Mais outro trabalho ia se resolvendo bem, e, logo outro começando. Ainda que seja forma de falar quanto a brevidade do tempo vinha fazendo bastante dinheiro rápido, como não tinha gastos e nem responsabilidades tudo ia se acumulando guardado em um lugar relativamente seguro. Cento e setenta e cinco mil eu contava antes de sair de casa curiosa com a quantidade, visto que até então eu só ia jogando lá sem me ater muito a isto. Não era tanto para um ninja, mas, para cidadãos comuns podia ser bastante coisa. Guardo em meu pequeno cofrinho, que mais parecia uma bolsa bem costurada feita por minha mãe, bem pequena e na forma de uma boneca.

No caminho vou lendo o conteúdo da missão, partindo de casa e novamente recebendo após alguns trabalhos ausentes a influência uma forcinha de minha genitora. Bercon voltava ao seu rotineiro humor nublado, sem muita conversa ou apresentações, ignorando um pouco a nossa presença e indo conversando com o tal compositor. Eu já estava bocejando um pouco e quando ele disse que ia contar "tudo", olhei incrédula enquanto meu sono se agravava ainda mais, mas, me esforçava para dar alguma atenção ao seu material "tão importante".

"- Eu compnho geralmente ao ar livre, nas praças, na orla do mar, nas docas, é bom pra me inspirar. Fui mais uma vez até lá pra revisar alguns textos e retoques finais na melodia, mas, não estava na pasta."

Eu olhava, pensava, ponderava. Não fazia muito sentido pra mim, afinal, uma música que a cantora não sabe sete horas antes de uma apresentação? - E ela não sabe outra música? Ele olhava e de alguma forma ia interpelando por aquela ser diferente, de alguma forma. - Não, não, esta é diferente, é especial, eu a fiz com muito carinho. Eu inclino a cabeça. - E ela não viu essa música antes? Ele balançava a cabeça em resposta. - Não é senso comum que a pessoa saiba a canção bem antes do show? Digo, se a pessoa improvisar ainda que com partitura isso aumenta a chance de erro e uma situação desconfortável para a artista, não? Ele inflava o peito e a defendia como se o problema que eu busquei constatar fosse ela e não ele. - Não, não, ela é muito talentosa.

Incrédula olho o homem, então olho os meus companheiros, coço a sobrancelha desconfortável sobre dar a minha opinião mas é tão pouco que isto logo passa. - Onde está a cantora? Nossa missão é recuperar a letra sem nos importar com os presentes certo? Digo sem me importar muito com a opinião do contratante. - Vamos ver o lado da história dela e ver se isso ajuda. Para falar a verdade se eu estivesse no lugar dela ia querer dar um sumiço nisso e focar em outras músicas de meu domínio. Ensaiar no dia do show, é mole? É que nem te darem um desenho completamente aleatório sem visão panorâmica de uma vestimenta e pedirem pra tu costurar igual. Ia já andando na direção do local onde esta estaria preparando-se para apresentação.

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O homem continuava insistindo e não somente isso como Bercon e este quase saem no tapa. Olho de lado, reviro os olhos enquanto o homem vai atrás de procurar a música nos locais citados. Não acha, como esperado, para falar a verdade apesar de interromper o meu plano para deixá-lo fazer como queria ainda continuava crente de que minha teoria estava certa. - Como queira. Dava de ombros levando a canção falsa até a cantora que já terminava de maquiar-se. Ela era bem aparentada, parecia nervosa, havia até um público considerável para ouví-la naquela noite que ia se começando. Estamos participando de bastantes festas, não?

Quando ela pega o papel consigo notar seu semblante assustado. - Que isso!? Eu faço um sorriso falso que não valia nem o argumento. - A canção para hoje. Ela balança a cabeça e fala desacreditada. - Não é não. Eu lhe encaro inexpressiva por um momento até que ela se dá conta. - Digo, er... Não se parece com o que ele escreveria. Arfo pensando quão trabalhoso aquilo estava sendo, enfiar algumas agulhas nas pessoas parecia ser menos... Problemático. - Eu sei, deve ser uma droga ter de cantar de última hora... E não completava meu pensamento, deixando-a enquanto ela fitava os olhos naquele papel lendo o que estava escrito.

Ia me juntando ao outro homem que parecia estar ansioso para assistir a apresentação por alguma razão. O nosso cliente também estava conosco, tenso e irritado, deixando o clima péssimo. - Entregou a música? Eu sequer olhava em sua direção. - Algo assim. Ia decorrendo-se com as músicas comuns da dama, até que em certo ponto ela começava a cantar a música que Bercon trouxe. Então ela foi por esse caminho. Pensei durante aqueles minutos, mas, ao fim desta ela anunciou que havia ainda uma outra. Enquanto eu já sentia o peso da mão do contratante em meu ombro prestes a reclamar, sua música também era apresentada, um "lançamento" duplo.

Por quê ela resolveu cantar as duas músicas quando uma só já daria problema e dificuldade? Mesmo quando ela deu uma vacilada em alguns trechos de ambas ela continuou sorrindo e eu simplesmente não conseguia entender. - As pessoas são estranhas... Comentava deixando o local, dando a minha parte do trabalho como finalizada.

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