Hum, por onde começar? Foi a muito tempo. Isso é clássico demais? Não sou tão velha, só 23 no exato momento, mas esse conto foi a, deixa eu ver... 10, 12, 15 ANOS atrás. Eu tinha, hã... vejamos, 23 tira 15 que é igual a OITO! Isso, 8 aninhos, hihi, sou experta, isso não é ilusão.

Bom, era meu primeiro ano na academia ninja. Estava aprendendo o básico ainda com meus professores e tudo parecia muito legal. Felizmente, eu ainda não tive nenhum problema devido ao fardo que carrego dentro de mim.

O último dia de aula da primeira semana finalmente chegou. Todos alunos iam adentrando normalmente na escola e se dirigindo pras suas respectivas salas. Porém, minha turma ia ter um passeio no campo de treinamento da academia.

Nosso professor habitual nos orientava sobre o que ia acontecer.

— Muito bem, crianças. Formem uma única fila indiana. Iremos ao campo de treino para vocês verem como é. Um professor estará lá para dar uma pequena aula para vocês. Então se aprontem.

— Sim sensei. — Os alunos respondiam em coro com suas vozes agudas, inclusive a minha que se destacava pelos chiados da seguinte forma. — Xim Xenxei!

É, eu nunca consegui falar direito. Caso saiba um pouco da minha história, descobrirá que o demônio dentro do meu corpo conseguiu confundir minha mente e causar efeitos incorrigíveis em mim. Por causa disso, passei toda vida sem falar correto. Enfim...

O professor nos guiou até a entrada de onde teríamos a aula especial de apresentação para as futuras didáticas combativas.

Enquanto seguíamos, na metade do caminho o nosso responsável parava de caminhar, tateava os bolsos e parecia preocupado.

— Oh céus, não é possível. — Ele balançava a cabeça negativamente. Voltava sua visão para nós e dizia algumas palavras. — Crianças, preciso buscar algo urgentemente. Sigam por este caminho. O mestre que irá dar aula para vocês já deve estar no campo de treinamento.

Fizemos como pediu e seguimos até o local. Já ele foi fazer sabe lá o que.

Dois minutos depois chegamos. De longe pude ver algo azul no chão. Ao se aproximarmos, vimos que se tratava de um homem com kimono azul todo mau trapilha. Rodeamos ele e começamos a questionar entre si se era ele.

— Por que ele está deitado aí?

— Num xei. Maxi ele fedi.

— E como, bleeeh!

O cheiro de álcool era muito forte. Além do cecê que dava nausea.

— Será que ele é nosso professor?

— Axo que xim, o xenxei farou que o mextle extalia expelando.

Um menino mais impaciente, chutava a bunda do homem que não acordava. Apenas coçou a bunda e resmungou.

Eu fique de frente a ele, me abaixando e puxando suas orelhas. Sem resultado. Tampei seu nariz e segundos depois o fedorento finalmente acordava assustado e berrando, assustando a todos.

— AAAAAAH! QUE POHA É ESSA. — Olhou ao redor. — HEIN? MALDITAS CRIANÇAS. SAIAM DAQUI, EU QUERO DORMIR!

— Não pode durmi, é pla voxe da uma aplexentaxão pla nóix.

— Que mané aplexe... o quê? Fala direito guria. Ta com sapo na boca?

— Xenxei malvadu! Buaa!

Comecei a chorar ali mesmo abrindo o berreiro.

— Hey hey! Calma. Vocês só querem a apre...sentação, certo? Muito bem, me dê uma espada.

Um garoto trazia um pedaço de pau torto.

— Só tem isso.

O homem olhava com cara de tédio, mas se conformava. Pegou a vara e começou a exibir movimentos velozes e impressionantes. Todos ficaram de queixo caído.

Antes dele terminar, o outro professor reaparecia e gritava de onde estava.

— QUEM É VOCÊ?? SAIA JÁ DAI SEU MENDIGO IMUNDO.

— Iiih, Sujou!

O homem fedido virava as costas e metia o pé. Não entendi direito o que estava acontecendo, mas aparentemente ele não era o verdadeiro mestre. Fiquei encantada com a cara de pau do mendigo e por fim, perguntei.

— MOXO! Qual xeu nome?

O mendigo azul olhava para trás, e com um sorriso no rosto, disse.

— Bercontz! HAHAHAH. Inc...