surra que tomei. Socos e ponta pés. Queriam me humilhar, me quebrar e depois tirar minha dignidade.

Contudo, aparentemente meus gritos alcançaram os ouvidos de alguém. Era uma mulher. Alta e marrenta. Semblante sério e de reprovação. Surgiu como um foguete estourando a cabeça de um deles contra a parede, e depois desmaiando com um soco um outro que havia conseguido remover minhas calças.

Me recolhi para um canto assustada enquanto via um massacre ocorrendo. Só que um deles conseguiu se safar daquele combate e veio até mim. Continuou me agredindo até meu psicológico ficar abalado, e então.

Um urro. Mas não era eu, e sim aquele sujeito que agora era domado pelo demônio que me possuía. Não faço ideia o que o ser das trevas fez aquele sujeito ver, mas certamente não foi algo bom, pois ele não foi mais o mesmo, depois. Indo parar na ala psiquiátrica.

Não me importava, estava fora de risco agora. Por algum motivo aquela mulher bruta me salvou e meio que viramos amigas. Compartilhamos nosso tempo juntas no período que eu ficaria presa, até mesmo ela me ensinou uma coisa ou outra para evitar problemas e me defender melhor usando Kanchi. A pena dela era deveras longa, então eu sairia antes. Porém, esperava que um dia pudesse ter ela ao meu lado fora dali.


Anos já tinham se passado. Meu nome foi convocado e tive uma audiência incomum.

— Kurama Yuzu, detenta 1157.240. Você foi condenada a pagar 5 anos de reclusão fechada. No entanto, soubemos de seu bom comportamento nesses dois primeiros anos. Entendemos o ocorrido no começo da sua pena e, não culpamos você disso. Na verdade, em decorrência disso e de outros fatores, queremos fazer uma proposta a você. Está disposta a ouvir?

— Já que extou aqui...

— Muito bem. — Disse o mesmo sujeito dos óculos de outrora. — A aldeia da Névoa irá lhe beneficiar com um regime semiaberto, contando que volte a atuar como uma shinobi da vila, prestando seus trabalhos novamente. Suas missões fora da aldeia será sempre acompanhada de um responsável indicado por nós para complementar o time. Quando estiver em Kirigakure no Sato, deverá retornar a prisão para passar a noite, podendo sair quando o dia raiar para ir trabalhar.

— Entendo...

— Claro, isso será somente o começo. Conforme prove sua lealdade, passará a ter liberdade condicional em regime aberto. Em outras palavras, se fizer besteira, volta pra cadeia. Aceita essa oferta?

Não tinha muito o que pensar, era oportunidade de voltar a ser alguém e ficar longe de problemas do presidio.

— Certamente eu axeito. Quando eu comexo?

— Amanhã já estará liberada.

— Perfeito.

Daqui em diante é somente o óbvio e histórias que vivenciarei.