Filho de um poderoso e corrupto empresário, Chouki passou o início de sua vida envolto em riqueza e bem-estar. Foi quando o jovem completou 7 anos, contudo, que um escândalo fora revelado na Vila da nuvem envolvendo su pai: Chinoike Chouji, que utilizava de suas habilidades vizuais para explorar e manipular a mente de grandes nomes do mundo empresarial, afim de se favorecer na busca incessante por dinheiro e poder.

Após esse acontecimento, não demorou muito para que Chouji fosse setenciado à prisão e suas riquezas confiscadas. Chouki, não tendo mais o mesmo luxo de antes, começou a viver à base de auxílios do governo para que não passasse fome e tivesse um teto para chamar de seu. O garoto conseguia sobreviver, porém, essa súbita mudança em seu estilo de vida foi bastante difícil de se encarar, mesmo para uma criança.

O jovem, que estudava em uma escola especial preparatória para empresários, geralmente contratada por pais milionários  que queriam preparar seus filhos para assumir seus negócios, fora redesignado para uma escola comum, e quase imensuravelmente menos luxuosa do que a que costumava frequentar. Toda essa transferência fora feita na intenção de proteger o garoto, porém, o nome de seu pai era muito conhecido, e por consequência, o seu também.

Essa etapa de sua vida foi decisiva na formação da personalidade de Chouki, que não só nunca criou laços com seus colegas da escola, que foram instruídos por seus pais a não se envolver com o jovem, mas também sofria de diversos abusos por parte deles.

Quando finalmente terminou seu ensino básico, aos 15 anos, Chouki havia se tornado um menino tímido, inseguro e praticamente invisível.

Trabalhando como estagiário em um escritório, o jovem estava seguro de que começara a viver o que seria o resto de sua patética vida... Até o dia em que conheceu um homem chamado Kurikara Hanzo.


Em uma certa madrugada, enquanto dormia em sua cama, o jovem acordou ao som de alguém o chamando no pé da cama.

- Psiu! Psiu! Ei você!... -

O jovem não entendeu em um primeiro momento, se recolhendo com medo na cama e buscando os óculos com a mão na escrivaninha ao lado. Quando os encontrou e os colocou no rosto, deparou-se com uma figura estranha:

Tratava-se de um homem alto trajando um terno e chapéu pretos, além de uma estranha máscara com os buracos formando um rosto sorridente.

Apavorado, o jovem se encolheu ainda mais na cama e gritou:

- Quem é você?! -

A figura deu um passo para trás e falou com um tom surpreso:

- Ei! Não precisa gritar, eu não vou fazer nada com você... Caralho... -

Ele levou a mão até a cabeça como se estivesse confuso e continuou.

- Você é o pirralho do Chouji, né? Como era o nome?... Chou...mi?...ni?...ki? -

- Isso... Chouki... - O garoto respondeu ainda assustado.

- Puta merda, eu sabia, quais as chances de eu esbarrar em você... -

O homem desviou seu rosto da direção do jovem e começou a olhar o quarto antes de se voltar mais uma vez para Chouki.

- Estranho você estar morando num lugar assim, você deveria ser super rico... Bom, eu imagino que eles devem ter confiscado todos os bens quando prenderam seu velho, faz sentido. Mas o que não faz sentido é você ainda estar nessa situação depois de 8 anos. -

- V-você conhecia meu pai? - Chouki perguntou.

- Hah! Quem dera, ouvi dizer que o velho pagava uma grana boa pra quem quisesse fazer o trabalho sujo dele. -

- Trabalho sujo? -

- O que? Vai me dizer que só tá sabendo agora que seu pai era envolvido no nosso mundo? -

- "Nosso mundo?" -

O Homem permaneceu calado por alguns segundos antes de soltar um suspiro e abaixar a cabeça. Logo então, ele começou a caminhar em direção à janela que se encontrava aberta, abrindo passagem para a forte luz da lua cheia que se fazia presente naquela noite, e para o vento que fazia as cortinas dançarem no ar. Apoiando o pé no parapeito da janela e se preparando para sair, o homem mascarado parou por um tempo para terminar sua conversa com Chouki.

- Eu vim aqui saquear esse lugar, mas duvido que eu vá encontrar alguma coisa de útil aqui. Pelo menos tive uma conversa interessante, eu esperava que você fosse ser um de nós, sendo filho do Chouji. Mas não... Acho que você era muito novo na época que deu ruim pra ele... Bom, se você disser pra alguém sobre ter me visto aqui eu vou ser obrigado a voltar e te matar, então... Não faça isso, vai ser melhor pra nós dois. -

E então o homem projetou seu corpo para trás, pronto para pegar o impulso que precisaria para saltar da janela em direção ao teto vizinho. Contudo, no último segundo, a voz de Chuki se elevou pelo cômodo.

- Espera!... Por favor... -

A figura parou antes de pular, e seu olhar se virou para o jovem, querendo ouvir o que ele teria a lhe dizer.

- "Nosso mundo"? "Um de nós"? Do que você está falando? -

O silêncio reinou na sala por alguns instantes. O homem parou de se apoiar na janela e lentamente começou a se aproximar de Chouki, que timidamente se espremia mais na cama conforme o homem se aproximava.

- O mundo do crime. Me refiro aos bandidos, ladrões, mentirosos e tudo que a sociedade gostaria de se livrar. -

Apontou o dedo para o rosto de Chouki e continuou.

- Você, naturalmente, deveria ser um de nós. -

- Não! - O jovem berrou.

Não se espremeu na cama, mas sim levantou as costas e permaneceu sentado, pontuando a convicção com a qual recitava suas palavras.

- Crime... Isso era coisa do meu pai! E olha o que isso trouxe!... Ele... Ele estragou minha vida... - Chouki disse, surpreso com o quão expressivo estava conseguindo ser, coisa que não acontecia há muito tempo.

O homem permaneceu encarando Chouki, em seguida, levou a mãos até o rosto e retirou sua máscara, revelando o rosto de um homem que parecia estar na casa de seus 40 anos com uma pequena cicatriz embaixo do olho.

- Seu pai não estragou sua vida garoto, você estragou a sua vida. -

Chouki fez uma expressão completamente surpresa enquanto o homem continuava a dizer.

- Você conseguiu, sozinho, se tornar um escravo da sociedade. Porque é assim que nós somos vistos: Escravos, nada mais do que servos desencorajados a pensar fora da caixa, destinados a viver uma vida monótona e infeliz para que possamos sustentar o bem estar daqueles que são mais poderosos que nós. Aposto que depois que seu pai foi preso você se acovardou e decidiu viver pelas regras que a sociedade lhe impôs, e onde isso te levou? Aposto que você vive uma vida simplória, preso a um trabalho chato que sequer lhe paga metade do que você realmente desejaria receber para viver da forma que queria. Por mais que tenha inseguranças quanto a isso, você tem esperanças de se casar, ter filhos, e consequentemente se afogar ainda mais na sua vida como escravo para poder sustentá-los. -

O homem caçou um cigarro e um isqueiro em seu bolso e os levou até a boca, tomando um tempo para acendê-lo. Quando o fez, deu uma forte tragada e soltou a fumaça pelo ar, como se não se importasse muito pelo fato de estar dentro da casa de outra pessoa.

Levando o cigarro de volta a boca, ele continuou:

- É totalmente direito seu viver esse estilo de vida, embora, se você quiser saber minha opinião, eu ache patético e um verdadeiro desperdício de sua vida... Mas não se sinta tão mal, você não é o único a cometer esse erro, é uma doença. Na verdade, essa doença já se desenvolveu tanto entre o público que hoje em dia ser um escravo da sociedade é consideravel como algo bom, algo respeitável... E as pessoas que não se deixam levar... Nós... Aqueles que se rebelam, são caçados em nome da dita "ordem", nada mais que uma mentira... Somos caçados para manter a sociedade do jeito que ela está, para que a rebeldia não se espalhe pelas pessoas, para que aqueles que estão no topo continuem lá, pisando nas pessoas para chegar cada vez mais alto... -

- Então... Vocês querem... Ajudar as pessoas? - Chouki perguntou com a curiosidade estampada no rosto.

- Não... Isso fica nos livros de contos de fadas, garoto. No mundo real é cada um por si. Nós roubamos, mentimos e as vezes até matamos porque isso é o que nos ajuda a fazer o que queremos fazer, e nesses momentos não estamos pensando em ninguém além de nós mesmos, não precisamos dessa hipocrisia de dizer que queremos cuidar das pessoas. O mundo é cruel, e nós somos justamente aqueles que reconhecem esse fato... Nós atacamos o sistema, por vezes roubamos e sabotamos pessoas poderosas, enfrentamos o sistema de frente, mas fazemos isso porque somos rebeldes, porque queremos lutar por aquilo que NÓS acreditamos, porque queremos ensinar uma lição pra aqueles desgraçados. Mas mais do que isso... Fazemos isso porque somos livres... -

O homem então começou a andar em direção a Chouki.

- Meu nome é Kurikara Hanzo, mas você pode me chamar de Mr. Smile. -

Agora, parado de frente à Chouki, olhando-o com um olhar de extrema seriedade, Hanzo estendeu sua mão para o Jovem.

- Eu posso sentir, dentro de você, as chamas de seu espírito rebelde queimando. Chinoike Chouki, segure minha mão, e então eu lhe ajudarei a ser livre também! -

Chouki observava a mão de Hanzo a sua frente com incredulidade no olhar, no fundo, sentia como se estivesse se afogando todo esse tempo, e enfim uma mão aparecera para lhe resgatar.

No fim, ele tinha uma escolha a fazer, e sabia que não teria como ir atrás: Viver como escravo, ou despertar seu espírito rebelde.


Anos se passaram. Nesse meio tempo, Hanzo mostrou para Chouki como ser um verdadeiro criminoso. Todos os dias, durante a noite, os dois saíam pelas ruas infiltrando-se em casas e estabelecimentos para roubando coisas de valor.

