Não fazia muito tempo que eu havia saído do hospital, então reclamei pela fisgada de dor ao me levantar para atender a porta. Não fiz questão também de colocar uma roupa além da calça preta de kung fu, tendo já o dorso e braços enfaixados em recuperação. Já era tarde da noite e eu não costumava receber muitas visitas, então estranhei o chamado.

— Você parece horrível — disse a voz logo quando abri a porta. Era Touken, um Chuunin que eu conhecia do quartel general. Ele tentou soar divertido, mas nenhum sorriso foi dado — Bom… erm… Primeiro eu gostaria de te agradecer. Seus gatos me salvaram dos escombros e… bom, você mandou muito bem na invasão — porque ele estava tão sem graça? —, mas não foi por isso que eu vim.

Ele me estendeu um pergaminho dourado com um selo vermelho feito de alguma cera cara. Parecia cerimonial.

— Obrigado — balancei o pergaminho na mão —, e sobre a invasão, bom… também não foi nada. Só estávamos fazendo o nosso trabalho, certo? Eu tive ajuda do meu time também.

— Sim, o time 1 de Konoha é demais — seus olhos brilhavam, e sua voz soava até como de algum tipo de fã —, as pessoas têm se referido a você pelos corredores do quartel como Deus Inseto. Pra algumas pessoas, você está no caminho para se tornar um herói.

— Um herói? — Deixei uma risada soar pela primeira vez, mas senti a costela quebrada sendo apertada e me arrependi logo em seguida — Acho que estou to longe de verdade disso. Só… sei lá, fico feliz que esteja bem.

Antes que a situação ficasse estranha, acenei com a cabeça e Touken percebeu que aquele era o momento para ir embora. Estando apenas entre meus insetos novamente no bosque, caminhei descalço pela sala de chão amadeirado enquanto abria o pergaminho.

— “Caro Treze” — caro? O que será que esses velhotes estão querendo agora? — “É com grande honra que sua presença foi solicitada amanhã pela manhã na sala de reuniões dos anciões. Seja pontual. Não é necessário estar preparado para exercer algum serviço”.

Era isso. Uma convocação, e pela primeira vez em minha curta e solitária vida não era para alguma missão. Tal chamado me deixou ansioso, e eu mal consegui dormir para esperar que a manhã chegasse e eu finalmente me encaminhasse até a sala no mesmo prédio onde se localizava o gabinete do Hokage, ainda que eu fosse passar longe de lá por agora.

Ao sair do bosque e caminhar pelas ruas da Folha, me vi entre vários escombros sendo recolhidos e casas reconstruídas, atingidas quando o ataque chegou às suas portas. Cerrei os punhos com raiva, parecia que ter enfiado uma estaca na cabeça daquele gordo filho da puta ainda não havia sido o suficiente. O clima da vila estava monótono, silencioso, triste… Também fiquei melancólico, merda. Agora me sentia triste novamente, e impotente por ter permitido que tantas pessoas fossem atingidas pelo ataque. “É por isso que eu preciso ficar mais forte”, para guardar aqueles que eu amo. Eu nunca seria mais do que um idiota se não fosse capaz disso. Como é que algumas pessoas podem me ver como algum tipo de exemplo de herói? Nunca havia sido espelho de nada, quem sabe tal peso me trouxesse reflexões profundas demais.

Mesmo perdido em meus próprios devaneios, meus pés me levaram até onde eu desejava. Uma vez entrando no prédio, cumprimentei as pessoas por perto e me encaminhei até a sala de reunião, batendo na porta e avançando através dela quando ouvi um “entre”. Meus olhos acostumados com a claridade do dia lá fora se desfocaram com a escuridão do local que era apenas iluminado por uma fraca luz de teto apontada para a mesa redonda onde dois velhos e uma velha se sentavam. Sobre a mesa, um colete verde-oliva e uma blusa de pano preto.

— Seja bem vindo, Treze — A voz de um dos senhores disse — Fico feliz que tenha atendido ao nosso chamado.

E quando eu não havia feito isso? Apenas acenei positivamente com a cabeça, mantendo um semblante de respeito e reverência. Eles pareceram gostar da jogada e entraram na dança.

— Vamos logo com isso — A senhora impaciente arrastou o colete em minha direção, sem cerimônias — Graças ao seu bom desempenho na invasão e missões, foi decidido pelo Conselho que você está no nível Jounin, portanto iremos promovê-lo de cargo sem que precise passar por testes.

Arregalei os olhos, sinceramente surpreso. Eu estava acabando de ser promovido.

— Jounin? Quero dizer… Isso é ótimo — Deixei que um sorriso sincero brotasse em meu rosto — Fico grato pela confiança dos senhores. Sei que não vão se arrepender da decisão.

— Esperamos que não — o último velho a falar mostrou o tom de sua voz — Não se esqueça que com grandes poderes vem grandes responsabilidades, já dizia o meu tio Ben. Suas missões serão muito mais complexas a partir de agora e você se envolverá em assuntos de extrema importância para a vila. Esperamos o seu melhor.

— E o terão.

Fiz uma última referência, e após pegar meus itens dispostos sobre a mesa caminhei para fora da sala onde os anciões se escondiam. Uma vez lá fora, coloquei o colete no meio da rua mesmo, sem me importar com quem passava. Eu estava extremamente feliz. “Os caras não vão acreditar quando eu contar”. Eu precisava comemorar, afinal havia aprendido com a vida: quando me tornei um Genin, recebi presentes e armas de Nobu, meu sensei e que sua memória seja respeitada para sempre. Ao me tornar Chuunin, fui com Squall e Kio até o Samurai Lamen para um dia de festas. Ao me tornar Tokubetsu… Bom, não foi a melhor das experiências, devo dizer. O Hokage morreu em meus braços e eu me sentia como um impostor, mas agora não… Estranhamente, sinto-me preparado para o cargo e sei que vou exercê-lo de uma forma que impressionará quem parar pra assistir. Quem diria, acho que Nobu ficaria maluco se soubesse. “Treze, o Deus Inseto, reconhecidamente um Jounin da vila da Folha”, é, garoto. Voando assim, nem o céu será o limite.  

Considerações:

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Selo Hiraishin: