O dia sequer amanhecia direito e o jovem Kaginimaru já estava focado em reestruturar os danos sofridos no hospital devido a invasão da organização Owari. Mesmo não sendo convocado para tal tarefa, afinal esta passava longe de ser seu trabalho, o Jounin havia se prontificado a cuidar de tudo que fosse possível para auxiliar em uma rápida recuperação na construção mais importante de todo o vilarejo. Batidas e mais batidas com o martelo eram dadas nos pregos para a junção das madeiras nos pontos onde existiam buracos provenientes de toda a destruição e sua mente vivia a dualidade entre não conseguir olhar nos olhos da Pandora desde aquele dia devido suas próprias falhas e o fato de não ter sido capaz de impedir todas as tragédias que aconteceram.

Sua força extrema era mais do que o suficiente para enterrar as hastes com apenas um golpe, o que adiantava em muito tempo o trabalho, mas em compensação exigia muito de si — fato que estava longe de ser um problema. Não havia visto sua companheira desde o dia anterior e tinha o forte pressentimento de que ela se encontrava em plantão, por conta disto, mesmo que estivesse morrendo de saudades, com o emocional abalado e se sentindo fraco, necessitando de sua presença e apoio, evitava de tomar a atitude inicial para encontrá-la, afinal sabia que poderia acabar arruinando tudo dado ao estado em que ambos se encontravam exercendo o máximo de si em prol do vilarejo. Além do mais, a agenda de médica após uma invasão tão destrutiva sem dúvidas estaria lotada demais e de maneira alguma poderia incomodá-la com fatores externos. Sabia muito bem que a Heinstein levava seu trabalho extremamente a sério, portanto, respeitaria como pudesse.

As inúmeras mortes ocorridas de maneira covarde também pairavam em sua mente, quando refletiu-se sobre, intensificou ainda mais a força exercida, mesmo já se encontrando com os primeiros sinais de cansaço. Estava suando e levemente ofegante, mas não regredia de maneira alguma, pelo contrário, esforçava-se visando realizar o serviço de mil homens sendo apenas um. Qualquer um que estivesse dentro do hospital ou mesmo fora, nos arredores, conseguiria ouvir os estrondos únicos e uniformes que se empenhava no bem dos reparos desta nação.

Considerações:

Sua mente estava tão distante do mundo que sequer percebia a chegada de Pandora, mesmo com as batidas do seu sapato anunciando a presença para quem estivesse em volta. Assustava-se com a voz repentina, olhando em sua direção de imediato. Suspirava no momento em que seu cérebro realizava as sinapses referente a quem se tratava, se tranquilizando mesmo estando com receio de vê-la após decepcioná-la. — Se quebrar, significa que não estava forte o suficiente e poupará o trabalho de reparar no futuro. — Respondia de modo direto. Não desejava soar grosseiro, mas era esta a única justificativa que encontrou de maneira rápida para esconder que toda a força realizada não passava de suas frustrações sendo colocadas para fora.

O jovem continuava batendo e ouvia tudo que a Heinstein tinha a dizer. — Tenho que terminar isso logo... Se chover ou anoitecer... teremos um problema ainda maior para lidar. — Disse entre as batidas que dava. Enquanto posicionava mais do material logo abaixo dos espaços a serem tampados, refletia sobre realmente estar atrapalhando os outros. — Esta é a maior oportunidade que terão para melhorar seus pontos fracos... do contrário, irão falhar no momento mais importante e sem volta... como fiz ontem. — Indiretamente desabafava, intensificando ainda mais a força das batidas para garantir a supressão total da vontade de prantear que estava sentindo involuntariamente.

Não se tratava somente do fato de não ter sucesso em salvar mais vidas, ou não ter conseguido ferir o principal invasor que estava bombardeando o hospital, mas sim todo o conjunto da obra onde sua presença acabou não fazendo diferença alguma — embora o povo pensasse o contrário. Com o principal responsável pela proteção da vila morto, significava que esta tarefa agora ficaria para um dos dois pilares de Iwagakure; Pandora e Kaginimaru. Não importava quem ascendesse ao cargo, pois muito provavelmente ambos se ajudariam como se fossem um só, mas este se tratava do principal problema. O Hanma ainda se sentia insuficiente no quesito poder, mesmo com os treinos diários, nada parecia fazer diferença e, mesmo se esforçando para que isto não ocorresse, em sua mente, agora, somente um pensamento pairava:

"Ela está decepcionada comigo..." — Uma madeira se quebrava diante das batidas de insuficiência.

Considerações:

Logo na primeira frase que ouvia, Kaginimaru soltava todas as ferramentas que portava, juntamente do material. Embora ela estivesse certa em diversos fatores, tudo aquilo era muito difícil de se engolir. Sabia que as coisas poderiam ser piores, mas também tinha plena consciência de que poderiam ser melhores, ao ponto de sequer permitir que estes adentrassem no vilarejo, ou no mínimo conseguisse garantir que o número de mortes e destruição fosse reduzido. A verdade é que de maneira alguma o jovem estaria satisfeito com este resultado e nem mesmo imaginar um cenário pior o fazia guardar as emoções como Pandora estava sugerindo.

Ele manter-se-ia em total silêncio, olhando para baixo, absorvendo tudo o que precisava escutar. A única certeza que tinha diante deste encontro é que definitivamente havia a decepcionado, conforme suspeitava. Mas, sendo uma novidade, não esperava que a mesma fosse abrir mão do cargo de Tsuchikage que com toda certeza seria convocada em primeira instância — mesmo que tivesse problemas com a antiga gestão, sua genialidade era perfeita para o posto. Via, neste instante, a segunda chance que estava lhe sendo dada para reverte a situação. Mais um breve momento de silêncio ocorreria até que Kagi levantava seu rosto e a olhava diretamente. — Não vou te decepcionar mais. — Dizia com convicção, mesmo machucado por dentro. Sabia que não era o único nesta situação, mesmo ela, fria como a neve, esforçava-se para exercer seu trabalho além do limite em prol da recuperação sadia. Embora não tivesse certeza, agora entendia o que ela queria dizer sobre hospitais serem mais do que prédios, seria uma frase que com toda certeza levaria para sua vida.

Cessaria os esforços inúteis por completo, daria a paz que aquela gente precisava e então procuraria descansar dali em diante. Não permaneceria tomando o tempo de sua amada pois sabia o quanto ela era necessária, e que um hospital não se resumia somente a uma construção. — Vou indo... não fique muito tempo sem dormir. — Se despedia, sorrindo para a mesma e partindo dali para um momento de solitude onde buscaria refletir na sua melhora tanto como Shinobi quanto como futuro líder da vila.

Considerações: