Perdido após tentar buscar por seu quarto, Kaginimaru se encontrava em uma zona desprezível na embarcação, onde nem mesmo ele conseguia se localizar — algo não tão incrível assim. Mas, acima de tudo, havia conquistado o necessário; conforto suficiente para uma boa madrugada de sono. Logo pela manhã acabou acordando, despertou em conjunto com a algazarra dos funcionários da embarcação se preparando para mais um dia de serviço.

Iniciava então o ato de espreguiçar-se, mas antes que pudesse chegar até metade do caminho de esticar os braços para cima, notou sentir dores por diversas partes do corpo e acabou sendo obrigado a recuar. Era como se tivesse levado uma verdadeira surra, mas estava confuso, pois fazia um bom tempo que não saía no soco com alguém, na verdade, há muito tempo não sentia dores pós lutas, pois seus músculos estavam mais do que acostumados com golpes e ferimentos no geral. Mesmo que no final não conseguisse concluir, a verdadeira razão das dores era por conta da péssima postura que passou sua noite, afinal não estava acostumado a dormir em lugares que não fossem sua própria cama.

Levantando-se então lentamente e com um pouco de dificuldades, o garoto caminhava de maneira inconsciente, como se já conhecesse o local por completo. Desejava ir até a cozinha para conquistar o café da manhã, mas tudo o que conseguiu foi apenas chegar até o convés, onde de inicio ficava completamente cego pelos raios solares, mas aos poucos, piscando incessantemente, conseguia adaptar-se ao novo padrão de luminosidade. Ficava maravilhado com a beleza do céu, a liberdade das aves e o fato de ver apenas o mar para qualquer horizonte que olhasse.

Para sua surpresa, visualizava o vestido mais inconfundível de sua vida presente neste recinto; a descoberta era muito melhor do que qualquer café da manhã que verdadeiramente buscava. — Oi, Panda... — Proferia com um extenso sorriso em seu rosto por vê-la, aproximando-se até encurtar a distância à nível de uma conversa pessoal. Não conseguia evitar de associar a noite anterior com ela em sua mente, mantendo todos os detalhes. — Você está bem? — A questionou enquanto isso.

Considerações:

Animava-se em notar que realmente se tratava da Pandora e não somente uma miragem devido a fome elevada que estava sentindo. O garoto de longe não era um possuidor de boa memória, mas não se recordava de nenhuma outra vez em que ela havia perguntado se ele estava bem. Não se surpreendia com a preocupação, afinal, sabia muito bem sobre o coração quente da garota, mas nunca esperou que a mesma vocalizasse algo assim — estando sóbria. — Eu tô com fome... e como assim você não se lembra? — Buscava desconversar e disfarçar sua surpresa com a indagação em conjunto do fato de que não fazia ideia de como começar a explicar o que havia acontecido na noite anterior. — Então... Você bebeu até desmaiar, aí te coloquei na cama e saí de lá pra não acabar te acordando. — Continuava resumidamente e levemente corado.

O silêncio pairava momentaneamente, Kaginimaru conseguia pensar apenas sobre as lembranças da noite anterior até o instante em que a Heinstein começava a discorrer sobre a estadia fora de Iwagakure. — Tipo umas férias? Mas você poderia ficar um tempo sem realizar missões na vila, só descansando até se sentir melhor para voltar à ativa, o que acha? — Dizia na inocência, sem sequer fazer ideia dos reais motivos que a garota tinha para querer se afastar do vilarejo. A verdade é que ele sabia sobre o preconceito que ela sofria, mas nunca havia vivenciado junto da mesma, então não possuía noção alguma sobre o quão difícil era conviver com isto. Além do mais, este era um preconceito que o próprio jovem não encontrava sentido algum, simplesmente não se incomodava à este ponto, pelo contrário, em certos momentos de sua vida, desejara ter nascido com habilidades familiares como a morena, pois em muitas situações com suas "habilidades" sentiu-se estagnado. Acreditava que tudo poderia ser diferente, e se alguém deveria sofrer discriminação por conta de suas habilidades, este alguém seria qualquer desprovido de Kekkei Genkais.

Alguns segundos após, talvez enquanto a garota estivesse realizando sua resposta, a barriga do Hanma roncaria bruscamente, deixando mais do que claro sobre o quão intenso estava sua fome matinal.

Considerações:

Entendi... — Dizia inocentemente. Por mais que aparentasse ser uma resposta irônica devido ao simples fato da Pandora ter dito que suas intenções eram ininteligíveis, não era. Sua compreensão não ia muito além da simplicidade de ver a situação apenas com seu ponto de vista; ele buscava entender, acima de tudo, o bem-estar da sua companheira. Talvez fosse este o bloqueio que o impedia de entender suas ações, ou simplesmente como ela se sentia. A verdadeira ironia.

Vê-la se espreguiçar em contraste com o lindo horizonte, a brisa do mar em seu conjunto harmônico com o dançar das ondas e o balanço sorrateiro do navio tornavam aquela visão inesquecível. Era como ter uma pintura renascentista bem na sua frente, mas a presença sendo muito superior. Seus instintos o faziam querer se aproximar e segurá-la pela cintura, ali mesmo no parapeito do navio — exatamente como num filme que havia visto no passado, mas temia não ter liberdade para tal ato e simplesmente se controlou. Muito embora até mesmo estivesse esquecido de sua fome, Pandora o relembrava e sem muitas cerimônias começava a se retirar. O garoto a acompanhava, ouvindo tudo o que a mesma tinha a dizer. — Me pergunto o que servem por aqui... — Comentava na intenção de descontrair a situação.

Os tempos de viagem eram tão calmos que, à esta altura, Kaginimaru sequer recordava-se de que estava indo para uma missão extremamente importante. Era fato que anteriormente também não sabia muito bem sobre os objetivos, mas agora a situação estava agravada. Independentemente, estava acostumado com o improviso, e qualquer coisa que viesse, simplesmente lidaria — embora não garantisse que teria sucesso. Era engraçado, ser convocado para uma missão sem sequer saber o que exatamente teria de fazer, viera a ser tão extraordinário que o próprio se surpreendia.

Perdido em seus próprios pensamentos, perdia-se de vista da Pandora. Não sabia nem mesmo como chegar até o quarto dela, então, tudo o que restou foi prosseguir para o refeitório. Ainda assim, presente em outro local, não foi possível avistá-la. Kaginimaru desapontado fez a sua refeição brevemente e partiu de volta para o seu quarto, onde provavelmente passaria boa parte até o final da viagem.

Considerações: