Em meio às dificuldades e distância extrema enfrentada pelos visitantes de Suna, a Sombra da Areia chegara finalmente ao país do trovão acompanhada de seu nomeado guarda-costas. Graças à longa viagem, a dupla de shinobis não sofreu com um grande choque na troca de clima, vide que tiveram que atravessar alguns outros países para então chegar ao destino final. Porém, apesar de acabarem conseguindo se habituar relativamente por conta das pequenas transições gradativas, a diferença gritante de temperatura entre o País do Relâmpago e do Vento era assombrosa.

O local designado para o encontro dos líderes era isolado da civilização do país, um ponto até que distante da grande Kumogakure. Em paralelo e em passos calmos e coordenados, Shüra e a Nanadaime puderam avistar - ainda longe - a instalação a qual aguardava a chegada de ambos, forrada da cabeça aos pés com um manto branco suave de neve.

Incertezas rodeavam a mente do jovem Shinigami, mantendo seus pensamentos inquietos durante grande parte da viagem e ainda mais agora. O rapaz mal conhecia sua líder, os motivos para o qual a mesma o nomeou seu companheiro e guarda-costas para esta reunião ainda  era uma grande incógnita. Talvez ela esteja planejando algo quanto a mim, checar minha lealdade para com ela e a Areia provavelmente. Mas se não fosse eu, quem mais seria? Suna mal tem shinobis e os que ainda nos restam não são lá aquelas coisas… Apesar de sua prepotência e narcisismo, Shüra tinha conhecimento da sua falta de força e experiência em combate e como sua presença poderia vir a ser um fardo para a Sombra, mas não admitiria isso nem para si mesmo.

Conforme avançavam, o Shinigami Branco sentia toda sua estrutura vacilar e ranger em consequência do frio, entretanto Rukia - aos olhos do tokujo - parecia inabalável com essa situação, sua mente e corpo pareciam totalmente focados no que estava por vir. Não somos os primeiros a chegar. Seguindo as instruções dadas pela mulher ainda na saída de Suna, Shüra se manteve alerta até nas coisas mais simples e descartáveis.

Ao alcançarem a entrada do local, ambos foram recepcionados por dois shinobis do país anfitrião. A Nanadaime tomou a frente, para talvez identificar a si e também ao seu guarda-costas. Seguidamente, após todas as formalidades e burocracias, a entrada fora então liberada para ambos que logo foram recebidos por outra pessoa que provavelmente faria parte do comitê de organização da reunião. Shüra bateu os pés à entrada e, com leves batidas em seu manto e cabelo, retirou a fina camada de neve que o cobria.

Se mantendo sempre na retaguarda da Sombra do Areia, Shüra e a mulher atravessaram longos corredores vazios e mal iluminados por tochas que, logo mais, exigiriam serem acendidas novamente. Finalmente, uma grande porta fora aberta, dando passagem para o local onde o encontro ocorreria. Ao centro, uma mesa com a forma parecida com a de uma ferradura estava disposta, com exatas cinco cadeiras ao seu redor. Pouco à frente da mesma, próximo a abertura da grande bancada, se encontrava algo como uma escrivaninha, provavelmente destinada a pessoa responsável por ministrar toda a reunião.

Esses olhos inexpressivos… Em uma das cadeiras, um rapaz tão jovem quanto Shüra se encontrava sentado, atrás do chapéu que exibia sua patente. Esse é o atual Mizukage? O Shinigami Branco o encarou por alguns segundos, fitando seus olhos de tonalidade vermelha e porções púrpuras. Em contraste com os brilhantes olhos azuis do shinobi da areia, estes pareciam esvaídos de vida. Shüra então abriu um grande e gentil sorriso carismático para o representante da Névoa, gostaria de passar uma boa primeira impressão para ele e seu guarda que se encontrava nas sombras logo atrás do mesmo, afinal de contas, se tudo seguisse conforme os desejos do rapaz, logo mais ele ocuparia o mais alto posto dentro da hierarquia ninja de Sunagakure. Prazer em conhecê-lo. Julgando pelo chapéu a sua frente, você deve ser a Sombra da Névoa. É uma honra! Me chamo Shüra, Hohenheim Shüra. Ele então tomou a dianteira da Kazekage, puxando a cadeira com o glifo do País do Vento para que a mesma pudesse se sentar. Por aqui, Nanadaime-sama. Logo tomou a mesma decisão que a guarda da Névoa e se postou nas sombras, atrás da cadeira de sua líder.

Um a um o restante das Sombras foram chegando no local com suas devidas companhias. Um homem que aparentava estar um pouco além da meia idade surgiu ainda enquanto Shüra cogitava puxava a cadeira para que sua líder pudesse tomar assento. Possuía uma aparência exótica e extremamente hostil, podendo ser isso consequência das faixas que levava consigo enroladas em parte do seu rosto - tapando um de seus olhos - e sua cicatriz de mal gosto no queixo. O Hokage. O rapaz adotou a mesma expressão que a Nanadaime, estando extremamente desgostoso com a presença do homem responsável pelo ataque a Sunagakure. Não é como se o Shinigami se importasse com um ataque medíocre como aquele que havia sido feito, mas um evento em particular durante esse ocorrido o incomodou profundamente. Acompanhando aquela abominação em forma de ser humano, um rapaz de longos cabelos azuis e aparência jovial - aparentando ter a idade aproximada do shinobi da Areia - seguia a Sombra da Folha. Este, diferente de seu superior, não exalava uma aura que representava perigo ou algo do gênero, pelo contrário, seus olhos solenes pareciam transmitir a sinceridade e bondade que aparentava preencher seu coração. Eles pararam ao lado esquerdo de Rukia e Shüra. Assim sendo, o jovem de aparência andrógina o fitou nos olhos, sem dizer palavra alguma, apenas tentando entender se alguém como o outro jovem seria capaz de invadir a grande Vila da Areia.

Três dos cinco já haviam chego e a curiosidade em conhecer os outros dois que restavam mantinha o Shinigami alerta. Finalmente os dois restantes alcançaram o edifício e adentraram a sala. O primeiro a entrar fora o Raikage, outro jovem que talvez tenha assumido o comando de sua vila cedo demais. Era um shinobi dotado de grande beleza também, possuindo até mesmo alguns traços semelhantes com Shüra. Ele se sentou e então o guarda-costas da Kazekage o observou, como havia feito com os outros que também estavam no local. Ao contrário do garoto anterior, a Sombra da Nuvem era uma incógnita praticamente, não importa o quanto olhasse para ele, o Shinigami não conseguia decifrá-lo de maneira alguma, resolvendo então resumir ele em apenas uma frase. Simples demais. Seu guarda-costas, apesar da aparência jovial, se assemelhava muito a um brutamontes com os olhos característicos de pessoas mentecaptas. Se postaram em seus devidos lugares e ali permaneceram, em silêncio. Entretanto algo chamou a atenção de Shüra nos representantes de Kumogakure, o guarda-costas do Raikage retirou de sua bolsa um lápis e uma caderneta, parecia pronto para registrar tudo o que acontecesse ali. Que droga esse cara está fazendo?

Por fim, mas não menos importante, o Tsuchikage entrou na sala no vácuo da passagem do líder anterior. Tinha uma aparência extremamente desleixada com seu cabelo bagunçado e barba por fazer. Parece ser alguém interessante. Sentou-se entre a Sombra da Folha e a da Nuvem, com seu guarda-costas mascarado postado logo atrás do mesmo. Não tentou disfarçar de maneira alguma o quão interessado estava no Raikage, fitando-o descaradamente desde o momento que tomou seu lugar.

Pouco após a chegada da Sombra da Pedra, um acontecimento repentino chamou a atenção do Shinigami. Uma grande pressão tomou conta do local, algo que se assemelhava a um terremoto de pequena escala. O rapaz cambaleou uma ou duas vezes até então firmar suas pernas para que voltasse a se manter estável perante ao que estava ocorrendo. Ele desviou o olhar para a Sombra da Névoa, que o encarava furiosamente. Shüra entendeu tudo. Isso era uma demonstração de força por parte do Mizukage, deixando claro a discrepância de força entre os dois - fato já de conhecimento anterior do Shinobi da Areia. No entanto,  o belo rapaz andrógino jamais admitiria a lacuna de poder entre ambos, não poderia demonstrar fraqueza independente de quem fosse seu inimigo. A futura Sombra da Areia ainda tinha seu sonho para alcançar, isso era estímulo o bastante para o manter de pé frente ao mais poderoso inimigo.

Shüra deixou escapar o início do que seria uma gargalhada sarcástica pelas ações tomadas pelo homem de Kirigakure, mas logo se interrompeu ao tapar a boca com uma das mãos. Rukia sinalizou para que o rapaz se aproximasse para que pudesse o repreender em baixo tom. O semblante do jovem se alterou completamente - de novo - e agora deixava seus mais sujos e profundos desejos se expressarem por meio de seu rosto. Como sempre, um sorriso estampado em seu rosto, no entanto esse era extremamente sádico e moralmente questionável. Ele então aproximou seus belos e delicados lábios da orelha direita da Nanadaime. As únicas pessoas que estão desrespeitando Suna aqui é o desgraçado do Mizukage e a senhora. Vai mesmo se curvar e abaixar a cabeça para cada pedido feito por esse bando de medíocres?

