Jamais esteve naquelas terras que seus pés agora tocam com tanta desconfiança. De fato era um País tomado por uma beleza natural própria digna de reconhecimento e grande notoriedade, entretanto a admiração por sua exuberante graciosidade foi trocado pelas atrações oferecidas em um festival local.

O âmago daquele homem que outrora havia sido um dos responsáveis pela tomada de Sunagakure estava repleto de dúvidas e temor por conta do convite inesperado de um amigo que supostamente deveria estar morto, porém não hesitou em aceitar, mesmo que aquilo se desenrolasse em uma ardilosa armadilha preparada no mais baixo nível pelo ser humano mais impuro vivo, ele puniria-lo da maneira mais terrível que sua mente criativamente instável poderia encontrar.

Acompanhado do arlequim escarlate, a Sombra da Areia vinha em trajes estranhos para seu costume: seu chapéu que simbolizava sua posição havia sido trocado por um sakkat adornado por alguns pequenos guizos que emitiam sons parecidos com chocalhos a cada passo dado e algumas faixas de cetim brancas presas as laterais; uma veste negra cobria sua armadura prateada e sua capa branca. Não havia necessidade de alguém saber da presença do Hachidaime Kazekage naquele local.

Dentre todos os presentes, um sentimento comum de felicidade parecia aflorar entre eles enquanto estavam naquele parque; crianças corriam para lá e pra cá enquanto esperavam nas filas dos brinquedos e atrações se empanturrando com as minhas diversas guloseimas que eram oferecidas. Era um verdadeiro caos para o Shinigami Branco, porém seria perfeito para manter este encontro nas sombras e fora dos holofotes. — Ver todas essas crianças aqui me lembrou tempos divertidos… pelo menos eu me diverti. — Suas palavras saíram de sua boca em uma fala mansa seguida de um sorriso sinistro oculto na sombra que aquele sakkat projetava em seu rosto, o alvo de sua frase era seu fiel amigo que o acompanhava e certamente um comentário sobre suas façanhas moralmente questionáveis conseguiria receber pelo menos uma gargalhada de seu amigo.

De uma hora para outra, seu sorriso se alterou completamente para um de felicidade quando avistou sentado em um banco o responsável pelo encontro. — É ele, Hisoka. Está vivo! — Apesar de sua fisionomia ser quase que totalmente diferente e ter uma máscara vermelha ocultando grande parte de seu rosto, Shüra jamais poderia deixar de reconhecer um dos imperadores. Ele apertou o passo para se aproximar ainda mais rapidamente de Treze, porém algo veio fortemente em seu encontro, ou melhor, alguém.

Uma criança de olhos celestes e pele branca invadida por sardas parecia correr de forma animada e inconsequente antes de se chocar com o corpo do Hachidaime, levando o pequeno garoto a cair a seus pés. Estar naquele ambiente caótico já era o suficiente para irritar profundamente o Uzumaki, agora receber um esbarrão daqueles de uma criança enfurecia seu ser. Uma de suas mãos caiu sob o cabo de sua katana, mas sua arma real foi seu olhar irado que buscava penetrar a alma daquele pequeno garoto e então queimar seu espírito apenas o suficiente para lhe punir e ensinar como se portar.

Oi, eu sou o Gen. Você provavelmente me conhece... Sim... Você... que veio cheio de odião no meu Gaiden... Que quando descobriu sobre o retorno provavelmente foi ali chorar a Deus e o mundo. Voltei pai, chore na minha Semama...

Bem, voltei não. Já comecei mentindo e você me conhece, é algo que eu faria. Quem chegou, na verdade, foi o espermatozoide que ganhou a Shinobu’s Race. Meu filho, meu precioso moleque apressado que assim COMO VOCÊ, lá ele, ganhou a primeira batalha de sua vida e recebeu como presente um útero de morada por 9 meses. Shishio Gohan, o bruxo. O arqueiro piun piun, inimigo dos iguais, 7 anos level 38. Uma máquina. Uma besta enjaulada que chegou na flechada.

