O líder parecia viajar em seus próprios pensamentos, como se estivesse perdido, tentando encontrar algum caminho, alguma fuga por aquele labirinto que ele mesmo se colocou. Pela primeira vez ela sentiu empatia, não que ela se importasse com o homem, mas se colocou no lugar dele e de suas palavras. No fim, aqueles conceitos de bem e mal, os quais ele citava como se fossem um dado concreto da realidade, se perdiam na rigidez da vida, em como ela, acinzentada se dispersava, e em como os “bons” se tornavam “maus” na mesma velocidade com que as tempestades primaveris iam e vinham, carregadas com toda sorte de terror.

Aquele era um mundo caótico e, embora quisesse evitar um conflito direto com homem, não podia conter-se de fitar aqueles olhos mais uma vez, tentar ver o que se passava na cabeça daquele sujeito. Em vão, talvez, tenha sido essa tentativa, e mesmo com seu sharingan aquelas almas inconstantes e de significado tão distintos não poderiam ser lidos tão facilmente.

As palavras do homem já revelava sua intenção, ela não era uma idiota, estava ali porque aquele homem não suportou o fardo da sombra e, na realidade, poucos suportavam, Danzo, o odiado, caiu pelo peso de seu próprio ego e ali estava ela, diante daquele chapéu, mais um símbolo daquele poder abstrato que ela queria se apropriar. Não cairia, talvez tenha pensado, como os demais, usaria Konoha e pela vila seria usada, num grau de mutualismo que não se encontrava pares na natureza.

— Se estou entendendo bem o motivo do Senhor ter me chamado aqui, creio que esteja me informando que agora sou Hokage — disse, olhando fixamente para o chapéu e depois levantando seu rosto para encarar o homem, um tanto mais alto que ela. — E se o que entendi estiver correto, não existe nenhum motivo para rejeitar.

Considerações:

Tomie tocou o chapéu, sentiu o tecido dele escorrer por entre seus dedos como uma água pura e cristalina, tomou-o para si olhando para o misterioso homem que parecia um tanto decepcionado, o motivo? A menina não queria saber e pouco se importava com a pretensiosa sabedoria que os homens que uma vez ocuparam aquele cargo queriam exalar. Essa era Tomie, uma pessoa que navegou até ali sozinha, que falou várias vezes, porém, por algum motivo, alguma de suas qualidades tinha lhe posto ali.

Ouviu as palavras do homem surpresa, “Ho-ka-ge-sa-ma” e se deliciou com aquelas palavras como se estivesse provando de uma sobremesa exótica, mas estranhamente deliciosa. Assentiu as palavras do homem, dando uma leve olhada para seu rosto e disse, antes de sair.

— Não vá muito longe daqui, creio que o Hokage não pode ficar sem o auxílio de seu assistente — disse monótona. Depois voltou seu olhar para a grande janela da torre e observou as pessoas caminharem, seguindo suas vidas como se nada tivesse mudado. Seu coração deu uma batida fora do compasso, ela enfim estava numa posição importante e faria o máximo para mantê-la, não cometeria o erro de Danzo, não morreria como o anterior a ele, tão pouco seria uma covarde fugindo de sua obrigação. Estava ali por si mesma, pelo seu ego, pelos desejos e objetivos e, para realizá-los, era importante que aquele punhado de gente sem rosto e sem nome que habitavam na vila, prosperassem e a amassem.

Os fins justificariam os meios a partir daquele dia.

Considerações:

Tomie voltou ao seu gabinete pouco tempo depois, estava ainda na fase de transição entre uma ninja regular e a Hokage da folha. Sabia que não tinha poder e força para governar sozinha, com isso, determinou que alguns genin’s da vila entregasse uma carta para alguns ninjas da vila que iriam compor seu governo.

A líder não estava sozinha, sua irmã insistia em estar com ela e isso fazia a ninja se sentir um tanto mais segura.

— Nunca imaginei que você estaria aqui — disse Keiko num tom de voz anormalmente brando —, acredito, nem mamãe acreditava.

Tomie pensou em perguntar o que aconteceu com ela, mas preferiu manter o silêncio, uma vez que sua irmã olhava para o infinito como se estivesse vendo algo que ela não via.

— Quer saber? Precisamos seguir rumo a última etapa de seu treinamento, antes que nós duas nos tornemos uma só.

Como poderia discordar disso? Era o que ela mais queria! Sair pelo mundo com sua irmã, descobrir o que de fato aconteceu naquele dia e onde estava a sua mãe, ela não sabia o porquê, mas seu coração naquele momento estava cheio de perdão. Talvez tenha sido o retorno de sua irmã, talvez ela tenha se tornado fraca com o tempo e estava sentindo a pressão de ser responsável por tantas pessoas.

— O que foi, está com medo? — perguntou Keiko, olhando a irmã.

— Um pouco — respondeu, com sinceridade, Tomie. — Não sei se estou pronta.

A irmã encarou Tomie e sorriu, depois disse:

— Nós não precisamos ser os mais fortes Tomie, você não precisa ser, basta ser mais inteligente que eles, basta saber governar para transformar o mundo e não ser transformado por ele.

A líder da folha se aproximou da janela, mais uma vez vendo aquelas pessoas caminhando, seguindo a sua vida.

— Acho que você desbloqueou algo em mim, irmã, você me deixou fraca — disse Tomie.

— Aquilo que uma vez você chamou de força sempre foi sua fraqueza, venha, vamos para o campo de treinamento.

Mesmo sabendo de como aqueles treinamentos não estavam resultando em nada, a menina foi, de acordo com sua irmã, aquela era a última etapa, e ela iria religiosamente cumprir.

Considerações:

Tomie encarou com surpresa a chegada do homem quando estava prestes a sair. Keiko encarou-o da cabeça aos pés. A ninja, vendo na irmã aquele tipo de reação, apenas se propôs a seguí-la, mantendo silêncio e atenta às palavras do homem.

“Essa é uma oportunidade de ouro”, pensou.

— Muito bem, quero que antes de se tornar um ANBU da folha, você realize a seguinte missão.


Tomie encarou o rapaz por um momento enquanto ele lia o pergaminho. Sua mente logo desdenhou daquela cena, iria eliminar um dos poucos homens que conhecia o crime que cometeu. Asakura provavelmente estaria com sua família, fugidos da aldeia desde que Tomie chegou ao poder.

— Traga-me a cabeça dele e terá provado seu valor a vila — disse, cinicamente. — Agora tenho que ir.

Com isso deixou a sala para o campo de treinamento, sem dar espaços para mais perguntas.

Considerações:

Quando Tomie retornou ao gabinete foi recebida por uma figura surpreendente. Não fazia muito tempo que seus olhos tiveram a chance de ver em ação o homem que estava diante dela, que com um outro aliado desaparecido, tinham imposto a sua vontade sobre Konoha. Os tais libertadores, assassinos, pouco importa o título dado a eles, de alguma forma assustava a mulher, porém, sabia que naquele momento não se equiparava em força aquele sujeito e por isso seus medos eram justificados.

Keiko não estava com ela, sua segurança se esvai longe da irmã, da mesma que um rio intermitente no inverno. Entrou na sala em silêncio e sentou-se na sua mesa, depois, pegou uns papéis de maneira completamente despreocupada, como se estivesse em busca de algo trivial, até encontrar um pergaminho encoberto por um tecido vermelho, lacrado com um selo da vila. Depois, virou seu olhar para o homem diante de si e mais uma vez relembrou daqueles eventos, daquela experiência traumática, será que ele se lembrava dela? Será que ele era leal à Sombra da Folha? Afinal, pelo que sabia dos militares, não havia nada mais desonroso do que não obedecer seu comandante.

— Uzumaki Squall… Preciso que você entregue esse pergaminho ao Raikage, tem passe livre para sair da aldeia e só retornar quando tiver a resposta da Sombra sobre o conteúdo dele — disse, apontando para o pergaminho —, e, não demore, precisamos organizar as coisas em Konoha e preciso que meu comandante esteja aqui.

Com aquelas frases secas e protocolares, ela meneou a cabeça indicando que se quisesse, o ninja já poderia sair.

Considerações:

A Sombra sentou-se em sua mesa e ouviu as palavras da convidada no mais absoluto silêncio, seus olhos não relutaram ao encarar os olhos negros da ninja da pedra. As palavras dela foram diretas, um acordo comercial entre as duas vilas, e que parecia ser vantajoso para os dois lados, contudo, existia algo mais,  afinal, não foi Tomie que foi procurar Iwa, pelo contrário, de maneira que o recurso que tinha a oferecer para aquela vila parecia ser muito mais valoroso do que o que eles tinham. Que falta fazia seu assistente ali, pensou, quando fitou seu comandante militar, que parecia observar tudo com singular interesse, embora a disciplina militar exigisse que permanecesse em silêncio.

— É notório, que dentre as grandes aldeias — começou Tomie — Iwa parece ser aquela com melhores condições financeiras — pegou alguns papéis que revelava a condição financeira e o recurso da maioria dos países, coisa que todo Kage deveria ter em sua mesa, embora na grande parte das vezes os números não fossem inteiramente precisos. —, também podemos supor, devido a sua presença aqui, que os recursos do País do Fogo agradam a Sombra da Pedra e, sendo do interesse de sua vila, por qualquer que seja o motivo, creio que abre espaço para que eu possa fazer uma contraproposta.

Tomie tinha uma impressão quase sólida daquela mulher, ela exalava um ar de orgulho e parecia agir, pelo menos era o que a Sombra supunha, como se todos ao seu redor fossem fúteis demais, pequenos demais, ainda assim, para ela, pouco importava se o acordo ruísse com aquela investida, o mercado de Konoha ainda estava recheado de possibilidades.

— Para abrirmos o mercado do País do Fogo para vocês, solicitamos o pagamento de um milhão de ryous, além de cento e cinquenta mil ryous mensais — foi tão direta quanto a chanceler, afinal, não era assim que preferia as coisas?

A ninja acenou com a cabeça, dispensando o seu assistente, depois, virou-se para o comandante militar e ouviu dele palavras sinceras e que com certeza contribuem para a estabilidade da vila. Ela não confiava plenamente em ninguém, mas aquele ninja emanava algo singular, como se suas palavras fossem portadoras de verdades inexoráveis.

— Muito bem, tem minha permissão para levar adiante essa investigação == disse. — Peço que também realize outra viagem, para Kirigakure no Sato e comunique a eles a vontade de Konoha para trabalharmos juntos, em especial contra grupos criminosos que possam afetar a segurança de nossas vilas.

Fez uma leve mesura dispersando o homem e saiu dali em direção a um encontro que tinha com sua irmã.