Acordei ouvindo primeiro os sussurros que vinham do interior da minha carne.

Os besouros estavam inquietos, quem sabe até preocupados. Quem diria? Aguardavam ansiosamente alguma reação consciente minha. “Ei, família”, conversei mentalmente antes mesmo de abrir os olhos. “Ele está bem”, senti-os ativando uns aos outros, um formigamento por todo meu corpo, “finalmente acordou”, diziam, ou isso é como eu posso traduzir para você. “Eu estou bem, obrigado…”, precisava ser no mínimo grato à colônia que por gerações viveu em mim.

Nossa… que dor de cabeça.

Meus sentidos voltaram aos poucos. Percebi que estava deitado numa maca improvisada enquanto a cacofonia de pessoas indo e vindo atingiu meus ouvidos como pontas de lanças. Tudo zunia naquele cenário que eu apenas conseguia enxergar embaçado. Pisquei os olhos algumas vezes, mas não adiantou. Os corredores estavam cheios e o CTI do hospital precisava comportar feridos em situações piores que a minha. Levei a mão à testa, percebendo todas as faixas ali, assim como nos braços, tronco e pernas. O ardor nas mãos me fez lembrar como um flash da explosão que me pegou desprevenido antes que eu apagasse, arremessado dezenas de metros de distância após a onda de impacto. Lembro que tudo que eu pude fazer foi, por puro reflexo, tentar proteger o rosto com as mãos. Depois, tudo era escuridão. “Nós ganhamos?”.

A lembrança da batalha me trouxe o Time 1 à mente, e todos meus sentidos se aceleraram quando me preocupei com o que havia acontecido com eles. Levantei num sobressalto, mas todos os músculos do meu corpo se contraíram com o movimento e eu precisei me escorar na parede para não cair. “Merda… eu tô todo fodido”, constatei, logo vendo que Gen e Squall também estavam ali e nenhum corria risco de vida. “Cara, que bom…” Respirei e olhei mais ao redor ainda com a visão entorpecida pela sensação de algum remédio que devem ter me aplicado. Eu conhecia bem o torpor. Eu gostava daquilo.

Eu odiava estar ali.

As paredes brancas, pessoas de toucas, luvas e máscaras da mesma cor. E todo aquele “bip, bip”? As agulhas, os ansiolíticos e a morfina… Minha boca estava seca. A respiração ficou rápida e meu peito subia e descia rapidamente repetidas vezes. Eu precisava sair daquele ambiente, mesmo que eles não tivessem acordado ainda. Deixei ao lado da cama de Gen uma pequena carapaça vazia de besouro com a marca do meu selo-fórmula e marquei o hospital com o Hiraishin antes de ir. “Obrigado, amigos”. Estávamos a salvo e a invasão, ao que parecia, havia sido impedida. Lutamos como verdadeiros ninjas, A Folha que cai matando, mas agora eu sairia dali apressadamente para descansar em casa, evitando os chamados das enfermeiras.