The Beggar Gennin

A noite havia sido de muita bebedeira depois de conseguir meu primeiro pagamento da missão do dia anterior. Gastei tudo e um pouco mais até apagar de tanto que bebi.

O sol raiva e o brilho da luz começava a incomodar meus olhos. Pude ouvir o som de carroças passando ao meu lado, e passos também. Aos poucos acordava e me deparava estar estirado no chão no meio da rua principal da vila.

— Caramba, onde estou?

A ressaca batia forte, e uma dor de cabeça vinha junto.

— Ah tatatata. Droga, acho que bebi demais.

Me coloquei sentado, olhei ao redor e fui me levantando. Me dirigi até alguma lojinha de esquina, e lá peguei algo para comer. Sai comendo para ir buscar outra missão. Uma vez no posto de entrega, conversava com o colega que havia me motivado a retornar ao trabalho. Disse que era para eu ir até tal endereço e que iria trabalhar com a mesma dupla de antes. Supostamente estavam testando o trio para formar um time. Somente aceitei, e segui até o lugar.

Depois de uns 10 minutos caminhando, achei o ponto de encontro. Ainda estava meio tonto e com alguns enjoos. Avistei a menina conversando com uma outra garotinha. Revirei os olhos, já reclamando.

— Só o que faltava, mais uma pra eu ser babá.

Mais alguns instantes, e chegava nas duas. Olhava para a garota nova com um ar mão encarado. Quem sabe ela se assustava e fosse embora, pois além da expressão de poucos amigos, o odor terrível ainda se mantinha em minha pessoa. E ver ela tampando o nariz com os dedos, denunciava isso.

— Afinal, qual é a missão, guria? — Perguntava para Chi. — Deixe-me ver o pergaminho. — Pedia já estendendo o braço para pegar e ler.

Uma vez que tivesse lido o cunho da missão, um silêncio e calmaria se instaurava sobre mim. Um pensando melancólico abraçava todo meu ser e lembranças de um dia ter uma filha, vinha a mente. A depressão batia forte e eu começava a ficar triste, mas tentava não transparecer isso. Mantinha-me imponente perante todos, ainda segurando o rolo do pergaminho, aberto. Respirava fundo, mudando meu tom e forma de agir com a jovenzinha.

— Então vai ser uma incrível ninja hoje? Ahaha! Então eis a sua missão, cara kunoichi. Os segredos mais secretos da vila da névoa foram roubados por um nukenin. Você e sua equipe precisam recuperar tais itens e eliminar o vilão. Vilão este que serei EU! Muahaha! — Virava as costas pros demais, erguendo o pergaminho da missão, dando claro sinal de que aquele era o item que precisavam recuperar. — Estarei aguardando vocês na pracinha central. Podem vir com tudo que tiverem.

E assim o fiz, rumei até a pracinha conhecida por nós todos, e no alto de uma estátua bonita, deixei o pergaminho. Em uma das árvores, eu ficava escondido, aguardando a iniciativa deles em tentar recuperar. Quando alguém se aproximasse do pergaminho, eu surgiria para surpreender e evitar que pegassem.

Arsenal:

The Beggar Gennin

Pude ver quando o trio chegava na pracinha. Nosso campo de batalha e meu suposto covil "secreto". Mantive-me oculto observando o que aconteceria. A garota cedia suas senbons para a pequenina que segurava elas sem saber muito bem como usá-las.

A garotinha correu até a estátua e arremessava uma senbon. Era hora de eu agir. A agulha voava no ar e logo arremessava minha kunai com velocidade mediana  repelindo a arma da criança. Em seguida surgia diante ela.

— MUAHAHAAHAHA! Achou que seria fácil tomar isso de mim?

A jovenzinha olhava assustada com minha aparição repentina. Ela olhava para trás esperando alguma atitude dos demais, porém, ao menos a Chinoike ficava quieta. Quanto ao outro guri, não sei o que faria, mas também não me importava.

— O que está esperando, mocinha? Enfrente-me! Nem sempre podemos depender do nosso time.

— Guuuuuu!

Ela era bem intuitiva e entendia rapidamente o que eu dizia. Pegou a minha kunai que estava cravada na grama a sua frente, e partiu para cima de mim. Abri um sorriso e puxei outra kunai. Ela desferia o ataque, e logo eu bloqueava naturalmente sem fazer muita força. Uma nova tentativa era feita, e dessa vez eu esquivava. Olhei para a pequena e brandi a kunai, lhe criando um corte próximo ao ombro, causando uma leve ferida que apenas fez uma gota de sangue escorrer.

— Aiiin!

— Ahaha. Não me diga que vai chorar? Essa é a vida de um ninja. Ferimentos fazem parte do nosso dia-a-dia. Acostume-se com isso ou desista dessa missão.

