─── Bom dia, raio de sol ─── sorri com os olhos em resposta logo ao ouvir sua voz, mesmo sem me virar para encará-la. Na maca encostada na parede, enquanto descansava, eu me apoiava no batente da janela com o braço do lado de fora enquanto tentava manter a fumaça do cigarro aceso sem entrar no quarto de hospital ─── Não conta nada para eles.

　　  　　Eu estava bem, ela poderia ver. Aliás, mais que bem: sentia-me contente. Afinal, seria preciso mais do que uma maluca gostosa sugadora de energia para me derrubar e por mais que suas palavras finais tenham me deixado pensativo por um tempo, a sensação de vitória gritava mais alto em meus ouvidos. Fiz o que tinha que ser feito no momento, e nada me tiraria o gosto de dever cumprido. Tanto que, ao desculpar-se, Itsuki me surpreendeu. Eu não carregava sentimento ruim algum sobre a oficial que precisasse de um pedido de desculpas, então dei de ombros.

　　  　　─── Se for pra pedir perdão, que seja pelo seu corvo não saber canção alguma ─── entre os tragos e cheiro de tabaco, senti o sol da manhã aquecendo minha pele tatuada — Conhece aquela do “poeta e o rei”? Ah, olha só, vem comigo, urubuzão.

　　  　　Aproveitei a chegada da ave negra para que ela também pudesse escutar e quem sabe até aprender a melodia que eu assoviava agora, alegre. A canção tinha uma cadência divertida costumeiramente entoada por piratas em alto mar, ensinada a mim por Gen, que por sua vez aprendeu com sua família.

　　  　　Movimentei-me pelo quarto em passos de dança embalado pelo ritmo da canção e torci para que eles entendessem o valor da minha insistência naquilo de canções e cantorias: eu sinceramente acreditava que música divertia e acalentava a alma, assim como poucas outras coisas no planeta.  

　　  　　“O mundo ninja já é triste demais”, meu sensei dizia, “seja um ponto de luz em uma existência de guerras”. Bonito, não? De toda forma, precisei parar com a cena pois o corvo tinha outra intenção ali; Seu falar grasnado e oratória aguda anunciou o agradecimento do esquadrão anbu pelo cumprimento da missão e o desejo de nos receber com gratificações. Bom, tudo bem, eu posso gostar disso. Itsuki sorriu, citando o Samurai Lámen e me abrindo um sorriso.

　　  　　─── Tudo bem, a gente pode ir com calma ─── me levantei e coloquei um tom malandro na voz ─── Aliás, qual a espessura do seu dedo anelar?