Não me recordo direito a quanto tempo exatamente eu partir da vila antes de ser capturada. No entanto, lembro-me com detalhes tudo que aconteceu naquela noite chuvosa.

Estava em minha casa, o luto pela minha família ainda era recente. Não aceitava o fato de tudo ter acontecido como ocorreu. Os dias se passavam e as investigações falhavam uma após a outra até o momento em que iam desistindo de ir atrás dos criminosos por trás do que fizeram com meu clã.

Por mais que eu insistia e perturbava as autoridades máximas, inclusive a própria Mizukage da época, nada acontecia. A angustia somente crescia em meu peito e a dor me flagelava como o corvo que bica a carne putrefato do cadáver.

Durante semanas ponderei uma decisão difícil que ia contra as decisões da minha vila. Contudo, não conseguia deixar a raiva e desejo de vingança de lado. Precisava encontrar os algozes de meu pai e recuperar o item roubado. Se Kirigakure não se importava, algo tinha que ser feito por mim mesma.

Então nessa noite marcada pela chuva mórbida que banhava a aldeia, me levantei da cama no meio da madrugada. Seria um bom momento para desaparecer na penumbra. As névoas que viajavam sem um destino aparente, auxiliariam na ocultação da minha figura. Não precisaria me esforçar muito para sair da vila.

Preparei minha mochila, peguei tudo que precisava de mantimentos e despedi-me de minha mãe com um beijo em sua testa.

— Yuzu... Tenha cuidado.

Espantei-me quando ouvia tais palavras. Não esperava algo assim. Ao que parece, as mães realmente tem poderes sobrenaturais em relação a suas crias. De algum modo, ela sentia mesmo dormindo que eu partiria em uma jornada.

Segurei a tristeza e virei as costas, sumindo da residência e seguindo para o portão de saída usando uma capa de chuva com capuz para me proteger da água incansável.

Estava me aproximando, os guardas notaram minha presença. Pelo horário, acharam estranho, mas não era tão incomum shinobis partirem em missões na calada da noite. Só havia um detalhe.

— Hã? Está indo pra uma missão a essa hora, nesse tempo? Tcs, deve ser algo muito importante pra exigir isso.

Mantive-me calada e de cabeça baixa para evitar ser vista.

— Muito bem, preciso da sua permissão. Sabe como é, regulamentos.

Olhei para o lado, hesitante aos olhos do guardião. Ele suspeitou de algo e fechou sua expressão. A voz que outrora era amigável, se tornava mais firme.

— Você não está em missão. O que pretende fazer? Abandonar a vila.

— Xomente xaiam do meu caminho. Não quelo maxuca ninguém.

— Hã? É uma criança? Volte para sua casa, garotinha.

— Tcxx... — Executava selos rapidamente. — Shouja no Jutsu!

Os ninjas da guarda recuavam sem saber o que viria. Mas o perigo estava sobre eles, caindo sem pressa ao redor dos quatro homens.


O sono ia tomando conta dos corpos deles sem que entendessem o que estava ocorrendo. Um a um foram tombando no chão molhado. Todavia, havia entre eles um especialista em genjutsu. Conseguiu notar a tempo que se tratava de uma ilusão e dissipar o chakra ilusório sob ele.

— Suas técnicas não funcionam contra um mestre em genjutsu.

— Mextle? — Olhei para o mesmo. Um olhar demoníaco. — O que um mextle pode fazer contla alguém que xupelou tal limite e exta além dixxo?

O sujeito via meu resto e me reconhecia. Um trovão ecoava e um relâmpago descia longe dali com um som abafado.

— Vo-você é a...

O medo se instaurou em sua alma por saber quem eu era e o que eu podia fazer. Afinal, já era uma jounin de renome.

— DURMA! — Dizia com autoridade utilizando o Kowaku no Kangen.

A expressão do homem mudava, ficando neutra e completamente domada.

— Sim, senhorita.

Obedientemente se deitou e apagou. Permaneci diante os shinobis caídos, refletindo o que fiz. Puxei minha bandana ninja do bolso da mochila e olhei por um breve instante. Muitas coisas se passaram na minha cabeça. Um sentimento nostálgico e de tristeza de ter que deixar minha vila. Mas agora eu me tornava uma nukenin, portanto, deixava a bandana cair no chão ao meu lado e segui em frente sem olhar para trás, atravessando o portão e sumindo na escuridão.