Mas não chores hater. Não chores. Eu sou o Gen e eu vou estar aqui, em todo o post, narrando cada passo do moleque. ROMPENDO A SUA QUARTA PAREDE, LÁ ELE MIL VEZES. Eu sou um pai, afinal. Um bom pai. Além de ótimo marinheiro e alongador de membros. Infelizmente eu não estou mais aqui fisicamente para acompanhar o caminho de minha cria, mas eu nunca o abandonarei. Por sorte, a orientação presencial vai ficar para algumas pessoas que por mais que vistam uma máscara de chatonildos, são como os meninos do fundão da sala. Rebeldes sem causa, mas de confiança. Ninguém melhor para acompanhar meu filho em sua trajetória do que 3 psicopatas e um narcisista com olhos carmesim.

Se eu estivesse ali, certeza que estaria comendo um pastelzinho de carne com queijo, com uma pimenta. Mas eu não estava, quem estava era o meu filho. E ele corria pelos tetos das casas com um algodão doce em mãos. Na sua essência, o Kagura Shingan estava ativado. Essa técnica apelona, que eu nunca teria à propósito já que gostava de sair na mão e rancar nariz, lhe apresentava o mundo de uma forma ímpar. O pequeno, infelizmente, havia tido os seus últimos anos tirados de sua vida. Uma ferramenta do antigo governo de Konoha, uma cria do projeto Sentinela.

Ele sentia a felicidade das pessoas num raio de 3km e isso lhe alimentava a alma. Apenas permaneceu ali por um tempo, comendo seu algodão doce e sorrindo.

Quando seu radar detectou a chegada de algumas pessoas se aproximando de Treze, meu filho e sua curiosidade partiram rapidamente para o local. Percebeu o poder imponente daquela dupla, mesmo que tivesse boas intenções. Sabia que eram mais fortes do que ele e por isso sua técnica passiva mudou. Umas das estratégias que aprendeu, forçadamente, “nunca demonstre todo o seu potencial”.

Era como um interruptor em sua alma e num instante estava desligado. Gohan utilizava da individualidade Chakura no Gisō, anulando seu Chakra e também anulando a sua percepção quilométrica dos arredores. Aproximava-se lentamente por trás de treze e o cutucava na coxa, silenciosamente, enquanto via uma linda moça de cabelos prateados e bumbum avantajado encarar um garoto inocente que curiosamente se parecia MUITO com o próprio Gohan.

- Tio... Tio... Por que que a tia bonitona ali tá encurralando o moleque?! -

I




　　Kurokawa, no País dos Rios, o Sexto lembrava-se das palavras riscadas no papiro com a caligrafia de Treze quando pisara a primeira vez no lugar. O quimono negro com detalhes carmesim o adornava, mais uma vez dispensando o chapéu e a capa que lhes conferiam a identidade de Sombra da Água. Tinha os longos fios de cabelo de azeviche soltos, a katana presa à anca com o sino amarrado enquanto cada passo seu o aproximava da presença do anfitrião.

　　Os olhares de todos os presentes no que parecia um grande festival se prendiam em si a cada metro que andava, não havia um único ser ali que não reconhecesse seu rosto. Pode ouvir alguns murmúrios, mas os ignorava como se fosse algo perfeitamente natural; deuses não são figuras desconhecidas, afinal. As histórias de sua batalha contra a besta de dez caudas alcançaram até mesmo o Reino Sombrio, era bastante óbvio que chegaria aos homens e mulheres dos quatro cantos do mundo.

　　Ao longe, avistou a máscara vermelha cobrindo o rosto do deus inseto e junto a ele estava o rapaz que acompanhava a antiga Sombra do Vento em sua primeira reunião com as outras lideranças. É o cachorrinho, via-o encarando a criança como se despejasse sobre ele sua intenção assassina. Aquilo não o fez apressar sua caminhada, apenas lamentar que aquele sujeito agora liderava a Areia. Treze deve ter tido seus motivos para convidá-lo.