Já de volta ao seu lugar, Shüra fitava Warui com desprezo e ânsia em fazê-lo conhecer seu devido lugar. O fato é que o rapaz gostaria que alguém tão jovem quanto ele no comando de uma vila fosse diferente dos fatídicos estereótipos que rondavam o aspecto das Sombras. Para sua infelicidade, essa demonstração de força ridícula apenas negou o desejo do mesmo. No fim das contas, todos aqui não passam de marionetes de combates baratas que são usados à deriva das vontades dos poderosos e seja lá mais quem for, enquanto essas “Sombras” brincam de liderar um bando de ninjas patéticos. Cão que muito ladra não morde. Conhece esse ditado, Mizukage-Sama?

Agora faltava somente uma última peça para que os jogos começassem. A porta se abriu novamente e então Shüra pôde vislumbrar a entrada de Kagushiki. Um homem já muito velho, mas de poder e respeito incomparável no mundo todo. Era quase impossível alguém que se denomina shinobi não conhecer as histórias e boatos que rodeavam a figura do grandioso Daimyō do Trovão. Todos se levantaram e respeitosamente se curvaram perante a imponência do sábio homem, incluindo o próprio Shüra. No momento, o Shinigami sabia que deveria segurar suas emoções e também sua fala. Calado e desta vez extremamente sério e irritado, atenciosamente escutava o início da conversação entre os mais importantes shinobis do mundo. Todos aqui são inimigos, incluindo você, Nanadaime.

Por algum motivo, a Sombra da Pedra se incomodou com o costume que o Shinigami Branco tinha em tentar analisar e traçar possíveis linhas de personalidade ao desmistificar o que os segredos ocultos por através dos olhos contavam sobre o ser. Você não faz meu tipo, tolo. O Raikage talvez. Seus olhos se reviraram acompanhados de um suspiro decepcionado e com tons de deboche. Um mais patético que o outro.

Era mais do que óbvio que a tolice do Mizukage não passaria despercebida. Mais do que imediato e com uma resposta não só a altura, mas como também muito superior, Kagushiki externou o que seria apenas uma fração de seu poder total, mas mais do que o suficiente para se demonstrar a pessoa mais imponente presente naquela sala. Para a infelicidade do shinobi da Areia, a força vinda do Daimyō do Trovão era monstruosa. Totalmente diferente da sentida anteriormente, essa fez com que o corpo do garoto não só cambaleasse, mas como também desabasse ao chão, tendo este que se apoiar em um de seus joelhos para que não caísse feito uma criança desengonçada. A pressão agora já havia sido recolhida, permitindo para que Shüra retomasse o controle de seu corpo e se levantasse, enquanto dava leves batidas em seus ombros e ajeitava seu orgulhoso manto que outrora pertenceu a sua respeitada sensei. Tomou novamente sua postura nas sombras atrás da Nanadaime, com suas costas eretas, peitoral levemente estufado e nariz empinado.

Falando em Trovão, o guarda-costas da Sombra de Nuvem tomou a frente e disparou algumas ríspidas palavras, se referindo a todos que ali estavam. Shüra o olhou, não sabia se levava a sério aquilo dito pelo “cartógrafo” de Kumo ou se simplesmente ria um pouco pelo menos por ele ter conseguido quebrar o gelo. Mas nada fez, apenas retornou seus olhos para onde a líder de sua nação estava.

O Raikage se emendou - mesmo que visivelmente desapontado com seu guarda por conta do mesmo ter tomado a atitude - e logo revelou o que acontecera anteriormente em sua vila. O Mizukage, sendo o alvo das acusações geradas, apenas negou o ocorrido enquanto atribuía à Suna como os responsáveis de algum ataque à Kirigakure. Idiota, sequer temos shinobis para isso… E a culpa disso é simplesmente pela patética liderança dessa mulher à minha frente. Somente olhar para a Sombra da Névoa e também a da Areia deixava Shüra desiludido, mas dessa vez soube se conter enquanto simplesmente observava a Kazekage responder o garoto por tal denúncia. Por fim, a estranha figura que representava Konoha negou que os invasores de sua vila fossem realmente de Iwagakure como estes diziam ser.

Apesar de fraco e inexperiente, o Shinigami era alguém sábio e tinha seus conceitos já muito bem lapidados. Por tal, ele, em silêncio, continuava a observar cada um na sala enquanto se mantinha atento a tudo o que ali era dito. Então todas foram invadidas, talvez simultaneamente… Isso parece ser obra de uma peça que ainda não se encontra no tabuleiro, ou melhor dizendo, isso deve ser obra de quem joga o jogo enquanto brinca com as peças que aqui estão reunidas. Tenho que admitir que, se isso for verdade, é simplesmente fantástico o quão astuto ele ou ela deve ser. O rapaz retirou de seu bolso seu maço de cigarro e levou um deles avulso até os seus delicados lábios, mas ao momento que iria iniciar a primeira tentativa de acendê-lo, hesitou, guardando tanto o seu isqueiro quanto o maço. Não seria respeitoso para com Kagushiki e Rukia eu acender isso agora, terei que segurar a vontade até isso ter um fim.