De algum modo, a garota ouvia tudo atentamente. Estava compenetrada em realizar perfeitamente todo ato. Ela percebeu que eu não estava brincando depois de ter machucado ela. Sua resiliência fora incrível e ela retornava a combater-me. Brandia a kunai diversas vezes em uma ofensiva sem cessar. Alguns eu defendia e outros eu deixava ela acertar. Muitos cortes eu acabava levando e meu sangue ia pingando aos poucos, mas nada que me colocasse em risco.

— Hehe, agora está parecendo uma kunoichi de verdade. Está não, JÁ É UMA INCRÍVEL NINJA! VAMOS! VENHA COM TUDO. AHHHH!

Dessa vez eu avançava primeiro. Ela fez o mesmo e ambos corremos um contra o outro. E num cruzar de ataques, eu feria a perna dela que ficava com um joelho no chão sentindo dor. Quanto a mim, estava com uma kunai cravada na barriga. Virei-me para ela que voltava seu olhar para mim, e então eu com o tom forte na voz, dizia.

— Essa luta acabou!

Dava um ar de superioridade, de uma forma que parecia que eu tinha ganho. Todavia, deixava meu corpo cair para trás em derrota. A garota ficou boquiaberta, estendendo um braço em minha direção, gritando.

— OJI-SAN!!!

Saiu correndo até mim com certa preocupação. Olhei sorrindo, vendo sua imagem, e falando as seguintes palavras:

— Omedetou! Você já é uma grande ninja. Não chore por esse velho rabugento, hehe. As batalhas shinobis são assim mesmo. Rápidas e fatais. Eu me descuidei e você triunfou. Assim, os segredos da vila ficam a salvo. Pode pegar. O pergaminho é seu.

— uHn! — assentia positivamente.

Com as senbons, ela tentava alguns arremessos até ela conseguir ou um dos dois pegar para ela.

Depois de toda encenação, levantava-me machucado e sorridente de maneira espontânea na qual eu não fazia a muito tempo.

— Hahaha! Muito bom, muito bom mesmo. Conseguiu me vencer em um duelo justo. Eu não perco um duelo a mais de décadas. — Isso é um fato, afinal, não trabalho a esse tempo todo.

— Você luta muito bem, Oji-san.

— Hehe, que isso. Em pouco tempo você há de superar até nosso Mizukage.

— ooooh! Sério??? — Questionava com olhos arregalados.

— SIIIM! — Respondia eufórico.

Aquela situação durou algum tempo até levarmos a menina para o hospital novamente. Deixei que minha dupla fosse embora sozinha pegar o pagamento. Iria ficar lá de olho na garotinha até seus últimos segundos. Visitava ela todo dia, brincando com a mesma e fazendo a alegria dela. Era um estorvo para os funcionários, pois meu fedor era grande, mas a pequena kunoichi não se importava mais.

Os dias se passaram, eu dormia na frente do hospital. Então eis que um dia entro para vê-la e seu quarto está vazio. Pergunto a uma enfermeira o que havia acontecido.


— Hey, onde está a garotinha do 310?

— Ah, ela infelizmente faleceu essa noite. Seu corpo já foi levado para o necrotério. Amanhã será seu enterro.

Arregalei os olhos ao ouvir tais palavras. Aquele susto e pânico tão familiar vinha a minha alma.

— Não pode ser.

Uma lágrima começava a se projetar. Enraivesido, agarrei no jaleco da mulher.

— NÃO! IMPOSSÍVEL. TRAGA ELA DE VOLTA! POR FAVOR!

A mulher ficava assustado com minha reação. Chamava por ajuda. Alguns ninjas locais que faziam a segurança de lá, me colocavam para fora a força, o que se tornava um desafio perante minha ira que crescia e resistia. Mas nada pude fazer no fim.

Enxotado, me via caído na rua após ser lançado de tal modo que daquela forma fiquei com os braços e pernas abertas, olhando as nuvens no alto, procurando o espírito da garotinha. Nuvens negras teriam se formado e uma chuva começava a despencar sobre mim. Era fria a água, mesmo estando no verão. Quando a chuva finalmente foi embora, foi que me dei conta de que tinha que sair dali.

O dia virou e fui para o cemitério. Uma boa senhora do hospital me informou sobre a hora que seriam o sepultamento. Não me atrasei. Fiz minha despedida adequadamente e permaneci lá o dia inteiro. Ninguém entendia o significado daquilo para mim. Os poucos momentos que estive com aquela garota. Era como se fosse minha própria filha que não sei como anda atualmente e o que faz. Não pude ver seu crescimento, brincar com ela, lhe ensinar como usar shurikens e nem dar saltos mortais, tampouco a empunhar uma espada. Ter esses momentos com a jovem que faleceu, preenchia meu coração solitário de tal forma que era insuportável a perda dela agora. Tinha até esquecido que esse dia chegaria. Não, eu me negava a crer que de fato ela iria embora. E dessa forma permaneci ignorando o fato de que seu espírito jazia agora junto de minha finada esposa.

Arsenal: