As coisas não estavam nada boas. Os boatos corriam rápidos demais para qualquer um, ainda mais quando o assunto remetia aos perigos contra toda a humanidade. Kaginimaru não necessitou nem mesmo presenciar a situação para descobrir que Pandora estava retornando com seus estranhos e incontroláveis projetos naquele cemitério particular que a mesma possuía. Também nem mesmo necessitava averiguar melhor para concluir que a amada estava perdendo o controle de si e cedendo para a Fênix que lhe habitava. Era evidente. A verdadeira Pandora Heinstein não perdia tempo com enterros; se existisse um inimigo, o mesmo seria derretido de qualquer forma e descartado da mesma maneira com que havia sido morto. Já o ser alado que lhe dominava parecia sentir prazer em prolongar todos os seus passos, sempre demonstrando o anseio pelo caos.

Por se sentir na obrigação de agir o quanto antes, a primeira medida tomada fora a de solicitar a presença de Cass no dito cujo local. Possuía plena ciência da periculosidade que estaria envolvendo a filha, mas se tratava de um mal necessário para que a garota ficasse ciente do ambiente em que estava vivendo. Não podia mantê-la próxima da Pandora sem que a mesma presenciasse os perigos repentinos que poderia enfrentar — não que ela já não houvesse passado por perigos, mas a situação representava níveis incalculáveis. Mais do que tudo, o Hanma desejava prepará-la para ser alguém de alto poder capaz de enfrentar a Fênix e proteger a integridade da Pandora da mesma forma com que o Tsuchikage buscava sempre ser.

Partiria de imediato para a região do cemitério, pensativo sobre a gravidade do controle em que teria de lidar contra. Por vezes preferia enfrentar exércitos sozinho, lutar contra pseudodeuses e combater qualquer tipo de desconhecido do que ter de lidar contra um inimigo no corpo do seu maior amor, mas não existia opção. As batalhas mais difíceis sempre eram dedicadas aos melhores soldados, então nunca deixava por se desanimar nisto. A situação difícil vivida pela Sasaukage, mais do que nunca, tornou-se a grande motivação para que o Tsuchikage se tornasse cada vez mais forte, resistente e destemido para que pudesse lidar com isso sem de forma alguma machucá-la ou simplesmente acabar morrendo e deixando-a sozinha nesta luta.  

No local, parcialmente distante do centro em que a morena se encontrava, aguardaria a chegada de Cassyana. A garota poderia observar facilmente um semblante muito diferente do qual o jovem estaria acostumado a sempr expressar; seu olhar estava preocupado e visivelmente incomodado. — Quem você encontrará aqui, muito provavelmente não será a verdadeira Pandora, embora seja o corpo dela... Não temos tempo para explicações, somente... não a culpe... ela não tem culpa. — Proferia, dando inicio a caminhada em direção ao centro, onde mesmo de longe, podia visualizar a figura desejada. Continuaria a marcha até que chegasse aos dez metros de distância da mulher, onde estenderia seu braço para o lado como forma de indicar que a ruiva não deveria passar daquele limite de distância. Manter-se-ia em silêncio, atento ao perigo e aguardando para ouvir tudo o que a Fênix teria a dizer.

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Poucas eram as coisas que davam calafrios no Hachidaime Tsuchikage. Já havia enfrentado deuses autoproclamados com poderes desconhecidos e incríveis, lidara até mesmo com a pressão das bestas de caudas que mediam centenas, quiçá milhares, de metros a mais do que o próprio, além de terem reservas de chakra condizentes com seus tamanhos. Nem mesmo seu próprio pai, a criatura com mais força física neste mundo, era capaz de intimidá-lo ao ponto de não saber o que fazer. Era assim que se sentia contra a Fênix. Vivia a dualidade entre atacar e ferir o corpo e a alma de sua amada ou simplesmente permitir o controle da entidade cósmica, trazendo sofrimento para não somente todos ao seu redor como também para a própria. Nenhuma das duas escolhas possíveis lhe agradava, muito embora parecesse que estivesse optando pela segunda escolha, Kaginimaru traçava o seu próprio caminho, objetivando livrá-la daquele mal de uma vez por todas — algum dia.

