Seus ombros pesaram e o ar ambiente pareceu se tornar literalmente mais pesado, denso. Aquelas sensações, no entanto, não eram exatamente físicas. Era algo muito semelhante a sensação de ver um animal feroz e muito maior que você correr na sua direção: um estado de choque, onde a mente trabalha, mas o corpo não responde. Toda aquele sentimento traçava um caminho de volta até uma das mesas mais próximas, mais especificadamente, vinham de Arashi Warui. A simples suposição de uma intenção ofensiva por parte dele era o suficiente para afetar ao menos metade de todos os ali presentes. Se sem um movimento sequer ele era capaz de causar aquilo, Chikage não nutria nenhuma vontade de vê-lo em combate — ou ao menos, não do lado inimigo.

O calafrio na espinha apenas se intensificou ao ver Lee, o simpático — porém esquisito, ninja da Nuvem desferir uma sequência de golpes mortíferas contra a Loba Prateada, que só não foi eliminada ali mesmo por conta de sua peculiar armadura de eletricidade. Com o decorrer da situação, os olhos da ruiva mantinham-se focados na ninja acorrentada e sem forças enquanto sua cabeça matutava o que diabos estava fazendo ali. No meio daqueles gigantes, ela não passava de uma mera formiga. Seus punhos se cerraram em uma mistura de frustração e receio, quebrando o medo vivo emitido pelo Mizukage.

Chikage trocou olhares com a ninja médica da Nuvem que se aproximou para tratar dos ferimentos de Ookami, e sem saber ao certo como se portar diante de uma colega de batalha, apenas assentiu em aprovação. — Obrigada. — Murmurou, reconhecendo as intenções nobres e também inteligentes de Haru. Para quem realmente desejava a paz, dar o primeiro passo como sinal de confiança era corajoso e correto. O diálogo ríspido de Akusei causou um certo semblante de dúvida à ruiva, que não necessariamente concordava com a atitude, mas também tentava entender o ponto de vista de um líder em uma situação como aquelas.

— Apontar o dedo um pro outro não vai nos levar pra lugar nenhum. — Seus olhos se fecharam por um breve momento, abrindo espaço para um longo e pesado suspiro: como se estivesse exalando a tensão de seu corpo. — Só temos dois dias no ano que não podemos fazer nada a respeito: o ontem e o amanhã. — Seus olhos transcorreram aquela sala, passando pelo Hokage até o Senhor Feudal. — Então é melhor aproveitar o hoje pra resolver as diferenças, e não matutar num passado que não tem futuro. — Ela não sabia ao certo se alguém a ouviria: e nem ao menos tinha essa intenção, pois as palavras saíram de sua boca automaticamente — e era uma raridade que elas não fossem um aglomerado de besteiras e piadas ruins.

Por fim a ninja observou uma última vez todos os seus companheiros de aldeia, incluindo a jovem da franja e pinta no olho, que desdenhava de forma repulsiva as ações altruístas da ninja da Névoa. Mais uma pra foder com toda a proposta desse negócio. Tamo mandando ver, hein, Konoha. — Não dê ouvidos a ela. — Sussurraria à Haru. Seus braços se cruzaram e suas costas escoraram-se na pilastra mais próxima, aguardando o prosseguimento daquele evento tão pacífico quanto uma matilha de lobos famintos.