— Hyūga Chikage, nos vimos pela última vez já há algum tempo. Venha comigo, tenho algo para requisitar. — A manhã da ruiva havia começado de maneira esquisita, com um já conhecido sapo de coloração esverdeada e barbicha branca lhe acordando logo no primeiro horário de sol. Ela sequer teve tempo de se arrumar adequadamente: Fukasaku transpassava serenidade, mas claramente tinha algo que desejava resolver o quanto antes possível. — Pra onde a gente tá indo, chefe? — Ela acompanhou o anfíbio pelas ruas da Folha com seus cabelos vermelhos soltos e desarrumados, vestindo ainda o seu pijama amassado.

Sonolenta, não prestou muita atenção no caminho, e quando voltou para a realidade, deparou-se com a porta para o Gabinete do Hokage. — Pera ai, a gente vai ver o Hokage? Tu tá doido? Eu tô parecendo- — Fukasaku bateu três vezes e abriu a maçaneta antes que a ninja pudesse sequer completar sua frase. — ...o chewbacca. — Mesmo que não se importasse muito com as aparências, visitar o líder da aldeia vestindo seus pijamas ultrapassava até mesmo os seus próprios limites.

— B-bom dia... — Disse com um sorriso sem jeito, colocando-se em posição ereta assim que trocou olhares com o líder interino.

O sapo ancião pôs-se à frente, utilizando de seus pés para saltar até a superfícies da mesa do líder da Folha, tomando cuidado para não derrubar nenhum dos milhares de documentos ali empilhados. — Me chamo Fukasaku, sapo chefe do lendário Monte Myoboku. — O anfíbio assentou-se em uma posição ereta, quase formal. — Estive observando a garota nos últimos meses, e desde os recentes eventos no País das Ondas, enxerguei nela um potencial oculto.

A Hyūga ainda mantinha seu sorriso tão desajeitado quanto suas roupas e cabelos, sem ideia do que diabos estava acontecendo. — Minha proposta ao senhor, Hokage, é que conceda permissão para que Chikage possa se retirar dos muros da Folha e treine sob minha tutela no Monte Myoboku. — Incrédula com a fala do sapo-chefe, a ruiva apenas fez um singelo sinal de positivo com seu polegar. — O que me diz?

Fukasaku esboçou um visível sorriso de contentamento na direção do interino antes de saltar de volta na direção da Hyūga. — Isso vai depender totalmente dela. — O anfíbio barbado tocou sua pata no pé da ninja, que mais confusa do que há alguns segundos atrás, sequer teve tempo de completar outra frase. — Como assim virar pedr- — Sua voz, assim como seu corpo e o corpo do mestre do Monte Myoboku, desapareceram em um piscar de olhos, deixando para trás apenas um pequeno rastro de fumaça branca.

Os olhos cheios de medo e esperança caiam sobre os ombros de Treze, que andava rumo a direção do gabinete. Era a segunda troca de liderança da vila em pouco tempo, os moradores já não tinha mais certezas de ter um futuro de grandiosidade os esperando, não acreditavam mais no pote de ouro ao fim do arco-íris.

Mas é claro que a centelha de algumas mudanças drásticas por vezes despertava a vontade do fogo em cada um dos que viviam naquele vilarejo. Ao chegar na porta do gabinete - parcialmente destruído - o garoto encontraria corpos, sangue e destruição, mas, mais importante que isso, iria de encontro a uma multidão, que vinha em sua direção ao mesmo tempo que ele se mantinha no caminho oposto a eles. Pais, mães, filhos e filhas que rezavam por mudanças o cercavam, buscando tocar parte do corpo do invasor. - Deus Inseto!

Se Treze olhasse para o topo do edifício, poderia ver três pessoas - um deles com a idade muito avançada, os outros dois entretanto possuíam uma aparência mais jovem -, poderia rapidamente deduzir que eles seriam parte do conselho de Konohagakure. Os dois da ponta se virariam e desapareceriam da visão do jovem enquanto retornavam para o interior do edifício. O mais velho que estava no meio permaneceria ali por mais alguns segundos, onde ao final de sua espera acenaria para o Aburame adentrar o gabinete. Eles estavam à sua espera.

　　A voz seca e cansada de Treze acalmava o povo a sua volta, renovando assim suas esperanças para com a Folha. Agora, ele querendo ou não, se tornou um símbolo de herói para os moradores daquela vila, um ícone de representação de fé para uma nação agora já decadente.

　　O Aburame rapidamente se direcionou para dentro do edifício parcialmente destruído. Ele sequer demonstrou qualquer sinal de respeito para com os conselheiros e nem mesmo com toda a história que aquele gabinete carregava consigo. Os dois mais novos se olharam, confusos com toda aquela petulância do invasor, interrogavam um ao outro com o olhar. O mais velho, por sua vez, mantinha uma posição firme com um olhar rígido, apesar de suas feições relativamente engraçadas.

　　Ao fim das falas de Treze, o ancião desmanchou completamente seu semblante sério, gargalhando com sua voz rouca e aspecto cômico em todo o seu ser. — Você tem o espírito jovem e aventureiro de Shanks, meu caro. Olhar para você é como um reflexo daquele homem em seus tempos de juventude.  — Ele deu alguns passos à frente após sua fala, utilizando suas mãos para elucidar suas próximas palavras. — Somos membros do atual conselho de Konoha, meu jovem. Me chamo Netero e estes são Morel e Knov. — Ele os olhou, com o olhar desconfiado e com um sorriso bobo em seu rosto. — Vocês não ouviram o Hokage? Um de vocês providencie o necessário para as cartas e o outro se mexa para ir atrás dos mais habilidosos em Doton. — Após o fim da fala de Netero, ambos sorriram um para o outro e partiram da sala, realizando uma reverência tanto para o ancião quanto para o Aburame.

　　— Sinto muito, mas não temos muito tempo e muito menos podemos desperdiçar recursos para sua cerimônia, afinal estamos em tempos difíceis. — O velho alisava sua barba com uma das mãos enquanto a outra permanecia para cima com o indicador levantado. — Paciente Treze… você já enfrentou muita coisa na sua jovem vida e conseguiu chegar onde chegou. Tenho certeza que Shanks ficaria orgulhoso de você, especialmente por ser alguém que ele já almejava como possível substituto, claro que ele gostaria de lhe conceder esse privilégio pessoalmente e em tempos mais fáceis, mas infelizmente sua vida foi tomada antes que ele pudesse realizar um desejo íntimo. — O semblante de Isaac Netero se tornou um pouco mais obscuro, não de maneira violenta, mas sim esboçava uma preocupação. — Saiba que era um agrado a muitas pessoas ter Danzo no poder, saiba que eles não irão facilitar sua vida. Antes que pergunte, nem mesmo eu sei quem são, mas são poderosos, ricos e de muita influência.

　　Uma leve batida na porta interrompeu a fala do ancião, uma das trabalhadoras do gabinete havia trazido o chapéu de sombra que Netero havia requisitado minutos antes da entrada do Deus Inseto no local. — Me acompanhe até o terraço, por obséquio, Nanadaime Hokage. O povo anseia em te ver usando o símbolo de seu novo cargo.