Inesperadamente, enquanto buscava raciocinar como poderia proceder nesta situação, visualizava a estranha movimentação de Cassyana pela visão periférica. Seu coração palpitava ao extremo quando notava o lançamento realizado. Duas pedras com movimentações diferentes; obviamente, a que não seguia as leis da física estaria sendo controlada pela linhagem sanguínea, enquanto que, a outra, certamente ia em direção à Pandora. Em um movimento ultra veloz e perfeito, Kaginimaru sacava uma Kunai da sua bolsa de armas e a lançava estrategicamente no percurso que a pequena pedra passaria, assim interrompendo seu avanço. Imediatamente, sem nem mesmo aguardar para verificar se acertaria ou não — pois sabia que acertaria — o mesmo saltava com toda sua força e velocidade na direção da pedra que estava sendo manipulada. Alcançando-a, a tornaria em migalhas ao pegá-la de mão fechada, aplicando toda a força que possuía. Silenciosamente, aterrissaria no solo esperando que a Fênix não se incomodasse com o ataque.

Cassyana estava errada em suas primeiras colocações, talvez por não saber do poder destrutivo da mesma, mas de uma coisa estava certa: Ninguém desejava a presença da Fênix naquele corpo. Não a repreenderia pelo ato, pois tudo já estava feito, mas entrava em estado de alerta total para possíveis atitudes que a morena controlada poderia acabar tomando. — Como conseguiu tomar o controle depois de tanto tempo?! — Questionaria, parcialmente tentando tirar o foco da situação, mas realmente curioso quanto a isso.

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A falta de respostas visivelmente zangava a entidade muito mais do que qualquer outra coisa. As ações inesperadas da Cassyana o distraíram tanto que sequer lembrou-se de respondê-la. Talvez agora fosse tarde demais, mas ainda insistiria em ao menos justificar a presença. — Você não consegue ser sútil como a Pandora, Fênix. Quando entra em ação, o vilarejo inteiro fica ciente dos estragos, mesmo os que estão a quilômetros do local conseguem visualizar um pouco das suas ações. — A respondia olhando diretamente em seus olhos. Diferente da própria, o semblante de Kagi demonstrava um vazio inexplicável. Sempre que aquele ser surgia, a chama interna do Hachidaime ficava mais fraca, como se fosse totalmente incapaz de ser apenas ele mesmo.  

A queda da ruiva evidenciava a clara intenção assassina do ser cósmico. O Hanma não se incomodava mais — talvez por já ter enfrentando tantas vezes ou simplesmente por não ser o alvo principal dela, mas ainda lembrava das sensações da primeira vez em que lidou com isto, sentindo pena da jovem que agora estava passando pelo mesmo, só não sabia dos efeitos conjuntos da paranoia atacada. — Panda-chan... acorde! Por favor. — Suplicava. Esperava que em algum lugar, mesmo que fosse lá no fundo de seu âmago, a Pandora pudesse lhe ouvir e tirar a filha do casal desta situação. Mesmo que o ideal do momento fosse apenas fugir e aguardar até que a Heinstein conseguisse reassumir seu próprio controle, assim mantendo a ruiva segura, não podia deixar que este fosse o desfecho do encontro com a Fênix, não depois das lindas palavras da Cassyana.

A sensação de não poder fazer nada o frustrava em níveis alarmantes. Mesmo que não desejasse confrontos direto, mesmo que atualmente prezasse por resolver tudo no maior pacifismo possível, não existia maneira alguma de ser pacífico diante daquele ódio encarnado. — Você sabe mais do que ninguém que algum dia ainda vou expulsá-la daí. — Ameaçava. Estas eram palavras que já havia dito diretamente para o ser, e muito embora não houvesse cumprido mesmo com o passar de tantos anos, ainda não havia desistido. Nunca desistiria, não do bem do seu amor. Seu punho se cerrava e ali manter-se-ia estático. Entre a Fênix e a Cassyana, pronto para defender a filha se necessário fosse.


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