Por estar sempre sobre tutela de Hanzo, que já possuía mais anos de experiência do que Chouki de vida, o garoto nunca foi pego, apesar de já ter se metido em muitas situações em que sua captura por pouco não se tornou realidade.

Contudo, desde a primeira vez em que saíram juntos para cometer seus crimes, Hanzo pode notar algo diferente em Chouki, era como se ele se tornasse uma pessoa diferente, por mais que fosse bastante sutil no início. Era como se ele estivesse sempre se divertindo com aquilo, sua postura tímida era levemente deixada de lado, ele se tornava... Confiante.

De início, não era nada extravagante, mas conforme o tempo passava, esse seu lado ia se tornando cada vez mais e mais forte, ao ponto em que Hanzo sequer conseguia mais reconhecer aquele garoto tímido que conhecera anos atrás.

E assim, quem durante o dia era o tímido jovem Chinoike Chouki, durante a noite se tornava o exêntrico vilão que assombrava a vila da nuvem.

Chouki, por instrução de Hanzo, abandonou seu antigo emprego e ingressou na academia ninja, já que essa seria uma profissão que não só aumentaria a confiança da vila em si, ajudando a reforçar sua identidade secreta, como também o ajudaria a desenvolver habilidades que certamente o ajudariam em suas atividades secretas.


Depois que Chouki se formou na academia, Hanzo anunciou para o jovem que era hora de partir, Mr. Smile deixaria a vila da nuvem para se aventurar por outros lugares do mundo.

Quando questionado sobre o motivo disso, Hanzo o respondeu com as seguintes palavras:

- Lembra do que eu lhe disse no dia que nos conhecemos? Nós somos livres, eu não fui feito para ficar nesse lugar. A única coisa que me prendia aqui era você, mas olhando para você agora, vendo como cresceu, sei que vai se dar bem por conta própria. E talvez... Chegue o dia em que você deseje partir também, mas não agora... Em um outro momento... -

Chouki entristeceu-se pela notícia da partida de seu mestre, mas após ter aprendido tudo que aprendeu nesses últimos anos, conseguia entender o sentimento que levava Hanzo a tomar essa decisão.

Contudo, havia algo mais a ser feito antes que Mr. Smile partisse de uma vez, um último teste para provar a competência e ousadia de Chouki: Um último golpe fora arquitetado por Hanzo, o maior que eles teria feito até então. E sem hesitar, o jovem aceitou.

Os detalhes do golpe são uma história para outro dia, mas desde antes de darem início à ação, Chouki estava visivelmente animado. Quando tudo acabou, e Mr. Smile junto com o garoto fugiam da cena do crime de carona em um dirigível, o jovem, observando a vila pequena lá embaixo, fez uma última promessa ao seu mestre, sabendo que possivelmente nunca mais o veria:

- Você me salvou quando eu mais precisava... Você me mostrou um outro jeito de viver, e no fim... Eu não pude fazer nada além de me apaixonar por esse estilo de vida... Eu achei que devia a minha vida ao sistema por causa de meu pai, mas você me fez perceber que eu não devo nada a ninguém... Não tenho motivos pra fingir ser um herói, eu sou um vilão... Está no meu sangue... É o que me faz sentir vivo. -

As rajadas de vento passando pela janela faziam o cabelo de Chouki balançar, dando um ar ainda mais dramático aos últimos momentos em que os dois se veriam.

- Hanzo-san... Essa não é a última vez que você vai ouvir falar de mim... As notícias dos meus feitos cruzarão todas as nações, e eu um dia serei conhecido por toda a história como o maior criminoso que esse mundo já viu! -

Chouki então estendeu os braços ao lado do corpo, como se fizesse um gesto tentando englobar todo o mundo que se projetava abaixo daquele dirigível.

- Esse mundo cruel nunca mais vai me prender! Eu finalmente sou livre! HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA! -

Chouki começou a rir, com uma risada ainda mais excêntrica do que o normal.

Em vista disso, Mr. Smile se aproximou do jovem.

- Você com certeza sonha grande garoto, mas se vai ser um criminoso conhecido, não é bom usar seu nome verdadeiro, que tipo de vilão seria você? Não... Tem que ser algo chamativo, e que ao mesmo tempo combine com você... Você sempre tratou tudo isso como um grande jogo, era sempre como se você fosse a atração principal de um circo, e essa sua risada... Hehe... Eu já sabia qual seria seu nome a muito tempo, e agora você está pronto para usa-lo, Joker.

- Joker, é? Hehe... É... Acho que vai servir direitinho... -


No dia seguinte, Chouki acordou, se arrumou e estava pronto para sair de casa, quando se deparou com uma caixa do lado de fora de sua porta. Nela se encontrava um sobretudo preto, um par de luvas vermelhas, sapatos, e uma máscara de olhos, além de um pequeno bilhete escrito:

"Última lição: Todo vilão precisa de um uniforme."
E assim começava a verdadeira história de Chinoike Chouki, o Joker.