　　Firmou os pés diante do andrógino de fios de prata, colocando-se a frente da criança, que pareceu ter visto naquele momento a oportunidade para fugir dali.

　　— É uma sensação prazerosa despejar seu desejo sanguinário sobre alguém e sentir-se superior, não mesmo, Kazekage-sama? — disse, remetendo ao dia em que fizera o mesmo com o shinigami branco. — Mas, guarde isso para usar em ninjas de verdade.

　　Seus olhos correram na direção do Aburame, notando o rapaz agarrado em sua perna e que ouvira chamar o outro de “tio”. O pequeno tinha olhos azuis cristalinos e carregava em suas costas uma aljava cheia de flechas. Treze planejou esta pequena reunião, ele não tinha dúvidas e aquilo não lhe causava incomodo algum – era exatamente o que esperaria do ninja de nariz de palhaço

　　— Bom vê-lo novamente, Treze. Espero que desta vez esteja se sentindo melhor. — enfatizou a última palavra com um tom diferente, remetendo ao último encontro com o besouro.

　　　 Uma fração de pele pálida emergiu no tronco de uma das árvores dos arredores, sob as copas coloridas. Essa fração aumentou e tomou forma, ganhou dois orbes de cor violeta que perscrutaram o ambiente com a obstinação de uma ave de rapina. Observaram o festival que acontecia ao longe, um evento tradicional do País dos Rios.

　　　 A fração afundou-se novamente no tronco. Desapareceu.

　　　 Dentre duas das inúmeras barraquinhas enfileiradas por ali, Haru apareceu. Ela caminhava com a típica serenidade de suas ações. Envergava uma veste clássica da cor de lavanda. Os fios de reflexo violeta que pendiam da cabeça estavam enredados numa longa e volumosa trança. O rosto exibia um semblante plácido, enfeitado pelos cativantes olhos violáceos. Ornando o pescoço, disfarçada como um colar de várias camadas, estava a pequena sespente albina enrolada.

　　　 Direta e prontamente, passos de cautela intrínseca ao ritmo levaram-na até ele.

　　　 — Warui — disse Haru com a voz em baixo volume, logo após deter-se ao lado da Sombra.

　　　 E lançou o olhar à frente, aos demais. Sua mente computacional imediatamente começou a traçar os parâmetros de cada um dos presentes. Não parecia haver ameaça, embora a descontração daquela atmosfera pudesse velar muitas armadilhas. Entretanto, um deles pareceu-lhe familiar, como uma figura já muito conhecida.

　　　 Ela voltou-se para Warui.

　　　 — Não pude vê-lo partir sozinho, sem qualquer guarda. — Ensaiou uma tácida desculpa. — Tive de vir. Mas vejo que está na presença de conhecidos.

　　　 Atinou-se com a maneira como Warui estava sossegado, com as inconfidências que sua face expressava diante daquelas pessoas.

　　　 — Perdoe-me a intromissão.

　　　 Inclinou-se ligeiramente. Nisso, a cabeça branca de Shiro escapuliu do disfarce de colar. A víbora que muito se afeiçoava por Warui não se conteve: cumprimentou-o com o silvo tão característico da língua bifurcada. Em seguida, os dedos pálidos de Haru pousaram sobre a serpente, afagando-a com um toque suave e a impelindo a voltar para seu disfarce — não queria causar qualquer espanto àquele festival.

　　　 A aparência de colar foi refeita, mas a essa altura Haru já estava sentindo os malares chamuscando: havia enrubescido diante dele. Meneou a cabeça; a franja balançou e, num instante fugaz, revelou a marca losangular gravada bem no chakra frontal. A presilha que adornava a lateral da cabeça também balançou, emitindo um tilintar muito baixinho que se assemelhou ao som de duas senbons colidindo.

　　　 Por fim, quando conseguiu se recompor, falou para os demais:

　　　 — A propósito, sou Haru, Cientista Chefe da Névoa e Assistente do Mizukage. — Apesar do ligeiro constrangimento, a voz soou com a suavidade de sempre.

Considerações: