Sem dúvidas ter aulas na academia shinobi da vila era algo que Kaginimaru definitivamente não desejava de maneira alguma. Treinava por conta própria desde alguns anos atrás, embora ainda fosse uma criança, sua vida resumia-se ao seu físico para concluir os desejos de seus pais. Mesmo que vivesse sozinho, ainda era cobrado intensamente para se fortalecer o suficiente ao ponto de tornar-se um oponente digno de seu pai. Por acreditar que de nada lhe acrescentaria os estudos em artes divergentes do Taijutsu, o garotinho buscou fazer de tudo para que este destino fosse evitado, ao ponto de precisar ser forçado pelas ordens do atual Tsuchikage da época. A preocupação direta do líder existia simplesmente pelo conhecimento que tinha sobre o sangue que corria nas veias de Kagi. Seu pai, até mesmo para Iwagakure, era um problema que talvez apenas o próprio filho poderia ter a capacidade de resolver no futuro.

Sua casa era extremamente distante, mas para piorar, o campo de treinamento onde passava boa parte da sua vida — e onde também estava presente neste exato momento, era ainda mais distante da academia ninja. Baseando-se no sol, sabia que estava atrasado, mas corria com todas as suas velocidades para chegar o mais rápido possível e assim evitar problemas entrando novamente nos holofotes dos superiores do vilarejo. Prezava por tranquilidade, e por conta disso sempre preferia cometer suas traquinagens sem que fosse visto pelos adultos, mas o fato de ser desastrado quase sempre frustrava estes planos.

Ao chegar, ofegante e transpirando, entrou na construção ainda mantendo o mesmo embalo, parando somente ao chegar na sala que julgou ser a sua. Não tinha certeza e muito menos sabia como poderia confirmar, mas simplesmente adentrou. Como já estava atrasado, restava-lhe apenas um lugar. Dirigia-se até ele, mas o cansaço acabava fazendo com que pisasse em falso, já próximo do local, e acabasse parcialmente caindo em cima do acento ao lado do último restante; onde exatamente Pandora estava sentada. — Foi mal... — Disse um pouco envergonhado, evitando contato visual direto. Como a coleguinha estava na frente no caminho para que pudesse se sentar, o Hanma simplesmente passava por cima da carteira vazia e assim se acomodava em seu novo lugar.

Considerações:

A falta de resposta por parte da garota dava a entender que simplesmente estava tudo bem, afinal, tudo não passava de um pequeno acidente inofensivo. Todos os coleguinhas de até então pareciam serem educados demais, o que dava para o ruivo a sensação de estar totalmente deslocado dos ambientes no qual estava acostumado. Também pudera! estava acostumado a viver sozinho, e seus contatos sociais sempre envolviam ou resultavam trocas de socos até que todos os oponentes em potencial se encontrassem no chão.

A iniciação da aula se deu por uma tarefa inédita na vida da maioria ali presente, mas a maioria esmagadora parecia levar tudo com tranquilidade; tudo parecia não passar de breves apresentações que todos esqueceriam segundos depois após a realização, mas mesmo assim o pequeno Hanma se encontrava apreensivo e nervoso demais perante o que deveria falar. Perguntava-se em sua própria mente o quanto deveria falar, será que seria uma boa ideia citar o próprio pai? Seus objetivos? Capacidades? Não fazia a mínima ideia, pois cada um articulava da sua própria maneira. A mais marcante, sem sombra de dúvidas, acabava por ser da garotinha ao seu lado, que parecia não ter medo algum de encarar o próprio professor. Além disso, o fato ser a vez dele depois da Pandora intensificava ainda mais sua apreensão. — Meu nome é Kagi... nimaru, e eu treino para que um dia consiga derrotar a criatura mais forte do mundo — Dizia com a voz trêmula, nervoso o suficiente para acabar se esquecendo de levantar. Embora não transpassasse a confiança necessária para sustentar suas próprias palavras, tratavam-se de dizeres diretos e aparentemente realmente focados. O modo com que finalizava repentinamente gerava um silêncio completo na sala até o momento em que o professor decidiu partir para seu próximo aluno.

Ao fim de sua apresentação, começava a inconscientemente encarar a Pandora, internamente admirando toda a coragem que tinha enquanto falava. O estado de choque perante a situação que estava passando sequer o fazia notar o quão estranho estava agindo ao olhar diretamente para a mesma, que, inclusive, já havia expressado com todas as palavras a falta de interesse que tinha em socializar com outras pessoas.

Considerações:

Voltava para a realidade quando seu olhar se conectava diretamente ao dela. O frio na barriga que sentia tratava-se do prelúdio de que não tinha mais volta. Os inúmeros sentimentos inenarráveis da conexão interna que sentia era totalmente novidade para o garoto, que simplesmente não sabia como reagir e permanecia insistente em sua posição, se forçando para não desviar o olhar como as forças misteriosas de seu interior insistiam para que fizesse. Esta era a primeira vez que se sentia intimidado perante alguém, o que em sua mente não fazia o mínimo sentido, pois nem mesmo a criatura mais forte do mundo o despertava estas sensações — muito embora não fosse um grande parâmetro, afinal tratava-se de seu próprio pai.

Quando questionado sobre o motivo do olhar, seus sentimentos se reviravam e o confundiam ainda mais. Agora, inconscientemente sorria, levando uma das mãos para a nuca, reagindo de maneira descontraída e sem graça perante sua mais nova aparente parceira. — Tu tem coragem... — Diria de maneira breve e ao mesmo tempo sorridente. O que poderia facilmente soar como um tipo de ameaça por estar o questionando, na verdade se tratava de admiração perante a forma com que a garota havia confrontado os métodos do professor, mas a falta de costume social fazia com que o garoto sequer tivesse noção dos seus modos.

Com a contra-resposta, simplesmente a obedecia e parava de encará-la. Não sabia o que estava acontecendo, mas novamente seus sentimentos interiores se reviravam ao ponto de, agora, ficar com o rosto completamente corado. Por conta dos fatores que haviam ocorrido, acabou por não conseguir prestar a atenção em absolutamente nada referente a aula dali em diante. Apenas notou a chegada do fim quando sua parceira se levantou e ironizou o ocorrido do início, que lhe gerou um riso desconcertado acompanhado do mais puro silêncio. O pequeno Hanma então simplesmente saiu da sala, tentando compreender o motivo de tudo ter acontecido de maneira tão estranha. Perguntava-se, mais uma vez, qual seria a razão para se sentir daquela forma perante uma figura muito menor que a sua própria em termos de estatura, além de já ter enfrentado oponentes adultos que sequer deixou-lhe com algum tipo de receio.

Considerações: