Ookami continuava a fitar o vazio através da opaca janela do hospital. Odiava alas hospitalares, o branco dos corredores labirínticos, o som dos passos das enfermeiras com suas sapatilhas irritantes, o cheiro de álcool isopropílico e de pinho a enjoava, fazia com que ela se lembrasse dos dias dentro do laboratório.

A porta se abriu em um rompante de força, quebrando a monotonia e o estranho transe da lupina.
Ali estava uma das poucas pessoas que não haviam abandonado Ookami, os cabelos loiros em cachos bem delineados, olhos astutos e pele alva, seus labios estavam tingidos por um batom vermelho, um conjunto perfeito de características o que tornava ainda mais evidente o hematoma em sua bochecha esquerda.

Ela se aproximou da loba.

— Amor você está bem? —  

Era possível sentir o cheiro de queimado de suas roupas.

— Sim… o que aconteceu? Quem fez isso com você?—

Yukari meneou a cabeça.

— Não importa… soubemos que você estava no hospital… e viemos o mais rápido possível…—

A loba olhou impassível.

— Não foi isso que perguntei… agora me diga… quem teve a audacia de tocar em você…—

A loira desviou o olhar inquisitivo de Ookami e engoliu em seco. Temia o que a loba poderia fazer caso soubesse o que aconteceu.

— Depois que você veio para o hospital… alguns mascarados apareceram em casa… disseram que você era uma maldita traidora e que nós tambem… —

As pupilas da loba se dilataram, suas mãos se fecharam e o sangue verteu por debaixo dos curativos e gases.
O coração da loba se apertou, ela respirou fundo.

— Vou te fazer uma segunda pergunta… onde está Yuyuko?—


— Ela está bem… lutamos contra os mascarados… mas a nossa casa pegou fogo… e você sabe a Yuyuko é muito sentimental… ela entrou na casa para salvar nossas fotos… Se queimou um pouco… por sorte consegui tira-la antes de se asfixiar.—

Com cuidado a loira puxou uma foto de sua bolsa, as bordas estavam queimadas, mas o conteúdo intacto, uma simples fotografia das três em um “casamento” arranjado que Yukari e Yuyuko haviam feito.

— Eu vou mata-los… vou achar cada um deles… acredite.. eles vão morrer mas antes… vou assassinar cada um de seus entes queridos e eles terão que escolher quem vai morrer primeiro...—

Aquela era a reação natural de Ookami. Yukari reconhecia aquele olhar de psicose e loucura, mesclado ao sentimento de proteção que a loba tinha para quem ela achava importante. Sentia um pouco de medo de Ookami, mesmo sabendo que ela nunca a machucaria.

— Eu estou feliz… é a primeira vez que diz que somos queridas por você… e fico feliz que queira nos proteger… mas nesse momento, o que precisamos não e de vingança… eu e Yuyuko precisamos de você recuperada.—

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Sua esposa apenas meneou a cabeça afirmativamente.

— Eu ainda preciso cuidar dos outros pacientes, então peço a vossa licença…—

Assim que Yukari saiu da sala ela escutou a loba gargalhar, não era uma risada amarga e sombria como sempre fazia, mas sim uma tranquila, leve e até certo ponto gentil.
A loba prateada pegou uma das biqueiras oferecidas pelo menino palhaço e tragou um pouco.

Tossiu por alguns segundos, o sabor era diferente do mentolado que estava acostumada, era mais forte e seus pulmões não estavam adaptados aos novos sabores que se impregnava em seus pulmões e traqueia.

— Eu também achei… digo, se tivessem entrado destruindo tudo eu teria lutado contra você— Ela tragou um pouco mais e tossiu novamente, seus olhos se encheram de lágrimas pelo forte cheiro da erva. — Não porque eu gosto das pessoas desta vila, mas porque prefiro proteger a imagem que tenho de você, alias, porra de onde tu tirou aquele garoto marrento? Se você falar que foi do cu eu acredito.—

Passou a ouvir atentamente as palavras de seu amigo, por vezes entreabria os lábios para dizer algo mas voltava ao silêncio. Ele havia mudado mas a essência daquele menino de nariz de palhaço ainda estava ali, mais viva do que nunca. As pessoas que conhecia todas haviam evoluído, até mesmo os antigos companheiros de tokubetsu, mas ela pouco havia mudado e ela atribuiu isso ao fato de ter sido criada para um único fim, havia sido gerada para assassinar e caçar, do resto ela continuava imutável, presa a essência atribuida por seu mestre.

— Acredito que você deva imaginar que eu não seja a mais querida dessa vila…— Ela fumou um pouco mais e liberou a fumaça aos poucos, contemplando os vórtices formados pela ascendência acinzentada— Eu matei pessoas Taichou, muitas delas inocentes, eu poderia dizer que foi porque Danzou mandou ou porque era meu trabalho, mas você e eu sabemos a verdade, eu gostei de fazer aquilo.— Os olhos da loba estavam sérios.— Fui criada para matar e é a única coisa que sei fazer bem, você não precisa de alguém destas do seu lado. Todas as pessoas que conheci foram mortas por minhas mãos ou por minhas ações e eu não desejo que você entre na lista… —

Um longo silêncio se manteve no ar. A loba manteve seus olhos perolados fixos no ninja da vila da folha.

— Pretendo assumir a autoria pelo assassinato de Danzo, desta forma o proximo a governar tera uma chance de unificar essa vila por ter um inimigo em comum… acredite em mim, o odio une mais do que o amor, essa é a terceira via meu amigo, unificar todos sobre a mesma bandeira, Danzou fez um otimo trabalho em dividir e conquistar e existem muitos adeptos dele por ai, se esse odio for focado em mim sera mais facil de unificar Konoha—

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Ela suspirou, seu amigo era um idiota e ela tambem, dois cabeças duras que raramente arredavam o pé de suas proprias motivações pessoais, com a diferença que agora ele era um com o poder de destruir metade do mundo.

Deu de ombros como se tivesse perdido uma luta de sumô com um profissional, Taichou era esse tipo de pessoa, alguém que te venceria no carisma ou na irritabilidade e no caso de Ookami era um pouco dos dois. E para ela essa era sua melhor característica é também o pior dos seus defeitos.

— Sabe que isso vai te causar muita dor de cabeça não é? Não pretendo ser domada, se alguém me morder eu vou morder de volta, indiferente de ser bom ou ruim para sua imagem.—

A loba prateada havia feito um número quase infinito de inimigos em Konoha, afinal, havia assassinado muitas pessoas a mando do antigo líder da folha e não se sentia realmente mal com isso, ele era um déspota, um velho que mandava mas não fazia muito além disso, sempre com um ar de que havia planos por trás de planos quando na realidade estava tão perdido quanto todos os outros.

— Você agora é a sétima sombra? PUTA QUE PARIU— A loba começou a rir parando apenas quando sentiu os pontos se abrindo.— PORRA DESCULPA.— Ela tentou se controlar, enxugando as lágrimas que escorria pelo canto dos olhos.— Não dá pra imaginar as voltas que essa merda de vida dá… digo quem diria… parabéns…—

Ela estendeu a mão para o jovem Deus shinobi.

— Antigamente eu dizia que todos estávamos atolados de merda até o pescoço, mas vendo a inflação, os traidores, a péssima condição de vida das pessoas digo que você terminou de se afundar na merda… e boa sorte para submergir.—

Deu mais um trago do estranho fumo, aquele produto tinha a estranha capacidade de deixar as pessoas eufóricas e até mesmo de bom humor, deveria fumar mais daquilo, talvez fosse um bom sucessor para os seus cigarros de sabor menta. A fumaça eclodiu de sua boca e então vazou pela janela lateral em pequenas esferas.

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